A triste
repetição de Policarpo Quaresma
Nos idos da iniciação
republicana, Policarpo Quaresma, representando as ideias de seu criador, Lima
Barreto, cria um compêndio sobre os problemas da agricultura de então, leva ao
gabinete do Presidente Floriano Peixoto, quando expõe seu objetivo verbalmente
e estende o memorial à mão do presidente, este diz para deixa-lo sobre a mesa,
que depois iria lê-lo, atendendo outros ao mesmo tempo, precisa anotar uma
ordem ao oficial do dia, rasga ao meio a primeira página do compêndio, rascunha
ali sua ordem sem se dar conta do que fazia ao outro... Anulando o que
aconselhava o sábio Policarpo, investido hoje na pessoa do Ministro Joaquim
Levy, que está vendo, desanimado, seu intento ser rasgado, um a um, pelo
escapismo presidencial. Policarpo acreditava nas intenções do Presidente, por
isso alistara-se nas forças do governo, numa guerra entre revoltosos e
governistas, e vai consumir-se numa luta perdida para a sordidez dos pares, na
época em que a saúva afetava a colheita, se junta à sua desilusão agrícola a
perseguição fiscal por recusar-se a participar de uma fraude eleitoral. Parece
atual a política daquele tempo? Tem mais similaridade, na visão de Policarpo,
em suas palavras: “o marechal de ferro tinha o olhar pobre de expressão,
ausência de qualidade intelectual e tibieza no temperamento” que tal lhe parece
a rotina de “tiros perdidos” que o escritor vê pelo visor de seu personagem,
que “morrerá” por força da injustiça e ferocidade dos detentores do poder, e
pelo efeito da desilusão e da solidão de suas causas... Lima Barreto chamava o
centro do poder de Santo Ofício Republicano, acusando a ideologia de tirânica,
limitada e estreita de visão, desencantado com a “República que não foi” como
se dizia à época, dissipada num mar de desonestidade e mistificação. Pois é...
Tudo muda para ficar no mesmo nesta terra mais garrida. Na continuidade do
reino da bruzundanga vale repetir um pequeno excerto: “Na Arte de furtar, que tanto barulho causou
entre os eruditos, há um capítulo, que tem como ementa esta singular afirmação:
“Como os maiores ladrões são os que têm por oficio livrar-nos de outros
ladrões.” Sua missão é, portanto, como a dos “maiores” da Arte, livrar-nos dos
outros, naturalmente menores. Bem precisados estávamos nós disto quando temos
aqui ministros de Estado que são simples caixeiros de venda, a roubar-nos muito
modestamente no peso da carne-seca, no seu ofício de ministro, de encarecerem o
açúcar no mercado interno, conseguindo isto com o vendê-lo abaixo do preço da
usina aos estrangeiros. Lá, chama-se a isto prover necessidades públicas; aqui,
não sei que nome teria...” seguindo os passos da história, lembremos a
posse de Getúlio, anos depois, que declarou em seu discurso a urgência em
resgatar a dívida pública, adicionar álcool à gasolina, substituir a farinha de
trigo, importada, pela de mandioca, e, para cúmulo do desespero: diminuir o
custo da folha de pagamento do governo... Seguindo os passos da história
chegamos a atual situação, com outros personagens e os mesmos entraves desde o
Império!
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