segunda-feira, 11 de junho de 2012
O livro dos nadas
calendario
O livro dos nadas
E das coisas nenhumas...
Bem, se Deus criou
Esse mundo assim,
Cheio de coisas nenhumas,
Como os insetos
E a transparência dos nadas,
Por que negar que o mundo
Não é nosso,
Enquanto humanos?
Amiúde
Essas coisas nos mordem,
De raiva?
Da distração nossa
De não vê-las passando.
Sinto
Sinto arder às narinas
Como estivesse voltando...
Mas, não é bom voltar
Ao principio, ao verbo,
Às infâncias dos homens?
Talvez descobrir o Sorriso,
O primeiro grito sem horror...
O espasmo, Talvez a prima
Corola perfumada da flor...
Ao dito por não dito.
O medo perpassa a idéia
De que voltar possa ser
Assassinar a nova geração
Que não haveria de ser
Exposta assim sem razão.
Mas insisto: gostaria de ver
O princípio do Éden,
Esta estrela que brilha e
Se cria, respirando o éter
Denominado Poesia!
A invenção da saudade
calendario
Também tive infância,
Hora bonita de conhecer a partir
Do quintal e da rua empoeirada,
Outros lugares menos distantes
Tornados próximos
Com a leitura das fábulas.
Lugares febris, lavra sangrada
Entre matas virgens,
Estradas, museus, caminhos
No meio dos nadas...
Tão caros aos olhos quanto
As catedrais de Gaudi.
Tempo de ir apalpando a vida,
A medo, curiosidade e cuidado.
Revendo aqui e ali imagens
Desatualizadas de ser.
Assim descobri assustado
A invenção da saudade.
monotonamente
calendario
Viver é de uma lentidão
Monotonamente perigosa...
Os meninos querem chegar,
Os velhos não querem sair.
Para que? Retornar
Para enciumar os outros,
Que estarão bengalando
Os passos trôpegos...
Um jogo de paciência,
Não é pra quem não sabe
O valor de saber jogar.
Viver é mesmo isto,
Entre as opções de ficar,
A opção de partir...
quandos
Quando eu me for,
Não por querer, mas por ter partido,
Levarei comigo a saudade das coisas...
O rosa das flores, o verde das tardes,
O escuro do quarto, o claro da sala...
Uma impressão de vida nas vidas
Geradas por mim.
Quando eu me for
Serei desesquecido, que lembrar é
Tanto mais que vivido...
Verei por aqui as flores esmaecidas
Das cores que vivo, e,
Nas gerações de mim talvez o sentido
De eu ter vivido.
Colheita
Talvez não seja lógico
Mas a velhusca frase:
“Colherás o que planta”
Não tem mais sentido...
Bandido filho de bandido?
Puta é filha de família...
Político de botequeiro...
Engenheiro de frentista.
Ou tô errado de novo?
Eu, quase ateu, de pais
Religiosos, e, este escrito
É ao menos prosa?
É um poemeu, meio trova,
Meio glosa, meio sem pai,
Como eu, caído do léxico
E se explica em hebreu.
quandos
Quando eu me for,
Não por querer, mas por ter partido,
Levarei comigo a saudade das coisas...
O rosa das flores, o verde das tardes,
O escuro do quarto, o claro da sala...
Uma impressão de vida nas vidas
Geradas por mim.
Quando eu me for
Serei desesquecido, que lembrar é
Tanto mais que vivido...
Verei por aqui as flores esmaecidas
Das cores que vivo, e,
Nas gerações de mim talvez o sentido
De eu ter vivido.
Espantos
Espanta-me como
As crianças de minha infância
Estão tão envilecidas
Quanto envelhecidas...
Somos tracejados
Pela inconstância de viver
Assim, como sem passado
Ou sem querer se ver.
Espanta como as coisas
Envelhecem firmes, com caráter
E uma personalidade de doer...
Tanto quanto as árvores,
As mesas de bilhar,
As banquetas de um bar lembrado
De não deixar de ser.
Os copos, os apetites...
A vida por desmerecer
As vidas que envileceram sem viver.
As coisas mais que nós
Sabem bem envelhecer.
Uma música
Uma música... uma música persiste
No brocardo das memórias,
Separado do adágio das atualidades,
Me explora a mente aguçada
Para as remessas dos ontens,
Feito sacadas para uma paisagem.
Uma música, esta música invade
Meus pensamentos de agora
Trazendo de lá a saudade
Das coisas fúteis da época,
Agora rememoráveis.
Esta música traz da infância
A cor do som que pairava
Nuns sentimentos banais,
Agora tão necessários.
Sumidas horas não mais
Aprimoradas a vencer
As novidades...
O parecer da vontade
De voltar... voltar
Para lá.
Das franquezas
As palavras voam para este papel
Em branco...
Agora podemos dialogar nesta língua
De hieróglifos e permanecer
Estalando os dedos,
Rebuscando dicionários de nada saber
Dos sentimentos...
Aqui somamos nossas ignorâncias
E lemos nossos pensamentos/sentimentos.
Hostis às palavras chaves
Desviamos para o descaminho
Das abreviaturas informais,
Agora sim, podemos conversar de mano.
Sem sinais ou insinuações.
Pedra é pedra
Pau é pau.
Letra por letra o final.
endemia
A infestação de corruptos(e corruptores) invade todas as esferas governamentais. Então, por que não reagimos? Penso que é como pernilongo com índio, parece que se acostumaram um com o outro, você não vê índio se coçar, mas se tem um branco perto, ele está se coçando de tanto ser picado... você vê alguém acostumado se coçando com as notícias do cachoeira? Só brasileiros que moram fora. Os daqui, nós, índios do dia a dia com essas picadas virulentas, estamos vacinados.
Já dissertei aqui sobre José Carlos Rodrigues, assessor de gabinete do ministério da fazenda de Dom Pedro II, que aplicou um golpe falsificando assinatura de seu chefe e sacando na boca do caixa. Na época foi condenado e fugiu do país, depois foi proclamada a república, que o nomeou embaixador em Londres, mesmo sendo procurado pela justiça!
No século XIII a.C. o Faraó Ramsés II já se via enroscado nessas artimanhas de corrupção, segundo a história, e, com toda a sua autoridade de Santidade, não resolveu a questão amistosamente. O Egito não mudou muito...
No Império Romano a mesma endemia dizimou a autoridade e fez fenecer o resultado das grandes conquistas. Berlusconi é a prova viva de que não mudou também..
Nos paises asiáticos, segundo consta, corruptos e corruptores são condenados à morte, e, volta e meia aplicam a lei, mas assim mesmo temos lido sobre ministros de lá com a mão na massa. Se, ameaçados de morrer se arriscam, imagine onde a ameaça é apenas perder o cargo, pelo qual já não se abanam, com seus bolsos forrados, por aqui..
O poder público desde sempre vive em estado falimentar nesse quesito, é fonte de desavenças financeiras, porque os tributos são parte societária de todas as empresas e profissionais de qualquer natureza, sem sujar as mãos literalmente na graxa do dia a dia, sujam-nas na aplicação de sua porcentagem imposta.
Diferente da jabuticaba, este não é um produto exclusivo do Brasil, nos Estados Unidos também corre solta, o vice-presidente renunciou faz um tempo pelo mesmo motivo do Arruda por aqui, no Japão o primeiro ministro também caiu. Na Bélgica, na França, na Itália, etc. o maior problema atual na Grécia parece ser o mesmo dos antigos gregos... na Inglaterra até a Scotland Yard entrou nessa fria!
A futura vacina contra essa endemia talvez seja a computação, que está globalizando os mundos que cabem neste mundo num só patamar: a transparência. Se é que isto inibiria a cara de pau de certos cidadãos... esperemos... esperemos...
As similaridades
Estive, de visita, em uma cidade do Estado, fiquei impressionado com a precariedade das ruas, esburacadas, sujas, com falha na iluminação dos postes, com as lixeiras quebradas, com os famosos orelhões estraçalhados, com obras inacabadas, de outras gestões, abandonadas em desserviço aos usuários, notei que as árvores estavam podadas irregularmente, obedecendo uma estranha fantasmagórica ordem de cortes avessos sob a fiação elétrica, decepadas em seu interior e desbragadas nas laterais, invadindo outros espaços, cobrindo a visão das placas de sinalização, isto nas poucas existentes, na maioria das calçadas só havia um tufo de ervas daninhas sobre os troncos cortados rente ao chão, que um dia foram frondosos, (talvez um tsunami não teria feito tanto estrago permanente). As calçadas de antigamente erodidas pelas cicatrizes das companhias de água, luz, telefone, e o escambal, que impiedosamente perfuraram pedras ornamentais e arremataram com cimento bruto, tão bruto que deixaram a impressão de propositadamente esculhambados, para ser refeitos por quem se sentir lesado. Fui procurar o cartório para resgatar um documento de um parente, recepcionado por um funcionário sem aptidão, ou vontade, ou preguiça enfadonha de cumprir o horário de braços cruzados sobre sua estabilidade, passou para uma outra moça, que discutia como iria vestir-se para um casamento vindouro, e ficou olhando-me como se esperasse que eu desistisse de importuná-la com picuinhas, vendo que eu não saía do balcão gasto e rabiscado por outros pacientes contribuintes, decidiu me atender.
De volta à rua, tomei consciência da familiaridade que senti, vendo pessoas num ponto de ônibus circular, sob o sol, em pé, senhoras de idade, com suas varizes doídas, senhores curvados, uma gestante suando frio, duas crianças impacientes se digladiando, à espera de uma condução que deveria ter passado há algum tempo por ali, e que, sem cerimônia nenhuma, os recolhe periodicamente, sem horário fixo, sem o pudor de envergonhar-se pelo atraso, pelo desmazelo, pelas freadas bruscas...
Procurando outras coincidências, notei uns mendigos “cuidando” de carros estacionados, uns menores mal encarados na esquina, um outro menor passeando sua vagabundagem numa camionete importada, extravasando sua perplexidade com o som estrondosamente alto, exibindo sua filiação perdulária, talvez a única forma de sentir-se querido, coitadinho... meninos sem destino, por falta ou excesso de regras.
Já findando o dia, saí “de fininho”, desviando dos buracos nas ruas, cuidando dos motoqueiros apressados que tentavam me abalroar, com muita atenção as placas de mão e contramão, as preferenciais ocultas na imaginação de quem as propôs, voltando rapidinho para meu cantinho, porque aqui já conheço os mendigos, os buracos, os menininhos e suas artimanhas, e posso respirar quase tranquilamente, estou em casa.
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