domingo, 3 de março de 2013

Previsões imprevisíveis Na década de 1550 Michel Nostredame, apotecário (farmacêutico) criador da pílula de vitamina C que combatia a peste negra, estudioso de línguas, teologia, alquimia, literatura e astrologia, íntimo do Rei Henrique II e de sua esposa Catarina de Médicis, apadrinhado por estes escreveu as centúrias, (quadras de versos, divididos de cem em cem) prevendo futuros acontecimentos. A escrita metafórica e obscura de Nostradamus, nome que assumiu, do latin, intriga até hoje estudiosos, mas depende de interpretações, o exemplo mais difícil é da sua lavra: “no sétimo mês do ano de 1999/do céu virá o grande rei do terror”, reescrito e traduzido muitas vezes, foi interpretado como o fim do mundo! O calendário Maia, bem mais antigo, contava o tempo em dias, contagem curta, e em anos, contagem longa. Fechando um ciclo a cada 52 anos. Prevendo que acontecimentos só se repetiriam o cada fim de ciclo. Segundo esses ciclos longos, haveria uma mudança cósmica agora. Erroneamente interpretada pelo movimento Nova Era como um cataclismo em 21/12/2012. Segundo Sandra Noble, diretora executiva FAMZI, organização que pesquisa a cultura maia, o que era motivo para grande satisfação para eles, se tornou motivo para pessoas ganharem dinheiro com a tal farsa. Em 1997, com a passagem do cometa Hale-Bopp, surgiram boatos sobre alienígenas que viriam destruir a terra. Infelizmente esses boatos fizeram surgir a seita “portais do céu” que levou seus 39 membros a cometerem suicídio, agrupados num rancho no deserto, acreditando que suas almas seriam salvas pelos alienígenas. Na virada do milênio, difundiu-se a idéia de que os computadores não diferenciariam 2000 de 1900, o que significaria uma série de catástrofes, levando ao holocausto nuclear. O que levou a uma grande corrida de construção de abrigos, prevendo o fim do mundo. No último dia 12 de outubro policiais do Piauí cercaram uma casa em Teresina, onde 120 pessoas estavam reunidas para esperar o fim do mundo, que, segundo um homem de 43 anos que se intitulava “profeta”, aconteceria naquele mesmo dia, o mundo não acabou, o profeta de Teresina, que não é um sacerdote maia, errou, o que espanta é que mais de cem pessoas tenham atendido à insana convocatória, largado seus respectivos trabalhos e levado suas crianças (eram 32 na casa e foram “resgatadas” pela polícia) para um lugar onde só havia veneno de rato para comer. Essas previsões são cíclicas, está surgindo a mais nova agora, prevendo para 2030 o fim de tudo. Pena que para muitos será mesmo, por questões de idade, balas perdidas, fumadas noitadas, guerras e guerrilhas... O padrão de vida está se deteriorando nesse sentido. Embora a expectativa seja de se viver mais, a irracionalidade faz com que vivamos menos, prendendo-nos em fortalezas contra ataques “alienígenas”. Pena...
liquidez Na dissolução do sólido Nos encontramos. Nos sabemos líquidos, Vemos-nos finitos Em nosso poder de grito. Será preciso mais que isso De sorver o líquido Para matar em nós A sensação de desvividos Na proporção dos nós. Por isso resistimos Ao poder da dor de fazer Penar o insólito vapor De nossas narinas Alteradas lesas. Na dissolução nos vemos Num espelho torto Como fôramos sempre Fartos de ternura Na altura de viver-las.
esfaimes Pela luz gasta De meu escasso saber Considero à paciência Esperar o descanso... As pernas louvam a condição Das poucas passadas antes, Agora querem o estado De transe. Puta que pariu... Como é distante a porta aberta Aos lances de ficar alerta Entre as pernas tronxas E os olhos esfaimados. Somemos as fases, Seria muito esperar Tal transe?
A prematura vez A morte diz ao pai choroso: -Eu não sabia que doeria tanto Perder seu filho para mim. Eu atenho tanto meninos... Eu estou farta de ater meninos, Eu não os quero assim Desorientados, Eu prefiro os velhos com passados, Com seus pecados imperdoáveis De viver... Não por seus pecados eu acaricio As faces lisas desses meninos Consolando-os de atê-los, Mas eu não sabia que a ti Doeria tanto O perder.
confrontos O homem natural se espanta Ao ver o que comemos No almoço... Somos assim tão gordos, idiotas, Ou apenas suicidas?! O homem natural chegou hoje De sua lavoura de verduras Sem agrotóxico, O que seria isso de envenenar-se Para não sentir fome? O homem natural está de perguntas Até o pescoço, Mas não temos as respostas, Porque cada resposta embute Uma nova dúvida... O homem natural volta ao se hábitat, Reprimido pela faina de donos Das ofertas drásticas, Somos assim idiotas, por gordos, Exageradamente sidos.
Joeiro Na manhã de hoje uns caras Pegaram um outro cara E bateram até ele desmaiar, Aí pegaram um concreto E bateram até esmagar. Uma cena revoltante De como pode odiar o ser Que se quer humano... O humano que se fez fero, Antes de se fazer covarde... Revendo a cena até à censura Crivo as unhas nesses idiotas E lavo a alma de as teorias. Enfim, aprendo com o ódio Uma lição sobre o amor.
Para cazuza “Eu não posso causar mal nenhum A não ser a mim mesmo A não ser a mim mesmo A não ser a mim” Cazuza É triste ver um menino Entristecer-se... Tentando utilizar As inutilidades. Quebrando as janelas Para um mundo claro escuro Entre as formas de viver E as formas de morrer-las. É triste ver um menino triste Abanando sua tristeza Para as alegrias ofertadas. Já é madrugada na sua noite Mas ele não acorda ainda. Dorme, menino triste, Sua tristeza desmedida, Sem lágrimas. ‘Eu vi a cara da morte E ela estava viva”
Durante a noite Os pensamentos me carregam, Eu escolhi a durabilidade, Mas elas também se acabam. Eu me pensei forte Mas enfraqueci diante Das penúrias de sentimentos... Onde estará o restante de mim Perdido nas sombras quando Olho meu perfil inacabado? Eu sempre carreguei a esperança Nas minhas viagens imaginárias... Consegui com isso desiludir-me Um pouco das possibilidades reais. Quanto tempo falta para romper A manhã de meu tempo lido? Depois terei de cumpri-los, Tortos tanto quanto os galhos Da minha goiabeira plantada, Por isso rompo o silêncio.
coevos Talvez o tempo me tenha E eu nem saiba disso Na ambigüidade entre O intento e o consumado... Eu queria roubar um verso Desse tempo pretérito Que de perfeito “imperfeiçoa-se” (As coisas ditas entre aspas É um modo de pedir desculpa Pelo atrevimento de pensar Inexistências verbais.) Talvez o tempo nem me saiba Roubando uns segundos a mais Nessa intrínseca jogada De subsistir ao laudo. Talvez até eu não saiba O quanto perdi de tempo Tentando contemporizar.
depressão O afogado Está no fundo do lago, Vendo o que se passa acima Do espelho d’água, Vendo uma garça tomar água, Uma corça chegando assustada, Um boi amealhando folhas... Isto assusta o afogado, Saber que eles não o vêm No fundo do lago.
suores Os sussurros da noite Rastreiam minhas sensações auditivas. Fico ruminando certas lembranças De como aprendi tarde a ler, De como desaprendi logo a crer... De como fugi de minhas sensações Perigando entre elas, alternando Suores frios e quentes... De como naveguei nesse mar Um meu barco sem velas... De como escorri as lágrimas Escondidas nas alegrias... Os sussurros da noite Invadem meu sono Mas eu durmo mesmo assim, Acordo suado, mas satisfeito Com minhas frustrações menores Que meus sonhos de hoje De correr o mundo novo de novo, Sem as amarras da timidez De antes.
Reunião familiar A dobra no vermelho Faz o rosa sair-se bem, Olho outra vez, o retrato Retrata um momento fugaz De nossas reuniões. A dobra evidencia a cor De antes, agora encarnada. A lágrima seca inda está lá, Entre os sorrisos falsos E um copo meado de vinho Trazido da outra sala, Onde homens discutiam O mundo de amanhã Consertando o hoje Maculado, aqui as damas Tomam o chá das intenções, Já casaram tantas moçoilas Com seus príncipes, Saídos das maçãs... Apenas as crianças se juntam Sem gêneros atrofiados, E sabem a verdade De viver.
Mala de viagem Arejo a mala tantas vezes vista, Assento ao fundo as recordações da vida, Amoldo as peças uma a uma Alisando as bordas das partidas... Agora posso dobrar as peças grandes Para que se acomodem às pequenas causas, Minhas peças íntimas ficam aquietadas, Os jaquetões se expandem Pela mala, preguiçosamente usados Em momentos de gala, Guardados do mofo, acobertados, Seguem tranqüilos a esperar viagens... Quantas vezes nos deparamos Com belas mulheres, cenas proibidas Segredadas ao ouvido dessas peças, Depois bem guardadas entre fios De vidas...
iluminura Não tenho medos comuns... Meu medo é ver o amor amanhecer Sozinho, com as janelas dele Dando para o sol E não podendo contemplar o sol Que vem vindo. Talvez esse medo seja incomum Mas conheço muitos Nesta situação de olhar E não ver o sol Que o amor trouxe de longe Pra você.
desígnios Fechar a porta de mansinho Para não acordar a consciência. Como se ali dormisse outro(a) Que não podia ser acordado, Somos o que pariram de sermos, Nem mais nem menos, Apenas esses seres pensos Entre a paixão e o arrependimento, Tardia desinência da outra parte, A que saiu antes, pé ante pé, Para não acordar a gente, Que inda dormia a confiança De não estar só.
prioridades O necessário não é A roupa do corpo É o corpo pra roupa. Sempre haverá alguém nu No olhar do outro, Que o vê por dentro, Por fora de conceitos, Apenas o seu, sem mácula, De somar as alegrias E chora-las inda antes. É desnecessário vestir-se De roupagens caras se Olham nos olhos.
O bom é sonhar O bom é sonhar A próxima viagem... O bom é sonhar A próxima miragem... Mas há os que nem Sonham viagem alguma, E, Para esses a viagem É a distância de não ir ainda. O bom é sonhar Uma casa nova... Uma nova estiagem Nessa umidade própria Da insalubridade tísica. É bom sonhar Que ainda haja vida Nessa imobilidade Imerecida. O bom é sonhar, Mas há os que Nem sonham sonhar... Na impossibilidade Física de o realizar! Sonham vida alguma Nas penúrias De esperar... esperar A levedura. Ensina-nos Senhor, A dançar um tango... Ensina-nos a pular corda, A dialogar com os anjos Que os eram em meninos, Companheiros idos Nesses desatinos de Não mais sonhar O tempo morrido... O bom é sonhar, Que faz bem sonhar Com os impossíveis De algum lugar Inacessível hoje... Talvez amanhã, talvez No nunca mais... Então fica o sonho Num sono profundo... Que é bom sonhar Abraçar o mundo Que virá de lá, ao vento Morno do equador, Ao gelado vento Dos pólos nevados. Seja lá o que for Esse vento forte Que não foi sonhado. O bom é sonhar As distâncias vividas Em algum lugar Além das divisas Desse teu lugar Entre as paredes Por ti construídas. Pra ter proteger? Pra cercar-te a vida! O bom é sonhar A próxima viagem, Uma casa renovada? Nem que seja isto: A indesejada despedida... Que seja Uma valsa a despedida... Que mal faz à vida Continuar, vazia...