segunda-feira, 1 de novembro de 2021

 

Sombras

 

Uma sombra chega

Na tarde consumida

Em erros que se bastam,

Mentiras verdadeiras

Na plêiade de valores vagos

Onde todos os gatos são pardos,

Costumeiros frequentadores

Desses bares baratos

Com insetos sobre

O mesmo prato...

Uma sombra chega,

A perguntar pelo seu corpo

Deixado aninhar-se cedo,

Já extinto morto.

 

 

 

 

 

Desafeto

 

Hoje preciso

Urrar meus desafetos,

Sentir que a dor no peito

Está mais perto

Da lisura de meus atos

Num deserto...

Correr com água no peito,

Criatura desmesurada

Que criei em boato feito...

Sempre copiei dos sonhos

Pesadelos escabrosos,

Nadando neste lodo,

Sem o fazer deveras,

Salvando-me em não o fazer,

Como última esfera...

Sentindo a voz rouca

Cansada de ser louca...

 

 

 

 

Pensando ouvir de longe

Um grito por socorro

Jogara-me ao poço

Por ser o poço o mundo

No fundo deste mundo,

Poço profundo...

Meditando pós o sono

Preciso urrar meus desafetos,

Dar este murro em faca,

Socar quem está perto...

Cansado de “bons dias”

Respondo com “pois não”

Como fazia o velho

Professor veloso

Em sua teimosia sana.

Por vossa vênia futura,

Em lugar de ser homem,

Ser apenas criatura.

 

Volumes

 

Dizemos,

Inadvertidamente:

“Vou tomar uma água”

“Vou dar um tempo”

Como se pudesse dividir

Água ou tempo em peças

De divertimento

Ou advertimento...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A alma ausente

 

A alma da ausente

Interpõe-se à presença

Da outra alma...

Ambas de asas feridas

Nesta discórdia

De valores estáticos,

Almejando

A mesma resposta

Ao plano

De vencerem-se,

Incógnitas...