quinta-feira, 30 de março de 2017

A velha sanfona


A velha sanfona
Jaz
Ao lado esquerdo da cama,
Silenciada
Se faz ouvir
Ao que o tempo
Reclama…
Velhos acordes
Voltam
A barulhar as crianças
Puxando seu fole mole
Dando-lhe alguma
Esperança.










Sorria, você está sendo filmado


Se olhar bem em volta
Vai ver a tristeza nas pessoas,
Elas estão ali por motivos vários,
Mas,
Estão tristes por ali estarem.
Uns têm valor a receber,
Sempre pouco,
Outros têm valores a pagar,
Sempre muito,
Por isso nem se dizem “bom dia”,
Não se olham, nem se veem…
Algumas mulheres
Medem outras mulheres
Dos pés às cabeças,
Adivinhando até a cor das calcinhas,
Mas,
Não se cumprimentam…
Os homens fixam nos documentos
E se concentram nisso
Enfadonhamente.






Os atendentes
Também estão tristes,
Afinal,
Eles têm quinze minutos de almoço
E se aboletam nos seus postos,
Trincheiras d’onde guerreiam,
À espera de problemas
Alheios…
Por isso estamos todos tristes,
Porque nos mandam sorrir
Ameaçadoramente.












Picumãs


O saudosismo me pega
Olhando de soslaio
O ventilador no teto da cozinha,
Mesmo sendo limpo sempre,
Junta os picumãs, de antigamente,
Desistidos de tirar, à época,
Pelas velhas tias…
Mas é a natureza lembrando
Que, apesar das modernidades
De coifas e exaustores
E óleos vegetais e
Fogões elétricos… E o que mais…
Ainda tem seus cheiros de gordura
Dos animais abatidos no quintal
E fervidos em latas
Naqueles fogões a lenha…
O saudosismo me pega
Olhando de soslaio
Essas velhas tias nos picumãs
Atuais…



Ele está lá por teu voto!


Há décadas os legisladores
São os mesmos, então,
Quando vir seu deputado
Discursando firulas,
Lembre-se: Ele está por teu voto!
Ao vê-lo no noticioso
Da polícia nos jornais…
Lembre-se, ele está por teu voto!
Quando alguém desabona-lo,
Lembre-se: Ele está por teu voto!
Quando o vires passar
E não cumprimenta-lo mais
Até a próxima necessidade,
Lembre a ele estar por teu voto!
Quando ele for levado
Coercitivamente ao fórum,
Lembre-se: Ele está por teu voto!
E mesmo que execras
O que ele fez com teu voto,
Morda a língua, porque
Ele está lá por teu voto!

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Mais dia menos dia


Percorro com os olhos
O limiar da vista,
Tudo parece igual,
As flores penduradas na amarelinha,
As flores caídas da amarelinha,
Os papéis que jogam nas calçadas,
Os papéis que outros catam…
E o vento a fazer dançar todos eles,
Folhas, flores, papéis, pessoas!
Neste mais um dia
A reviver outros dias,
Prometendo apenas mais um dia…
Em que apenas eu envelheci
Mais um dia…









Pela remuneração do domingo


Todos trabalham
Pela remuneração
Do domingo…
Uns carregam pedras,
Outros carregam penas,
A um passo de vergarem-se
Ao peso do ano findo.
O velho carregador assobia
Uma cantiga antiga de ninar,
A lembrar bons tempos…
De nunca mais.












Do sonho à realidade


Do sonho à realidade
A distância pode ser curta,
Tão próxima a se tocarem.
Como pode ser com as estrelas
Num céu límpido,
Mas dissociadas de seus pares.
Da realidade o sonho guarda
Pouca semelhança
Nessa corrida em que
Só ela se cansa.
















O pensamento reduz
O que deixei por fazer
No tempo escuro e de luz
Ao mero pensar revês









Nós, poetas deduzidores,
Abrimos nosso horizonte
Ao tamanho da paixão.







Donos da verdade


Éramos donos da verdade
Até que alguém diz
Ser proibido flechar o outro
Assim por nadas…
Só pela fome da sua carne.
Éramos donos da verdade
No tempo em que a verdade
Era a versão muitas vezes
Contada…
Éramos donos da verdade
Até onde a vista já não visse.
Depois de todas as mentiras
Recontadas continuamos
Donos da verdade,
Que resiste.











Os mortos querem dormir,
Mas os ainda vivos não deixam,
Fazem tanto barulho
Com suas ladainhas,
Com a fumaça de suas velas,
Com as mentiras de suas falas
De como era bom o agora morto…
Mas os mortos querem dormir!
Deixem dormir nos mortos
Suas verdades, suas estórias…
Até mesmo suas mentiras
Aventurosas… Em paz.














O espectro das coisas mortas
Acompanham os vivos…
Onde quer que se vá
Algo em ruína expõe suas feridas doloridas

















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segunda-feira, 27 de março de 2017

Volições


O desejo pela maçã
Quase a torna adjetivo
Cunhado à ideia sã
Que satisfaça o sentido.

O desejo não explorado
Morre por inativo
Trocado pela saudade
Pode seja um suspiro.

O desejo a cada idade
Abrange novo sentido
Cunhado na liberdade

Da vida sonhada ser
A vez de cada verdade,
Ou passou a ter sido.






Cada palavra poesia


Cada poesia quando exposta
Fica sendo palavra poema,
Cada poema é uma palavra
Diversa da outra palavra.
Assim nascem poemas pedras,
Duras, insensíveis, pétreas.
Outras chegam ao extremo
De serem poemas verduras,
Que nascem e pouco duram
No espasmo da vida dura,
Mas se tornam eternas
Nas palavras espinhosas,
Às vezes sem saber porquê…
Revejo poemas águas, fogo,
Utensílios e máquinas…
Com seus diversos destinos,
Da fala lúgubre à intestina.






Passo e repasso


Saibam que sou tudo
O que não interessa…
A vida começada
Não tem pressa.
O tempo desejado
Seja longo o bastante
Para ouvir o ronco
Dos novos delirantes…
Alguns passam ilesos,
Outros se machucam
Tanto que o tempo
Cicatriza em pranto.
Saibam que sou nada
No encanto de não ser,
Apenas maleável
Ao menor dos ventos
Como o barco em mar
Aberto ao relento…
Saibam que sei disso
Desde o meu início,
Que passo e repasso
E volto ao princípio.

Corpos despidos


O corpo despido
Escorre pela ladeira…
Já não faz sentido o choro…
A madraceira esfola um cabo
Pra próxima ceifa.
O que poderia ostentar pureza
Se afigura…
O corpo despido cede à sinecura,
O que vale o tento reclamado,
Se não sua feitura em cabo
E corte em fio afiado?
O corpo despe-se de fato
Ao ser lesado.













Eu sonho o sonho
Dos antigos sonos…
De quando em quando
Vejo-me surgir
Entre essas árvores,
Vejo com espanto
Que são as mesmas d’antes,
Que sempre estiveram aqui.
E vou sonhando
Com o que antes sonhara,
Que elas florescem
O viajar dos dias…
E por elas volto ao tempo
Das inocentes fantasias…












Num momento corrigido
Me encontro pouco a pouco
A relembrar o tenho dito,
Coisa que ainda é pouco
Nesses momentos vadios
Em que encontro o fio da meada
Perdido em momentos hostis.
Mas não reconheço nada
Deque pensava de mim
Sendo parte desse tempo
Sem começo ou fim.















Sobre o telhado de vidro
Jogam as pedras.
Não faz sentido ressentir-me
De pedradas anônimas,
Dessas
Que covardemente
Atiram-me às costas da vertente.
De sobre os telhados cato
Essas pedras
E pavimento
Meus pensares,
Meus intentos…











Carriço


Hoje,
Conversando com alguns sábios,
John McCrae me diz
Das dúvidas sobre os seus deuses,
Descubro o quanto ignoro
Temas que dizem respeito
Aos correres da história,
Que continuo não entendendo.
Às vezes me surpreendo
Discutindo com antigos versos,
Que a mim se falam
E de mim divergem…
Mas eles já se foram, faz tempo,
Que não sei quanto é de meu
Seu desatento.








Revoluteios


Vivemos bem as modernidades?
Já não tomamos jardineiras,
São ônibus trafegando
Em vias pedagiadas
Nossos sonhos desviajados,
São imagens em 3D
Essas passagens pelo tempo
Que não se demoram explicar
Minhas ignorâncias.
Tão rápido a dedilhar Wathzapp
Nessa penúria de tempo,
Correm para algum lugar nenhum
Dentro de seus próprios lugares.
Essa impaciência com minha leitura,
Nas catracas informativas,
Onde quase sempre alguém me desavisa do que há e do que não há,
De balas a cafezinhos.
Alguém me sabe assim meio cego,
Meio surdo,
Meio cansado de correr atrás do tempo?




Não!
Eles apenas se impacientam
De eu não saber inglês,
De como se comunicam
Com essas maquininhas interlocutoras,
Mesmo no tête-à-tête
Com a mesa ao lado…
Como saber se estávamos certos
Ou se eles estão errados?
Ainda respiramos, desgraçadamente,
Aqueles problemas de antigamente…
De quando o bonde sobre trilhos
Chiava suas rodas ao atrito…
E o vendedor de bugigangas,
Hoje andarilho?
Como se o tempo refizesse o tempo
Revoluteando o mundo,
Costurando as ações
Desse vagabundo.



Pela porta aberta


Pela porta aberta
Me chegam os louvores,
Me dizem as horas,
As benesses, as malcriações
Dos meninos desvairados…
Pela porta aberta
Saem as ordens
Para que possam sorrir
Por lá da porta…
Pela porta aberta
Há de voltar o filho, pródigo,
E, mesmo que não se o queira,
Será bem-vindo,
Que a porta, em estando aberta,
Dá esse aviso.








Um par de chaves


Quando nós dois
Não tivermos por consolo
O olhar ao rio passante,
Haveremos de nos
Espelharmos em sua vontade
De ir adiante…
Quando nós dois sentirmos
Saudade das coisas fúteis
Que não guardamos,
Por certo veremos
Nas cristaleiras de antes
Esses objetos soltos
Entre outras lembranças,
Um par de chaves
Abandoado ali
Será o bastante pra saber
Quanto perdi.






Parlenda


Passo pelo parque
A revoada das pombas
Faz-me inveja,
Que quereria eu olhar
De cima o que rasteja
Pela calçada humana.
Mas eu mesmo me vejo
Catando restos
Como um gato vagabundo
Ali por perto…
Ele também não conseguiu
A ave, que voou antes,
E se contenta em raspar
As penas que ela deixou
Na pressa de ir-se à vida.
Vejo que, embora não sinta
A mesma fome que ele,
Que também não voa,
Tenho a mesma desilusão
Da outra loa…



Convite ao gris


Deixei-me entrar
Nessa ilusória sensação
Da porta giratória,
Que me convida sempre
E trava aos meus pertences.
Agora nos deparamos
Com deveres e haveres,
Eu e ela,
Simplesmente ao pintar
O momento de nova aquarela
Com a mesma cor de antes.
Há alguma coisa que eu possa
Dizer
Que não seja cópia
Do que já o tenha dito?
Passo por essa porta
E volto,
Que não quero mais entrar
Nesse sentimento
Hostil ao atual momento
Grisalhado vil. 

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A velha sanfona
Jaz
Ao lado esquerdo da cama,
Silenciada se faz
Ouvir
Ao que o tempo
Reclama…
Velhos acordes
Voltam
A barulhar as crianças
Puxando seu fole mole
Dando-lhe alguma

Esperança.

sexta-feira, 24 de março de 2017

CONVIDO-OS A VISITAR
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Separar o trigo do joio


Dos males o maior,
Que os menores não trazem alento.
A verdade é que somos todos
Cavaleiros sem cavalariça,
Com momentos cavalheirescos…
Nesses momentos nos tornamos
Cavalheiros, esporadicamente.
Separar o trigo do joio,
O objeto do dejeto,
Correr atrás dos bons momentos,
Descartar maus pensamentos…
Frise-se a calma momentânea,
Rize-se do humor terceto,
Antes que se acanhe e volte
À cavalariça e desgorne
Em treliça o desfeito.


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CONVIDO-OS A VISITAR






Palavras pesadas


São aquelas que machucam
Quando expostas
À conscientização.
Aquelas que adentram
Até às lágrimas
O senso destroçado.
As ditas na surdina, longe,
Que respostarão à altura
Aos ouvidos moucos dos que
Lavraram antes a inquietação
Das verdades… Na verdade
As palavras pesadas
Têm eco, às vezes tardio,
Mas sempre contundente
Ao extravio…








NENHUM DE NÓS


Nenhum de nós
Pôde libertar-se da condição
Gravitacional do outro…
Estando só,
Estará supostamente liberto…
Mas não,
A solidão também prende,
Se não pelo elo,
Pelo silêncio das vontades.
Nenhum de nós
Tem a liberdade do grito,
Mesmo que emudecido
Pela intimidação.
Ajoelho-me à razão de que
Nenhum de nós prende,
Ou está preso, sem as amarras
Da conscientização.






Procuramentos


A poesia que está em mim
É a poesia que sai de mim…
Não é a poesia funcionária,
Nem pública nem privada.
Talvez seja, com
Alguma boa vontade,
A poesia operária
Causada nas tardes trabalhadas,
Deixada das artes sectárias…
A poesia que sai de mim
É minha verdade camuflada.












Esponjamentos


Ao procurar por mim
Em todas as portas,
Não me encontrei
Em nenhuma…
Talvez porque
Já não estejamos aqui.
De um passado distante
Me procuro,
Como procuro os amigos,
Mas todos se foram…
Arcaram-se aos anos,
Debilitaram-se nas mentes,
Esponjaram-se…
Por isso não me encontro
Nessas portas abertas
Ao novo.







Escatológica?


Perguntado à mocinha
O que invejava no homem,
Respondeu de pronto:
- Mijar em pé.
A mim me causa inveja
Essa despudorada
Linguagem nova,
Com acintosa escatologia,
Em minha visão de passado,
Enlaçado nas palavras
Vistas besteirantes
A rubrar as faces lívidas
Dos velhos hippies.













Não é tão difícil
Acreditar no sonho,
Na realidade do sonho,
No construir-se o sonho…
Cinzel a madeira,
Pincel e tela,
A mão firme na manhã
Acordando a vontade…
Não é tão difícil
Acreditar na verdade
Que fez parte do sonho
E se abre…













O desejo pela maçã
Quase a torna adjetivo
Cunhado à ideia sã
Que satisfaça o sentido

O desejo não explorado
Morre por inativo
Trocado pela saudade
Pode seja um suspiro

O desejo a cada idade
Abrange novo sentido
Cunhado na liberdade

Da vida sonhada ser
A vez de cada verdade

Ou que passou a ter sido

segunda-feira, 20 de março de 2017


Espantamentos
do livro "CONJECTURAS"
Também sinto esses
Espantamentos…
A primeira vez com
As pernas
Da menina vesga,
Como foi lindo…
Depois com a corrida
De touros indo para
O matadouro,
Como foi triste…
Adiante tive
Espantamentos
Com coisas variadas,
De que pouco lembro…
Não hoje,
Hoje que digo é
Ultimamente…
Tô muito espantado
Com as mortes matadas
E o estrondo das contas 2,
Da petroleira da lava jato.
Senhor! Quanta imundície
Desce o Rio Doce
E aqui desagua…
E não se chega à consciência
De quem manda
Nessa manada!
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sexta-feira, 17 de março de 2017

Notórios


Todas as verdades
Estão expostas
Nos menores gestos…
O que fala da boca,
Ou o noticiário,
Talvez não seja o certo,
A verdade será exposta
Nos tantos gestos
Dispensados
Restos.













Todos estão comigo?


Todos estão comigo
Nisto de sentir no vento
Suas presenças,
Das primas às coisas…
E em meu rosto sopra
A presença do que creio
Seja Deus em nós
Quando precedemos
Às pessoinhas novas
A cada floração.
Todos estamos aqui
Superpostos em nossos
Caros descendentes,
Vindo de ascendentes
Com mesma genética
Que nos faz, e de nós,
Nós mesmos.






A vida dessas paredes



A vida dessas paredes
Difere da minha.
São rachaduras ou veias?
São retratos ou extratos?
Nossas vidas se completam
Enquanto coisas…
Não me sei mais que coisa
Entre paredes coisas
Com seus pregos coisas
Segurando Coisas…
E minha vontade
Segurando retratos
Desses consanguíneos,
Como pinhões nos pinhais,
Essas laranjas nos laranjais,
Os bichos dessa floresta
Plantada em nosso meio,
Sendo veio.





Sem pranto


Eu,
Que me transo
Às horas tantas,
Vivendo-me
O que me haja
Por viver,
Sei-me
Capaz de tanto,
Correr as tantas
E desacontecer
Sem pranto.












Cuidadores


Quando já só resta
Meia pessoa em vida
Preocupam-se
Com sua saúde?
O sal demais, o açúcar,
Gorduras ingeridas…
Põem-se a receitar dietas
Ao pobre aposentado,
Que já não consegue
Verba definida
Pro arroz com feijão,
Que coma frutas,
Iogurtes,
Pílulas vitaminadas…
Que se cuide!
Que se cuidem,
Brincadeira tem hora…






Musgos


Nascem,
Desses túmulos azuis,
Pessoas que há muito
Não vivem…
Ornando suas fotos antigas,
Suas poses bem vestidas,
Suas alegorias…
Aqui nascem as derrotas
De seus dias,
A forma e a fama
Em mesa e cama
Nessa imperturbável inércia
De ainda vivos
Nesses túmulos azuis
Que não os deixam morrer,
Floridos… Refloridos…
Cuidados como nunca
Em vida.





Visita


Quando
A menina se achegou,
Tem a idade de meu neto,
Não atinei que não seria
Para falar comigo…
Dessas coisas de velhos.
Meio zonzeando pelo sono
Fui deitar na minha hora.
Depois emburrou-se comigo,
Que não lhe dei atenção…
Que lhe fiz pouco…
Coisas que só crianças
Fazem gosto…










Estranho fóbico


Estou ficando
Mais educado, quando
Não gosto de algo,
Poesia ou música,
Digo que não entendi
O recado passado.
É preciso saber a hora
De parar de arguir,
Até de achegar-me…
Quando as reticências
Se tornam costumeiras
Nesses assuntos sem fim…
É preciso pôr lhes fim
Num último descarrego…
Pra começar de novo
O desassossego.







Soluto


O que acontece
Essas tardes em que
A paz é o sossego da alma?
Acontece de deslembrar
Favores e haveres,
Temores e deveres…
O encanto de se estar,
Estar em si mesmo,
Estar em silêncio,
Estar em êxtase sereno
Entre sóis se indo
E luas vindo…
De um absoluto silêncio
Entre as balbúrdias
Da manhã
E a espera pelo frio
Da noite…
Esse estar sem propósito,
Apenas o fato soluto
De estar, como se
Não estivesses
Junto.

Precisões


Talvez eu não saiba
O caminho traçado,
Como sabe o fio de água
Descendo campos…
Talvez eu seja
O último a saber
Desse meu destino,
Depois das rochas,
Até mesmo depois
Dos invernais
Desfolhamentos…
Talvez  já não respire,
Mas não o sei…
Sei que esmoreço
A cada caminhada,
Resfolego… Tusso…
E está difícil voltar
Ao ponto de partida,
Talvez eu não saiba,
Embora sinta.



A consciência


É como cabelos grisalhos,
Surge com o passar do tempo
E é preciso deixa-los
Transparecer, sem pintura…








À flor que me vem
Nessa fresta da janela
Dedico a amizade pura
Que possa vir por ela…







Esse mundo terra


Esse mundo terra
Se apequena
Frente às decisões
Da moçada…
De vez que não percebem
Os erros de jornada…
Talvez seja tarde
Para reconsiderar
O tempo virado em dias
Por esse mundo
Pacientemente…












Dúvidas


Que parte de mim
Pergunta?
Que parte de mim
Responde as dúvidas
Da criação?
Diz-se que o coração
Pulsa
Aos três meses de gestação
Para irrigar a criação
Dos outros órgãos…
E continua teimosamente
Resistindo à frouxidão
Exangue de todos…










Procura


Esta voz
Que chama de longe
Traz um não sei
Que de ternura
Embora grite nomes
Que não sei d’onde…
Não se exaspera
Por não ter resposta…
Apenas grita,
Nomes de sua prole?
Talvez ao assobio do vento
Esta voz chame dos longes
Seus rebentos.










Ah… Essa alegria…


Ah… Essa alegria…
Um tanto desbragada,
De um gato com botas,
Uma Alice num país
De suas maravilhas…
Inventados no país do nada,
Surgidos sabe-se lá d’onde,
Elefantes voadores…
Ratos falantes…
Neste infindo otimismo
De seguir adiante…















Quereres



Se quiser,
Como quisera,
Ir adiante,
Como fora ainda
A manhã dos ontens,
Subir a serra e
De lá de cima
Olhar o chão
Aos pés da rampa
Sentindo o sol
Em sua chegança,
Abrir aos claros
As flores da noite,
Deixar inda hoje
Florirem à luz…
Se quisesse,
Com assim o quer,
A paisagem seria
Sempre radiante.







A vagarosidade
Do barco entrando ao porto
Mostra que o sonho
Pode ser-te absorto…







Todas as vozes corridas
Dizem a mesma verdade
Ao finar cada lida…









Derrubança


O vento vem derrubando
Flores e ideias novas,
Muros que viram pó,
Marrecas a se esconder…
O vento vem derrubando
Os sonhos dos moradores
E a eficácia do construído
Tijolo sobre tijolo
Na potência do fazer,
Que o ser complica as obras
Tombadas ao fenecer,
Que o vento vindo ventando
Fez tamanho desacontecer
Que é o mesmo vento seguro
Que ontem derrubou muro
Que o vento põe a perder…
E por toda madrugada
O vento vem derrubando
As formas de já não ser.




Desta hora


Que bom seria relembrar futuros,
Voltar no tempo assim desértico,
Ouvir do outro lado desse muro
Que tudo poderia ter dado certo.

Mas esta face envilecida mostra
A outra face, a das desalegrias,
E pode ainda encontrar-se torta
Entre todas as nossas nostalgias.

Seria canto extremo da cotovia
O verso torto que ainda te faria
Acompanhamento desta hora?

Que o mesmo nome inda irradia
O que se foi de nós naquele dia
Em que abriste a mim tua porta.

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Lua sem mel


Dessa lua sem mel
Aos primeiros passos,
Não da infância,
Que há tempos foi-se,
Do concubinato ofertado,
Há de dizer se arrependida
Voltas ao lar, antigo ninho,
Deixado ao desabrigo
Do desamor oferecido
Como resposta ao frio
Rastilho…
Quem pode o canto definir
Se alegria ou choro,
Pássaro preso ao desconsolo
De em vida desprometida
Ver-se morto?













Todos seríamos covardes
Se ao ouvir esse estrondo
Não tivéssemos curiosidade.











Do imerecido retorno
Às coisas fúteis da lida
Uma palavra de estorvo
Deva ser a despedida…












Às coisas levadas
Pelo mundo
O meu amor
Mais profundo…
















TENDO DITO TUDO
O LÁPIS FICA MUDO





























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