terça-feira, 17 de abril de 2012

propensão


Propensa
A abrir os botões
De uma fina camisa...
Indecências?
Apenas a realidade
Da malícia.

Não eras mais a dama,
Eras a mulher
Antes e depois
De seres a puta
Da vez pro menino
De prima transa.
marmóreo
fb

O que restará
Nesse tempo obscuro
De terceira idade?
Saudade do futuro, talvez,
Talvez um olhar
Lânguido, focando
Outra tarde...

A que ficou
Nas cicatrizes do tempo
Levado a esmo
Pelas outras idades?
Talvez um passado
Escrito em letras
De mármore.
As cores cinza


Essas cores cinza
Dos palácios europeus
Trazem à mente as cores
Que a velhice
Das pessoas
Perdeu...

O cinza das memórias,
O cinza das lembranças
Dos outros, nas datas
Importantes que o tempo
Apagou, por
Distantes...

Essas cores, cinza
Dos tempos, válidas para
Descrever o suor
Dos medos e arrepios,
Do amor, ou desamor,
Que feneceu.
A semana

Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi realizada a semana de Arte Moderna, idealizada pelo pintor Di Cavalcante, celebrizada por Oswald e Mario de Andrade na literatura e por Anita Malfatti na pintura, fazia parte das celebrações do centenário de Independência, criticada por Monteiro Lobato e outros, apoiada por Guilherme de Almeida e outros, recriminava a perfeição estética do século XIX, abrindo horizontes para novas idéias em literatura e artes em geral. Manuel Bandeira foi vaiado quando apresentavam seu poema os sapos, depois muito consagrado. Anita Malfatti não foi aceita. Com o quadro o Abaporu Tarsila do Amaral também foi criticada, consagrado depois. Heitor Villa-Lobos na música, Gilberto Freire e tantos outros, mas hoje é unanimidade a projeção da semana para as artes no Brasil. 90 anos depois, soa meio sem sentido rotular a arte modernista. O que seria modernismo? Portinari ou De Chirico? Picasso ou Dali? Da Vinci ou Michelangelo? Parece-me que tudo é arte extemporânea. Drummond ou Cacaso? Nessa seara quero citar: ”Nutre-nos a esperança enganadora, ansiosamente lutamos para alcançar o inatingível, como vivemos um breve dia, filho, não nos iludamos...” este trecho é de um poema do século VII antes de Cristo! “Vou de adeus em adeus atrás de nova ilusão, amores que foram meus agora de quem serão” esta do século XXI.. “Com minha arte firo mortalmente aqueles que me ferem” pensa bem, que modernismo este de Alcmeão, séculos antes de Cristo... Mas, o ranço do século anterior ao nosso, tinha alergia por versos brancos, a arte sem sombras expressivas. Enfim, anos depois os movimentos tropicalismo e bossa nova ainda são herdeiros daquela semana, que mudou o parâmetro dos conceitos e abriu as portas para essas experiências vindouras.
Em 1922, além da comemoração dos 100 anos da Independência, em 7 de setembro, tivemos o levante do exército contra o governo, a eleição de Artur Bernardes para Presidente, lá fora teve a dissolução do império otomano, a formação da união soviética, o falecimento do Papa Bento XV, e, para esmagar, a criação do imposto de renda cá.
Voltando ao assunto: Aos noventa anos da semana, aqueles que deram a cara para bater já se foram, resta a obra que deixaram, os herdeiros que os glorificam, a nova maneira de ver o mundo aceitando a diversidade de versos e tinturas, proliferando a palavra diversa da palavra, assim é que cultuamos a herança, asseguramos a perenidade do proposto. Parece fácil agora que se abriram as portas, mas o modernismo preconizado naquela época levou pedrada, é preciso que se o respeite sempre por isso.
O mundo da carochinha

O dia hoje me parece o mundo da carochinha, de mentirinha em mentirinha as coisas vão rolando. Na internet é gente dizendo-se bonita e estudada e especialista em coisas várias... é gente de 60 passando por 15... e outras coisitas mais do mundo virtual. Mas o que mais afeta minha, digamos sensibilidade, são as ofertas para os próximos cinco minutos, se você já ligou para estes sites, vai ver que na maioria das vezes o tempo acabou. Tem também as ofertas de carros semi-novos pela metade do preço do mercado, de computadores em Hong Kong, de pedido em catálogo, de compra programada, de entrada para jogos e shows, cruzeiros com tudo incluído, super saldão, curso com um mês grátis, assinatura com tantos jornais grátis... enfim, toda enrolação possível! Isso a uma distância presumida segura para não ouvir a grita da revolta dos pseudo-compradores.
“Enquanto durar o estoque”. Esta frase trouxe para a realidade da esquina a virtualidade da internet, de corpo presente, frente a frente os caras de pau vendem o que não tem, na maior. Especificamente um supermercado de nossa Arapongas, gente tradicional daqui, ofertou para hoje ovos de páscoa pela metade do preço, ao meio dia não tinha mais! Bem, ou eles não conhecem o potencial de venda ou não conhecemos o potencial de cara de pau deles.
É preciso reciclar o gerenciamento porque isso enerva mais gente do que contempla outras que, oportunamente encheu a burra com os tais ovos em oferta, gente que nem sabia o endereço antes, que foi terminar sua compra em outro local, onde tem intimidade de passar um chequinho de fora, de terceiro na boa. Interessa este cliente, em detrimento do corriqueiro, que ia levar fruta , verdura, pão, leite, e...ovos de páscoa em oferta? tinha gente saindo nervosa, deixando o carrinho com outras compras para trás. É um desacato ao freguês de todo dia, chegar à suposta boa compra, e...
Já não basta a segunda verde, a terça da carne, a quinta do peixe, a sexta da fome?! É por isso que um mercado “de fora” entra e “rouba” a cena, com o pão 30% mais barato, o refrigerante mais barato, TODOS OS DIAS. Mesmo que em outras coisas o preço seja mais caro, há mais sinceridade aparentemente.
Penso que chegamos a um momento em que o desrespeito ao cidadão abraca setores antes impermeabilizados contra essas falcatruas. Já tínhamos as ofertas, vagas, da internet, as promessas de candidatos a cargos eletivos, o aguarde um minuto, o espaço para idosos, o expressamente proibido cobrar deposito adiantado para atendimento médico... tudo de mentirinha.
Na verdade, desviamos de ledores da sorte nas esquinas, pedintes com pernas “engessadas”, doentes querendo o complemento para um remédio, uma passagem... mas não um ovo de páscoa! Esta para mim é nova.
DAS IMPUDÊNCIAS


José Carlos Rodrigues, assessor de gabinete do ministério da fazenda de Dom Pedro II, que aplicou um golpe falsificando assinatura de seu chefe e sacando grana na boca do caixa. na época foi condenado e fugiu do país, depois foi proclamada a república, que nomeou-o embaixador em Londres, mesmo sendo procurado pela justiça!
Descaramento, impudor, despudor da pior espécie, a que rouba de quem não tem, quando rouba dinheiro público (de todos) rouba a tranqüilidade do abonado e comida do desabonado. A inconsciência do corrupto, e do corruptor, impressiona pela constância de atos ilícitos absolvidos no correr dos anos. Ladrões que roubaram nas décadas passadas estão em plena atividade esquecidos pela repetida ação de novos usurpadores, que encobrem com uma cortina de fumaça os atos passados, com suas estripulias. Quem se lembra do João Alves, dos anões do orçamento? Das falcatruas da LBA de Rosane Collor? Dos 70 bilhões desviados do INCRA? Das bicicletas e guarda-chuvas da Fundação Nacional de Saúde, comprados a preço de automóveis? Das 1.700 toneladas de livros da Fundação de assistência ao Estudante, desviados e vendidos como aparas, enquanto os estudantes chupavam o dedo? Da Central de Medicamentos, com seus carros e seringas descartáveis sumidos? Da ferrovia norte sul, escandalosamente orçada? Do Sistema Marajoara, de capitação de água para o Rio de Janeiro, e seus 800 milhões de dólares de prejuízo? Do Abi-Ackel e suas pedras preciosas? Das contas secretas do Morgan, de milhões em nome de brasileiros ocultos? Dos desfalques no INAMPS? Quase não lembramos dos atores do mensalão, das malas despudoradas, das cuecas recheadas, do vai e vem do Lalau, do vem e vai do Maluf, do Quércia, etc...
A polícia faz sua parte. Focando um período: entre 2003 e 2004 prendeu 245 pessoas, dessas 64 foram a julgamento, e pasmem, DUAS estão presas!! O que os faz imunes? Os processos estão mofando! Por que a justiça não faz justiça, tratando todos como iguais? Os ladrões de ninharias pagam por seus “erros”. Desafio qualquer um visitar uma cadeia, verá que estão superlotadas, e pinçar de lá UM meliante classe A!
Como no clássico Mensalão, o dinheiro sumiu! A polícia os entregou algemados, nós aplaudimos, no dia seguinte estavam soltos, os processos é que estão presos! Milhares de crimes apreciados, 40 pessoas denunciadas, um advogado dizendo que é ficção, -Na Suprema Corte? E como ficam os juizes? A medir pelos trinta anos do processo Paulipetro, daqui a trinta anos os mensaleiros serão julgados? Nem Ali Babá acredita!
arritmia


Será sempre preciso
Mais que um aviso,
Um borbulhar de salivas
Refluxo afora, uma pausa
Nas agruras desse dia,
Umas mãos que vêm, e
Vão embora...

Será preciso mais que isto,
A palpitação do coração ardendo
Não faz sentido apenas sendo
O músculo controlador da hora.

Será mais preciso
Uma força de mãos abanando
adeuses
Entre as formas sutis
De despedir-se,
Talvez nem isso seja pertinente
Nesta hora.
Boa noite


A conta mais cara deste dia,
Não será, com certeza, a alegria.
Outras serão cobradas pela semana
Afora...
Os desaforos das ocasiões mirradas
De uma tarde assim de nada fazer,
Fazendo nadas...

A conta mais paga por este dia
Pode ser, enfim, essa alegria
De netos borbulhando pela sala...
Dois
Valendo por dezenas de pirralhos
Ouvindo a mesma cancioneta
Desbragada.

A conta menos cara deste dia
Embola tristeza e alegria, como
Fora o último da largada...
Depois
Ouviremos as cantigas
De mães querendo dormir antes
De seus pimpolhos irritantes.
Sapiens?!
Como podemos ser bons
Se nossos ascendentes
Foram expulsos do éden,
Depois da Macedônia,
Das penínsulas? Dos umbrais?

Como podemos ser bons
Se invadimos este rincão
De índios belicosos, ou não,
E os expulsamos de ser,
Aculturando-os?

Como podemos ser bons
Se,entre paradas das guerras
Não convivemos com a paz?
Se nessas torres de babel
Nos distanciamos?

Sim, podemos ser bons
Acarneirando nossos ímpetos,
Usando o poder de pensar,
Ou simplesmente voltando
Ao poder de não pensar.

Como podemos ser bons?
Copiando outros animais!
Cofiando pelos rebeldes
Quando eriçados demais,
Ou... desistindo de estar.
Em paz


Tranquilamente, Entre a quietude
e o alvoroço, lembro-me elusivo
Que o silêncio me traz a paz.
Nem sei se merecida... Mas, se
Imerecidamente estou em paz.

Entendo a inquietação da juventude,
Essa pressa de não saber pra onde ir.
Espero que entendam a minha lerdeza
De esperá-los aqui, tranquilamente,
Somos parte da mesma natureza.

Um tanto cético dessas premissas
De heroísmos, paroxismos, ismos...
Inda crendo na humanidade sana
Paro-me pela mão ativa e clamo
Pela igualdade dos desiguais.

Tranquilamente desvio da falsidade
Dessas mentes que mentem muito
Desde sempre, pairamos sobre
As tantas falsas lutas, alinhavando
A perenidade das ações amenas.





Espio as vidas heróicas de gentes
Que propuseram a paz em guerra
Devaneando séculos de espera
Depois que sangraram tantos
Impunemente. Aonde foram?

Crente no amor, descrente na
Promessa, sei-me assimilado
Que não tenho a pressa púbere
De correr os prados, mas urdo
A capacidade adulta da espera.

Alimento espírito com minha fé
De uma humanidade plena inda
Que revolta em atos descalabros,
De tempo e tempo assassinando
O futuro de pequenos molambos.

A estressante fadiga pela lida
Traz-me o consolo de vencida
A pausa de chorar e sorrir dela,
Dando por batida a trela que
Tranquilamente conto cruzado.

Tranquilamente sei do silêncio
Que alimenta a alma com fé
Na humanidade das ações, que,
Feitas, não voltarão atrás,
Perfeitas ou imperfeitas.
A pessoa certa
A pessoa certa é,
Na verdade a pessoa errática.
A que caiu de uma esfera,
Num bar, no canto, bebericando
A mesma salvia...

A pessoa certa
Surge assim do nada, aperiódica,
Procurando os olhos
Que se olham nela e
Vê-se espelhada.

A pessoa certa,
A certa altura começa
A responder errado as perguntas
Certas, a fugir das outras,
Que desinteressam.

A pessoa certa,
Depois da ressaca, morde e assobia,
Em vez de assoprar aperta
A jugular parceira de antes,
Por outras ofertas.

A pessoa certa
É a que foi embora antes, quando
Delirante inda te amava.
Nunca esperando que pudesse
Ver-te braba.
Os tantos mundos


Os outros mundos estão distantes?
-Estão aí na próxima esquina,
-Vide as soluções de tráfego, de moradia,
-De decência...

Vide o homem comendo o feijão azedo
Que jogastes fora.
O menino catando a latinha da tua cerveja.
A mulher perambulando pelas vielas
Procurando...
Filhos.

Vide o cárcere e o carcereiro.
A escola e a porta desenhada de fatores,
O vendedor de maconha na porta...
De todos.
Assim não dá pra ver os mundos distantes,
Tão perto quanto as fomes
Dos talantes.

Que mundos são esses que, descobertos,
Trazem para dentro de nós
As diferenças interplanetárias
Que não ousamos pensar
Viventes.
preenchimentos


O momento está perfeito.
Não pelo que possas fazer,
Mas pelo que podes tentar.
Tentar mudar o tempo da manhã sem sol...
Que lua é esta que vem vindo aí?

Poder mudar a impressão de miséria
No teu pão amanhecido...
Mas, que pão é este, ainda dividido?
A multiplicação pode ter sentido
Se medires a fome
Pelos sentidos...

Para o momento perfeito
A dor latente pode ser amenizada
Olhando a dor do próximo, alentada.
Por que razão chora a mãe sem filhos,
Se eles viajaram para a paz?
Soldados que voltaram da guerra
Do jamais.
Vamos para o ontem


Vamos para o ontem
Ver passar fanfarras,
Zunir entre as abelhas
O seu mel de favas...

Vamos para o ontem
Procurar as falas
Daqueles meninos gentis
Antes que o ontem acabe.

Vamos para o ontem
Perscrutar as amarras
Que nos trazem a força
Para o hoje amargo

Vamos... que o ontem
Espera-nos com a inocência
Que trouxemos até aqui
Nos alforjes pesados,

Vamos...vamos...
Que o hoje é tardo,
Os meninos brigam
Por suas namoradas,






De todas as escadas.
Cheio das verdades...
Pelos seus times,
Pelas vaidades novas,

Que desconhecemos,
Nós, por ontem armados
Nós, por ontens amados,
Defrontados tarde

Com suas verdades,
Inverdades herdadas
De nossas maluquices
Ingênuas, podadas.

Que o hoje é complicado
Demais para ser vivido,
Próximo demais
Para ser evitado.

Vamos para o ontem
E seu mel de favas...
Ver passar fanfarras,
Antes que o ontem acabe.
De manhã as pombas...


De manhã todas as pombas voam...
Passam pelas fendas da torre da igreja,
Levam suas folhas fetiches
Aos longos passeios pelas praças,
São mais urbanas que eu e você.

Passeiam pelas calçadas catando pipocas,
Levitando sobre nossas cabeças
Como se nem estivéssemos aqui,
Não ligam para nossas presenças.
Nós é que admiramos sua pose
De donas da praça.

Copulam, ronronam,
Dão de asas gorjeando
Suas namoradas
Enquanto trabalhamos nossos dinheiros,
Nossa falta de dinheiro...
Nossas falhas,

Elas passeiam, trabalham, voam
Expressas sobre seus bancos de espera,
Dizem-nas ratos do ar,
Não se ofendem, caçam-nas para assar,
Não se ofendem, procriam mais,
Sobrevoam nossas faltas sem faltas
Fatais.
apagadores


Se for para desmontar o dia,
Comecemos pela lua, atrevida, cheia,
Iluminando o que era para estar escuro.
Voltemos ao dia anterior
Com seus problemas de segunda feira.
Voltemos ao domingo e sua feira
De pastéis quentinhos
Na madrugada...

Se for para desmontar comecemos
Com a manhã lustrosa das palmeiras
E suas bentevis namoradeiras
Nas antenas da TV.
Passemos uma borracha sobre o coito
Da madrugada antes de acordar
Os olhos das crianças perguntadeiras.

Se for para desmontar, desmontemos
A fera que se criou em nós
Quando inda éramos carneiros
de peles macias e corações empedrados
Por esse dia sem passados.
Apaguemos de vez nosso antigo pouso.
Partamos para o pior dos mundos,
Ou seja, este em que estamos,
Sem conserto ou gozo.