sábado, 29 de agosto de 2015



Mão aberta


Convido o medo
A permanecer na antessala...
A transparência do vidro
Não intimida a vontade
Dos gestos...
Há um muro invisível
Entre as ações e os sonhos?
Tudo por estar perto
Mas será inatingível
A oferta.

Convido o medo
A permanecer na sala...
A transparência do vidro
Não tira a intimidade
Dos gestos...
Há um muro invisível
Entre as ações e os sonhos...
Tudo pode estar perto
E ser inatingível
A mão aberta.

Sergiodonadio.blogspot.com

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Existe na ternura


Existe na ternura
Um pouco de raiva,
Como existe na raiva
Alguma ternura...
Que o nervoso ostenta
Sua fraqueza no olhar
Terno de sua criatura.
O manso, por mansidão,
Faz-se perigoso
Com seu olhar vesgo
De paz que não afronta
O mais nervoso,
Desviando o olhar,
Que apenas a si
Satisfaz.








Cavilhas


Essas migrações forçadas
Em pleno século XXI
Assustam pela insalubridade
Desse ato desesperado
De fugir... Fugir de si mesmo
E do outro, o feitor da sua dor...
Quanto pode um povo
Socorrer outro povo
Da miséria de viver-se?
Ficarão presos às novas correntes,
Da mão de obra escrava
Aos inapetentes.
Essas migrações...
Forçadas a atravessar de novo
O mesmo mar raivoso
Doutras eras... Barcos fugidos
Dessa quimera...
Ah, Antonio, O de Castro Alves...
Até quando
A fome que se crave?

Sergiodonadio.blogspot.com




Pequenas estórias

Pequenas estórias
 Compõem a história...
Pequenas derrotas
Compõem a vitória...
Caminhos diversos
Compõem belos versos,
Ou falsos, ou tétricos...
Quem poderá saber a verdade
Pelas mentiras da história,
Se não o poeta
E a sua sinceridade
Retórica?








Anfíbios


Triste constatação:
Ver a onça desistindo
Do jacaré em plena lagoa,
Saber-se faminta à espera
Da próxima oportunidade...
Assim é que nos vemos,
Famintos de todas as fomes,
Enfrentadas verdades...
Felinos esperançosos
Ou anfíbios amedrontados?
Mas a lagoa é imensa
De oportunidades...







Triagem


Talvez eu saiba
Para aonde correm os rios,
Os medos dos gatos vadios...
A pressa dos corredores.
Talvez eu venha a saber
Os seus valores
Aqui e ali encontrados
Entre gatos e farrapos
Dessa estranha linha
De tempo e hereditariedade,
Sujeitos às novas ideias,
Ou recapagens delas...
Talvez eu pense saber
O que não saiba...
Talvez eu possa prever
O que se salva
Dessa estranha triagem
Que eu não saiba.





No amarelo assustado
De Clarisse Lispector

No amarelo
Assustado das tardes
O macio da certeza
Do vento contrastando
Com a aspereza do pó
Acordado cedo
Da beligerância
Formando
Um grupo perfeito
A assobiar a alegria
Dos momentos
Sobre as pegadas
Do sentimento nos
Vidros de pintura lisa,
Formando o que
Se poderia dizer:
Vida!




domingo, 23 de agosto de 2015



Vós que vêm...


O pedido seria para
Compreender a outra pessoa.
Mas, tem momentos em que
Não compreendo nem
A minha pessoa!
O caminho está aberto sempre
Mas deliberadamente escuro,
O amanhã já é hoje
E preciso entender o que fiz ontem,
Que já é passado...
Arrependimento não traz de volta
À minha vontade
A tua resposta à nossa vaidade...
O pedido de compreensão não vale
Neste turbilhão de acontecimentos,
Existe um trem partindo de nós
A cada movimento, e chegando a vós
Desprendidamente...
O pedido seria para compreender
O incompreensível passo lento,
Da razão?

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Na noite escura


A rua está escura...
A noite está escura...
A vida está escura...
Não tinha como prever
Esta conjunção de cegueira
Formada pelos escuros
Da ignorância.
Na rua tropecei com a madame
Que me xingou feio...
De noite esperava rever o tempo,
De olhos fechados,
Mas não veio.
A vida... A vida deveria clarear
Meu pensamento,
Mas aqui freamos nosso ímpeto
E a vontade de socar o outro
Se alivia com o poder do outro
Sobre nossos atos.
Na rua tropecei com o escuro
Da noite escura, na vida escura
Que perdi tateando passos

sexta-feira, 21 de agosto de 2015



Bandeiras a meio pau


-Quero saber quem morreu
Para a bandeira a meio pau?
-Morreu o Dr. Getúlio.
-Aquele que escravizou
Os abolidos pela Princesa?
-Juntou brancos e negros
Na tal lei do inquilinato
E na outra, do trabalho,
Para instituir o processo progressivo
Da morte lenta, sem pelourinho?
Bandeiras a meio pau...
Eu, menino, exultante de não ir
Para a escola...
Bandeiras a meio pau
Feriado nacional.
Sem aula nem catecismo,
Sem educação física... Oba!
Morreu mais um mandante, e
Bandeiras a meio pau diz
Que o cinema vai abrir
Prá matiné, igual domingo...




Sementes
Aos congressistas que fazem fácil a punição aos “maiorizados” por decreto.

Fica na semente a consorte
Lembrança sutil da esperança
Que não teve mais que o corte
De viver restos da abastança...

No ato de catar toda sobra
Flagelante culpa-se pela sorte,
A consequência desastrosa
Confunde prenhe a morte.

Do meliante marginalizado
Ao diálogo com seus botões...
Somente seu estômago vazio.

Por que incitar a velha troça
Se a calamitosa era de sobras
Mandou à puta que os pariu?!

. Sergiodonadio.blogspot.com

quinta-feira, 20 de agosto de 2015



Parições


O poema
De onde não há poesia
É arrancado a fórceps
E doído nascerá
Sadio,
Áspero,
Briguento,
Entre versinhos cor de rosa
E incensos...
O poema
De onde não havia poesia
Sangra
Mas não desiste
De poemar-se
Lento... Lento...
Mas dono
De seu sustento.






Piercings


O que de anormal
Em ser normal?
É que a época
É de estranhezas:
Cabelos azuis,
Unhas pretas...
Dois perfis: um lado
Lindo, outro lesado
Na face escava...
Piercings, tatuagens,
Crianças obesas...
Anoréticas...
Ruas vazias de meninos
Brincando whatsapps
Em suas mesas,
Sem terra nas unhas,
Mas sujinhos... Sujinhos...
Sem delicadeza.
O que há de normal
Em ser anormal
Nessa “esperteza”?

Sergiodonadio.blogspot.com