Noticioso
trágico em 2/2/1976
Que
atualidade vejo nos versos
desse Antonio, o de Castro Alves...
Que
dor ainda não foi cuidada:
Ver
morrer em cárceres, enlutada,
A
voz do povo que ergueu sincera
Em
altos brados a dor dessa terra!
Serás,
Antonio, ouvido um dia?
Aos
gritos a agonia do negro povo
Que
traz além pele alvura do céu
Aberto
gesto à podridão do lodo!
Será
ouvido teu ardor de poeta?
Que
o que falaste de seu tempo
Repete-se
como o sol na fresta,
Buscando
nos gemidos solitários
Abaixo
da coberta ensanguentada
Na
cela dividida com o sudário
A
denúncia soturna desse tempo,
Garganta
dilacerada urde questão
Da
antiga mágoa revivido o gesto
Do
açoite ao renovado dardo.
Que
atualidade nesses dados...
O
perene motivo do Poeta.
Sergiodonadio.blogspot.com
Tempos
mudados
Fim
de tarde... Banho...
É
tempo de mudar de roupa,
Roupa
limpa, novo cheiro,
Ideias
para outro jeito...
Fim
de ciclo... Ranho?...
Tempo
de cansar-se disso
De
tomar ou não tomar
O
sempre mesmo banho...
De
atitude, de conceito,
De
viver-se o mesmo jeito
De
ontens... Só mais doído,
Menos
rígido no flácido sentido
De
aceites e comedimentos...
Fins
de tardes desse jeito:
Almejar
o mesmo sempre...
Diferente...
Que não doa,
Que
não fira aquém não sente,
Presente
ou ausente,
Respeite,
que a chapa
Está
quente.
Molho
Chegamos
a casa cedo,
Trouxemos
tomate maduro
E
o assunto embromado
Em
espaguete ao ponto
E
esse papo furado...
E
desse papo e molho
Sorvemos
a nossa gula,
Uns
aprendendo cozinha
Outros
cosendo lamúrias...
Fernando
com suas piadas,
Marinho
com suas queixas,
Um
levando saudades
Outro
apenas o que deixa.
Visto
roupa leve e cinta
Chinelos
aberto e sono,
Despeço-me,
estou em casa,
Vou
tirar minha soneca
Antes
que tombe...
Em que momento um objeto é abjeto?
Em que um homem passa a ser inseto?
Tudo que sabemos sobre mente humana
É que quando ela erra não se conserta,
Cheia de razão... Se inflama...
Em que momento a consciência dirá: Não!
Se já nem cobrem as faces quando presos
Grandes homens donos de segredos?
Houve um tempo, saudade, em que se sabia
Quem eram os bandidos da cidade...
Agora não tem alarde que segura a criatura
Que te invade... Fingem-se armados,
e de surpresa levam a boia sobre a mesa,
E zás-trás a sobremesa...
E de sobra deixam o susto como prova.
Em que momento este chamado humano
Tornou-se tão desumano? Quem, sem alarde,
Sem máscara, sem vergonha,
Rouba à criança a pamonha?
Leva a vitrola e te vendem de volta na feira...
Outro, menos cordato, rouba-lhe a fleuma!
O tato, a paciência, ao dizer-se candidato!
Em que era ele pensou-se ileso desse ato?
O que sinto é que vivo no século errado!
Curto essa inveja daquele tempo em que
Não vivi... Quando cuidavam cavalos,
Bondes, estafetas não voavam, não saíam
desgastados com o erário, só o horário...
Não deixo de pensar com meus botões:
Em que quadra picareta se tornou profissão?
Sabe como vejo a história? – Sem memória.
Vejam: num dia europeus invadiam o Brasil,
Noutro dia nos mandam à puta que pariu?
Índios, negros, amarelos, “privilegiados”?
Desde que me sei o branco é o culpado!
Tem boa educação, paga, e faz tudo errado?
As cotas querem igualar em cada estado.
Digo para os meus botões: coitados...
Sergiodonadio.blogspot.com
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