domingo, 7 de outubro de 2012
abjetos
As pessoas
Se confundem com objetos.
Comportam-se como
Se não houvesse frente
Ou fundo
Para cada ação, oriunda
De um pensamento.
As pessoas
não são objetos.
Apenas não se movem
Por alguma razão
De querer ficar, ou,
De imobilizar-se
Pelo medo...
Pelo temor de cedo
Enrugarem as faces?
Pelo desamor que cedo
As transformasse
Em pessoas abjetas,
Quando se esquivam
De se mover
Frente ao cataclismo
Que vem varrendo
As vontades
De viver.
Desajuízo
Esta é a hora zero
Das próximas vivências...
Não é preciso relembrar,
Não é possível olvidar.
Apenas varrer pra baixo
Das inconsciências todas
As verdades transmudadas
Das mentiras antes vivas.
O que fazer com o último
Suspiro? Aspira-lo lento...
Em que lixeira despejar
As doridas lágrimas?
Os risos sarcásticos,
Os sorrisos frágeis...
Os esquecidos males?
Há que se pensar adiante,
Amanhã um próximo
Sorriso, uma esquecida
Fragma... Algum juízo,
Ou desajuízo.
Fim da noite implícita
Displicentemente
O dia finda,
Assobia uma tempestade
Vinda do sul...
Estamos aqui, na última cerveja,
Antes
Que o barman chame,
Com seu guarda-chuva,
Um lugar na mesa...
Sem tristezas
Agora levantamos... lentos,
Querendo uma última mijada,
Esperando a chuva amainar
Para sair,
Assim, sem medo de dormir
As próximas jornaladas
E ler a conta, e saber que
Gana é esperada.
Por baixo dessas pedras
Cadáveres comem a terra
Depauperada de insumos,
Que está sobre seus corpos
Desamparadamente frios.
Por isso as gramas crescem,
Adubadas por essas fomes
Criam raízes disformes
Entre formigueiros musgos
Sobre corpos carcomidos.
Assim, parece tétrica a cisão
De já não serem pessoas,
Apenas ossos perambulando
E nomes nos vazios das placas
Sobre campas abandonadas.
visionários
Como é manso
O olhar dessas vacas
Na sua irracionalidade...
Como é manso o passo,
Como é manso o ruminar
De suas bocas, cansadas?
As florezinhas no pasto
Não são pisoteadas
Mais que nos jardins
Das cíclicas cidades...
As formigas convivem
Em seus cochos de sal,
Os cães passeiam entre
As pernas plácidas
Dessas vacas...
Por que apenas nós
Enraivecemos com isto,
Assim, por nadas?
espinheiros
Os espinheiros açulam
O beijo de suas flores brancas,
A névoa traduz os céus,
Sem esperança...
Ninguém passa por essa cerca
Acima de nossos ombros,
Nossos olhares de medo,
Descartáveis.
Os espinheiros sabem o conluio
Dessas feras assim expostas
Em seus pontiagudos
Braços memoráveis.
Eram nuvens aquelas bocas
Corridas por céus afora
Como fora a desesperança
De ir embora...
lignites
De que é feito a força
Desse homem?
De que argila moldou Deus
Sua imagem máscula?
De que costela fala-se
Na formação da mulher,
Meiga, afável, dura
No quinhão de espera?
Quantos Cains para cada Abel
Na transgressão afeita?
Somos os filhos dessas feras?
A parição dos erros nos impera...
Somos a borra de uma geração
Passada a limpo, que estresireis
Em esta folha de carbono
Gasto... Gasto... copiando
Quase nada nesses anos.
cachecóis
A moldura emoldura
O que o espelho vê de você:
Um tanto a estatura,
O sorriso mensurado
Num tanto de ranzinice...
Mas a sempre fiel moldura
Cachecol do que se vê,
Agasalhando a figura
Do berço à sepultura...
Que será sempre você.
besouros
fb
Passeia
Sobre o lustre
Um besouro preto,
Sobrevoa a haste
Até cair
Lá dentro,
Debate-se,
Aquieta-se...
Morre?
Vejo esta figura
Feito um homem
A debater-se
Nos abajures
Dos quartos
Prostíbulos,
Comparo-os...
Enfim somos iguais?
Somos animais
De um mesmo mundo,
Desigual,
Profundo...
Profundamente
Sujo.
Marcha cerrada
Marchemos!
Que a marcha é a forte
Oposição à ociosidade nociva.
Que é a forma de duelar
Sem adagas...
Que é caminho a percorrer
Sem muletas...
Que é a parição dos outros males
Abrindo portas para ser,
Somente.
alvoradas
O sol aqui nasce cedo
Na aquiescência de ter dormido
A escureza das horas de ontem.
Ontem, quando o futuro
Vivenciava longe
É o agora presumido antes.
É a hora de aceder à fome
De partir, no meio.
Partir na névoa dos sonhos
Agendados verdade entre
As mentiras prometidas ser,
Antes que tarde.
opções
Fora dos meus conceitos
Este som que vem da rua,
É o som da balburdia
Que chamam dia de eleição...
Por que fazem tal algazarra
Se
Querem respeito pela instituição
De votar hoje?!
Amanhã,
Um dia qualquer depois
Este cantador de ruídos
Ensurdecedores
Votará a tua vontade...
De não querer.
invernito
As folhas estranham o vento,
Como minhas costas, dói
A friagem repentina, como
Nas folhas Balançando a morte.
Um cão protesta alardeando
O frio que veio com a noite
Vinda, por ser desde cedo
Primavera ainda,
O preciso retorno
Para que país viajamos?
Das forças industriárias?
Das fraquezas morais?
Verdade é que se move
Esta locomotiva secular
Nos mesmos trilhos
Com cargas diversas
De tempos outros, atrás...
Atrás das cinzas estão
Soterradas as pessoas.
Importa donde vieram,
Se vamos juntos agora?
A marcha forçada é
Uma prece de retornos.
Pisamos nossas pegadas,
Pois estamos voltando..
Para nossos lugares,
Donde partimos lesos
Com a esperança,
Pronde voltamos pegos,
Desesperançados.
Preciso acordar agora,
Antes que tarde
O preciso retorno.
cansaços
Os olhos se cansam de paredes,
Os membros se revoltam,
A dormência avança sobre gestos,
Pernas que se dobram,
Braços que acotovelam quando
chamados à urgência dos atos.
Importa saber o próximo passo
Sobre tantas pedras afiadas,
Tentando alcançar a areia fofa
Da decisão: Ir ou voltar ao ponto
Da partida sórdida de antes
Da premonição das dores?
As preces são atendidas agora,
Até mesmo as do ateu que
Vivia em ti antes da fé pela dor.
Estaremos juntos depois,
Na última etapa de viver.
Para este passo estamos aqui.
Sessentões
À margem dos erros caminhamos...
Talvez nos vejamos depois
Da próxima curva,
A dos sessenta anos revividos.
A pouca saúde das pernas sessentonas,
A pouca visão dos olhos esmaecidos,
A pouca audição de ouvidos moucos
Faz sentido,
Já que a experiência de uma mente
Mais envilece que envelhece
Com esse tempo de lamúrias,
Consentido.
Coligações político-eleitoreiras
Os uivos dos lobos solitários
Assustam
Quem caminha por esta vala...
Aqui todos os escuros são viáveis,
Apenas uma mínima luz
Acende a esperança:
-Haverá um fim para esta turba?
-Haverá um canto do cisne sisudo?
O lobo solitário que uiva em mim
Responde:
-Há de haver um fim,
Mas está distante...
Longe dos olhos e da esperança.
Outros lobos respondem ao chamado,
Estaremos unidos na desunião
De atos.
Ciclos (in)governáveis
Comecemos este ciclo de meias verdades: Eleito o próximo burgo desta burguesia façamos as contas das travas à idolatria, quantos votos será preciso para governar as próprias pernas doridas de caminhar Sozinho? Todas as formas de ceder serão visitadas, dos favores prometidos, imerecidos, à disfunção de privilégios, à larga...
Assim veremos o zarpar do barco, a baía cheia de “cadáveres” a interromper o passo mal dado. Quem será o mais chegado visitante desse legado? Façamos desse ciclo verdades inteiras, fora das fanfarronices, das bebedeiras...
Há ainda pais educando filhos a palmada e filhos dando de ombros à autoridade... Seremos assim cidadãos da palmatória? Vermos assim as pedras desfazerem-se nas ruelas esburacadas? Sermos novamente os bobos desta corte dissimulada? Então, o que seremos agora, abertas as últimas urnas encalacradas desse votatório? Que cartório vai autenticar que eras tu, Cura, o próximo Brutus dessa empreitada? Todas as vezes elegidos foram salvos das denúncias fraudadas, depois contaminados. As más gestões cobram um preço muito alto aos retardatários. Assim como seremos sempre, necessários neste dia, apenas neste. depois desnecessariados... Outra vez o passo manca? Quem será o privilegiado desse legado? Somos uma turba interessante... Olhe bem o sorriso do eleitorado, a promessa em troco da promessa, o voto desmembrado da decência não é voto, é um cabresto desavergonhado. Que é das ruelas esburacadas? Novamente abobalhados votamos na pessoa errada? Então, o que seremos agora, amarfanhados nesse voto, de otários?
Pensar que não merecemos tanto... Apenas licenciosidades sobre a mesa e uma espera que não finda cedo tornando velhacos os meninos lesos. Espera aí, senhores, que a história é feita de demoras e sossegos, depois de lufa lufa pelo voto o aviltamento da ética pelo peso.
Como serás amanhã cedo, sendo metafórica amanhã o todo sempre neste futuro que encaras à frente. As manhãs dos amanhãs virão caindo pedras desse dominó manchado pela ação de cada dia, derrubadas pela mão do afago. Quem pode garantir estes vindouros dias melhores que o passado? Serás tu, Cura, o pródigo governado? Ou governarás tua cabeça à vida de milhares? Desgraçado é aquele prometido e mal pago. Veremos se a euforia faz sentido depois do amanhã certificado.
A plebe que exalta não é mendiga, o burgo deve ser bem governado que a volta da roldana é o perigo atropelando vossas senhorias, se ficarem prostrados em abrigos.
Comecemos este ciclo sem meias verdades, eleito o burgo desta burguesia faça conta das travas à idolatria. Terás as pernas que é preciso para caminhares só ao desabrigo? Enquanto as pedras se desfazem, outras caminharão contigo.
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