terça-feira, 10 de julho de 2012

poetar Poetar é encantar a palavra Como o faquir encanta serpentes...
guerreira Aquela menina respira O mesmo ar de todos nós. Então, por que não se cansa De armar-se, como todos nós? É que os momentos sangrados Não atuam sobre sua paz, Apenas sombreiam a paz Dos outros guerreiros, Afastados por ferimentos Ou acovardados pelo medo De errar. Aquela menina, Com outro ar de todos nós, Ah, vinha com sapatos floridos, Vestido bordado e sorriso largo Procurando outro sorriso Na guerra de momentos ríspidos Onde atuava sua paz Assim não se cansou em esperar, Apenas sorria à ferocidade E planava sobre Nosso ar.
As criaturas do ar As criaturas do ar Têm um olhar diferenciado Sobre as coisas que vagam Nos descampados verdes... Vêm os roçados de longe, Donde são sempre lindos, Sem a aspereza dos suores Dos capinadores de ervas Entre canas e limoeiros, A espera pelos ratos Inda fadados esperar Aterramentos erosivos. As criaturas desse ar Dos longes vivenciados Não vêm o fogo ardido, Apenas o arrazoado.
entorpecido O tempo de anseio É quase uma dor Que o dia vai suavemente suando Até o estupor. O acontecido é Uma verdade Que não se refuta, Pois que é força Absoluta.
Cítara A música enche espaços Vazios desta hora... Toca solitário o tocador A sua clave repetitiva Sobre a aurora, Já esperada chegar entre Louvores. Derrama-se; fosse chuva, Entenderia sua leveza De correr entre paliças, Os dedos ágeis destreza Amealhando olhares Apurados, que passam A ouvir-la sóbria. Faz-se paz o momento, Que aspereza pode Insurgir-se nesta hora Se se repete a cítara Melancólica, a mesma Nota, posta ao ar nevoso Desde a aurora?
descaminhos Estou no caminho certo? Passam por mim as idéias vencidas, Exploro a incontinência dos fatos Gerados à época Como simples curiosidade Sobre fatos numéricos. Estaria no caminho certo Quando percebi a maturação Das frutas e idéias que tive No descaminho das coisas Que passavam rápido e caíam Antes de amadurecer? Estou no caminho certo! Já que cheguei até aqui apenas com Poucas cicatrizes e arrependimentos... Banal pensar nas desilusões de ontem Se a reparação dos erros pode Ser o hoje redimido. Estou no caminho certo, Com certeza!
oco No escuro da sala a sala é vazia Sem a percepção dos olhares frios De antes, quando insurgia A mesa e suas adjacências Enchiam a sala de aparências... Com uma espécie de curiosidade Consulto a memória das cadeiras Entaladas sob a mesa Puxando os pés que passam Atrás delas, de soslaio. Os painéis perdem a cor, O opaco do escuro faz-me Daltônico e lúbrico, Sem o calor do sol de antes, Ao frio do escuro da gora. Na vastidão da sala me perco e me encontro entre as memórias das peças móveis E suas inutilidades, Um vazio sai de dentro de mim. Enche os vazios ao redor da sala, Entre cristaleira, mesas e tapetes, Um telefone toca enraivado, Mas continua escuro o silêncio Quebrado agora.
acarinhado Quando eu vier lá de mim, Carregado das coisas que vim, Procura na arcada do tempo Porque cansei tanto assim. Apesar do corpo ter esquecido Aqueles cansaços, a lida Ainda tem sentido pelo regaço Das esvaecidas acarinhadas. Apesar de ter vivido a paz Na guerra, vem à memória o tanto que não erra. Então, procura nessa arcada Enquanto venho de mim O motivo de espera.
A pianista O silêncio oculto no corpo Ninguém imagina... Fui tímido em menino? Todos cresceram. Eu sou. O assoalho range aos passos novos A saudade daqueles tempos De antes, quando o piano acordava E as avós dos atuais tecladistas Pensavam-se damas fortes. O silêncio abate a teimosia de tocá-lo, Range o medo das próprias mãos Calosas de enfadar a roça. Que mãos seriam tão fortes?
A cada treze Por vagar encantos Sobre o perfume da hora Ela borda flores num pano de janela, Que são suas lágrimas jogadas fora. Vejo-me como me vês, Tu que perguntaste há pouco as horas, Eram já as três da tarde Preguiçosa de ir-se embora. Por vagar por esses olhos lacrimosos Sei que a tristeza borda-te as horas Nas flores contadas a cada treze Perfazendo o tempo na demora.
pichação Esses muros sujos de rabiscos São as mentes sujas de rabiscos... Nada pode explicar a face cruel Dos pichadores de muros sujos, Como se ferissem a própria pele Com suas mãos ásperas e Suas mentes dilapidadas a frio. As cidades são tristes vitrines Para alguém que sonhara cores, As cidades monopolizam a área Que seria verde, não fora cinza. As cidades depredadas por nós Não se safam das lágrimas, Apenas não as sabem sorver. Quantos sustos serão preciso Para o caboclo ingerir esta náusea Sem cuspi-la com o sangue Das narinas ardendo o odor fétido Das latrinas abertas ao desuso, Se a razão deixou-se levar Pela brutalidade da fumaça?
O peso das latas de água Os anjos morenos carregam Para o banho dos anjos claros Num céu programado cristão Com santos de olhares verdes... Assim já era antes, na corrida Pelas terras e mares do plano Revivido aqui, entre altiplanos As vozes enérgicas gritavam. Vestida de branco este anjo Perambulava pelas encostas O peso arqueando as costas. Sem latas, vestida de branco, Enfim ereta, imaculada agora, Ela estará livre esta noite.
coerção Agora me acham velho, Os que me conhecem e Os que nunca me conheceram... Eu tinha este encontro marcado, Não tive como fugir, Coajam-me a vir, de onde estava, Com os pés no barro das estradas Lameando as passagens plácidas De um amadurecimento lento... Lento... mas severo em suas ordens, Branqueando a barba e a mente E amarecelendo o retrato na parede Em comunhão comigo aqui Na cadeira, embalando as idades, Idas para trás das artes assumidas, Mortas em cada um de nós. Agora que me fazem velho Desato os nós.
Tentativas Quando tentei viajar os sonos Era manhã no dia e em mim, E fomos juntos perambulando As sombras e os matizes Que nos fariam felizes... Assim o dia e eu comungamos A mesma canção de voejar Sonhos por onde a realidade Levanta paredes. E fomos assim, o sol e eu Desfazendo sombras Para o meio do dia. No dia inteiro vou sucumbindo Às sombras que se agigantam Ao redor dos erros. O sol também se deixa sucumbir, É que nós dois estamos cansando De cobrir arvoredos Com as sombras viscerais de erros, Donde nossos tempos vêem Primeiro procurando o ar, e, Respiramos nosso último arrebol Nessa intensa luta de cruzar horas, Criar poleiros para sonhos cansados De ciscar momentos e bicar Somente grãos pequenos.
m cara bom fb Meu pai, sempre o cara bom. Foi, mas não se deixou levar. Um dia, inda cedo na sua vida, Contraiu esta moléstia ferina, Que o levou tempos depois... A sua coragem em enfrentar As desavenças da mala-sorte Faria suspirar a última vez Dizendo: tô gelado sim, filha, Mas não tem importância. Frente ao desespero da filha, Que a morte é parte do viver, A parte mais lógica, explicita Talvez a mais merecida... Ou Não, mas a parte mais certa. Nas incertezas de caminhar Ele dizia e provou que, enfim, Chegada sua hora, a coragem Do homem acima do medo Do macho raçudo de antes... Este foi o pai que convivi, Sem abraços e beijos, mas De um amor rude e sincero, Nas viagens, nas roçadas, Nos portões dos sítios, que Faríamos juntos, eu criança Ele adulto, paciente quando Saí do exame para exército Estava esperando para dizer: Tudo bem? Como a saber, Conformando revide muda, Não precisava de palavras. Este meu pai, me domou Fez-me pai também, antes Orientou-me filho a viver, Que me respeitou pessoa A conviver a extrema hora Como iguais, de mesma fé Este meu pai, um cara bom, A erigir um lar de sua casa.
endemia A infestação de corruptos(e corruptores) invade todas as esferas governamentais. Então, por que não reagimos? Penso que é como pernilongo com índio, parece que se acostumaram um com o outro, você não vê índio se coçar, mas se tem um branco perto, ele está se coçando de tanto ser picado... você vê alguém acostumado se coçando com as notícias do cachoeira? Só brasileiros que moram fora. Os daqui, nós, índios do dia a dia com essas picadas virulentas, estamos vacinados. Já dissertei aqui sobre José Carlos Rodrigues, assessor de gabinete do ministério da fazenda de Dom Pedro II, que aplicou um golpe falsificando assinatura de seu chefe e sacando na boca do caixa. Na época foi condenado e fugiu do país, depois foi proclamada a república, que o nomeou embaixador em Londres, mesmo sendo procurado pela justiça! No século XIII a.C. o Faraó Ramsés II já se via enroscado nessas artimanhas de corrupção, segundo a história, e, com toda a sua autoridade de Santidade, não resolveu a questão amistosamente. O Egito não mudou muito... No Império Romano a mesma endemia dizimou a autoridade e fez fenecer o resultado das grandes conquistas. Berlusconi é a prova viva de que não mudou também.. Nos paises asiáticos, segundo consta, corruptos e corruptores são condenados à morte, e, volta e meia aplicam a lei, mas assim mesmo temos lido sobre ministros de lá com a mão na massa. Se, ameaçados de morrer se arriscam, imagine onde a ameaça é apenas perder o cargo, pelo qual já não se abanam, com seus bolsos forrados, por aqui.. O poder público desde sempre vive em estado falimentar nesse quesito, é fonte de desavenças financeiras, porque os tributos são parte societária de todas as empresas e profissionais de qualquer natureza, sem sujar as mãos literalmente na graxa do dia a dia, sujam-nas na aplicação de sua porcentagem imposta. Diferente da jabuticaba, este não é um produto exclusivo do Brasil, nos Estados Unidos também corre solta, o vice-presidente renunciou faz um tempo pelo mesmo motivo do Arruda por aqui, no Japão o primeiro ministro também caiu. Na Bélgica, na França, na Itália, etc. o maior problema atual na Grécia parece ser o mesmo dos antigos gregos... na Inglaterra até a Scotland Yard entrou nessa fria! A futura vacina contra essa endemia talvez seja a computação, que está globalizando os mundos que cabem neste mundo num só patamar: a transparência. Se é que isto inibiria a cara de pau de certos cidadãos... esperemos... esperemos...