Pessoas
Vejo passar pela rua
Senhores de toga ou jaleco...
Propagandeando autoridade?
Vejo curvar-se na rua
Pessoas com fome e frio,
Esmagando sua humanidade?
Vejo pessoas passarem
vendo
Cães vadios e crianças
famintos
E olhando de lado...
Vejo pessoas... Pessoas?
Vultos que se dividem em
poderes
E lembro palavras próximas:
Poderes, pobres, podres!
Vagando pela mesma rua
Um senhor em sua cadeira
de rodas
Com pernas atrofiadas, ele
não pede
Abertamente, estende um
papel
Com algumas moedas e
espera...
Espera que caiam outras,
Espera que saibam a dor
De ter-se a vida esmagada.
Uma visão do passado 1975
É belo sentir o mundo, enlevado...
Nas cores que não reconheço
Ofuscantemente belas...
Não se mostra todo,
É preciso sensibilidade
Para reconhecer a natureza
Em festa nessa hora da
tarde...
Nesse dia vi-me assim,
Como nunca antes,
lembrando
O professor do primário
Ensinando solfejos, hinos,
Como parte da história do
mundo,
Vendido em cordoagem...
Seria preciso ver o mundo
Como um hino para descegar
O comércio pousado na
fotografia
Sem moldura... Senti,
nessa vez,
Como é lindo ver o mundo,
Enlevado na ternura...
Paisagem redesenhada 1975
Quieto entre as coisas,
Sinto-me tão pequeno
Como tudo em volta...
E tudo em volta se avoluma
Para quem olha para si
E se vê pequeno...
Para fazer parte disso,
Com que, queira ou não,
Nos misturamos,
Irmanados pela necessidade
Recitamos a vida,
Puxados pelas orelhas
Como crianças...
Forçados pela palavra
A correr o mundo grande
No sentido grande
De nossa pequenez
Um tanto despercebida
Na formação da paisagem
Do amanhecido...
Júri
O silêncio com que vieste
Foi mais doído que o grito
Que poderia ter emergido
De tua raiva
provocativa...
Este olhar acusatório,
Mais que um júri convencido
Da culpabilidade, condena
Com excesso meus
desacertos,
Menores que seu jeito
De mostra-los...
Não os saberia grandes
Sem sua presença
acusadora,
Sendo júri e juiz de minha
pena.
Que pena não nos
conhecermos,
Que pena não nos dar-nos
bem,
Poderia ter compreendido
Os erros delineados em
mim.
Poderíamos ter unido erros
E combinado derrotas
Cabisbaixo em sua fé
vencida
Vens como quem não peca,
Primariamente pedir perdão
Pelo mau momento.
É a vida em essência
Os tropeços que ensinam
cair...
Vieste tarde para o coração
odioso,
A mente castigada é mau juiz.
Que pena não termos nos
conhecido
antes e dado as mãos cuidando
Nossos erros mútuos...
Que pena não termos as mãos
Quando enfraquecidos.
O silêncio com que vieste
Foi mais doído que o grito
Que poderia ter emergido
No abraço desistido.
Que pena...
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