sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014




Tsunami

Como guerreiros
Transformam canteiros
Em ruínas?

Como os japoneses,
Transformo ruínas
Em canteiros.

É que aqui planto
De rosas a daninhas
Sem nome de acervo,

Apenas espalho
Minhas ralas sementes
E espero pacientemente...

Depois da guerra
E da paz, virá outra
Guerra a mais?

Se bem semeada,
Depois da guerra
Virá a paz.





busca


Passar do simplesmente
Ao simplismo da mente:

“Tendência de se concentrar em
apenas um aspecto de questão
excluindo embaraçantes fatores”

Por si já não é uma questão
De embaraço aparente?

















Lixeira
fb

Olhando para trás,
Para ontem... para antes...
Os problemas se amontoam

Como lixos fétidos
Estão apodrecendo demais...
Talvez menos que nós mesmos,

Mas é preciso enterrá-los
Como fazemos com nossos
Corpos mortais.

Não se deve levar
Problemas Para a praia,
eles não se bronzeiam mais.

Não se deve levar
Problemas ao cinema,
Eles vão só perturbar.

Não se deve levar
Problemas ao parque,
Eles não sabem brincar.

Mas é preciso enterra-los
Como nossos restos
Fetais.
contradança


Chove... chove... chove...
Chuva, chuva,
Antes só do que viúva.
Vamos bailar essa dança
Sob a chuva,
Sob a ilusão de estar seco,
Imune a sua prontidão.

Se eleito serei o par perfeito,
Quieto, amuado, ereto,
Sem a frouxidão
dos mocambeiros
Ou a retidão dos timoneiros...
Apenas nós, eu e a chuva,
Nesse chuveiro.












migrantes


Depois da livre nascente
As pedras confinam as águas
Prementes de espaço e ar
E brisa e rota caminho do mar...
Da América, China, Bálcãs...
Exuberantes colinas
Depõem ao rio suas flores
Que murcham o inverno
Das cores básicas
De respirar...

Depois da foz a nascente
De novas aguadas livres,
Respiram o ar da nobreza,
Sensíveis ao seu respirar
Se balcanizam na América
Transluzindo inventivas
Das flores reativadas
Para a próxima
Primavera entre suas
Águas livres.






O sino da vaca


Amiúde recordamos
O badalar daqueles sinos
Nos pescoços das vacas matrizes...
Seria guia ou aviso?

Seria mais do que isso
A vaca reproduz nesses
tempos
De modernidades
Badalando outra vez
O mesmo sineiro grave
Das épocas vadias...

Amiúde retornamos
Aos sinos avivadores da
Presença de pescoços postos
À prova de destinos...

Seria guia ou aviso?
Seria bem mais que isso
O sineiro ainda grave
Das alegorias fantasmas
Das vacas de presépio
Na imaginação tardia
Das frases incertas.



Pretérito imperfeito


A lembrança escoa
Das coisas ditas boas
A sangria da natureza,
A das ruins esbraveja.

Aqui se cansam os pés
De carregar moendas,
Sempre girar em volta
Das mesmas dengas.

O sumo que espreme
Dessas andanças tensas
Não é doce ou amargo,

Não é prazer ou fadiga,
Apenas suor extasiado
No ranger a roda vivida.










Das vinhas


Dessas parreiras se extrai
O sumo da beligerância.
Capaz de arruinar sabores
Ou amestrar andanças.

Ao longo das encostas
As uvas se dependuram
Nas traves das forquilhas
A esperar que granassem.

Antes a terra era áspera,,
Depois o vinho é suave...
À mão do homem videiro.

Mas essas encostas ardem
A primaverar as vinhas
Depois da secagem avara.



O olhar da borboleta


Não sei bem se ela olha
Ou cheira
Ou instintivamente passeia
Sobre flores adocicadas.

Sei que ela perambula
Pelo jardim da casa
E suga o pólen
Da mais brava.


















malária


Os olhos dela são negros,
lindos,
Expressivos,
Mas vêem a mesma cena
Dos amarelados
Pela febre.

A circunstância é mórbida,
Os passos lentos
Dão a volta nos canteiros
Aflorados...
Esperam o doutor e
Sua teorias.

Apenas esperam,
Desesperançados nele,
A próxima visita.
Em algum lugar haverá
uma esperança para
se olhar de perto.