domingo, 18 de dezembro de 2011

Bem aventurados


O que dizer neste mês que antecede o aniversário de Jesus, o Cristo de todos nós? Estive pensando nas coisas singelas para o momento, mas as brutalidades tomam assento na minha cabeça desprevenida para tal. Para esvoaçar as más notícias e dar lugar ao benfazejo momento, volto a ler o sermão da montanha, que me parece esclarecedor para tantas dúvidas, até de religiosos convictos. Para o ledor deste momento proponho amenizar, pendurar as agruras num varal e esperar que sequem as lamúrias lacrimadas, que, pensas, deixarão na poeira abaixo as gotas salgadas da dor. No sermão peço atenção para a sinceridade, rara hoje em dia, mas encaixada nas razões de viver adiante. Dizia o Mestre: “bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus. Bem aventurados os que choram porque serão consolados. Bem aventurados os sedentos, os misericordiosos, os puros, os perseguidos”... pergunto: você escapa de todas essas alternativas? Mas Ele também propõe a bem aventurança aos que promovem a paz, que são tão poucos, porque nos considera o sal da terra. Aí vem o puxão de orelhas, que se o sal for insípido não serve para nada. Vê-nos a luz do mundo e novamente previne que a candeia não deve ficar escondida, mas acima no candelabro, para clarear a todos. E, aqui você se encaixa? Em seguida Ele afirma que não veio para ab-rogar a lei, mas para cumprir. Esta é a parte mais difícil não? E ensina que em verdade não passará um ápice sem que tudo se cumpra, porque se a justiça não alcançar os “fariseus” não teremos paz, ou o reino dos céus. Vaticina que os antigos pregavam: Não matarás, mas condena até a intenção de. E um dito muito difícil na geração atual: não cometerás adultério, e condena até o olhar com mau desejo. Diziam os antigos: cumprirás para o Senhor teu juramento. Ele conserta: não jurarás nem pelo céu nem pela terra, escabelo de teus pés. Diziam: olho por olho dente por dente. Ele retruca: a quem te bater na face direita, apresenta a outra. Diziam: amarás teu próximo e odiarás teu inimigo. Ele refaz: amai teu inimigo, o Pai faz raiar o sol para todos, justos e injustos.
Bem, dito isto, não pergunto mais nada. Desejo que nós todos possamos nos encaixar, pelo menos nesse momento, aos desejos de Jesus, o aniversariante, como um presente de natal, não para Ele, que aniversaria, mas para nós, que nos prometemos tanto e descumprimos quase sempre, abandonando a razão que nos trouxe ao mundo, para seguir nossos instintos, tão mais fortes que a consciência. Lembremos neste momento que deveríamos ser mais civilizados, mais sinceros, mais polidos até, com nossos semelhantes, talvez menos racionais em relação aos valores. Mais emocionados por estar aqui, onde nos dá a vida todas as chances. Bem aventurados os que possam assentir com alguns desses conselhos do sermão, sem peso na consciência. Porque a laje fria da inconsciência que estampam os jornais todos os dias, não nos faz humanos, mais que o rude animal feroz que somos quando depredamos nossos iguais.
Groselha, a fruta doce da infância.
Desenho um tempo em que
Groselha era o doce ideal
Para as tardes quentes
De verão...

Desenho o tempo em que
Manipulava-se a sala para
As reuniões professorais
De ocasião.

Relembro o tempo em que
Chamava-se de senhor
O professor carrancudo
De matemática...

Sou do tempo de correr as
pipas e nadar nas águas sujas
dos tanques da construção,
Sem derrotas sem remorso,

Apenas sadios desses tempos
De groselha e nata cobrindo
O leite matinal, das intenções
Ingênuas de um tempo...

Desenho imagens a partir
Desses medos de passar
O tempo e esquecer o sabor
Da groselha coada.
levedo


Seria lícito dizer que
A vida entorne o que lhe sobra
De maldades, bondades, vinhedos
E canaviais,
destilados em bebida
E bebedeiras...

A parte fraca do bêbedo
É quando está apaixonado
E não correspondido,
Aí bebe... bebe...
Até se abaixar ao último meio fio
Da sarjeta.

Seria ilícito entender
As razões arrazoadas deste que
Colheu as canas
E vinhedos já prontos
Para desfazer o ego
E travar a alma.
Passagens do tempo


Mas, no entanto,
Toda sorte de derrotas
Faz parte da receita palatável
Da vitória...

Esse bolo agridoce necessário
Às considerações das aulas,
Das mutretas esperadas
Àquelas que nunca se espera.

As faces angelicais mentindo,
As faces mentirosas
Adequando...
As manias de surrar-se em tulhas,

Como assim o fazem ainda
Os senhores às escravas,
Mantidas quase nuas, nos porões da obediência cega.

Ah, bem, mas nem tanto
Se faz lonjuras, Hoje ainda as leis sustentam amarras
Entre criador e criaturas.
Terno de vidro


Terno de vidro...
Espelho, Janela, Porta...
Vida de vidro saltando
Janelas
Fugindo das pedras
Da realidade,
Correndo adoidado
Sem freios ou paragem,
Apenas o medo... de vidro,
Das noites passadas,
Das noites vindouras.

Terno de vidro,
amedrontado
Pelas confissões e promessas
De casar e ter filhos,
E de os filhos te ter.
De ter casa e comida
E dívida
Pra não mais poder,
E manter o status de fornecer
Coragem medrosa
Aos que não estão vidro,
E vão perecer.
A natureza do branco


A exuberância do branco
Transmitindo paz
Aos insensatos...
Uma mosca contra o branco
Se entrega...
Uma parede em branco
É uma trégua.

A pureza do branco
É utopia...
Tanto faz a noite rígida
Como o dia...
O que confere ao branco
A empatia é o olhar
De letargia.

Letárgico pode ser
O negro pintado agora
Sobre o que foi branco...
E foi embora.
Quem diria... diria
Que ser branco na parte
Escura é uma fria.
rapinagens
Às vezes
os corpos não se entendem,
Falta vontade, sobram dores...
Nas cabeças.

É, meu poeta preferido,
tu sabes...
Sabes bem do que digo,
Das cabeças...

As cabeças
cobertas de peles,
Recheadas de pensamentos,
Sofrem ataques...

As cabeças
transmitem dores
E amores e favores e
Rapinagens...

É, meu amigo poeta,
tanto faz
Que a vida finde por
tuberculose

Ou queda de moto,
As cabeças serão sempre
Culpadas.
Não os ossos.
complementos


O ato de escrever é solitário.
Isso todos sabem,
Mas
É completado pela leitura,
Que não é solitária,
Mesmo só.

Essa leitura final,
em saraus
Ou em banheiros, ou na cama
Ou na rua ou na sorveteria
Completa
O que se disse antes,

A elevação da palavra
A verso.
Ah, que agonia
essa transformação
tardia.
Dia eleito como novo ano


Eleger um dia como final dos tempos...
Essa alegria de fim de ano contagia,
Saber que amanhã será um novo dia
O mesmo...

As tensões sobram dos tempos velhos,
Entram no ano novo derrubando pias,
Batizando mouros à revelia...
Dos mesmos.

Eleger a palavra final em letargia...
Quem sabe na utopia de ver antes
Que as promessas se realizem
A esmo.

Eleger o dia como de encantos, como
Se ontem fosse do desencanto...
Sendo todos iguais para os arrebóis
Das vidas...

Prometer ao menos mais solidariedade.
Que difícil é esta promessa vívida
De matar saudades impondo energia
Ao menos.






Essa alegria de viver o fim como começo,
A tarde estando prenhe
De arremedos comprometendo
O ser de fato.

Entre as saudações efusivas as
Mórbidas olhadas pelos convivas
Que se repartem em classes
Mesmo aqui,

Agora que passam as horas findas
Oremos pelas novas, sejam lindas
Em desapego às diferenças i
Mensuráveis...

Assim mesmo o canto das aves,
Fortes simpatizantes de enclaves,
Mostrarão o riso vindo da lágrima
Presa ainda.

Enquanto enumeramos esses dias,
Elas comemoram novas ninhadas
Sem calendários e previsões, apenas
Asas ao vento...






Mas que, se nem podemos voejar
Os sonhos de chegar antes que
A fome abata a prescrição que
Acanhoas...

Mas inda temos os abraços fortes
À meia noite desse dia arcado
Na velhice que impõe ao dardo
A vida atoa.

Será amanhã um dia novo... não.
Amanhã será um ano novo, novas
Promessas que virão à tona
Entre compadres,

Mas a vida continua a mesma,
Não há vitória em chegar ao tempo
Rígido das pernas doídas e a reza
Dessas novenas.

Seremos pares para o fim das vidas,
Essas que se esvaem por despedida
Deixando digitais por onde vivam,
Refletidas.