terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A semana

Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi realizada a semana de Arte Moderna, idealizada pelo pintor Di Cavalcante, celebrizada por Oswald e Mario de Andrade na literatura e por Anita Malfatti na pintura, fazia parte das celebrações do centenário de Independência, criticada por Monteiro Lobato e outros, apoiada por Guilherme de Almeida e outros, recriminava a perfeição estética do século XIX, abrindo horizontes para novas idéias em literatura e artes em geral. Manuel Bandeira foi vaiado quando apresentavam seu poema os sapos, depois muito consagrado. Anita Malfatti não foi aceita. Com o quadro o Abaporu Tarsila do Amaral também foi criticada, consagrado depois. Heitor Villa-Lobos na música, Gilberto Freire e tantos outros, mas hoje é unanimidade a projeção da semana para as artes no Brasil. 90 anos depois, soa meio sem sentido rotular a arte modernista. O que seria modernismo? Portinari ou De Chirico? Picasso ou Dali? Da Vinci ou Michelangelo? Parece-me que tudo é arte extemporânea. Drummond ou Cacaso? Nessa seara quero citar: ”Nutre-nos a esperança enganadora, ansiosamente lutamos para alcançar o inatingível, como vivemos um breve dia, filho, não nos iludamos...” este trecho é de um poema do século VII antes de Cristo! “Vou de adeus em adeus atrás de nova ilusão, amores que foram meus agora de quem serão” esta do século XXI.. “Com minha arte firo mortalmente aqueles que me ferem” pensa bem, que modernismo este de Alcmeão, séculos antes de Cristo... Mas, o ranço do século anterior ao nosso, tinha alergia por versos brancos, a arte sem sombras expressivas. Enfim, anos depois os movimentos tropicalismo e bossa nova ainda são herdeiros daquela semana, que mudou o parâmetro dos conceitos e abriu as portas para essas experiências vindouras.
Em 1922, além da comemoração dos 100 anos da Independência, em 7 de setembro, tivemos o levante do exército contra o governo, a eleição de Artur Bernardes para Presidente, lá fora teve a dissolução do império otomano, a formação da união soviética, o falecimento do Papa Bento XV, e, para esmagar, a criação do imposto de renda cá.
Voltando ao assunto: Aos noventa anos da semana, aqueles que deram a cara para bater já se foram, resta a obra que deixaram, os herdeiros que os glorificam, a nova maneira de ver o mundo aceitando a diversidade de versos e tinturas, proliferando a palavra diversa da palavra, assim é que cultuamos a herança, asseguramos a perenidade do proposto. Parece fácil agora que se abriram as portas, mas o modernismo preconizado naquela época levou pedrada, é preciso que se o respeite sempre por isso.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Profissão: Político!


Faz tempo que política, a partidária principalmente, virou profissão? O engajamento político deveria ser sempre um compromisso de se dar algo à nação, não de esperar ser pago por isso. O ser humano é um animal político. Quando se insere nas ações políticas da sociedade em que vive, o intuito é de ajudar sua comunidade. Mas, em todos os tempos esse ideal parece deturpado pelo cinismo de usar o degrau que lhe confere a ação política, a partidária principalmente, para se mostrar “benevolente” e dar cunho à famosa frase: Fazer mesura com o chapéu alheio.Quando um cidadão é chamado(ou se oferece)para disputar um cargo eletivo, normalmente o primeiro degrau é a câmara de vereadores, parece que ele já assume a paternidade das mazelas da cidade, oferecendo desde carona a materiais diversos para socorrer emergências ou carências do eleitor, (se o cidadão não for eleitor, não tem nem bom dia), se eleito, passa a ser padrinho informal de seu bairro inteiro.
Desde quando política se tornou profissão? A ação política é aberta a todo cidadão eleitor, profissão?: Carpinteiro, médico, ferreiro, até auxiliar de...é profissão. Política não, política é ação de cidadania. Mesmo parecendo ingenuidade, deveria ser regra a disposição de servir, sem ser recompensado financeiramente, sua comunidade, esta que te recebe de braços abertos quando você a procura e se estabelece como profissional, seja empregado ou empregador, em qualquer ramo que se ache apto.
Quando o cidadão assume um cargo político, sendo remunerado por seu tempo, não deixa de ser o profissional que já era antes, então não deveria agregar à sua profissão a de político, até porque é uma incumbência passageira. Quando um dentista vereador termina seu mandato, ele continua dentista, isto é sua profissão!
Essa profissionalização do afazer político tem feito com que o elegido lute por sua permanência no espaço estatal, pelo fato de ter perdido espaço no seu verdadeiro fazer profissional, tornando assim dependente de mandato “profissional”. Essa dependência provoca atos de mudança fisiológica acima da ideológica, que faz o interesse inicial mudar de assento, desde que permita a continuidade, às vezes desastrosa.
O espaço estatal parece perder importância quando se reduz à mera posição de profissão ao que almeja ser estadista, condição muito acima de qualquer profissão. Isto é um perigoso parâmetro para o olhar pragmático do cidadão, que passa a ver seu estadista como carreirista, e perde motivação para votar, pilar mestre da democracia, o poder do povo.
sergiodonadio.blogspot.com
Perdas e danos


Todos perdemos algo no correr dos dias de vivência neste mundo, não diria cão, mas áspero, para dizer o mínimo. Estes dias perdemos uma pessoa talentosa e lutadora, portadora de diabetes altíssimo, não esmorecia nunca, lutou até o último suspiro. Morreu deixando viúva muito nova e a filhinha de um ano e pouco. Bem, no velório fiquei assistindo a dor estampada nos rostos dos pais dele, que se desnorteavam pela sala, volteando o caixão como se pudessem ainda prover alguma ajuda ao filho, que se foi. Assistindo aquela cena, fico pensando nas perdas que temos durante a vida, um amigo do lado dizia que nesta hora é bom ser criança, porque a criança ainda não perdeu quase nada, só ganhou na vida, os carinhos, os cuidados dos adultos, não sabe o que é prover sentimentos junto com outras necessidades tanto materiais quanto emocionais. Não concordo com meu amigo e comecei discorrer sobre o que seria a perda para aquela criança, a mesma que no dia anterior disse-me ao ouvido que queria levar um livro para a professora no último dia de aula, porque ia perdê-la para o ano seguinte. Daí comecei enumerar mentalmente o que aquela, e outras crianças, estava perdendo, talvez inconscientemente, mas perdendo sim, naquele velório, o tio , que não mais veria, a tia, que se afastaria com a priminha, já que desfaz-se um pouco ali o tênue elo que havia entre as duas famílias, e emendando aos acontecimentos de fim de ano, perderia o convívio da escola, pois ano que vem vai para outra escola, conviverá com outras crianças, não aquelas com que se acostumou este ano, perderá o convívio com todos deste curso, no curso de suas vidas, cada um a procura de seu futuro. Pois bem, digo ao amigo que em criança também se perde alguns lances, a memória irá cobrar dela as intrigas e fanfarronices desse tempo, quando os eventos ficarem mais sérios, adolescendo e depois cursando uma faculdade ou um outro destino, indo trabalhar seu sustento, lembrará, como eu lembro hoje, daquele tempo das inocências, das primeiras letras desenhadas no caderno, sem muito sentido... portanto perde sim a criança seus valores de época, diferente do adulto mas também necessitada de consolo, conselho, direção, ordem mesmo para suas tarefinhas de criança. Neste inicio de ano, juntarão seus cacos tanto os pais do rapaz quanto sua irmã, sua filha, sua esposa, sua sobrinha, seus chegados de todas as idades.
Mais brandamente, quando um adulto perde um emprego ou muda de cidade ou mesmo de bairro, seus filhos criança perdem junto com ele os elos que montaram para seu mundo ali, naquela rua, naquele limoeiro, naquela escolinha, enfim, naquele quintal cheio de meandros, cantinhos ocultos, no jogo de bola, da amarelinha, nos recados nos cadernos.
Cada um com sua perda viveremos daqui para frente sentimentos diversos, mas entranhados nas idades e percepções das ausências, prometidos que somos de viver sentimentos de alegria e dor com a mesma paixão.
Perdendo a esportiva

1-Em março de 2011 0 governo federal criou mais uma autarquia, ou o que o valha, (leia-se anarquia) a Autoridade Pública Olímpica.(APO) ligada ao Ministério do Planejamento, para coordenar as ações dos jogos olímpicos de 2016. criando 484 cargos comissionados, o congresso autorizou a contratação de 181 comissionados, o presidente as APO, Marcio Fortes de Almeida empregou 60 pessoas, estimando um custo de 22 milhões por ano. Muito ou pouco? Acontece que o Presidente do Comitê Organizador Carlos Arthur Nuzman, garante que o COI ( comitê olímpico Internacional) manterá todas as despesas com patrocínios!! Em novembro a APO foi transferida para o Ministério dos esportes, e continua apo...rrinhando.
2-Ainda no governo Lula, paralelamente a FIA (Fundação Instituto de Administração) criara a Empresa Brasileira de Legado Esportivo S/A que recebeu verbas de 5 milhões de reais sem sair do papel, o Ministro Orlando Silva diz que não tem conhecimento, mas a tal empresa continuou a receber verbas mesmo depois de desativada pela Presidente Dilma, o ministro dos esportes, o atual, Aldo Rebelo,diz que quando assumiu a empresa não existia mais.
3-Enquanto isso, o “cidadão”, com desculpa ao termo, Naji Robert Nahas, nadando em dinheiro alheio, quebrou a bolsa de valores, foi preso, solto, falido, pego com milhões recebidos, segundo o próprio, da Telefônica, dono da também falida Selecta, que é a “dona” dos l,3 mil metros quadrados do bairro Pinheirinho em são Jose dos campos, sobre os quais não paga IPTU há muitos anos, onde milhares de migrantes das secas do norte de Minas e outras regiões se alojaram, indevidamente?, pois foram abandonados à sorte nas paupérrimas regiões de onde precedem, devidamente?! Encontraram tal terreno, da família extinta( que foi extinta, diga-se) que, sem herdeiros, deixou a fortuna para o Estado, que, num passe de mágica passou para o estelionatário em questão, que não fez nada mais do que esperar... não pagou impostos, não edificou nada lá, não perdeu, como qualquer outro falido, a posse do terreno, e volta a amealhar o que deveria ser agora um tranqüilo bairro. Errados estão os que se apossaram? Mais errados estão os que desalojaram brutalmente tantas famílias de seus tetos, num país que luta para cobrir de teto seus cidadãos em penúria.
4-Deplorável a atitude de minha grande ídola Rita Lee, em seu enfrentamento aos policiais que buscavam uma pessoa no recinto de seu “último” show! Quando se exaspera e xinga, o que é de seu jeito, os policiais de cachorros filhos da p... minimizando a situação ambiente: -Por causa de uns baseadinhos? Grande diva, aprende com sua própria lição, lembra: -“seja educado/diga: não./obrigado”.
5- Para fechar a semana: Que m... fizeram lá no Rio, amontoando andares num prédio sem estrutura, depois que caiu as autoridades descobriram tantas irregularidades, não? Onde estavam os fiscais antes? Molhando a mão?
6-Só para não passar em branco, coalharam esquinas com sinaleiros na nossa cidade, uns menos necessários, como da Marabú com Falcão, mas que pecado esquecer a mais precisa delas, da Flamingos com Drongo. É isso aí...
Corrimão


Apoio
para os braços cansados
De abraçar trabalhos...
São anos de milênios
Imaginados...
São pérolas rebuscadas
Nessas cascas...
São nós feitos e desferidos
Em tanta raça.

Corre mãos com a garra
De apoiar idéias,
De abraçar trabalhos
Por milênios anos
Imaginados
Sonhos pérolas nas cascas
Inda por abrir e ver
Desfeitos
Nada.
O silêncio do poema


O silêncio do poema
Traz das folhas cadentes
Uma nostalgia de invernos
Brutais...

Um dia dentro do tempo
O inverno era preciso,
Trazia pinhões fervidos...
(que não vem mais)

Era caminho de geadas...
Era o fruto seco da manhã
Dentro e fora de nós
Meninos entreabrindo...

Um dia o inverno será dor
Dos joelhos deflorados
Pelos caminhos gélidos,
Antes floridos.

Um dia o inverno virá
Ceifando dores e risos,
Congelará faces rígidas
utópico


Da noite está tudo pronto,
As obras por fazer
Estão terminadas, lindas,
Brilham ao luar
Das escurezas...

De manhã nada está pronto.
As obras por fazer,
Não terminadas, ofuscas,
Desbrilham ao sol,
Se desfazem.

Prefiro ignorar essa luz
Que desfaz as utopias
Das escurezas
Um pouco mais,
Só um pouco mais...
Os perigos de viver hoje
No fb 1/2012

Lá fora a nuvem ameaça
Uma carga d’água.
Talvez nem caia...
Mas ameaça.

Lá fora o marginal ameaça
Uma arma enferrujada.
Talvez nem saia...
Mas ameaça.

Cá dentro a TV ameaça
Um novo reality.
Mesmo que não saia,
Quanto ameaça...
perspectivas


Apenas sonhar a viagem
É como olhar as estrelas
Num espelho d’água..
Direto ao assunto


Quem aniversaria
Ganha um bolo
Ou perde um dia?
Lume afiado


A palavra espia o futuro
E expia o passado...
Cada guerra tem sua espada,
As bombas são atômicas,
Sem nenhum romantismo
Das velhas adagas.

Não há espaço para
Os cavalos dos heróis...
A independência depende
De um brado mais alto ainda...
a ponto de ser ouvido
Como nunca dantes.

Não medalhas para heróis.
Não mais heróis, apenas
Botões e civis emboscados
Por satélites e miras
Bem precisas, que nem
Estragam o casco.

A próxima guerra fará
Com que a vítima se mate.
Não haverá vencidos, apenas
A palavra... a palavra
A ferir suscetibilidades
De velhos encravos.
Almofadinhas


As damas tomam chá...
E nem são cinco horas ainda,
Olham com indiferença para
O jardineiro, o lixeiro, o pedinte,
O passante de roupas rotas...

Só se apiedam do cãozinho
E suas pernas tortas...
As damas tomam chá
E nem são cinco verdades
Ainda...
Dardo


Um olhar
De murchar
Quaresmeira,
De botar quebranto
Em criança.

De fazer gaguejar
O velho acostumado
Com maldades...

Este olhar de súplica
Entra pela sala
E olha a viúva,
Põe a mesa no lugar,
O vaso de finuras...

Apenas um olhar,
Mas como deprime
Outros olhares,
Menos talentosos
A ranhuras.
Lagartixas


Nada há de humilde
Na mulher que passa...
Nada de humilde
No terno e gravata...
A existência é um glossário
Das coisas vividas até aqui,
Entre tijolos e tabuados
Findados em ruelas..

Sob as taboas longe do sol
As lagartixas escondem
Sua vaidade feminina,
Lambem os lábios
Procurando sais e
Espreitam moscas...
Estão por aqui bem antes
De sermos donos delas.

Nada há de humilde
Em desassombrar
As paredes deslocadas
Da imagem conhecida.
Apenas nós somos diversos
Dessa lamúria de fatos,
Os outros todos são
Produtos dela.
Te Deum


O dia da graça
É um momento,
Ou de sol a sol
O precisado dela?

A ocasião da graça
É um momento
Passado a durar
A espera.

Rezam marias
a graça concedida
Entre o purgar
E as dores...

O dia da graça
É um momento.
O resto é espera
E esquecimento.
jaculatório


Não oro em desespero.
-Não faças tal!
Agradeço em primeiro,
Depois
Peço o que me falta,
Não de materialidades,
Mas na ausência delas.

Entre as coisas fúteis,
Banais, absoluta falta
Que me faz
O bom pensar
a cada minuto,
Defasado em eras.
À luz da vela


Ilumina, poesia, Esta
sala vazia, repleta de
gentes e palavras ditas
Como fossem velas
Essas falas acesas.

São luminárias
com suas histórias,
Desde os lampiões,
Às lanternas chinesas,
lamparinas fumarentas...

a palavra... ah, a palavra
não se apaga quando
Apagam-se as lanternas,
Cuja vela persiste milênios,
Vide Péricles, essênios...

Vide as vozes dos poetas
Dos séculos passados,
Acendidos uma vez, acesos
Sempre, nunca apagadas
Essas falas acesas...
A idade
À Hilda Hilst

Expõe tua couraça
Ao riso quente
Dos poetas mortos...
Esses que diziam coisas
Das vidas que te traziam
Exposta...

A couraça não te protege,
Já que estão mortos
Os que te agridem.
E ainda te imolam
Os que te vivem.
ofertório


O que te possa dar
É o que perdeste,
A fase úmida da excitação
Efêmera.
A frase seca da negação
Extrema.

O que me podes dar
Senão a seca
Dessa fase crepuscular
De erma?
O que nos daremos mais
É o que não temos.

Talvez sejamos pares
Do que nos cerca,
As fases de promessas
E desertos
Além das boas fases
De se estar certo.
advertência


Não podes fechar os olhos
Agora,
Os aconteceres passam pelas pálpebras
Pelo som das bombas, dos falantes,
Das buzinas, e injetam surpresas
Em teus olhos fechados.

Não... não podes fechar a consciência
Por agora, quando
Urge ouvir as bombas desses sons
Ameaçando a paz
Do teu silêncio.