domingo, 27 de fevereiro de 2022

 Desperdícios

Replico as horas difíceis,
Desperdício em tempos de rir,
Talvez por isso que eu viva
A paz de perdidas chances
A guarecer o facho enquanto
A vida persiste em desmerecer
Meus mementos desperdiçados,
(Ouvir Ari Toledo e suas piadas
Em vez de histórias choradas
Por notícias atuais, sem graça)
Troco meus momentos tristes
Por instantes de alguma graça
Sem não ao litigio do momento
De ucranianos em sua desgraça...
O que pode meu pequeno rancor
Frente à migração de inocentes
Desviando das balas e tanques,
Banidos de suas casas sem causa?
Desperdiço o tempo nesta tarde,
Há um carnaval de bobagens
Por seu humor em desgraça!
sergio donadio
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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

 

                                       

                                     A semana de 22, cem anos do modernismo

O primeiro impulso para surgir o movimento de 1922 foi das artes plásticas, a pintora Anita Malfatti trouxe da Europa obras de cubistas, o que provocou grande tumulto nas artes daqui, Monteiro Lobato tachou de paranoia, mas os jovens de então, como Mario de Andrade, descobriram na corrente antiacadêmica europeia um novo caminho. A ideia da “semana” surgiu de Di Cavalcante, no Rio, e prosperou com Ribeiro Couto, em São Paulo. Entre outros, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida encabeçaram a ideia de promover no Teatro Municipal a “Semana de Arte Moderna” ganhou impulso com a solidariedade de Graça Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras, da qual se afastou para unir-se àqueles jovens revolucionários. Na sua fala de apresentação disse. “É uma resultante do extremado individualismo que vem na vaga do tempo há quase dois séculos até se espraiar em nossa época, de que é feição avassaladora. Cada pessoa um pensamento independente, exprimirá livremente, sem compromisso, a sua interpretação da vida, a emoção estética que lhe vem do seu contato com a natureza. Que a arte seja fiel a si mesma...” Os Poetas foram vaiados por sua libertação, mas depois da Semana, nas páginas da revista Klaxon e outras, firmaram sua posição com grande tumulto, no seu discurso na Academia Graça Aranha em 1924 proclamou que sua fundação fora um equívoco, mas já que existia, que viva e se transforme, admitindo nela as coisas dessa terra informe, paradoxal, todas as forças ocultas desse caos, são elas que não permitem à língua estratificar-se e que nos afastam do falar português e dão  à linguagem brasileira este maravilhoso encanto da aluvião, do esplendor solar, que a tornam a única expressão viva da nossa espiritualidade coletiva. Mario de Andrade explicou: ”. Escrevo sem pensar, tudo o que meu inconsciente grita. Penso depois, não só para corrigir mas para explicar o que escrevi. Acredito que o lirismo, nascido no subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso, cria frases que são versos inteiros, sem medir sílabas com acentuação determinada. Arte, que somada a lirismo, da Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho, deixemos que tropece, que caia e se fira. Arte é montar mais tarde o poema de repetições fastientas, que não seja de limpar versos de exageros coloridos. ” Cem anos depois ainda estamos a separar briga entre parnasianos e simbolistas com o modernismo datado por aqui, mas que já era expressado por Walt Whitman em confronto com a rigidez de Castro Alves, ou nos versos de Shakespeare em “o vento senta no ombro de suas velas” ou ainda de Homero “A terra mugia debaixo dos pés dos homens e dos cavalos” ou ainda mais longe no tempo, em 2 mil a.C.  Nos versos: ” O homem precisa manter os dentes e alma limpos” todos eles sem as amarras do simbolismo

 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 

Feito o sol da tarde

 

Feito o sol desta tarde

Aprecio seu levante

Entre sombras e ventos

Indo embora...

Talvez à noite perceba

Quão escuro pode ser

O daqui a pouco...

Assim como o amanhã

Visto do hoje findo,

Como pode ser escuro

Este labirinto...

Feito o sol da tarde

Sinto-me apagando

As verdades deste dia

Todo feito de mentiras...

 

 

 

 

 

 

Descoberta/invasão?

 

Viajando marcam presença

Nos rincões d’outros viajados...

Quem pode gavar-se da terra

Por onde seus passos aram?

 

Quem vai banhar-se na água

Que escorre de seu costado

E saber-se dono dessa terra

Se anteverem-se regrados?

 

Por aqui passavam pessoas

E todos cá se apoderaram

Por poderes imemorados

 

Dessas ceveiras pendentes

Dos braços desabraçados

Dos pendões amendoados ...

 

 

 

 Baú de esperas


A cada vez que dói
Aumentam os linimentos...
E o tempo se esvai
Pela janela de si...
Feito de extremos
O sentido se supera
Querendo impor-se
À vontade do corpo,
De dormir...
Dormir eternamente...
A cada vez que dói
Prepara-se uma dúvida
Como será amanhã cedo.
Das tormentas a pior
É a interna, pois é a realidade,
E dói!
Que vem e vai, sem motivo
Plausível para doer mais...
Na espera o que sobra?
Um baú cheinho de esperas,
Do nunca mais.

sergiodonadio



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

  

Qualquer fato efêmero

Se faz eterno no enlevado

Expresso na memória

 

 

 

 

 

Voos

 

As asas são palavras

Soltas que soltam

Pensamentos presos

 Formando poesia...

 

 

 

 

 

 

segundas feiras

 

o clima de segunda feira

não é o mesmo do domingo

como não foi do sábado...

tudo a seu tempo,

da fanfarra à ressaca.

o clima desta segunda feira

é a espera da terceira feira

sem alardes, sem tristeza...

apenas a sobriedade sábia

de viver o hoje no clima

que se faz presente na fila

de valores de agora, depois

de cada festejado domingo...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

todos os corpos

perecem um dia,

todas as almas

voltam a viver...

 

 

 

 

 

quando o corpo perece

a alma volta viver...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

este canto de chegada

ou despedida

é o que resta em comunhão

com nossas vidas

a saber que vezes tantas,

por partida, chegamos

a nos encontrar...

este canto, mais que louvor,

te faz visita

no torpor do tempo

inda em crédito

com a vontade de ir

sem ter que ir-se

desta paz inda agora

conseguida...

 

 

 

 

 

 

 

 

quando olho o horizonte

parece estar tão perto,

ao dar o primeiro passo

me desperto...

 

 

 

 

 

 

 

 

quando escrevo o poema

o poema me descreve...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

feito o sol desta tarde

aprecio seu levante

entre sombras e ventos

indo embora...

talvez à noite perceba

quão escuro pode ser

o daqui a pouco...

assim como o amanhã

visto do hoje findo,

como pode ser escuro

este labirinto...

feito o sol da tarde

sinto-me apagando

as verdades deste dia

todo feito de mentiras...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Chorar em silêncio

 

Lamento baixinho quando

Vejo a chorar desconhecidos,

Não por sentir o que sentem,

O choro em mim faz sentido

 

Quando por além-mundos

Minha fé é pouca de vez que

Aninha de prantear o pranto

Que meço na amargura alheia

 

Momento de perder a graça

Perdida a remissão ao torto

Do agora em pleno esforço

 

Pelo que sentimos em cadeia

Pela dor do outro, que passa

No momento daqui a pouco...

 

sergiodonadio

 

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 

Voz que chama

 

No silêncio da noite

Esta voz que chama

Não me é estranha

Na áspera vivência,

 

Apenas não distingo

De memorial passado

Em extremos lapsos...

Laços de sugar tentos,

 

Pena que saibas pouco,

Bem ralo conhecimento

De meus passos dados,

 

Vagos sonares ventos...

Pingos fosforescentes

Nos olhos desolados...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cimeiros

 

Não sou afeito

Ao contraditório,

Aceito,

Que tomem consciência

Sem interferência, apenas

Fico indignado quando pedem,

Exigem aquiescência!

Talvez uma vez entendam

Que seus valores não são

Valores universais, valões

Deixados cavar nas consciências...

Talvez aceitem que se pense

O contrário do contrário quando

O cotidiano for contrário.

Enfim, não discuto valores

Políticos, religiosos, cimeiros,

Apenas me calo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Divórcio

 

Separar

A dúzia de copos

Em meia dúzias...

Acho tão deprimente,

Vergonhoso, tão...

Quão baixo chegou o valor

Dos sentimentos... 

 

Céu vermelho

 

O céu está empoeirado,

Uma visão assustadora,

Embora fascinante...

Cinzas do vulcão Tonga,

Viajando do oceano pacífico

Ao oceano atlântico

Alcançam a estratosfera...

Que força tem a natureza

Sobre nossa pretensão

De fortes contendores...

  sergiodonadio