quinta-feira, 6 de junho de 2013
Az de copas
Em 30 de outubro de 2007 anunciou-se festivamente que o Brasil sediaria a copa de 2014. Para isso “bastava” construir, reconstruir ou reformar 12 estádios... Mas, além disso, terá de adequar hospedagens, vias de acesso, aeroportos, metrôs, treinar pessoas para recepcionar os visitantes... Sete anos parece que dá até para recriar cursos de língua, de técnica laboral para construir novos hotéis, vias, pistas, e aprender a gerenciá-los... Pois bem, estamos em véspera de 2014, o que foi feito para solucionar o problema dos aeroportos? Para criar leitos para os visitantes? Arejar as vias de acesso? Em que estágio estão os estádios? Seis anos e milhões de reais depois, acrescentados aos programados custos, onde estamos?
Em 24 de junho de 1950, na primeira partida da copa do mundo, o Estádio do Maracanã (nome da avenida em frente) no Rio de Janeiro, recebia 200 mil pessoas, feito para 155 mil no máximo, inaugurado pelo Presidente Dutra com os andaimes sendo retirados às pressas, tapumes derrubados pelos tanques do exército, montes de pedra e areia, foi dado por feito, mas só dez anos depois teve os últimos retoques finalizados.
Sessenta e quatro anos depois vamos passar pelo mesmo vexame?!
O Itaquerão, estádio prometido para a abertura da copa de 2014, está em ritmo do “vai da valsa”, expressão usada na época da construção do Maracanã, ainda em moda para certas iniciativas lentas... O próprio Maracanã está “fazendo água” como se viu na última chuva. Mas, apesar dos pesares os estádios estão prometidos para a copa das confederações, anterior à copa do mundo.
O Grupo Executivo da Copa do Mundo de 2014 (Gecopa) publicou uma lista consolidada das obras. São 101 intervenções, sendo 12 estádios, 51 projetos de mobilidade urbana, 31 ações em aeroportos e 7 em portos. A previsão é de um investimento total de mais de R$ 26 bilhões para a Copa.
A maioria dos aeroportos do Brasil foram construídos antes do fim da Segunda Guerra Mundial e vários estão em ponto de saturação. A Infraero afirmou: "Na corrida contra o tempo, garantirá que os sessenta e sete aeroportos na sua rede estejam em perfeitas condições para receberem com conforto e segurança os passageiros do Brasil e do exterior". Em maio de 2010, o governo brasileiro alterou a legislação de licitação para permitir maior flexibilidade. Esta palavrinha dá medo... mas "A Copa do Mundo vai muito além de um mero evento esportivo. Vai ser uma ferramenta interessante para promover uma transformação social." Declarou o Presidente da FIFA.
Estádios tornam-se monumentos desde a Roma do Coliseu, a grande arena dos gladiadores, os agora em construção vão marcar sua presença, pela grandiosidade própria e pela ativação das áreas ao redor. Esperemos...
Enquanto fui menino
Quando eu fui menino
Alguns não acreditavam
No emprego das forças
Para suprir meus medos...
Para suprir os medos passei a andar sozinho
Pelas trilhas abertas entre toros ressecados
Junto à estrada de ferro, por onde vinham trens
E iam levando as peças de um quebra cabeças
Que eu enfrentava ao ver tantos lacres abertos
A perder farelos para uns poucos catadores...
Quando eu fui menino
Assistia deles as dores
A suprir meus medos
Ser um deles também...
-Eu vou tomar este trem. Pensava em valores
De seguir adiante, ao desconhecido mundo
De fugir também, como faziam os meninos
Perdidos de suas mães e de seus desvalores
Como eram parecidos a mim, assim presos
Aos mesmos fins de tardes, às manhãs frias...
Quando eu fui menino
Via pelos açougues
O amigo praguejando
Cortar as carnes frias...
Quando eu fui menino
As carnes eram frias
Aos açougues e depois
Aos desossadores...
Naquelas manhãs geladas pedíamos perdão
Pelo que não éramos, mas não éramos nada,
Apenas uns fracotes deixados aprender
Que a vida seria dura diante das asperezas
De ser então meninos, desaprendidos ser
Apenas como pequenos aprendizes fracos...
Quando eu fui menino
Devia de ser menino
Sem antes responder
Aos desatinos de ser.
Por isso e por tanto, enquanto fui menino
A vida passou aos trancos de apagar o quadro
Buscar leite, levar compras, e um tanto cedo
Correr atrás dos sonhos desensonhados
Antes que crescesse em mim a necessidade
De também ser homem um dia no porvir...
Por vir as tantas coisas
Acontecidas no tempo
De aprender apanhando
Enquanto fui menino...
Concussões
A imagem não se reflete na água,
Apenas uma mancha de sombras.
A lua se esconde entre as nuvens
Ante a obscena imagem distorcida
Delas armando-se ao fervor, tarde
Já se pondo noite no escuro hoje,
Entre as pernas coloridas doloridas
Uma cena de flores espinhadas
Fugindo ao tato perfurando dedos...
Que ação pode voltar a ceder-se?
A imagem não se repete, na água
A mancha se desmancha sangue,
Vertido do ciúme conturbado aí,
Ante a verdade impiedosa filha
De ambas as partes, desassistida.
Quem pode adotar medida certa
Depois de ouvidas as partes e só
Uma desculpa se assume certa?
A mesma que trouxe à vida esta
Que se altera imagem em outras
A se apaga na água que foi pouca...
Tosquias
As gramíneas crescem
Os bichos estão voltando...
Desejando boa sorte a nós,
Caçadores de peles e carnes.
As ovelhas fogem dos lobos,
As corças dos leões,
Quem conseguirá fugir
Do bicho homem?
As gramíneas crescem
Os elefantes estão voltando...
Desejando boas sortes
Aos caçadores de presas.
As ovelhas foram tosquiadas,
Pelo lobo do lobo.
Quem venderá a tosquia
Do bicho homem?
Nostalgias
A cinza depois da chama
Traz os restos de chamas,
Chamam a isso saudade,
Dizem sobre proclamas.
Mas cinzas branqueadas
Trazem em seu restolho
A memória desfeita fogo
Das coisas ainda válidas.
Que lembrança queima
Antes a última lenhada
Feita das manhãs frias?
Talvez a levada da viola,
Talvez olhos lacrimados
Num sorriso de faltas...
Estilhas
De esses fatos velhos postos queimar,
Entre as memórias e as estilhas pretas
De um tempo antes verde vida,
Agora apenas cinzas brancas voando
Entre as folhas desses outonos...
Esse panorama das coisas vividas
Perfaz a ponte entre o aceso porvir
E as pernadas esquecidas do carvalho...
De mim mesmo, junto com seus galhos
Retorcidos pelo fogo, idos na miragem.
Quem pode mensurar as forças, se
Até o carvalho imponente cedeu
Ao corte das floradas? Eu não posso,
Disseco as cores de antes vívidas
Nessas estilhas de minhas prumadas,
Desde quando renasciam primaveras
Sem morrer a espera pelo outro,
De encontro ao sonho desfeito cinzas
Junto aos tocos deixados queimar
Suas dores minhas, nesse estorvo.
Entre o ouro e a as cinzas
Entre o ouro e a cinza das horas findas
Há uma meninice para ser brindada todos os dias
Com o louvor aos meninos e respeito à dor dos velhos
Aqui carcomidos seres que se prestaram ao soldo
Das horas trabalhadas escravas do tempo relógio,
Este mesmo que chama nas manhãs frias
E nas horas do almoço ou lanche ou vadias de dormir...
Ou, pior, para tomar os remédios
Para essas dores de hoje, de antes, de sempre,
Das mentes acusadas de sorver conhecimentos
E plantá-los nas mentes mais novas, frescas de saber,
Para depois impor-lhas saber mais e mais
Até este patamar de esquecer.
Esquecer as regras e até mesmo o nome delas,
A saber que vamos todos por esse mesmo talho
De mancar as pernas frouxas e a mente ruça...
O desacontecer das manhãs frias não é privilégio,
Antes incapacidade de levantar os ânimos
Outra vez pedidos vir socorrer os fracos
Para ao menos não se molhar sob cobertas,
Triste descoberta tardia de morrer aos poucos
Mas numa velocidade planejada sofrer
As agruras de penar as dores do corpo
Numa mente ainda não doentia. Triste?
Mais triste seria o contrário: a mente doentia
Cedo comandando um corpo sadio de vidas...
Comparativos
As coisas parecem difíceis...
Às vezes impossíveis?
Olho ao redor, nas escurezas
Vejo a luz
Nas pernas sem vida,
Nas mentes doídas,
Nos olhos apagados de ver...
As coisas pareciam difíceis
Ficaram possíveis
Outra vez.
O professor vazio
O inexistido existe...
Está nas coisas vazias dos dias
Acabados de pôr-se.
Depois disso, sob a lua passeia
Ele com seu cão
A caminho do exterior
Para onde levará a sua força
De inexistir sendo.
Arredes
Por algum cínico aparte
A parte visível dos consortes
Se expõe e manipula a opinião
De outra, mais frágil.
São segundos de indecisão
E a vida muda, mas sua mudez
Denota o interesse roubado
À razão.
Destarte, o que prega
O braço forte equilibrado
Pode desequilibrar-se
Na outra.
Calada, mitigada pelo cisma
Levanta os olhos e sabe-se
Por algum cínico aparte,
Fragilizado
Minaretes
As torres dos minaretes
São lembradas nesta janela,
Nas flores apontando o teto
Do jardim de inverno,
Faz-me uma comparação útil
Com construções medievais...
Pode ser meu olhar viçado,
Mas essas flores trazem vida
Nos olhares e paz novidada
Nas conversas à mesa,
Amenizadas pelo vermelho
Cheiroso das flores
Espiando da janela, livres
Mais que nós, mastigados,
Ainda apreendidos na idéia
De penar a sobrevivência
Dos humores.
Em torno
Fiquemos juntos,
Que a noite é fria,
De ventos e interesses.
Demo-nos as mãos
Que as almas se unirão
Outra vez...
É preciso racionar os gestos,
Para que não pereça na demora.
Nos odiamos agora, neste momento,
Em que a raiva sobe às ofensas
E põe em risco a beleza
De conviver...
Fiquemos juntos,
Que juntos nos defenderemos
Dessas feras e suas ferezas
Humanas. Assim poderemos
Ceder à vontade, outra vez
Deixada sumir na mágoa...
Fiquemos aqui,
Que lá fora o vento
E a estranheza
Fazem de nós reféns
Das vontades
Alheias.
Incursão
No mesmo cobertor relvado
No alto das falésias beira mar,
Protegidos de ondas embaixo,
Uma voz levanta ameaçadora
Com palmas de mãos freando
O que seria a voz desse povo.
Quem vem lá doutro mundo
Dizer regras de sorver a fé?
No relvado pespegado agora
Afoitamente mãos mostram,
Não um gesto de boa vontade,
Uma ordem! Quem dirá não?
Se todas as armas são calosas
Palmas pacíficas desabituadas?
A hora de deixar de viver
A hora de deixar de viver
Não cura feridas,
Não torna santos os pecados atribuídos,
Não se faz de rogado o pobre coitado,
Devedor das contas em vida...
A hora de deixar de viver
Apenas é um último suspiro
Atestado pelo médico com expressão sábia
De dizer que mesmo está-se morto,
Embora não pulse, não está frio o corpo,
Não está ausente a alma...
A hora de deixar de viver
Traz a memória dos desacontecidos...
Quem há de reclamar segredos
Dessegredados?
Apenas não é bom chorar o fato,
Corriqueiramente fático.
Não há de haver choro ou riso,
Flores ou velas ou pães servidos juntos.
A hora de deixar de viver
Pode ser apenas o princípio
Outra vez...
Vendilhões
Há pouco tinha um sorriso.
Onde deixou esse sorriso,
Nas artimanhas das tardes,
Nas tristes noções do siso?
Quando te escavaram rugas
Nas faces antes angelicais?
Onde as intenções que
As mãos alisavam suaves
Sob as ondas dos cabelos?
É alguém que não se sabe
Alguém que inda irradia
Com seu sorriso a apatia...
O sorriso de há pouco,
Onde o deixou de arcado,
Nas artimanhas dos dias
Levados a cabo, varridos?
Quando te cavaram aros
Fundidos no teu sorriso?!
Incompressíveis
Antes de mais nada entender
O incompressível saber dos matutos,
Que não se deixam dobrar
Pelos contratos escritos escondendo
Em letras miúdas, quase invisíveis
Ao olho despreocupado, as teorias
Sem princípios...
Perguntar ao eco dos poços d’agua,
Descendo a corda e gritando,
Sem resposta, mas convincente eco
Nas solitárias manhãs nevoadas...
A espantar os medos, as pressões
Dos passos de umas vacas perdidas
Da mangueira, com sede...
A sede de tantos males, fuxicos,
Encomendas de tais gritos antes
Comícios políticos prometedores,
A inação dos proscritos na lavra
De curtir o sol desde madrugada
Ao fim do dia lavrado , conciso,
Seus princípios.
De nada vale a prescrição de ritos,
De nada vale a promessa crédito
De outra parte desconhecedora
De tais aflitos, pela seca rezada,
Praga de outras reses, mortas,
Feitas propagandas contra a seca
De tais solícitos.
Antes de mais nada entender
O incompressível saber dos matutos,
Que não se deixará olvidar
Os contratos cooptados nisso
De esconder termos fictícios
De tais jornadas, visto a fereza
Dos requisitos.
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