sábado, 21 de novembro de 2020

 

 

As dores vividas

 

Já não lembro mais

As dores vencidas...

O tempo professa ideias idas...

A dor mais antiga,

A da criança nascida,

Balança em cepos

Sua esperança...

A dor da adolescência

Se sabe dona da lida...

A dor amadurecida

Adulta a bela figura...

Enfim a dor terminal

Corta membros vencidos,

Para não doerem mais...

Recomeça em novo parto

Na dor vencida na parida...

Tempo das abotoaduras

 

Todos se vestiam em ternos,

Passavam pela escadaria

A comprar abotoaduras,

Tempo de bênçãos e mesuras...

Colarinhos desprendidos,

Abotoados presos...

Tempo de lonjuras...

Gargantilhas douradas,

Pares de abotoaduras,

Mas, todos já se foram

Das continências às mesuras,

Incólumes às solturas...

 

 

 

 

Costumes

 

A tarde amoral

Vê passar casais

Que se engolem,

Pregados aos muros

Se desfazem

Num prazer

Sem limite...

Sem somar riscos

E posturas...

 

 

 

 

 

 

 

Esqueletos

 

Te dá medo os esqueletos

Das coisas idas?

A mesa posta,

Já desguarnecida,

A paz exposta

Em guerra vivida,

O ronronar do gato

Que sabe seus desatos...

O que te parece

A mão que te abraça?

Embora não te saiba viva

A posição do jarro

Inda cheio de água,

A mesma sede que

Te apraz à vida...

 

O dia depois da perda

 

Quando não tiver caminho

Crie um novo atalho,

O fim do túnel é o mesmo

Do dia anterior a este dilema...

Quando não tiver caminho

Roce a mata crescida na mente

E siga pela trila até onde for

A esperança, de partir...

Partamos junto,

Que o tempo é este estreito

Entre decisão e indecisão,

É preciso ser refeito

A cada desilusão...

 

 

 

 

 

Os sonhos que sonho,

Ensonado ou acordado,

São-me de grande importância,

Pois, embora abstratos,

São meus!

 

 

 

 

 

               O altar de meus livros

 

Por onde oro aos meus pecados,

Por onde cruzo meus achados,

Por onde trilho meus trilhados...

 

Esqueleto das coisas idas

 

Te dá medo

O esqueleto das coisas idas?

A mesa posta, desguarnecida,

A paz exposta à guerra vivida?

O ronronar do gato

Que sabe as dores e desatos...

O que te parece

A mão que te abraça,

Embora não te saiba vida?

Te dá medo

A posição do jarro de água,

A mesma sede que te apraz

À lida...

 

 

 

A razão da saudade

 

O que faz tão pouco

Neste mundo louco?

Um tão magro, outro gordo...

Um amante, outro irrelevante,

Um idoso em plena mocidade,

Com medo da verdade...

O que te faz medo

De verdade? A verdade?

O tempo decorrido entre

Tua manhã, já tarde?

O velho quarto em que

Habitavas em solidão

Não é apenas saudade,

É a razão!

sergiodonadio

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 

Juízes do tempo

 

Somos juízes de um tempo oco,

Com a mesma podridão dos tocos...

Alvejamos os mais fracos,

Por indefesos,

Cultuamos os mais fortes,

Pelo medo...

Somos, então, maus juízes

De nós mesmos, levados

Ao extremo...

Da dor é que nasce o amor,

Do amor fenece a dor...

Assim é que nos julgamos sábios?

Então, por que tantos descalabros?

Onde estão nossas razões

Nesse tempo vãmente?

 

 

 

Onde pendurar nossos

Chapéus autoritários?

O fórum das moendas,

Mais justiçado que o da toga!

Como juízes desse tempo oco

Nos bastamos

Em nossos sonhos vagos...

De resto o que aflora

Fica lá fora,

Entre a névoa e o sol

Posto...

sergiodonadio