terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Domados


Ao sol dessa pintura de guerra
Logo pela manhã fática do dia D…
Nos acomodamos no colo da cama
E nos deixamos levar pelas notícias
Desse dia ceivado de agonias…
Tempo de eleger novos mandantes
Dessa esbórnia de filamentos?
Tempo de guerrear nossos talentos
Pelas bordas das alegrias mortas?
Em pleno dia as camas chamam
Para o silêncio de há pouco quando
Dormiam as ofertas de regalias…
Somos complacentes ou cúmplices
Do mal amanhado em nossa mesa?
Abandonados pelas dionisíacas
Ofertas de antes dessa pantomima
Enervamos a estrada larga da ida
Na volta estreita, sem saídas…
A manhã, e seus assustadores
Fios de luz sobre nossa mesa,
Mostra-nos a paz das flores,
Seu verde e branco expostos
Ao vento que vem de ontens,
E não percebemos diferenças
A não ser em nossas frontes…
Durante a noite seguramos
A esperança em nossos sonhos,
Como se não estivéssemos
Nesse reino de loucos matinais,
Que nos fazem tremer o susto
De outra vez sermos mortais.
Esse discurso envenenado,
Esse olhar de ódio sobre ruas
Que se desfazem em praças
De uma guerra que nem é sua
É a conversão dos males
Numa verdade crua e nua.

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Escritos na areia


O vento
Escreve na areia
Algum recado a nós,
Inelegível…
Analfabetos nesse idioma simples
Onde
Se entendem
Vento, areia, céu
E mar…










O passar do tempo


O tempo passa,
E por passar passeia
Redutos íngremes
De cada coração…
Que resposta daremos
À dúvida torta
Se palmearmos cada passo
Nesse chão?
Que vida rescender ainda,
Já fraco o fogo,
Feito este carvão?
Todas as formas,
Dedicadas ao eito,
Foram em vão…
O tempo passa,
Sem reza de compaixão,
Apenas o olhar perdido
D’outro irmão.

Se puderes saber


A palavra mais bendita
Pode seja Amém…
Mas
Às vezes a palavra que consola
Se enrola
Em sílabas mortas
E se torna xingamento…
Em silêncio.











Quando tiveres medo


Procuro, enfim,
Os meus medos,
Quero-os aqui enfrentados,
Se forem assustadores
Os quero mansos…
Quando tiveres medo
Procura a cauda longa
De teu medo…
Os meus os encontro
A cada passo dado,
Ou retido nesse
Espaço.







No fundo da noite


No fundo da noite
O assobio assustador do vento
Acorda
O dormido sentimento
De planuras…
No fundo da noite
O ruído acorda o senso
De maturidade,
Já sem medo desses escuros
Que abrangem a paisagem.
Outros escuros
Invadem nossos medos
No fundo da noite
Que aparte…





Pequenos consolos


Alguns objetos
Lembram pessoas…
O senhor com suas chaves
Pendendo da cintura,
O banco num jardim
Anunciando adverso
Lojas há muito fechadas…
Uma estrada… 
Feita de arbustos tiriricas
Fechando as saudades…
A senhora enviuvada
A morrer de velha
Entre as quinquilharias
De sua espera…
O senhor das chaves
E sua inutilidade
Nessas portas abertas
Aos velórios tardos
Desses moços áridos…
Sedimentos


Quando não ouço noticias
A poesia fala;
Quando recebo notícias
A poesia cala.















Bafejos


Sofrimentos passados
Acordam ao sentir-te fraca.
Aqui somos o dia, ontem, amanhã…
Quem sabe inda passarinhemos junto
As asas de nossos sonhos de antes…
O silêncio vem acordar
O último prazer da espera,
Aflando o olhar surpreso,
O coração ao inesperado,
Momento de presenciar-te
Como eras antes desta tarde,
Espera…







Cansaços


De onde conheço
A pessoa que me fala
Dos longes?
De antigamente?
De alguma entre sala?
De onde conheço
Este falar cantado?
Este olhar enviesado?
Talvez de alguma viagem
Entre o aqui e o agora…
Ou entre aqui e outra hora…
Sem saber se sabes
Que sou outra pessoa, agora,
Outro olhar o horizonte
Com essas rugas na fronte
E na alma…



Depois de lidado tempo


Contorno as vias dos fatos,
Da luz reflexa à sonolência
Nas madrugadas…
Do canto vário ao choro válido
Na proporção dos ares
Das messes áridas
Depois de lidado o tempo
Lembro sombras que assombraram
As luzes de meus vazios horários…
Pantomimas, velórios, causos 
D’onde essa vontade partir de novo.
De novo apenas floresce
O não plantado depois de lidado
O tempo reflexado
No tempo ovário.



sábado, 13 de janeiro de 2018

Deparadas


Tudo que me indaguei
Nessas décadas,
Sei-o agora,
Foram perguntas que me fiz
Respondidas com versos…

Foi preciso
Me tornar septuagenário
Para perceber
Que minhas dúvidas
Não eram perguntas,
Eram respostas!








Tempo bom
Em que meninos
E canarinhos
Voavam soltos
Pelas ruas
E pomares…
Hoje
Tanto meninos
Quanto canarinhos
Vivem presos.
A diferença
É que a lei protege
Canarinhos…





Fontes


Piada batida
Saída de um poema
De Bukowski:
“Ele saiu da cozinha
Trazendo uma língua de boi,
Consegui chegar à pia
E vomitar minha náusea…
Fui para casa
Comer um ovo
Cozido…”








Lições


Ensinou-me
O velho bêbado:
“Tudo que te acontece
Faz de conta que é com outro”
Assim procurei externar
Meus sentimentos,
Dividir com terceiros de boa fé
As agruras de não poder sair,
Seja do lamaçal na estrada,
Seja do destempero cá dentro,
Nunca dá certo,
O outro, mais perto,
Tem seu próprio lamaçal.






Silenciosamente


“Morrer é igual
O murchar de uma rosa?”
Pergunta Bukowski.
Sim senhor,
As pessoas, finalmente,
Viram flores
E a flor que murcha imita
O último suspiro
De um poeta.
Assim nos completamos:
Flor e pessoa,
Pessoa e alma,
Alma e flor…
Bois e porcos morrem
Prematuramente, esperneando,
Flores não, sucumbem ao vento
Silenciosamente,
Como os poetas…

Consequências


Ao consertar uns versos tortos
Se percebe que a vida escorre
Por esses foles…
Uma vez preso à ideia troncha
O verso vira palavra e se dispõe
A duelar com o pensamento, antes contrário a qualquer evento.
Ao remendar essa ideia e fazer
Caber na antiga roupagem
O canto esmorece a fera e amansa
O atrito virando prece…
E o verso? Se desfaz nas lágrimas
De contentamento, antes ilícitas,
A prover a nova fórmula
Por um novo princípio,
Da consequência.



Essas nuvens


Essas nuvens,
Com seus formatos dissolúveis,
Dão-nos exemplos de comunhão,
Rebanhos delas passeiam
Sobre nossos dissabores, e,
Ímpares, formam pares…
E se vão…
Como que paziguadas  
Pela presença desse sol de outono
Essas nuvens,
Navegando céus abertos,
Mostram-nos que o errado
Pode estar certo.






Mente premiada


Em sua inocência
A mente criança
É farta de bondades…
Depois, grilada pelo trato
Se expande em malícias,
Para o bem ou para o mal,
Pendente ao que e lhe oferecem
Premiada.











O tempo, se passa cá dentro,


O tempo, se passa cá dentro,
Desfaz vontades e sonhos
Irrealizáveis…
Se passa cá dentro a vida dói,
Agora mais que na mocidade,
O Cristo, morto aos trinta e três,
Quase um menino,
Sofreu as dores de suas correntes
Sem o desânimo desses cansaços…
O tempo, se passa cá dentro,
Traz a verdade sobre os sonhos
E sangra mais, e dilui o mel
Que se fez brotar antes…
O tempo passa cá dentro
Desse senhor gris,
Que se sabe vivido mais que isso,
Levado pelo vento forte
Do arrependimento
Em seu relento.  
Chorar pitangas


Não que esteja
Chorando mágoas,
Mas o tempo
Faz chorar pitangas,
Como se dizia
A um tempo…
Frutas colhidas,
Doces ou azedas,
Devem ser consumidas
Lento… Lento…
Salvadas antes
De passadas…







Assomos


Cá estamos nós,
Aplaudindo os cem anos
Do desbravador de horas,
Mas ele, educadamente agradece,
Não vê a hora de irem as pessoas
E assomar seu travesseiro,
Companheiro das horas
Dormidas cedo…
Não te desiluda, menino,
Diz do alto de sua vivência,
Espera que te sacuda o senso
E te faça ouvir todas as vozes,
As que se foram, as que chegam agora entre teus desajeitos.
Nas tardes mornas o senhor ressoa
A levar as dores para amanhã
Cedo.























SEG 17:17