terça-feira, 19 de outubro de 2010

Não seremos tristes


Não seremos tristes.
Esta afirmação acorda
Meus risos de espera...
Seremos ridentes sempre,
Mesmo que não felizes?
E se preferir ser feliz,
Sem risos?

Eu venho de algum lugar
Da sua tristeza para
entronizar o sorriso
de antes, quando
sorriamos às asperezas
E nos refreamos de chorar
instantes.
Novo tempo


O aparecido na névoa de esquecimentos
Pode ser importante ou esmo...
As faces róseas, agora feridas rugas,
As vivências, enfim, dessa doce criatura,
Que foi rósea, depois escura,
Dessa escureza de manchas que a idade planta
Nos sorrisos do tempo que deixou
Saudades.

Ah, sim, todas as belas menininhas,
Agora feridas, trazem um rancor dos fatos
Daqueles tempos, líricos, botados...
Que a vivência nos caminhos tantos
Traz essas marcas dos desencantos,
Mesmo que líricas, mesmo que ralas,
A fugir das luzes do espelho sincero
Da mesma sala.













Mas o tempo, menininhas,
Também é caro aos seus nubentes,
Que fazer agora das poses áridas,
Dos músculos, das velhas taras,
Se não o olhar compadecido
Desse novo tempo?
É que o tempo, menininhos,
É mais relento.


Sorrir! Mesmo com lágrimas
De tais sentimentos...
Que o riso não é descarno, pode ser
A vida recomeçando os laços
Entre o vivido e o esperado, lento,
Mas aguçado momento de sorrir
Dos aros desse esplendoroso
Novo tempo!

domingo, 17 de outubro de 2010

Um dia,

naquela hora do sol pondo-se,
Notei que o mundo estava sendo
Construído disso...
Havia tijolos e cimento e pedras e
A mão de homens remexendo aquilo
E levantando paredes onde
havia gramado antes...

Por que
o homem estava reconstruindo o mundo
À minha volta?
Porque o homem
não se satisfez com o mundo antes
De sua colher remexer tudo
E levantar paredes
Onde havia mundos...

E, em sendo eu homem
Também inventei de reconstruir
O que havia à volta
Então construí esposa,
Construí filhos,
Construí maneiras de lidar com isso,
E,
Como um deus no seu sétimo dia,
Aprecio a obra e
Descanso.




Das novidades.


O que há de óbvio
Na partida,
Senão um deserto
De idas?

Me senti em casa,
E talvez a minha errante
Seja o passo atrás do passo
Dado a cada esperança.

Que rumo tomar nesse deserto
depois das dunas,
Se não para aplacar as dores
Que infortunas?

O que há de novo
Na partida
Pode ser enfim
As despedida.
Testemunha calada


Essas casas que dormem,
Ou fingem, de olhos fechados,
Não ver o que se passa
Frente à porta...

Essas testemunhas sem olhares,
Apenas transmutam suas janelas,
Fechadas para o lado norte
De cada etapa.

Se eu tivesse os olhos desse tempo,
Mesmo descoloridos pelas águas,
Saberia dizer dos tentos que,
À margem do tempo se alardeiam...

Velhas mágoas, varridas das calçadas,
Campeiam ainda essa memória d’anos,
Entre as manchas dos lambris e o cio
Da velha morada.
momentâneos


Se meu corpo
Não quisesse dormir agora
Me manteria acordado os olhos
De uma razão de fatos...

Mas estou cansado, de mãos doídas,
As plantas dos pés ardendo estradas
E uma canseira nos olhos,
Que se apagam.

A mente acorda ainda
Os sentimentos mais hostis à mágoa.
Sei, como não sabia antes, que
É rude o atual instante.

Antes que se apague a noite
Desses meus cansados membros gastos,
Procuro ouvir os cânticos
De meu tempo menino...

Aquilo sim, a minha vida basta
Para explicar porque, frente à dor,
Que passa,
Ainda estou sorrindo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ausência



O que a vida traz
Que a vida não leva?
O ar...
apenas esse ar de fragrâncias contumazes,
Como da mulher amada,
Da flor roubada ao canteiro infenso.

O que fará de nós eu e você?
A paz.
A mesma paz das madrugadas frias quando
O silencio principia o aconchego.
É o frio
Ou é mesmo o amor chegando cedo?

O que a vida levou
Por ter trazido fora de tempo?
Antes ou depois da dor
O alivio pode ser o instante feliz
Ou tenebroso
De saber que acaba sempre,
Seja o prazer ou o desprazer
Do agora.
ossadas

A velhice é o tempo em carne e osso.
Assim os velhos sofrem do desgosto,
que o trajeto que os trouxe até aqui
É diverso ao outro,
que os levou a nascer, de novo,
A partir do mesmo ovo,

O que eclode da casca e passeia pelas vielas
E pelos quintais gramados ou lamacentos,
Tanto faz, porque a vida estava começando aí,
Na primeira manhã de passos trôpegos
E inserções
nas margens da cerca de balaustres,

a partir da cerca andamos sem parar
para as idades seguintes...
de velejar ou rastejar, que, do tempo de
balbuciar ao tempo de calar
a dentadura
é um suplício a mais

no churrasco do fim de semana
todos se satisfazem com as carnes do boi,
menos o velho, que, colada a dentadura,
sufoca na maionese
dessa carne sem osso que vem a ser
a velhice breve.









Depois da primeira morte


Depois da primeira morte
As outras se tornam costumeiras
Como tomar água ou
deitar a cabeça e dormir.
Como levantar a enxada e plantar
Ou carpir...

Dormir
É um pouco morrer cada vez.
Da primeira morte apenas a lembrança
De um vazio de branco imerso
No primeiro sono
E a leveza do frio...

Depois da primeira morte
As coisas fazem sentido outra vez,
Emanadas das névoas
Que habitam as obrigações
Presumíveis de acontecer
Depois
Da primeira morte.
Água mole em pedra dura...


O Programa Internacional de Avaliação de alunos (Pisa) analisando o nível de aprendizado dos alunos de 15 anos de idade em cincoenta e sete paises, vai encontrar a terra dos brasis em 52º em ciência, 54º em matemática e 49º em linguagem. Este momento, dos 15 anos, é quando o aluno deve estar terminando o curso básico, esse teste é feito a cada três anos nessas matérias primordiais para qualquer ascensão futura, concluindo que nossos jovens vão competir com os dessas outras 57 escolaridades, há que se chegar à conclusão de que já entram no jogo apanhando...
Não querendo ser pessimista, aviso aos meninos que o mundo compõem-se de mais de duzentos paises, mas, forçado a ser realista, na maioria desses paises a chance é mínima de se dar bem, por diferenças culturais, lingüísticas, as oportunidades se afunilam e sobra para investir num projeto de vida poucos portos acolhedores, desses, todos os outros meninos dos 57 paises estão na mesma fila, que anda...
Olhando mais à frente, na pós-graduação, é que podemos mensurar a perda. Hoje, os alunos que patinaram aos quinze anos, antes, somam míseros 58 mil graduandos, graduados pesquisando temos 200 mil, frente a 900 mil na Rússia, país com nível de vida comparado ao nosso. Enquanto apenas 20% se matriculam em pós no Brasil, no Peru e Chile somam 60%. Coréia e Finlândia matriculam 100%! A fila anda...
Há dois modos de um país crescer: aumentando produção e ou aumentando produtividade. Só há um modo perene, aumento de produtividade. A finitude da primeira opção é a saturação, por esforço físico de horas trabalhadas a mais ou por exaustão do capital de giro. A segunda opção, se bem cimentada em cursos, desde o primário, não satura nem se fina antecipadamente, tende a crescer sempre.
De vinte a trinta por cento dos alunos do 4° ano do primeiro grau, que deveriam estar com 11 anos, já têm 15. quer dizer, estão patinando cedo. Esse problema vem desde o inicio da escolarização, infelizmente a criança não é alfabetizada nos primeiros anos, o que resulta em “alfabetizados” que não conseguem entender textos simples de leitura, como competir profissionalmente?
Fico triste em ver a realidade desse abandono. Qualquer um de nós já se defrontou com jovens que sonham ir para outros países, de “primeiro mundo” lavar pratos, cuidar de crianças, faxinar casas dos outros...e por aí afora, por que? Porque não têm preparo para coisas mais intelectuais. É vergonhoso mas é verdade.
A alfabetização em massa já acontece no Uruguai e na Argentina há 100 anos! Nos paises desenvolvidos há 200 anos! Se formos comparar o desenvolvimento de nossa educaçao com o da medicina e da industria, segundo Gustavo Ioschpe, craque no assunto, estaríamos operando cirurgias sem anestesia e carros a vapor.
Estou batendo nessa mesma tecla porque é hora de pensar nos próximos comandantes, no que prometem e no que, de sensato, podem fazer pela educação. Água mole em pedra dura...
sergiodonadio.blogspot.com
Lembrando Ada

Ada Cambridge, escritora inglesa, nascida no século XIX e reconhecida no início do século XX pela sua extensa obra, pedia num poema oração famoso, que dessem chance à eternidade de chorar suas mágoas. Tiro do poema os seguintes versos para clarear a idéia nesses dias plenos de mentiras/promessas, em clima de eleição: “À quem os irmãos marginalizados vão clamar, já que suas vozes são desconhecidas?
Aos guardas desta casa chamada casa de todos, se onde o fraco é rejeitado?
Isso faz dela uma mancha de vergonha sob o plano ordenado...
Uma mancha de vergonha, onde a luxuria suja o trabalho do justo...
Tu, que tens feito nos homens dessa terra tão bela, vilmente usados, dê espaço para o arrependimento e reparação da confiança aos abusados...Dá tempo para curar essa ferida. E tempo ao eterno para estancar as lágrimas...”

Pois é, amigos, já nos tempos de Ada a súplica aos donos do poder dos poderosos, isso mesmo, os donos do poder dos poderosos, pedia que dessem tempo à história futura, (a eternidade) para chorar as mágoas dos fracos, de voz desconhecida, que têm as portas fechadas ao clamor de suas fomes. Dizia Ada: A quem os marginalizados vão clamar, se as portas estão fechadas?
Uma reportagem mostrando a invasão dos sem teto aos prédios interditados no centro de São Paulo, mostra o quanto as portas se fecham aos marginalizados. Se você visitar uns bairros pobres na periferia de sua pequena cidade, algumas casas feitas de lona e crianças seminus pelas ruelas mostrará que nesse novo século as penúrias continuam tendo endereço. Dizia Ada: “Isso faz a mancha de vergonha”, tantas vezes aumentada um século depois. Há que se perguntar: -Se séculos depois, com o aumento da produção alimentícia, que faz brasileiros produzirem soja para orientais e carne para Russos suficiente para enriquecer tantos, por que a fome inda grassa no próprio país campeão de produtividade, e, pior ainda, nos ricos paises compradores? Por que continuamos negociando a fome de tantas coisas num mundo que evoluiu tanto?!
É a vergonha manchando ainda o plano (des)ordenado, onde os irmãos de vozes desconhecidas são barrados pelos guardas das casas ditas do povo!
Você, ledor, que tem sua casa, sabe que em nosso país ainda albergamos pessoas que não têm luz, água encanada, latrina, banho, geladeira, tv, gás...então coloque-se nessa situação de buscar água no brejo, de usar lamparinas a querosene, fossas no fundo sob casinhas...voce consegue se imaginar sem geladeira, por exemplo? Sem uma torneira de água limpa? Sem energia elétrica? Esses sem voz vivem isso! Lembrando que estamos em pleno século XXI!
Dizia Ada:”Dê uma chance à eternidade!”
sergiodonadio.blospot.com