quarta-feira, 25 de agosto de 2021

 

Sobrevivente

 

Acordei e me surpreendi

Falando comigo, sobre mim,

Foi-me estranho

Que me estranhe em detalhes

De como surgem as respostas:

Algo em torno de pensamentos

Me remetem a um tempo

Em que me conhecia melhor...

Estou me vendo num pequeno barco

Com um companheiro de farda,

(Meu momento militar de cinco dias,

Fui dispensado por excesso de contingente)

Saímos ao lago do bacacheri, e,

Lá no meio lembrei que

Não sei nadar!

 

 

 

 

 

 

D’outra feita

Atravessei o rio do peixe,

De canoa, para buscar

A balsa da outra margem,

Me horroriza lembrar

Que o rio estava transbordando

Com uma correnteza de tocos...

Agora, falando comigo,

Indago como fui irresponsável!

Neste barco chamado vida

Não me vejo sobrevivente,

Acordo que não sei nadar

Ainda hoje...

 

 

 

 

 

 

Íntima

 

As palmas de minhas mãos

Estão úmidas de tocar as suas,

As pálpebras de meus olhos

Estão pesadas de olhar os seus,

Esta imaginação de seus gestos

Me suplicia de não tê-la...

Por não tê-la vou querendo

Mais e mais quere-la...

Fico esperando-a no olhar...

Os olhares passam, absortos,

Fico, com as mãos úmidas

E as pálpebras pesadas

Mais e mais...

 

 

 

 

 

 

A sabedoria do choro

 

Pode seja a cor da dor

Espionando detalhes,

Talvez a unha trincada

Ou um dedo amassado...

 

A dor da cor esfumada

Entre fogo e fumarada,

O que é chão se redima

Da chaleira sapecada,

 

Na friagem da alvorada

Nos olhos lacrimejados

Carpir-se adeus amargo

 

Na névoa do alvorecer

Traga os frutos da paz

Entre o que se perdeu...

 

 

Cáften

 

Todas as verdades

Serão aceitas, até

A dos proxenetas,

Entre sussurros...

O sangue de bocas

Esbofeteadas,

Com o agressor

Dizer-se agredido,

Mas a resposta

Não faz sentido

No pleno da

Madrugada...

 

 

 

 

 

 

 

A mesma notícia

 

Que li e me emocionou

Releio e já não diz nada

Porque o encanto ficou

Na memória apagada...

 

 

 

 

 

Não faz falta ao mundo

Que falte um homem,

Faz falta ao homem

Que lhe falte um mundo...

 

 

 

 

 

 

Consumação

 

O ar consumido

Pelo qual não vale a pena

É o mesmo ar

Do que se arrebenta

Soprando a vela

Que se faz acesa

E se consome,

Então cala-se no escuro

Da vela que se apaga

Frente ao desalento

De sentir-se só

Numa multidão covarde

De dar dó!

 

sergiodonadio

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 

Sentimento poético

É sentir saudade

De onde nunca fui...

 

 

 

 

 

 

Pelos caminhos da noite

Encontro meus sonhos

Arrumados em estantes

Que construí para mim...

 

 

 

 

 

 

 

 

O entardecer de ideias

 

Perigosamente

O ser humano,

Por ser humano,

Tem suas fases adversas,

Cozinha ideias absurdas

Em fogo ardente...

Depois aguará

Para que não queime.

Ao entardecer das ideias

Come-se frio

A quentura d’antes,

Ao poder da mente

Envidada em fatos

Que se desmentem...

 

 

 

 

 

Ludicidades

 

Todos os momentos

À espera são lúdicos,

É preciso o ser humanizado

Reconhecer a ludicidade

De cada olhar desprendido

À distância dos incrementes

Momentos crucíferos,

Quando a paz nos faz guerra

Entre suspiros enervados

Pela espera... 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Picarescos

 

A voz dos túneis do tempo

Acordam novos humores,

Em criança cos fantasmas

Em lençóis encobertos

 

É que se faziam em festa

Ao medo do escuro fresta...

A voz dos túneis atravessa

Os tempos adolescentes

 

E embarcam em lisboetas

E demudam em verdade

Alarmar crescidas tretas

 

Com seus olhares miliares...

Nos tempos a voz esgarça

Mentiras feito verdades...

 

sergiodonadio

terça-feira, 3 de agosto de 2021

 

 

Remeiro

 

Quem tem o remo à mão

É que manda no rumo da viagem,

Nós outros somos passageiros,

Levados pelo remeiro

Sem dar palpite na meta

Ou no fim da estiagem...

Não tenha medo da viagem,

Deixa pro remeiro...

Não tenha pesadelo no sonho,

Deixa pro remeiro...

Não bote fé no vazio da estrada,

Deixa pro remeiro...

Quem tem o remo à mão

É que manda no rumo da viagem...

O resto é micagem.

sergiodonadio

 

 

 

À VEZES,

 

Quando a saudade aperta,

Vejo-me sozinho,

Rodeado de pessoas mortas...

Estão na lembrança

De fatos passados ao ermo,

Quantas vezes

A saudade aperta

Por vivências levadas a termo

Entre sonho e realidade

Tão próximos da verdade

Mentida em frases

Desabridas,

É a saudade...

 

 

 

 

 

 

Das coisas que não sei

 

Das coisas que não sei

Procuro aproximar-me,

São inúmeras,

Mas se distanciam

Quando indago seus porquês,

Por que estão aqui,

Nesta mente perscrutadora?

Por que não se alastram

Às pedras desta rua,

Vazia de vontades

Que não minhas,

Para responder à dúvida

Da palavra nula?

Das coisas que não sei

Devo distanciar-me

Como fazem comigo

De formas várias...

 

 

O voo da palavra

 

Queria dizer

O que não pude dizer.

Palavras libertas

Não voltam ao ninho,

Aves migratórias

Enxergam horizontes

E voam... Voam...

Assim as palavras

Esvoaçantes,

Indo...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na lembrança

 

Seria muito

Dizer-me obrigado

Aos favores recebidos?

Por que, então,

Me esqueço se

Os atos estão vivos?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A verdade, sem subterfúgios,

Para o fato parecer real...

 

 

 

 

 

 

Se tiver medo da morte

Não tenha medo da vida.

A morte é inevitável,

A vida é planeável...

 

 

 

 

 

 

 

Por herança

 

O que temos por herança

Dos senhores feudais?

Terras? Casas de pedra?

 

 

 

 

 

 

 

O amor não é cego,

Nem conivente,

É paciente...