quinta-feira, 18 de maio de 2023

 

 

Entre eu e mim

 

Há uma distância palpável

Entre eu e mim...

Somos diversos na diversidade

De ser.

Talvez um lapso de instantes

Nos separa em tantos

Que não é possível cercear

Qualquer viração de termos...

Entre mim e eu

Há um abismo de existências

Paralelas

Que não se encontrarão

No infinito...

 

sergiodonadio

 

 

 

 

 

 

Morbidades

 

Não quero culpar a vida

Pelos tropeços da lida

Mas, ultimamente, tem-me traído

A consciência do vivido

e revivido nas dores do dia a dia,

Nessa idade de mais dor

Menos alegria.

Não posso culpar a lida

Mas, conforme passam os dias

Sinto que o dia-a-dia me enfraquece nervos e juízos sobre

Desacontecidos, terapias, pílulas,

Esforços... para retornar

Ao tempo ido?

 

 

 

 

 

 

Mixórdias   

 

Poucos sabem

Conviver com as chagas

Mas o tempo ensina

A prover-se às mágoas...

Quem sente a dor

Que atravessa o outro,

Destruindo sonhos?

Desses alguns reveses

Se acumulam em falhas

Desfazendo promissoras

Promessas não dadas...

Poucos sabem,

Mas os que sabem sorriem

Desdizendo lágrimas...

 

 

 

 

 

 

 

Das verdades desentendidas

 

Por aqui passava um verso

E por ele todos pendiam,

À volta da tensa liberdade

Que de alocuções dividiam.

   

O que dizer de temas rasos,

Semânticos de alguma lavra?

O que dizer da palavra fácil

Que do tema inda é escrava?

 

Que se perdeu num estilo?

O que dizer sobre a verdade

Escondida em verso idílico?

 

Se a poesia reside em planos

De verdades desentendidas

O que dizer da real vida?

 

 

 

 

Nostalgia

 

O tempo não volta atrás.

Seja vivido ou esperado,

Como algumas pessoas

Lamentam não o fazer,

É viver cada momento,

Abraçar cada intento,

Comemorar cada abraço

Como se fora o último,

Até ao último chegar...

O tempo não volta

Por mais que a saudade

Nos faça chorar...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vagação

 

Com a memória trançando

Não sei a quem me apegar...

Com o passado esquecido?

Quiçá com o presente ficar...

 

Com futuro não conto mais,

Apenas espero a esperança

De me reencontrar adiante

Na esquina vagal do tempo,

 

Desse tempo devagar, lento,

Divagando ideias soporíficas

Que me levam a algum lugar

 

Deste soar implícito arrasado

Distante meu devaneio ido,

Presente no meu esperar...

 

 

 

 

Audazes

 

Vejo poucos humanos

Se aventurarem

Como os pássaros,

 

 

 

 

 

 

 

 

Desde de eu criança

O tempo embalança

E me faz vibrar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

eu deveria dizer

mas a timidez me cerceia,

eu deveria esmurrar?

mas o tempo passou, sem sangrar.

quando preciso falar, emudeço,

quando preciso calar, esmurraço,

então o minuto de resposta

acaba em não o sendo...

eu deveria esmurrar a tempo?

mas o tempo me passou para trás

e seguiu em frente...  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Azul esperança:

Uma cor define

O momento.

 

 

 

 

 

 

 

As estórias contraditórias

Contam nossas histórias:

    Somos todos gentes

    De humor e dentes...   

 

 

 

 

 

 

 

Cadeados

 

Existem tantas formas

De precaver-se de ser roubado,

A mais displicente é o cadeado.

Inocentemente argolado

Em uma barra de ferro,

Como se fora inviolável.

Existem tantas formas...

Algumas imaterializadas

Em frases sutis, gargalhadas...

As formas vis de ver logrados

Os menos avisados, nós!

Encadeados por nossas mentes

Descobertas às serpentes...

 

 

 

 

 

 

 

 

Tributo à Mãe Dona Luzia

 

Olhando de curta distância,

O tempo vivido, o tempo

Sonhado viver... confrontado 

A esperança à desesperança

De a merecer.... Cara senhora

De tantos predicados

O que mais saliento é tua paz

Frente as contrariedades

Que só o tempo, à distância,

Nos pode fazer entender 

Que o tempo é a fumaça

Do vivido e do desvivido

Quando a tivera a um olhar,

Agora que a tenho a um pensar...

Tristemente rememoro

Que o tempo não apaga

A saudade vívida em este pensar

Que a vida, por vida, não desaba

Quando o corpo se cansa

De a carregar.    sergiodonadio

 

Valha-me a palavra

 

Valho-me da palavra para expressar dores e amores...

Aqui se ferem más pessoas

Entre aplausos d’outros...

Aqui se embriagam parlatores

Sobre mentas e desavenças

Havidas no conceito de estravos

À fúria dos desavisados...

Com quantos paus se faz

A canoa sofreando nesse barro?

Valha-se da palavra verdade,

Da qual me armo...

 

sergiodonadio

 

 

 

 

 

 

 

Ao espírito do Dr. Sax

 

Pela visão de Jack Kerouac

A nuvem se enegrece e forma pássaro enorme, quilométrico,

E embica uma cobra

Que a queria degustar...

Aqui todos os danos são reais,

Até mesmo o que o menino tenta,

Que sacode o pano envergonhado

A tentar colher a nuvem pássaro

Que não lhe assusta em pesadelo,

As palavras emboscam o pensar,

A víbora se entrega ao poder

Do maior e se desfaz em partes,

Já amanhece em algum lugar,

Mas aqui o escuro reina

Entre dentadas de uma nuvem

Que não se desfaz enchoçada

Sobre a cabeça do menino

Que acredita em seres fenomenais

Na visão fantasmagórica de Jack...

 

Hora de sair do passado

 

Menino,

Enfrente a poeira de frente,

Sem arregrar sentimentos,

Apenas olhe para frente,

Atrás a ponte está caída...

Não tem mais corrimão

Em socorro à mão perdida...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Perdas

 

Ainda me lembro

Das causas ganhas ou perdidas,

Trazidas pelo correr da lida,

Mas não tenho lembrança

Das feições dos amigos antigos

Nem dos fatos recentes...

Como estarei daqui a pouco,

Perdido na rua de minha casa

Sem rumo norteado em paisagem

Nas dispersões das imagens

Guardadas numa cena vazia?

Confusas as medidas, como serei

Na foto dos ontens, se a base

Estiver perdida?

 

 

 

 

 

 

 

Das sobras do tempo

 

Das sobras do tempo

Colher os frutos doces,

Ferventar dos amargos

A mágoa que os trouxe

E adoça-las com gestos

De abanando adeuses

A cada lágrima deixada

Escorrer da face lívida...

Das sobras do tempo

Sorrir à oportuna lida

Que escolta despedida...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É preciso remar,

Mesmo que for

Contra a corrente...