Prato feito
Olho para o prato
E me satisfaço... Ou
melhor,
Me empanturro só de olhar
Para aquele verde nojo.
O cão vadio me espia
guloso,
Jogo um tanto para ele,
Que se indigna e sai.
Penso:- Nem tua fome é
tanta?
Saio a procurar outros
males...
Encontro à porta uma
mulher
Vestida rota, esquisita,
Que também expia a fome,
Relativando a minha...
Nem ela aceita o prato mal
feito
De arroz de anteontem
Fedendo azedumes do tempo.
Esta realidade assusta
quando
Comparo nossas faltas
famélicas
Às dos passantes,
De terno surrado, gravata,
Sob o sol de verão
paulista...
Observando essa vida deles
Sinto saudade da minha
vida
Pregressa, com arroz e
feijão
Cozidos na hora, uma parte
Ínfima de frango
e chuchu à vontade...
O pão... Caseiro...
Que bom que era...
Fosse agora.
Olho para o prato
E vou embora.
As formas de dizer adeus
Há muitas formas
De se dizer adeus...
A mais doída é com os
olhos.
Olhares frios não deixam
De mais nada esperar.
Os lenços brancos
Nas mãos abanadas,
Esquecidas no ar...
Os chapéus nos braços
Gesticulados, ou apenas
O olhar, distante,
Num “tanto faz” esnobe
Dos até logos...
Mas o olhar lacrimado
É o mais sentido,
Que se faz sentir,
E que faz sentido esperar
Esquecer o esquecido.
A volta para casa
Voltando para casa,
As flores outra vez dando
Boas vindas...
É um bom começo.
Quem sabe mais alguém
Abra a porta,
Alguém que eu conheça,
Ou que me conheça...
E me receba de braços
abertos...
Mas até a casa é outra
Mudou-se de fachadas e
janelas,
Portas travadas, travas
elétricas...
Os brinquedos na entrada,
O balanço deixado
enferrujar...
Uma paz que não
compartilha
Com a despedida...
Suamos horas de brincar
vivências...
Expedicionar atrás dos
muros,
Das cercas balaustradas,
Tempo de procurar
encontros...
De vivência pura
Deixada quebrar-se na
procura
Doutros suores reais.
Voltando para casa percebo
Que, na verdade, não saí
dela,
Não me despedi das coisas
velhas.
Agora velho, quero brincar
De esconder-me deles
Atrás dos afazeres, dos
muros,
Cercas de balaustres
contadas
E conferidas sempre
A caminho da escola,
Também memória.
Expirações
Cada momento respirado
Percebo que menos existo
Em mim...
Como o tronco apodrece
Suas entranhas,
Sinto ceder-me forças.
Devagar nos encaminhamos,
Eu e meu corpo,
Para um desenlace final.
Talvez quando o cansaço,
Que vem avisando,
Der sua ordem de partida,
Eu me vá, sem despedida,
Com a casa limpa,
Cada coisa em seu lugar,
Como Bandeira,
Descompromissado
De voltar.
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