Motivos
Não faço versos
verborrágicos,
Cotidianamente versifico
Cotidianos versicolores,
Vestindo dores
despercebidas
Eu verso a vida.
Não vendo versos
versificados,
Não metrifico nem
centrifico,
No verso idílico apenas
fico
Idiossincrásico,
idiomático,
Mágico idílio.
Eu vejo versos por onde
passo
E com seu passo me
pacifico
Às vezes amargo, às vezes
vário,
Nem sempre doces ou
agridoces
Com os das feiras.
Não faço versos por
brincadeira
Nem é esta a vez primeira
Que com eles me gratifico,
Não com dinheiro ou por
ofício,
Faço versos gratuitos.
Se puder pensar
Que possa haver consolo
Procurarei pelo que vai
Embora...
É chegada a hora dos
adeuses,
Sem mais choro,
Apenas sabendo
Que chegou sua hora.
Os mortos
caminham devagar
Os mortos caminham
Devagar.
Nem dá pra se notar o
quanto
Nessa miríade de
espantos...
Seria preciso auscultar
O pranto
Para sabê-los assim
Sofredores
De ter morrido por
caminhar
Entre moribundos
Devagar...
Mortos antecipados
A caminhar juntos
Par a par.
Madurescências
Do livro Viandando
As coisas maduras
Invertem os valores,
A pá, a colher,
As formas de amores...
As coisas amadurecem
conforme
Convivem com as outras
coisas:
O menino, a menina, o
garfo, a colher,
A mesma cisterna a lavar
tantos pés...
Que envolvem as verdades
Mentindo passagens
De um tempo andado
Entre o pronto e o
aprontado.
As coisas maduras tiveram
Cores diversas...
Da cor da inocência à cor
do pecado.
As cores maduras são
filhas
Dessas cores diversas.
Entre o branco da flor do
cafezal
Ao preto do café coado,
madurado,
As cores têm tanto futuro
Quanto passado.
Sergiodonadio.blogspot.com
Horas moídas
Outra vez moídas as horas
O cansaço de ir
Por ficar implora à dona
do mundo,
Como que por esmola
Um canto seco sob a chuva
cortante.
Outra vez, moídas as
horas,
O pensar volta-se ao
instante
Sob águas debruçadas sobre
o tanque,
Emergem daí novas
vontades:
A vontade de ir
Sem ter de ir embora...
É ausentar-se sentado à
mesma mesa,
Pensando avoado as
aventuras
E a paz de tê-las vencido
Por ventura da outra
longevidade,
A da vida madura.
Dessa vez o sono repara o
cansaço,
Há tempo de sobra sobre
O cadarço da bota escura.
Aqui, outra vez a mesa
está posta,
A fome é que não volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário