domingo, 17 de outubro de 2021

 

A história do (meu) mundo

 

Aqui estamos,

Eu

E estes levianos...

De partida criamos,

Recriamos um mundo

Que de novo

Só a parição do ovo...

Aqui freamos

Nossas derrotas

Em fim de anos

De chacotas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Neste trem em trilhos

Sempre cabe mais um,

Seja poema ou estribilho...

 

 

 

 

 

 

 

Ó mundo velho,

És mais novo

Do que estorvo...

 

 

 

 

 

 

Ao tardo

 

Tudo

Que eu quereria

Veio,

Não como novidade,

Como correria...

Mesmo que seja tarde

Ao tardo se inicia

Um novo ano

A cada dia...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Olhares

 

A pessoa

Que me olha

Para e chora...

O que será

Que ela viu

Que não vejo

Nem prevejo

Ver amanhã

Outro jeito

De sorrir

Insatisfeito?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em respeito ao momento

Dialogo em silêncio...

 

 

 

 

 

 

No fundo do fundo

Acorda um dia esperto...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Verrina

 

Estamos vivos aqui e agora

Por isso essa demora

Em repensar a hora...

O tempo não espera,

Não tem culto ou fanfarra,

O tempo apenas tolera

Tempos de estafa...

Depois emerge do nada

Cultuando nova energia,

Sincronia rara aspirando

Apenas o sentido fértil

Da verrinada...

 

 

 

 

 

 

 

De corpo e alma

 

Corpo, a criatura,

Investe contra alma, o criador,

Impondo certa vontade

Em sua dor...

A alma, criador da criatura,

Se impõe, prelevando

A dor à própria dor,

Indultando sua áurea

Ante a vontade de finar-se

Em aconteceres infratos

Deste seu pedaço lavor

Que se contorce ao rasgo

De pele sobre ossos

Desafrontados ao louvor...

 

 

 

 

 

 

 

Pelos braços e seus abraços

Se expressa raiva ou cansaço...

 

 

 

 

 

 

 

 

Para o iletrado

A poesia não tem letra,

Tem som silábico...

 

 

 

 

 

 

Quando puderes sorrir de novo

 

O relógio persegue o tempo,

Aqui e ali mostra suas garras,

Expõe seu medo ao medo que

O dedo aponta como o ontem.

A guerra não mata mais

Do que a fome quando há paz!

As duas situações equilibram

As dores do luto

Se entrefazem lazeiras

Na aniquilação dos mortiços...

O relógio percebe o tempo

Da desfolhagem quando

A pessoa humana torna-se

Esquelética imagem,

E plange...

 

sergiodonadio

 

 

                           Ter nascido

 

Por haver nascido

Criou-se um compromisso

Com a arte de ofício

Desde o primeiro respiro

A tornar-se lícito...

Por haver nascido

E ter sido amamentado

Cumpre-se à razão

De compromissado

Por haver nascido

                    Em família e ciclo,

Esteio, sociedade,

 A espera na esperança

Dos ascendentes fálicos...

Por haver nascido

Cresce-se endividado

Com o instruído laço,

Lasso por desperdício...

 

 

 

Por haver nascido

Torna-se cativo

O desabonado.

De intenções sobrevidas,

Sonhos de liberdade,

Adolesce junto ao siso

Do passado tísico...

 Só por haver nascido,

Só por haver nascido

Num século sem lastro

Ou berço ou tasco

Entre pedaços...

 

 

 

 

 

 

 

Asilados

 

Cabeças brancas,

Mentes a murmurar a morte

Riscada em traços fortes

De viver pernas afrouxadas

Pelo caminhar de tempos...

Mãos trêmulas de esperar

A vivência vivenciar atos...

A dor inerme a perdurar

Além dos minutos lassos...

Janela estreita, porta fechada,

Olhar distante de somar

Derrotas revividas...

Triste cenário de ir embora

Sem adeuses...

 

 

 

 

 

Agora

 

Quero gritar meus lavores,

A dor no peito transforma

O longe perto da inação...

A água bate no queixo

Entre chances e afagos

Deixados nos esquineiros

Transversos da estrada...

Quero expor meus adores

Entre lágrimas e sorrisos

Trazidos nesta ilação...

Tentando ouvir o mundo

Em sua velha canção

Deixada neste profundo

Fim de leilão.

 

 

 

 

 

Rio vogado

 

Premando absurdos

Falando aos surdos:

Aqui me repito em danos

Somando desenganos...

A paz que consigo

Lendo poetas idos

Nos passados anos...

Quantas frases soltas,

Desconexas, fora do texto

Relido e aceito

Entre as perdições

Do leito...

 

 

 

 

 

 

 

Laboriços

 

A cidade está cansada,

Dorme,

Que a paz esteja contigo

Terra de meus sonhos

Repetidos...

A cidade está dormida

Entre mendigos

Deitados às portas fechadas

Pelo seu inciso...

A cidade está predada

Entregue aos vícios

De gentes e praças

E humores antigos...

A cidade está acordada

Entre laboriços...

 

 

 

 

A página dois

 

A página dois

É a contracapa

Das verdades deixadas

Calar para não ofender

Ante o erro evidente...

 A página dois

É o silêncio que implora

A opinião traverça

Entre palavras mudas

Que gritam alto...

Ocasiões elípticas

Que tornam a voltar

De lá d’onde voaram

À distância do olhar...

E voltam a revoar

Memórias deixadas

Elipsar