sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PAI


Eu estava aqui enquanto partias,
Ainda estarei aqui quando fores.
Vi tua calma quando morrias, e
vai-me morrendo pouco a pouco...

Um pouco a memória te desfaria
Como desfizeram de ti os ossos,
Mas estou aqui lembrando disso,
Provando a mim quanto não posso.

Mesmo que não me tenhas alento
Ainda te escuto quando me ligo
Às horas dormidas do pensamento:

Um tanto memorar cada momento,
A perguntar por mim se te olvido,
A fazer-me chorar quando te lembro.
O galo sem cabeça


De um tempo sem alegorias
Lembro
O facão afiado penso sobre
O pescoço do galo,
A canja do dia,
O golpe,
O sangue, a corrida do galo,
Por um segundo?
Sem a cabeça!

Neste tempo de alegorias
Esses galos sem cabeça
Correm
À besta pelo caminho torto
Das eleições munidas
De facão e braços fortes
E o golpe,
O sangue, a corrida...
Sem cabeças.
Os cientistas

“Yo voy Soñando caminos
de la tarde. de la Tarde. ¡Las colinas ¡Las Colinas
doradas, los verdes pinos, Doradas, Los Verdes pinos,
las polvorientas encinas!… Las Encinas polvorientas! ...
¿Adónde el camino irá? Adonde ¿el camino Irá?”

Pesquisam o desconhecido
Em inconcebíveis distâncias...
(Procuram barrigas sugadas,
Águas, crianças, o eldorado?)
Procuram nadas e nadas,

E ainda que as encontrem
Nas cansadas jornadas telescópicas...
Há vida lá? Há vida cá!
Nas bonitas mulheres das praias,
Nas feias mulheres e suas cargas,

(Nas barrigas sugadas, choradas
De criancinhas e gatas prenhes...)
Os cientistas cassam vidas aqui
E caçam vidas acolá...será que descobrirão
Que há vida na terra?

De onde virá esse Ponce de León
Martirizar seres que nem
conhecemos? Que planejamos
aniquilar sem mais nem menos,
em que a vida há de estar...
A pipa


Tem a sensação de voar...
Mas
Está presa por um fio quase invisível
Às mãos do menino,
Em terra.

Uma gaivota tem a sensação de voar
E
Não há menino que amarre
Um fio quase invisível
Às suas pernas.

O menino tem a sensação de voar
Içando
Sua pipa ao vento perpendicular,
Mas está preso a um fio
Quase invisível...
brinquedos



Nós fazemos barquinhos de papel,
Nós fazemos aviõezinhos de papel,
Fazemos pessoinhas de papel
Que queremos fazer funcionar como
De verdade...
Por isso derretem em nossas mãos
Nervosas.

Temos que aprender a fazer
Aviões e barcos e pessoas de alumínio
Como os grandes construtores
De barcos e aviões,
Que as pessoas, as pessoas já nascem
Suspensas
Nessa placenta aquária e aprendem
A voar e navegar antes.
Dias das crianças


Aquelas árvores magrelas diziam coisas...
Como se espiassem os meninos pelas janelas
E soubessem das parreiras os vinhos azedos nelas.
Aquelas árvores goiabeiras, raquíticas, tortas,
Aleijadas pelos ventos e moleques,
Diziam coisas das coisas fáceis, essas
De ganhar na burca ou no bafa, de manhã.

Das manhãs as goiabeiras chamam os pardais
A banquetear as delícias de seu tempo,
Argumentando a gula pelos cheiros doces
De suas frutas maduras quase podres e,
Desde sempre bichadas antes, ainda verdes.
Os pardais conversam com elas sua língua
De palavras que os moleques não sabem.

Os moleques não, os moleques querem o fruto
Arrancado na marra, torcendo galhos,
Quebrando senões, usurpando as vermelhas,
Mais saborosas que as brancas, irmãs.
Mas a árvore torcida da goiabeira sabe vidas
E sussurra aos meninos seu perdão,
Por serem meninos criança então.
espera


A mãe que espera filho
Espera-o são, rijo, sorrindo...
A mãe que espera um filho,
Vindo do ventre ou da guerra,
Espera-o cria nova, sempre
Outra vez o parindo.

A mãe não quer um filho
Pra rua dos esquecidos,
A mãe quer que seu filho
Seja o mais bem vindo
Dos outros da mesma
Rústica esteira.

Sendo a vida esta guerra
De rua, escola, destreza,
Ou que o mundo afronta.
Para cada mãe que espera
Há uma lágrima pronta,
De alegria ou tristeza,
Convexo


Para o bebido no balcão aberto
O mundo lá fora é convexo
Como o mar ao marinheiro,
Como o infinito ao descrente
Que varre as coisas sujas,
Pensando o teto aparente.

O velho poeta dizia do inusitado,
Supria de rolhas garrafas vazias
E um ditado que as vazias almas,
que um velho frade exprimia
o lado ruim como certo, assim,
certo lhe fazia.

Mas o tempo, como o mar, visto
Da praia, é convexo, embora
Reto em que o olhar tem por si,
Bebido no balcão daquele bar,
O mesmo olhar que a religiosa
Presa ao claustro teria.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Feliz natal a todos...


É hora de falar de Jesus Cristo, o aniversariante que pretendemos homenagear , penso que minhas palavras se tornam ambíguas frente às dele próprio, então tomo de seus procedimentos no Sermão da Montanha, fazendo minha intenção as suas regras:
Ouvistes o que foi dito aos antigos: ”Não matarás”. Eu, porém vos digo: quem se irritar contra seu irmão, irá à juízo. “Não cometerás adultério”. Eu, porém, vos digo: aquele que olhar para uma mulher, com desejo no seu coração já cometeu adultério. “Não jurarás falso, mas cumprirás para o Senhor teus juramentos”. Eu, porem vos digo: Não jurareis de forma alguma, nem pelo céu, que é o trono de Deus nem pela terra, que é o escabelo de seus pés. “Olho por olho dente por dente”. Eu porem vos digo: A quem te bater na face direita apresenta também a outra. “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu porem vos digo: Amai teu inimigo, orai pelos que te perseguem, pois o Pai faz raiar o sol sobre os bons e os maus e chover sobre justos ou injustos. Sêde portanto como vosso Pai.
Vós sois o sal da terra. Se, porem, o sal se tornar insípido, com que então se há de salgar? Não serve mais para nada senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo, uma cidade sobre o monte não pode ficar escondida, Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas em cima do candelabro, onde brilha para os que estão na casa. Assim brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus. Não julgueis que vim ab-rogar a lei ou os profetas, mas cumprir. Porque em verdade vos digo, ainda que passem o céu e a terra, não passará um iota ou um ápice da lei sem que tudo se tenha cumprido. Quem transgredir um só destes mandamentos e ensinar aos homens a fazer o mesmo, será tido como o menor no reino dos céus, porém o que os cumprir e ensinar, este será tido como grande no reino dos céus. Porque vos digo, se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis nos reinos dos céus.
Sendo assim, tenho pouco a acrescentar, senão os valores apreendidos na leitura de suas palavras, e, lendo e pensando o lido, propor a todos que o façam, de coração, nesta data, entendendo antes que para participar da comemoração do aniversario de uma pessoa, seja ela quem for, há que se ter certa intimidade com ela. No caso específico, para agrado do aniversariante, proceder como ele prega, com a simplicidade de seu viver, esquecendo as vitrines iluminadas e percorrendo o íntimo de cada consciência, para presentear assim com o seu “brinquedo” preferido nosso grande amigo, no seu dia.
Sergiodonadio.blospot.com
Mensagem de natal


Somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.


Nós, seres humanos, cultuamos a desigualdade. Mesmo nas campanhas pela igualdade, o que aflora das intenções é a manipulação do necessitado. Desde os primórdios da organização das castas, impera o senhor sobre todos os outros, O mais forte, depois o mais ladino, depois o menos ético...sempre a mesma ladainha, sempre a mesma disparidade. As sociedades antigas discriminavam abertamente, a sociedade atual camufla, mas discrimina. Há, até nos mais prosaicos ambientes, os lugares de cada um, determinados pela sua importância enquanto autoridade, enquanto doutor, enquanto serviçal. Vem dos tempos em que se dividia em nobreza, clero e terceiro estado. Agora se divide em importância de cargo, como sempre, com novas denominações, Quem pode sentar onde? Quem pode sentar ao lado do presidente? Do rei? Suas majestades impõem o assento de cada um, na hierarquia, termo tenebroso que traz o:"Você sabe com quem está falando?" embutido no pomposo elemento hierárquico. Dos tempos de nobres e escravos, herdamos o esnobismo, hoje acadêmico. E não precisa ser doutor em nada para ser doutor em tudo. Basta ter assento ao lado. Basta subir um degrau para se tornar desigual ao seu igual. O amigo de cerca ou bar, elege-se vereador, a partir daí não é mais o mesmo, de seu gabinete comanda a vida. Se é prefeito, então, já se distancia um pouco mais, deputado já está noutro degrau. Governador! Quem pode se aproximar dele? Se for para a esfera federal, some de vista, até chegar ao presidente. O último, sociólogo, por sinal, ficou bem acima de seus colegas, professores universitários! O atual presidente está a léguas de seus colegas operários...e, quando descem do palco, não mais voltam ao seu status natural, serão sempre ex-autoridades.
O que faz voltar ao assunto é a morte de Claude Lévi-Strauss, este mês. O grande antropólogo e etnólogo sempre bateu na mesma tecla, de que não há diferença entre um indígena e um cidadão do primeiro mundo. Ele pregava a coincidência entre o pensamento dos selvagens e dos civilizados, dos primitivos e dos atuais seres humanos, dizendo que não há um pensamento de selvagem mas um pensamento selvagem em qualquer nível de sociedade. Com essa tirada fenomenal derruba o nariz erguido de qualquer vaidade acadêmica. Este grande "professor" lecionou na Universidade de São Paulo a partir de 1934, onde permaneceu por três anos, e criou o estruturalismo, sistema de solidariedade para formar estrutura, que difundiu pelo mundo todo, só assimilado por aqui na década de 50.
Então, por que continuamos cultuando a desigualdade às vésperas de mais um aniversário de Jesus? Porque continua sendo o cristo de todos nós.
Sergio