sexta-feira, 23 de abril de 2021

 

O próximo passo

 

Ao próximo passo

Enfrentar o fim do mundo?

Logo adiante o sono profundo...

Neste arco absurdo de proveitos

Não faça caso do descaso eleito,

Não ouça palavras fora do eixo...

A víbora estrala o rabo e deita

Sobre a inclemência do não fato

E porta-se febril sobre teu leito...

A causa, por perdida, vibra

Uma nova ameaça urdida

No que se faça ardil

Ao que perpassa o sentido vil

Na mesa escassa...

 

 

 

 

O próximo fim de mundo

Rodeia o fato indubitável

De que esta verdade

Não tem passado...

Só vale neste momento,

Depois esgarça...

O chão que se abre ao intento

No sórdido apanhado

É o mesmo prometido razoável,

Antes urdido em falas...

Não faça caso

Desta faca sem mandante,

Pelo acaso...

Não se empolgue com a descrição

De fato inventado...

 

 

 

O próximo fim de mundo

É variável, desvairado

Desde a torre de babel

No conjuntivo erário...

Esperado baú de ouros

Aos rábulas do cenário...

Não faça caso deste acaso,

Suportado a duras dores

Pelo extremo alado

Entre partes indutivas

De anuários ativistas

D’outros hábitos...

 

sergiodonadio

sábado, 3 de abril de 2021

 

Lembrando fatos de ouvir falar

 

Ainda hoje, olhando retratos,

Lembrei de meus avós,

Nicola e Elizabetta,

Lembrando fatos de ouvir falar:

Nicola, prensado por uma tora

De madeira esmagou-lhe o tórax,

Elizabetta arrastando bengalas

Até a varanda de casa

A ver passar charretes...

Fulano e Tereza,

Quase nada a memorizar,

Ásperos, sinceros, de outro tempo,

Deixados no esquecimento...

Não os conheci, de ouvir estórias

Os vejo saindo de retratos,

A conviver-me nos hojes...

Extremos de gerações,

Encontrando nos termos...

 

 

 

 

 

Lembrando fatos de ouvir falar

Volto ao tempo lúgubre migratório,

De corajosos ou amedrontados,

Chegados à nova terra,

Sem eira nem beira, como diziam,

A plantar sua semente

Em terra firme...

Aqui formando pares, proles,

Núcleos, poles, pocadinhos

De uma raça forte!

Lembrando fatos de ouvir falar

Da casa em que nasci...

Era grande, éramos treze!

Quintal plantado de ervas,

Coalhado de galinhas poedeiras,

Visitado por comadres...

Cercado por balaústres...

Contados por persistência...

Sem saudade.

 

 

 

Firmamento

 

A tarde vai se findando,

O tempo vem avisando

Que é acabado verão,

O gajo se surpreende

 

Reconhecendo razão

A tarde vai se findando,

Com novo tempo chão

Plantado com o senso

 

Para a colheita do pão

A tarde vai se findando,

Para as coisas que virão.

 

A tarde vai se findando,

Puxando as brevidades

Para as coisas que vão

 

Ao alcance da mão

 

Todos sonhos são reais?

Afinal, o que é realidade

Senão o sonho inevitável?

À luz do sonho

O real se obscurece,

Fica tão pequeno, empalidece

O colorido sonhado prece...

Se cada sonho sonhado

Fosse lembrado como vero

O que seria da verdade,

Um sonho amarelo?

Todos queremos o sonho

Pois nele a dor é imaginária...

O canto do pássaro

 No sonho é mavioso,

Bem mais que o pio

Da fome dele na real...

sergiodonadio