domingo, 18 de dezembro de 2011

Bem aventurados


O que dizer neste mês que antecede o aniversário de Jesus, o Cristo de todos nós? Estive pensando nas coisas singelas para o momento, mas as brutalidades tomam assento na minha cabeça desprevenida para tal. Para esvoaçar as más notícias e dar lugar ao benfazejo momento, volto a ler o sermão da montanha, que me parece esclarecedor para tantas dúvidas, até de religiosos convictos. Para o ledor deste momento proponho amenizar, pendurar as agruras num varal e esperar que sequem as lamúrias lacrimadas, que, pensas, deixarão na poeira abaixo as gotas salgadas da dor. No sermão peço atenção para a sinceridade, rara hoje em dia, mas encaixada nas razões de viver adiante. Dizia o Mestre: “bem aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus. Bem aventurados os que choram porque serão consolados. Bem aventurados os sedentos, os misericordiosos, os puros, os perseguidos”... pergunto: você escapa de todas essas alternativas? Mas Ele também propõe a bem aventurança aos que promovem a paz, que são tão poucos, porque nos considera o sal da terra. Aí vem o puxão de orelhas, que se o sal for insípido não serve para nada. Vê-nos a luz do mundo e novamente previne que a candeia não deve ficar escondida, mas acima no candelabro, para clarear a todos. E, aqui você se encaixa? Em seguida Ele afirma que não veio para ab-rogar a lei, mas para cumprir. Esta é a parte mais difícil não? E ensina que em verdade não passará um ápice sem que tudo se cumpra, porque se a justiça não alcançar os “fariseus” não teremos paz, ou o reino dos céus. Vaticina que os antigos pregavam: Não matarás, mas condena até a intenção de. E um dito muito difícil na geração atual: não cometerás adultério, e condena até o olhar com mau desejo. Diziam os antigos: cumprirás para o Senhor teu juramento. Ele conserta: não jurarás nem pelo céu nem pela terra, escabelo de teus pés. Diziam: olho por olho dente por dente. Ele retruca: a quem te bater na face direita, apresenta a outra. Diziam: amarás teu próximo e odiarás teu inimigo. Ele refaz: amai teu inimigo, o Pai faz raiar o sol para todos, justos e injustos.
Bem, dito isto, não pergunto mais nada. Desejo que nós todos possamos nos encaixar, pelo menos nesse momento, aos desejos de Jesus, o aniversariante, como um presente de natal, não para Ele, que aniversaria, mas para nós, que nos prometemos tanto e descumprimos quase sempre, abandonando a razão que nos trouxe ao mundo, para seguir nossos instintos, tão mais fortes que a consciência. Lembremos neste momento que deveríamos ser mais civilizados, mais sinceros, mais polidos até, com nossos semelhantes, talvez menos racionais em relação aos valores. Mais emocionados por estar aqui, onde nos dá a vida todas as chances. Bem aventurados os que possam assentir com alguns desses conselhos do sermão, sem peso na consciência. Porque a laje fria da inconsciência que estampam os jornais todos os dias, não nos faz humanos, mais que o rude animal feroz que somos quando depredamos nossos iguais.
Groselha, a fruta doce da infância.
Desenho um tempo em que
Groselha era o doce ideal
Para as tardes quentes
De verão...

Desenho o tempo em que
Manipulava-se a sala para
As reuniões professorais
De ocasião.

Relembro o tempo em que
Chamava-se de senhor
O professor carrancudo
De matemática...

Sou do tempo de correr as
pipas e nadar nas águas sujas
dos tanques da construção,
Sem derrotas sem remorso,

Apenas sadios desses tempos
De groselha e nata cobrindo
O leite matinal, das intenções
Ingênuas de um tempo...

Desenho imagens a partir
Desses medos de passar
O tempo e esquecer o sabor
Da groselha coada.
levedo


Seria lícito dizer que
A vida entorne o que lhe sobra
De maldades, bondades, vinhedos
E canaviais,
destilados em bebida
E bebedeiras...

A parte fraca do bêbedo
É quando está apaixonado
E não correspondido,
Aí bebe... bebe...
Até se abaixar ao último meio fio
Da sarjeta.

Seria ilícito entender
As razões arrazoadas deste que
Colheu as canas
E vinhedos já prontos
Para desfazer o ego
E travar a alma.
Passagens do tempo


Mas, no entanto,
Toda sorte de derrotas
Faz parte da receita palatável
Da vitória...

Esse bolo agridoce necessário
Às considerações das aulas,
Das mutretas esperadas
Àquelas que nunca se espera.

As faces angelicais mentindo,
As faces mentirosas
Adequando...
As manias de surrar-se em tulhas,

Como assim o fazem ainda
Os senhores às escravas,
Mantidas quase nuas, nos porões da obediência cega.

Ah, bem, mas nem tanto
Se faz lonjuras, Hoje ainda as leis sustentam amarras
Entre criador e criaturas.
Terno de vidro


Terno de vidro...
Espelho, Janela, Porta...
Vida de vidro saltando
Janelas
Fugindo das pedras
Da realidade,
Correndo adoidado
Sem freios ou paragem,
Apenas o medo... de vidro,
Das noites passadas,
Das noites vindouras.

Terno de vidro,
amedrontado
Pelas confissões e promessas
De casar e ter filhos,
E de os filhos te ter.
De ter casa e comida
E dívida
Pra não mais poder,
E manter o status de fornecer
Coragem medrosa
Aos que não estão vidro,
E vão perecer.
A natureza do branco


A exuberância do branco
Transmitindo paz
Aos insensatos...
Uma mosca contra o branco
Se entrega...
Uma parede em branco
É uma trégua.

A pureza do branco
É utopia...
Tanto faz a noite rígida
Como o dia...
O que confere ao branco
A empatia é o olhar
De letargia.

Letárgico pode ser
O negro pintado agora
Sobre o que foi branco...
E foi embora.
Quem diria... diria
Que ser branco na parte
Escura é uma fria.
rapinagens
Às vezes
os corpos não se entendem,
Falta vontade, sobram dores...
Nas cabeças.

É, meu poeta preferido,
tu sabes...
Sabes bem do que digo,
Das cabeças...

As cabeças
cobertas de peles,
Recheadas de pensamentos,
Sofrem ataques...

As cabeças
transmitem dores
E amores e favores e
Rapinagens...

É, meu amigo poeta,
tanto faz
Que a vida finde por
tuberculose

Ou queda de moto,
As cabeças serão sempre
Culpadas.
Não os ossos.
complementos


O ato de escrever é solitário.
Isso todos sabem,
Mas
É completado pela leitura,
Que não é solitária,
Mesmo só.

Essa leitura final,
em saraus
Ou em banheiros, ou na cama
Ou na rua ou na sorveteria
Completa
O que se disse antes,

A elevação da palavra
A verso.
Ah, que agonia
essa transformação
tardia.
Dia eleito como novo ano


Eleger um dia como final dos tempos...
Essa alegria de fim de ano contagia,
Saber que amanhã será um novo dia
O mesmo...

As tensões sobram dos tempos velhos,
Entram no ano novo derrubando pias,
Batizando mouros à revelia...
Dos mesmos.

Eleger a palavra final em letargia...
Quem sabe na utopia de ver antes
Que as promessas se realizem
A esmo.

Eleger o dia como de encantos, como
Se ontem fosse do desencanto...
Sendo todos iguais para os arrebóis
Das vidas...

Prometer ao menos mais solidariedade.
Que difícil é esta promessa vívida
De matar saudades impondo energia
Ao menos.






Essa alegria de viver o fim como começo,
A tarde estando prenhe
De arremedos comprometendo
O ser de fato.

Entre as saudações efusivas as
Mórbidas olhadas pelos convivas
Que se repartem em classes
Mesmo aqui,

Agora que passam as horas findas
Oremos pelas novas, sejam lindas
Em desapego às diferenças i
Mensuráveis...

Assim mesmo o canto das aves,
Fortes simpatizantes de enclaves,
Mostrarão o riso vindo da lágrima
Presa ainda.

Enquanto enumeramos esses dias,
Elas comemoram novas ninhadas
Sem calendários e previsões, apenas
Asas ao vento...






Mas que, se nem podemos voejar
Os sonhos de chegar antes que
A fome abata a prescrição que
Acanhoas...

Mas inda temos os abraços fortes
À meia noite desse dia arcado
Na velhice que impõe ao dardo
A vida atoa.

Será amanhã um dia novo... não.
Amanhã será um ano novo, novas
Promessas que virão à tona
Entre compadres,

Mas a vida continua a mesma,
Não há vitória em chegar ao tempo
Rígido das pernas doídas e a reza
Dessas novenas.

Seremos pares para o fim das vidas,
Essas que se esvaem por despedida
Deixando digitais por onde vivam,
Refletidas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A meio caminho da perseverança


O sucesso na vida depende de traçar planos e perseverar nas trilhas, mesmo que tortas, ou distorcidas pelas circunstancias do dia a dia. Hoje recebi outra vez a oferta de cartões postais de fim de ano dos artistas que pintam com os pés ou com a boca, impossibilitados de fazê-lo com as mãos, que não têm. É providencial o momento desta oferta, acompanhada de uma carta manuscrita, ou melhor dizendo, pé escrita ou boca escrita. Dizendo da intenção de ser úteis e não depender da caridade doutrem. Ontem vi na TV o menino iraquiano, aleijado, cantando Imagine, de John Lennon, emocionando todos com uma bela voz e a simpatia irradiante de sua pessoa. Quando recebo esse tipo de informação, balanço em minha base, pela pequenez de minha perseverança frente às trilhas tortas do caminho meu.
Abrindo o leque de informações, para não dizer que não falei das flores, (dores) é-me doído o conhecer das tramóias de certas ongs, que o governo teima em patrocinar, sem cautela. Nesta semana, até que enfim, a Presidente Dilma suspendeu os repasses para as tais ongs para uma varredura. Só este ano já foram “doados” DOIS BILHÕES, sem licitação, sem comprovação, sem explicação...a validação dos contratos será revista e analisada passo a passo, antes de liberar novas verbas, sob supervisão de cada ministro(?) mas o Ministro Orlando Silva por exemplo, era conivente com isso. Como os outros, que sucumbiram ou que resistem, eles são os interessados na propagação de ongs, daí...
Voltando ao deleite, os artistas que pintam cartões com os pés e boca vendem-nos para sobreviver, sem esta permissividade adulterada, e não precisam da “bondade” de políticos, oferecem um trabalho bonito, a preço acessível, que encanta pela beleza e pela singeleza, não pela pena ou pela tramóia.
Pela beleza desse trabalho faço uma exceção aqui, dando o endereço desses artistas para quem quiser adquirir: PINTORES COM A BOCA E OS PES LTDA. Rua Tuim, 426 São Paulo – SP Cep 04514-101 , (o preço de cada cartão gira em torno de 3,00 com envelope). O faço como um presente de natal para todos nós, que temos as mãos os pés as bocas, mas não temos a capacidade.
Sergiodonadio. blospot.com/

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Jacob Palis, outro brasileiro

O matemático nascido em Uberaba em 15/03/1940, que formou-se engenheiro no Rio de Janeiro e doutorou-se em Berkeley nos Estados Unidos na década de 60, desde 1973 é professor titular do famoso Impa, instituto que dirigiu por uma década, elevando-o como um dos melhores centros de pesquisa do mundo. Depois de premiado dentro e fora do Brasil inúmeras vezes, recebeu em 2010 o premio Balzan, (correspondente ao Nobel, em matemática), por seu trabalho na área de sistemas dinâmicos, que prevê com relativo acertamento o comportamento futuro de alterações climáticas, entre outros.
O premio Balzan, além de sua importância em honraria para pesquisadores, corresponde em dinheiro a um milhão e oitocentos mil reais, que Palis aplicará, em parte, para estímulo a novos pesquisadores brasileiros.
O brasileiro Jacob Palis, do alto de sua autoridade, aponta os porquês do Brasil estar aquém de sua possibilidade, comparando com a China, país equivalente ao nosso em campos estruturais, eles investem 40% mais que nós, em relação ao PIB, em pesquisa e desenvolvimento, e, principalmente avaliam por mérito os estudantes de todas as áreas, seguindo os paises de primeiro mundo, que já fazem isso há séculos, enquanto o Brasil prega a igualdade, nivelando por baixo, e despreza o mérito, esta contramão em que andamos traz um atraso enorme para todos os brasileiros. Segundo o professor, e muitos outros, aí reside o problema, pois nós continuamos exportando produtos básicos, que eles transformam e agregam valores, para nos vender de volta!
No levantamento as OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) os estudantes brasileiros são os piores colocados! Temos de iniciar um processo para aguçar nas crianças o gosto pela leitura em geral, e principalmente nesse ponto pela ciência, coisa que a Coréia faz há 40 anos, colhendo hoje o resultado, e que o chamado primeiro mundo faz há muito mais tempo...
O Brasil forma 12.000 doutores por ano, (na área da ciência 150), que não dá nem para preencher as vagas de professores nas universidades, o que dizer de fornecer para a indústria profissionais que acelerem o passo lerdo que caminhamos? Há falta de profissional, por exemplo, na área crucial da extração de petróleo, da construção civil, da mecânica, entre outras...e, para piorar, há a exigência de se fazer a seleção dos candidatos em português, quando é sabido que a língua universal da ciência é o inglês, até na China! Por que não selecionar pela capacidade e dar um tempo para o candidato aprender a língua depois, para se enturmar?
O ensino brasileiro, ainda segundo o professor, está no caminho, mas muito lento em comparação ao passo forte dos concorrentes. Mas, desse engatinhamento salva-se de vez em quando um crânio privilegiado, que consegue se destacar e levantar a bandeira nos píncaros da vitória. Parabéns, professor Jacob “pardal” Palis!
www.sergiodonadio.blogspot.com/
Das folhas de couve ao bafômetro


Nos primórdios do automobilismo, com o surgimento dos velozes carros, criou-se a multa por excesso de velocidade, no final do século XIX o limite permitido nas estradas era de 20 km., que passou a 32 km. em inicio do XX. Junto criou-se a arbitrariedade de motoristas violando esses limites e policiais abusando de sua autoridade. Há o caso famoso de uma defesa em tribunal que justificava o pleito com o testemunho do próprio policial, que acompanhara o carro multado, de bicicleta! Com o aparecimento das armadilhas de guardas sobre árvores ou entrincheirados em valetas para surpreender o infrator, foi criada em 1906 a Automobile Association para prevenir motoristas, os patrulheiros da associação tinham a incumbência de localizar os policiais escondidos e sinalizar aos carros suas posições. Cinco anos depois a associação contava com 20 mil sócios. Já naquele tempo a marcação para delimitar a velocidade era feita com dois sinais num trecho pré determinado, (eram colocadas duas folhas de couve), como hoje em alguns trechos de nossas estradas, onde o policial de binóculo cronometra o tempo entre dois pontos, a uma distância razoável.
Cem anos depois, essa situação não mudou tanto quanto a velocidade dos carros e o enxame deles pelas ruas e estradas, a bem mais que os 20 km. por hora. Mesmo com tanta tecnologia e o limite esticado para 110 na média das estradas, a contenda continua entre motoristas e vigilantes, os primeiros comportando-se como pilotos de corrida e os segundos com o fiel da palavra, tentando frear o ritmo das mortes precoces. Há que se cumprimentar o trabalho de vigia desses policiais, que são os primeiros a socorrer os incautos acidentados, a dizer para si: Eu sabia que ia dar nisso...
Paralelamente cresce a arrecadação em multas, às vezes descabidas, mas sempre corretivas, até pelo descalabro, às vezes. Se o leitor prestar atenção nas nossas esquinas da avenida, verá policiais com a caderneta de multa, lançando seguidamente suas flechadas, sem parar o infrator para notificá-lo, ou instruí-lo, que só tomará conhecimento meses depois do ocorrido. Não com a mesma eficiência verá o policial instruir ciclistas que os atropelam sobre calçadas e confrontam carros, indo na contramão das ruas, sem ser multados. No inicio deste ano recebi uma notificação em casa, explicando que em final de 2010 eu passara em frente a igreja matriz com uma pessoa no carro, sem cinto. Eu não dirijo sem cinto de segurança, mas é difícil controlar as pessoas no banco de trás, bem sabe qualquer condutor, e com este vácuo entre o suposto ocorrido e o recebimento da notificação, como me defender?
Há muito tempo os carros saem de fábrica com o medidor até 200 km. por hora! Por que não se delimita até 110? Deus já havia dado ao homem o livre arbítrio, não vingou. Vai dar certo agora, com esses carros à explosão, explodindo? Nas estradas nem visualizamos folhas de couve, que dirá guardas escondidos nos pardais...e o que dizer dessa opção de bêbedo (famoso) se negar a fazer o teste do bafômetro, ganhando tempo de ressaca até colherem seu sangue num posto de saúde, horas depois?
sergio.donadio@yahoo.com sergiodonadio.blogspot.com/
Caros amigos = os amigos caros

As mãos passadas premem o corrimão,
Velam por nós, que voejamos...
Plantam-se flores nas gretas das paredes,
Limo nas juntas dos tijolos,
Verdes presentes no tempo.
Do que esquecemos a foto lembra:
As pernas mortas do Rubens, o riso
Sarcástico do Osvaldo, o humor arrítmico
Do Osmar, a ranzinza do Paulinho,
Vivos na fotografia.
As mãos passadas conduzem as nossas, FOTO
Afagam cicatrizes por somenos,
Presentes agora num sentimento vago,
Limo dos ossos vencidos, presentes
Nos verdes tempos idos...
Do que deslembramos a foto lembra:
As pernas lentas do Professor Agenor,
Professor Veloso fora do tempo,
O maneta Carsino desenhando quadrados,
Vivos na não fotografia.
As mãos dos mortos estão presentes,
É preciso lhes pedir licença para
Demolir os muros das saudades,
Semeadas nas heras em flor
Desse intenso passado.
Como a sociedade humana é nuclear, reconhecemos núcleos em cada atividade,
Os que gostam de futebol, os que gostam de poesia, os que não se ligam a nada, os fanáticos por alguma coisa em particular... os que nem gostam de si mesmos. Lembro de amigos de infância e adolescência que não cresceram tanto quanto suas carcaças, agora envelhecidas, como outros que, na adolescência já eram maturos. Deixando de lado as digressões que levaram ao condicionamento de alguns e ao detrimento de outros, colegas de classe e de rua, quero lembrar hoje um amigo em particular pela sua irreverência de “moleque” para a vida toda: o Osmar Rossi, filho do “Seu Bepe” do Nosso Bar. Foco nesta pessoa expandindo a intenção para todas as outras pessoas desse tempo cidade, que comemora mais um ano, rejuvenescida, para inveja sadia de nós humanos, que arcamos com o tempo vencido.
O Osmar era o tipo folgazão, desde sempre armando suas brincadeiras, como quando retirou o corrimão da escada de nossa sala de aula para melar o acesso do Professor Agenor com seu reumatismo, ou como, vinte anos depois, empurrou o carrinho de seu bebê recém nascido sala adentro, vazio, claro, soltando-o em velocidade e matando de susto as visitas, senhoras amigas de sua mãe, que tomavam seu chá das cinco, ou quando implantou uma enorme melancia num pé que tinha frutificado no quintal uma outra, raquítica, e que era o orgulho de seu pai, que, quando viu tal fruto chamou os amigos para colher, e passou vexame...assim foi o nosso amigo, de saudosa memória, todo o tempo que viveu entre nós...poderia discorrer sobre seus feitos para muitas páginas, pretendo com esse pequeno gesto homenagear todos os filhos dessa terra. Arapongas é o berço de todos nós, dos que nasceram aqui e dos que foram adotados por ela.
circo


A mesma ordem
Havia de ser cumprida
Pelos palhaços do circo
Acampado na cidade,
Especificamente em nós,
Hoje.

Todos obedecem a mesma lei,
A do trabalho pelo prato
Feito de sobras dos
Palhaços ridentes e sós
Na ncumbencia ríspida.

A mulher de saia justa
Ajusta a fala e assusta
Os circundantes.
Antes dessas mímicas
Éramos todos irmãos,
Agora são tão pedantes
Esses discursantes.

Que importa a força do gigante,
A ferocidade do anão,
A farsa do ilusionista
Se falta feijão ao circo
montado hoje na cidade
em dia de eleição?!



A força da tradição
É respeitar o domador
E suas feras soltas:
Uma jovem linda e
Seu pártner embrulhão.

Como é de esperar
Que parem de suar à bica
Os trapezistas
Desta pantomima toda,
De que falamos afinal?

Das bocas famintas
Desse circo chegado
Acampado em nós,
Candidatos à sucessão
Dos erros abissais
Desses palhaços.

É preciso respeitar palhaços
De profissão, que nada têm
de mais, apenas a sensatez
De suas caretas pintadas
De suas piruetas malabaristicas
Para sustentar a casa
E o congresso dos picaretas
Ilusionistas.
Buk, este velho escancarado


Me irrito
Com os chegados.
Não me irrito
Com os afastados.

Não me importa se o desconhecido
Não se comporta.
Não me importa se o afastado
Se alcooliza, e,
Sob a brisa cai e descansa
Nas latas desse lixo...

Mas,
Se a cara embebedada reconheço,
Aí me importa
O desleixo,
A baixa auto-estima,

A purgação dos seixos
Deixados adivinhar
Futuros...
Me importa a vida
Que está morrendo
Inanimada.



Sombras


Minha sombra é de um menino.
Devo estar delirando...
A glicose a 120 me faz um velho,
A estatina me faz um doente,
Os ossos gastos me vencem a força
De quando era eu menino...

Só a sombra se parece comigo
Antes...
Só a sombra não se curva,
Só a sombra não faz a dieta
Prescrita pelo calendário
Dos posso não posso...

O que não posso
Pode a sombra incólume aos anos,
Vivida, atuante, merecida
Das condições de sombra
De um menino saltitante
Desde eu menino.
Fios grisalhos


Nos tempos do tempo escuro
O medo treme,
O amor prensado nos costumes
Trava suas dores,
Os fios já grisalhos fazem
Desistir a madona
De ser mocinha outra vez.

Mas houve o tempo,
Houve o tempo de trancinhas
Antes da viuvez.
Fez-se bonita em sorrisos,
Fez-se mulher, fez-se siso,
Os fios grisalhos confessam
Seu tempo ido.

Nos tempos do tempo escuro
O amor prensado em ciúmes
Extravasa seus queixumes
Trazidos pela viuvez,
Liberta enfim,
manifesta livre para se ser.
Os fios grisalhos esmaecem.
Disjungidos


Dois talantes,
Dois morcegos,
Dois pesos
Duas medidas...

Pois que no disjungir das peças,
O morcego de ponta cabeça
Observa
O talante do maconheiro
Preso com alguns gramas separados
Por seus erros...

Quem paga esta conta
Se o morcego dorme,
O fumante puxa, devagar,
Divagando?

Os pais choram sozinhos
Essa primeira adição.
Não há lei que solte o usurpado,
Nem que prenda o usurpador.
gonorréias

Amigo morto,
Estão a lapidar
Teu corpo.

E da alma quem cuidará agora,
Que não respira mais teus planos?
Quem fará a triagem desses ossos
E das idéias que eviscerastes?
Quem limará tuas unhas
E o poder de unhar alturas?

Amigo morto,
Quem enterrará
Teu corpo?

Quem guiará tua alma, agora solta,
Pelas alturas desse céu limítrofe
Das fugas?
Já não há mais aquelas seqüelas
De acidentes e bebedeiras, ou
A indesejável planura de besteiras...
Já não mais a alvura das coxas
Puras das meninas
Nem a secura das mães delas...

Amigo morto,
Já não pingas as gonorréias.
Quem as cura?
Ponto para as muletas


Alguém surge na calçada em frente,
Sem nome, sem silhueta, apenas
Com disformes passos trôpegos
E uma seca de meneios soltos...

Quem seria a esta hora das vidas
Levadas a sério pelas perdidas
Tropeçadas idas? Nas hilárias terras,
travou com a máquina sua guerra?

Perdeu uma perna, ganhou a batalha
final como quem erra uma vez, mas
Depois acerta sempre a flecha.

Quem se importa com o passo?
Apenas nós dois sabemos disso,
A que cambaleia, eu que assisto.
Acertos 7 BILHOES


Haveria de chegar este dia,
Entre formalidades e as gruas
Uma intensa farsa de alegoria
Espontânea pelas ruas...

Quem mais poderia estar aqui,
Além das antigas companhias?
A memória delas ilude o olhar,
Seria guerra em tempo de paz...

Haveria de começar esta festa
Para os meninos nascidos hoje
Entre as penúrias e confortos...

A gente pode até não acreditar,
Mas existe uma relação de guerra
Entre gerações de paz.
finitos


Nos olhamos
Sem qualquer ternura
Eu
E o desconhecido que caminha
Ao lado.
À frente mãos firmes carregam
O corpo do amigo comum,
Ao qual damos adeus.

Adeus?
Ilusoriamente, pois
Eu e o desconhecido sabemos
Ter o mesmo cortejo
Um dia...
Surpresos da constatação
Nos olhamos,
Agora com certa ternura.

Cúmplices
Lemos nos nomes das lápides
A diversidade
De morrer
Em horas e momentos distintos,
Iguais
Na rotina do coveiro
De cavar verdades...




Cavar os palmos,
Enterrar os ossos.
Fechar os palmos, e,
Com a mesma terra
Acompanhar a mesma reza
Doutros nomes,
Com a mesma farsa
De conformes.

Agora
Eu e o desconhecido
Nos conhecemos melhor,
Nos reconhecendo frágeis
Nas mãos hábeis desses
Homens, sobre a terra
De nossos nomes
Desaparecidos.

Estranhamos
A parcimônia de coveiros
Acostumados a enterrar
Os mortos
Como só uns ossos
Sem nomes...
Sem um ápice
de sentimento,
Hostis ao choro






O vôo da mariposa


Mais simples que parece,
Às vezes beira pieguice
À sombra do que ela desce
Pousando ovos na lousa.

A mão do homem seria
A parte ínfima do erro,
Talvez o seu desterro
Nas deformações do dia.

Pudesse eu ter esse gesto
De premeditada euforia
em dia de calor infesta

Pulsando vôos radicais
Percebe a mariposa
Seus momentos finais.










O fio do tempo


Ficaste ouvindo, anos a fio,
O fio da água...
Os sonhos se esvaindo,
As dores se avolumando,
O tempo a ser medido
Pelo fio da água.

Esses crânios brancos
Não têm palavra,
Apenas seus olhos grandes
Olham
Sem dizer nada.
Vazios de intenções
Medem a temporalidade
De sua expiação.
finitos


Nos olhamos
Sem qualquer ternura
Eu
E o desconhecido que caminha
Ao lado.
À frente mãos firmes carregam
O corpo do amigo comum,
Ao qual damos adeus.

Adeus?
Ilusoriamente, pois
Eu e o desconhecido sabemos
Ter o mesmo cortejo
Um dia...
Surpresos da constatação
Nos olhamos,
Agora com certa ternura.

Cúmplices
Lemos nos nomes das lápides
A diversidade
De morrer
Em horas e momentos distintos,
Iguais
Na rotina do coveiro
De cavar verdades...




Cavar os palmos,
Enterrar os ossos.
Fechar os palmos, e,
Com a mesma terra
Acompanhar a mesma reza
Doutros nomes,
Com a mesma farsa
De conformes.

Agora
Eu e o desconhecido
Nos conhecemos melhor,
Nos reconhecendo frágeis
Nas mãos hábeis desses
Homens, sobre a terra
De nossos nomes
Desaparecidos.

Estranhamos
A parcimônia de coveiros
Acostumados a enterrar
Os mortos
Como só uns ossos
Sem nomes...
Sem um ápice
de sentimento,
Hostis ao choro

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Herdeiros das folhas murchas


As árvores da rua
Estão chorando suas folhas
murchas...
os homens da prefeitura
estão varrendo sem dó
as folhas murchas.

Os críticos usuais
Estão criticando os homens
Que varrem as folhas,
Não por serem folhas e
Estarem murchas.
Pelo devagar...

Assim é a vida
Das folhas murchas humanas,
Pelo devagar com que
São varridas para longe
Dos críticos e das suas camas...
Muito devagar...







Então


Todos estaremos distanciados
De nossas casas uma vez...
Precisaremos de olhos alheios
Para contar pormenores da fachada,
Do jardim, da entrada pintada nova...
Estaremos então tão cegos quanto
O cego que nos pergunta agora
A cor nova da nossa fachada...

Por outro lado traremos notícias
Dos lugares visitados...
Seremos os olhos alheios
Para contar pormenores das fachadas,
Dos jardins, das pinturas levadas...
Estarão então cegos, como o cego
que nos responde agora a sua visão
das cores dessa fachada.

Suores mansos


Apanhei da chuva, apanhei do sol,
Que, incrementes, fustigam mágoas...
Apanhei das fossas e dos fósseis
Carbonizados de passados...

Castigaram-me errantes salmos,
Pelos vãos das fraldas.
O que fazer desta tarde quente
Que vai virando água?

Meu travesseiro molhado expõe
O dia mal temperado,
Passado a limpo cada passado,

Nesse passo desmesurado
Quando verei a calma
De meu mal estado?










Festejos de agosto


Uns tantos ares mal respirados
Soam seus batuques de passados...
Queimadas e chaminés ardem
Os olhos, as narinas, a alma...

A festa recomeça, soltam fogos,
Cães ladram, bêbedos embevecidos
Saúdam cada estrondoso tiro,
Mesmo que falidos.

À criadora dessa obra deslumbrada:
Como arcar com a fuligem irrespirável
Desse agosto proibitivo?

Entre a fogueira viva e o sol rascante
Prefiro o silêncio doutro instante
Longe dos cães enlouquecidos.
O quadro


Derramar as tintas
Desses sentimentos
Numa tela em branco,
Caderno brando.

Tentar a figura
Do contentamento.
Duma lua cheia?
Da mulher amada?

Talvez de um nada,
Que o artista pinta
Faces abstratas.

No desmembramento
Dessa letra errada
Cada pincelada.










alerta


Para quem queira saber a preguiça,
Alerto que não durmo, apenas fecho
Os pensamentos. Que esta guerra de
Tanto atrito atrás de cada janela

Não me diz respeito. Apenas deito
E fecho ouvido aos estalidos, e sei,
Porque me basta saber o que diviso,
Que essas dores e pés enlameados

Não são o agora, são passado.
Alguns rememorando suas culpas,
Desfazendo-se delas inda ocultas.

Quero sabê-las breves ou suadas.
Então, espiadores, vão à merda
Com seus lavores de tanta farsa.
consolamento


Chorar
Às vezes é preciso
E possível...
Às vezes imprevisível.

Desde as dores do parto
Às de ter nascido.
Desde as dores da morte
Às de ter morrido.
semeadura


Olhando meus descendentes
posso sentir-me, se não eterno, perene entre as perenes vizinhas do jardim
de nossa casa
Em pleno florescer de ramos, e pétalas e sementeando nos quintais vizinhos
nossa semente de bons fluidos,
(ou até maus) mas nossa
Descendência normal de seres
Que ficarão rosando nossa marca de olhos e risos e lágrimas e sentimentos outros
Entre tantos seres, das formigas as flores tensas
De vitalidade entre os leões de verdade e os desaforosos,
Preparados imunes as conjunções das horas,
Doces, amargas, irrelevantes, mas perduradoras de nossa raça, exata de falar das flores
E semear amores.
Das vidas o que fazer?


Da vida o que se faz?
As loucuras de adolescer,
Antes o rascunhar de garatujas,
Antes
A arte de mamar e se sujar,
E fugir depois das lêndeas
Dos piolhos escolares,
Como a aritmética fugaz.

Da vida, o que se faz?
Além de respirar sofregamente
As corridas de curto prazo,
Os as de fundo fundear...
Nas profundezas dos livros
E das lições dos malandros
Nos arruaceiros passeios
Passear...

Da vida assim se faz
As dores de viver, sem viajar.
Que dói ver passar os dias
Sentado nos sofás e
Centrado nos sofás das costas
Moídas de sentar e centrar
As vidas do que se faz.


Antes da tarde chegar


O sol avisa os incautos
que irá escurecer
Breve...
A respiração cansada também avisa.
A perna doída também avisa.
A memória desprovida também avisa.

O desavisado tende a culpar
O improviso de chegar a velho,
Queixando que antes ainda pretende
Muito...

O muito que deixou passar,
Por falta de tempo, de grana,
De atarefados momentos de ganhar
Tempo?
Dinheiro para se tratar de não envelhecer
Mais.


Sofreres


Não ao ponto de arrepender-se
Ter nascido.
Não ao ponto de sublevar-se
À dor de ter nascido.
Não ao pico da dor de
Ter nascido...
Assim,
Sem qualquer outro motivo quando
A vida se for, e,
Da vida em si restar a memória
Dessa dor, sorrir...
Que o sorriso, ou ao menos o riso,
Sarcástico ou tísico, forma
A estrutura do que se foi.
Sem outro motivo senão esse riso
Sonhar...
Que o sonho, antes da dor e do prazer,
Pode ser o viver acima do viver
Em dor
De sofreres.







A vela


Que vês entre ondas, pode ser...
Pode ser
A ilusão de partir de si
Sem deixar marcas, além da efêmera
Roda anelada no espelho d’água,
Após a partida da proa
Que segue a vontade desse mar...
Que define-se como despedida,
Esquecimento, outra veleidade
Do pensamento fugaz de
Partir...
Partir antes de enrugar,
Enquanto podes discernir
O que convém não lembrar
Mais.



Éden


Um dia
a gente
ia nascer
Gente.
Mas no princípio era
O verbo.
O verbo
tido como barro.
Barrento?
Não.
Sacrário.

Um dia
Fez-se
A luz.
No seguinte
Deu-se à luz
este ser que
Reproduz
Sempre igual,
Mamífero,
Fero,
Animal.




Terra do sinal da cruz


Disse o mestre que viria
Alguém de outro mundo
Catequizar-nos índios
Com sua fé não nossa...

E veio.
E como veio...
Veio
Levando a rodo a conquista
Da pele, da vista, da crença.

Mas, lenta...
Lentamente levaram os
Ouros
Dessa terra
Aqueles predadores
De um outro mundo,

De onde
O mestre, já morto,
Preconizou que viriam.

Antes de nós


Foi preciso
um dia inteiro
Pra saber que o erro
Era andar de lado,
Lá pelos lados da zona,
Entre distúrbios
E passeatas
Das beatas.

Mas deste dia inteiro
Aprendemos a caminhar...
A esmo, é verdade,
Mas resolutos do que
Faríamos no fim:
Sentar e sorver o sol
Se pondo antes
De nós.










Educação pela pedra


Antes de ser poesia
A idéia já era o sêmen,
Prometendo vida...
Quem sabe vai nascer homem...
Quem sabe vai tornar-se homem
Depois...
É, quem sabe a poesia
Ensine a educar filhos
Para dizerem oi
Aos amigos do pai
Embevecido...




Realidade absoluta


Depois
De uma lua grande na janela
Clareando idéias,
De uma extrema pose de maldito
Entre elas,
De um sarau dos esquisitos
Por poesia!
Eis que
Me chamam da copa para
O lanche das sete
com a família.
Deslumbro a forma de ser
Pragmático
E ao mesmo tempo erguer
A bandeira do poema
Inacabado,
No meu prato.
Morrer é...


O sentido de morrer
Adverte-me:
Que estaria eu morto
Se não me mexesse.
Como me mexo pouco,
Devo estar morrendo
Um pouco.

Talvez a vida promova
Essa idéia de morrer
Pouco a pouco...
Isso é inerente ao ser
Humano.
Nunca vi morrer um urubu,
Ou um pato do brejo,
Ou uma planta ou
Uma pedra...
translado


Penso que as pessoas
Me ouvem pensar...
Aquele que passa
resvala o olhar
No meu pensamento.

Sinto pelo seu riso
Que me olha sabendo
O que quero fazer hoje,
Além de viajar pelo mundo,
Viajar por mim mesmo.
Corredores


velhas casas de família
Têm extensos corredores,
Onde surgem novos olhos
E despedem-se os velhos...

Agora mesmo parte um
Acenando adeus aos meus
Olhos lacrimados pelo
Velho companheiro...

Enquanto pula e vibra
O novo pimpolho, aceso
Na ponta do corredor,

A roda da vida roda,
Espera a reza ao sepulto
Acorda o nascituro.
Quando você é gente


Alguns te reverenciam,
Outros atropelam nas faixas.
Alguns te idolatram,
Outros te mandam à merda...
Nada disso é definitivo.

Você pode ser pedestre
E depois ser motorizado.
Pode ser carona em moto,
Ou condutor em ônibus.
Sentiu a diferença?

É, amigo, quando você é gente,
Não tem gaiola, tem rua
Que te prende e te ameaça
E não deixa voar
Pensamentos...

Contagem regressiva


A hora do viciado
Não tem sessenta minutos,
Tem sessenta espasmos
desunião


Esta aliança vazia,
Ainda cheia de dedos
E do finar dos dias
De tantos segredos...







Lencinho rosa


Este é o lenço de Cida,
Com que ela abana
E assoa despedidas.
motiva mentos


O inconcebível momento deste dia
Puxa as pernas da alegria ingênua
E as faz bobas de rir sem motivos...
Apenas o princípio ativo de sorrir.

Agora o amor se espane em farpas
Entre os pequenos eleitos e velhos,
Assumidamente bons ouvintes...
Mesmo que não entendidos sábios.

Riem, sem saber de que, mas riem,
Das pequenas máscaras de alegria
Às velhas ruínas da percepção.

Riem de que, afinal? Se a razão
Do riso é mais por medo de calar
E ser reconhecidos vivos.
lascívia


Agora que todos dormem
A solidão dos incertos
Vejo a fome abocanhando
As frases desses excertos.

Aqui a força é mais lúcida,
Vale mais que a força bruta
A palavra desfechada
Entre os olhos e o cerebelo.

A solidão que todos dormem
Plácida acomodação de egos
É-me deixado pensar livre:

Talvez fosse revivida a força
Da adaga dita em frase mocha
Vertida nos jeitos lascivos.
Abrangências


À luz do sol a noite aviva
A próxima, descingida
De alguma aproximação
Entre as visões no escuro
E o escuro da claridão.

A luz desse sol ofusca
A visão tida no escuro
De coisas desacontecidas,
Pensadas vivas na reflexão,
Agora exposta à fusão.

O que passa e acena
Não é sujeito de pena,
Apenas veste-se mendigo
Na acalorada vertigem de
Não ser mais o que pensa...

Talvez mesmo a cena,
Vista antes no escuro,
Ao claro amanhecido
Seja a sombra desluzida
No desbrio da solidão.
Corredores


velhas casas de família
Têm extensos corredores,
Onde surgem novos olhos
E despedem-se os velhos...

Agora mesmo parte um
Acenando adeus aos meus
Olhos lacrimados pelo
Velho companheiro...

Enquanto pula e vibra
O novo pimpolho, aceso
Na ponta do corredor,

A roda da vida roda,
Espera a reza ao sepulto
Acorda o nascituro.










Quando você é gente


Alguns te reverenciam,
Outros atropelam nas faixas.
Alguns te idolatram,
Outros te mandam à merda...
Nada disso é definitivo.

Você pode ser pedestre
E depois ser motorizado.
Pode ser carona em moto,
Ou condutor em ônibus.
Sentiu a diferença?

É, amigo, quando você é gente,
Não tem gaiola, tem rua
Que te prende e te ameaça
E não deixa voar
Pensamentos...
translado


Penso que as pessoas
Me ouvem pensar...
Aquele que passa
resvala o olhar
No meu pensamento.

Sinto pelo seu riso
Que me olha sabendo
O que quero fazer hoje,
Além de viajar pelo mundo,
Viajar por mim mesmo.
companheiros


É...
A doença também tem infância,
Adolescência e maturidade.
E
Para não morrer de velha,
Mata-nos com ela.





De ouvir contar


Sei das lamúrias
da criança com fome.
É pior do que lamúria do adulto
Com fome.
Por que a criança não pode esperar crescer,
Nem ela nem a fome dela.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Assim é se lhe parece


As parecenças das vidas
Levam os pés frouxos
À calçada molhada desta rua
Descalçada.
Como se andasse sobre lama
Ou sobre trilhos antigos, cobertos
Pela lama, assim são os passos reais
De que não se reclama.

Hoje mesmo, andando sobre os fatos
Passados e urdidos nesse ato,
Surpreendi-me descalço
Sobre essas pedras antigas,
Lavadas pelas ansiedades e partidas...
É... as parecenças são lúgubres
Sem serem funestas, apenas
Cansadas de limpar os pés,
De cada lama...
báratro


O perigo de correr perigo
É quebrar uma perna
Da alma, vencida
Pelo báratro das névoas...

Aquele buraco entre
As alucinações e o ego,
Entre as paixões e o cego
Entreter-se desse lego.

Brincar por brincar com
Os medos à luz dos dias
É o perigo do perigo...

Andar à beira de abismos
Traz à tona a alma antiga
Antes de se a acudir
farpados


A atitude farpada
Não diz a que veio...
Não transforma amizades
Nem emenda freios...

Só o arame, farpado,
Faz a diferença nas pastarias,
Onde o boi deixa o pêlo
E se amedronta.

Não o homem, o ser,
Que passa longe por precaução,
Não se arranha nas farpas
De suas atitudes,

Senão, seria impossível
Seguir adiante, com a reserva
Dos poderes do outro,
De pôr medo.
Meninos condenados


De braços abertos
O menino é um avião...
Paira metros acima do chão
Na sua nova velha invenção.

De braços abertos
O menino revoa a relva,
Absorto na sua leveza como
A de um gavião.

De braços abertos o menino
Morre, arcado ao peso
Da exumação.

Quantos meninos
Abrirão seus braços para
Abraçar a maldição?
Filhos de Peleu


A fúria de Peleu Aquiles
(mil anos antes de Cristo, ou mais)
Ainda cheira carniça
Nos morros do Rio, nos alagados,
Nos fundos das pontes
de São Paulo...

Nas brigas das ruas, nas valas
Fedidas das velhas cidades,
Carcomidas por seus apeleus
De um tempo novo, velhos fornidos
Afélios no que se perdeu...
Mais velhos...menos podres...

Apenas pétricos arbustos
Nessa imensidão de frutos novos,
Renovados a cada muda,
A cada poda de cada vestal,
Varridos pela fúria daquele
Primeiro rei ancestral.
deficiências


Para evitar olhares
Reprovadores
Passo a compilar meus valores
Entre desvalores...

Que aqui todos sabem que não posso
Evitar a má fase.
Aqui todos estão reprimidos a chorar
Seus sentidos

Como fora eles os culpados
Aos indecisos.
Quem sabe agora possamos
Sorrir desdentados...

Que aqui todos estão desdentados
De alguma coisa,
Chaves de ossos e nervos faltantes
Nas deficiências.

Talvez o raciocínio falho
De cada menino entre meninos
Que esbravejam suas fraquezas
Esmurrando paredes.
Como naqueles tempos...


Desde o término da guerra
Nada é normal...
Falta o pão e a manteiga,
Como naqueles tempos,
Mas só aos sem grana.

Como naqueles tempos
Homens fardados passam
E abanam adeuses, mas...
É você que parte ou
Se reparte...

Como naqueles tempos
O peso das fornadas
É vigiado pelos olhos
Famintos das partes...
Desiguais.

Como naqueles tempos
O tempo se afunila
Em ais pelas esquinas
Das casas pré fabricadas.
Só para os sem garra.
metamórficos


Vendo o sepultamento
Penso
No pó que somos, ainda em vida,
Já que não temos opção de não ser.
Apenas estamos esperando
Nesta fila
O interminável fim dos soldados,
Dos parias, dos padres, e, pior,
Dos meninos em sua fase
De aprendizado!

Cobrindo de flores a campa
Penso
No quanto somos flores em vida,
Já que não temos tempo de não ser.
Apenas germinando galhos
Nesta fila.
O interminável canteiro de soldados,
Parias, padres e meninos
Tornando pedra nos
Aprendizados.
comparativamente


Esses manequins na vitrine,
Estáticos, olhando para a vitrine
de pessoas passantes...
Como se parecem comigo!

Como pareço com manequins,
Estático, olhando que olham
mesma surpresa deles em mim...
somos expectadores da vida

Nas vitrines nos orientamos
pelos sapatos novos, pelas cores,
pelas molduras das pessoas,
Que passam...e são passado,

Só os manequins ficarão
nessa vitrine, rindo de nós,
Que nos portamos como eles,
Que têm muito mais fôlego.
patentes


Qualquer coisa mais
Que você pensar
Dará motivo para
O não pensar...

É que é complicado
Entender como pensam
Os que falam por você,
Enquanto calas.

No púlpito o pastor tem razão,
No pódio o corredor tem razão,
Na tribuna o tribuno então...
Só você tem de ouvir calado.

É que qualquer coisa
Que você pensar,
Por eles que falam
Já foi pensado.
Questão de prisma


A visão do mundo
Depende de onde se o olha,
Das lupas da memória
Ou da presença
Se estende a luz dessa musa:
A vertente.

Do navio a visão do mundo é...
Um vazio...imenso...plaino...
Infinito, diria olhar de grito.
Da praia a visão se espraia
Para as dunas e as furnas e
O mesmo mar de antes...

Daqui donde me encontro
A visão de meu mundo é
Um estranho momento de
Por de sol e iluminuras
Nas árvores e paredes...
Azuis.
funções


A função do dia é o amarelo.
O verde é o fim da tarde,
O azul esmerilhado madrugada,
Fria, endógena, silenciosa entre
As manias das pessoas e
dos pombais,

Que arrulham ambas
para esta escura azulidade.
Assim o que resta para o
dia inteiro se pintar
De vermelho?
defluirão


O amor é esta sombra enorme
Que paira sobre a prescrição das águas,
Faz que se sofra, arda, amargue,
Mas também passa...

Seria chato se esse rio parasse
Em frente a casa da colina plantada,
Assim é o amor, que, se chateasse,
Também passa.

E como a água que ao passar limpa
O fundo lodoso de cada curva rasa,
O amor também nos lava...

E flui como se ao mar desenhasse
Sua trajetória de água doce e fraca,
Que ali se salga.
Coisas da vida


Coisas há que a vida não suporta,
Como esquecimento das vidas passadas,
Morta está a vida que se vai,
A outra, que renasce em qualquer rincão
Não saberá o que foi ou
o que será depois.

Isso a vida não suporta.
Como não suporta saber que finda
Ao amanhecer de um dia lindo,
E não haverá complacência para seu
Desvario, e sua inércia anunciará que é finda.
Isso não suporta.

Como não suporta pensar que
todos fugirão das derrotas,
E que a vitória dos poucos, que também
Não saberão o que fazer com ela, tal vitória,
Com sangue, membros quebrados,
Tipóias...

A vida caminha por vias tortas e
O que importa não é o dia passado a limpo,
Mas o vindouro dia sem prescritos.
Que vitória é esta então?
Se até o vencido está melhor
vestido?
Pés no chão


Enfim amadureci,
As certezas me demitiram,
Só as incertezas ficam
Vagando por aqui...

Agora sei que cresci,
Já que não sei de mim mais
Do antes, mas, certo de que
Menos do depois.
acordos


A capacidade de sorrir
Ganhou esteio
Quando a boa nova acordou,
Mas não veio.
Mudanças de humor


Para aprender a tristeza
É preciso prestar atenção
Aos ventos desse inverno,
Que sopra o restante
Das tardes quentes e
Provoca os frios nas faces
E racha os lábios
E lacrima olhos pendentes
De seu humor.

As luzes mortiças
Desse inverno ditarão
As regras para anoitecerem
As vontades e vaidades,
Agora a ordem do tempo
É sorrir fechado entre
As vagas do vento
Cortante de mãos frágeis
E humores vagos.
inverna mento


As garças
estão voltando ao pântano
Por que as águas
estão vazantes
E os peixes treinam
a piracema.

Ainda não é outubro,
mês das águas,
Mas elas vieram antes e
Antes os peixes sobem
E antes as garças chegam...

É uma lição de viver
Que devemos copiar
E assimilar
Sempre.
rixas


Como bicho acuado
Você rosna...
Prepara o choro,
Fabrica a lágrima,
Eriça os pêlos e olha
Fixo para o nada...

Assim não vale,
O desafio é
Olhar nos olhos
E sorrir...veja, sorrir,
Como se o nada fosse
A distância exata.
O coxo


As pernas desiguais
Fazem-no trotar, por isso o chamam
Cavalo de tróia, porque engana bem
Com seu vai e vem
Os olhares pesarosos
Sobre si.

Depois abrirá cabeças
Com seu bote mais preciso sobre eles,
Pegos no susto dessa guerra de poses,
Que o vêem indeciso quando
Apenas está pensando
O possível.
vizinhança


O escuro da pele,
O encanto dos olhos, negros, enormes,
Fixos no reflexo da manhã,
Enfim a face verberando o ser,
Vindo ao mundo para vencer, se não,
Ao menos para não perder
Cada luta, cada desafio, cada fera
Que é cada momento
A ser vivido...

O escuro aos olhos
Racistas da vizinhança clara, sobressai
Entre os outros olhos, menos vivos,
Chegados ao lugar certo para perder,
Se não, empatar com o outro,
Apenas o suficiente para
A luta diária de sorrir choramingando
As falhas e pintas
De ter vivido.
Ventres livres


Os braços estendidos da libélula
Sugerem o bebedouro do leão,
Onde bebe sua gota de água e
Põe seus ovos impunes...

Mas o leão está preso!
A libélula está livre, que inveja...
Para sair para esse mundo
Colorido das árvores.

A situação é mesmo trágica
No olhar triste do leão
Em seu mundo fechado,

A libélula foi e leva junto
O que o leão inveja e ruge:
A felicidade.
Anoréxica


Passeiam pela passarela
seus braços
Finos
E suas ancas ossudas e
Suas pelves sombrias
Essas meninas.

Rodeia seus passos cruzados
Uma promessa de estar morrendo
Células cansadas
E ossos frágeis,
Uma camada de pele alisada
Cobre essa ossada saliente,

E suas veias fúnebres
Trazem uns olhos tristes
E mãos trêmulas
E esse cansaço de saber
Que a este regime
Nada sobrevive.
bedel


Vestido com essas roupas vencidas
O velho não se lembra
De ter sido o carrasco um tempo,
Surrando os pequenos e batendo
Em suas cabeças a régua dura.

Mas agora ele sente o frio do inverno
Em sua pequena casa de um quarto
E um pinico sob a cama...ele não se lembra,
Mas os meninos sentem-se vingados
Por essa derrota do carrasco para o tempo,

Tempo ilimitado que é a velhice,
Tempo limitado que é passando fome,
Tempo parido doutros tempos
E maldito entre os homens...
Tempo de esquecer, lembrado.
desabroches


Com o suave sol de junho
Desabando sobre mim, estou calmo
Entre as calmarias desta tarde...
As mãos invisíveis afagam
Vendo-me triste...

Mas não estou derrotado, não vivi
As amarguras prensadas nas lides,
Apenas consumi-as como quis,
Ou como quereria minha sorte
De ainda sorrir.

Fico ouvindo essa harpa nos dedos
De um menino prodígio, que, penso,
Poderia ter sido eu, com o violino
Que meu pai deu, julgando-me capaz.
Que não aconteceu.

Assim como não aconteceram tantas
Outras iniciativas, falhas talvez
Das próprias, ou de minhas feridas
Absortas nos fracassos de viver-me
Enquanto talo.
Diálogo com o mesmo eu.


Estou indo para o lugar nenhum,
Daqui contemplo o que eu estava quando
Inda penava os favores de viver...
Sem perturbar as cinzas assopro o fogo
Que me tala, não tenho medos mais,
Apenas receio de leve a voz da razão.

Me sinto em casa quando estou em mim
Como agora, sem hora para pensar ou
Espernear o perdido, as intenções secam
Em mim aquele sonhador, perdido,
Passado a limpo neste torpor de dia,
A fumaça do vulcão no Chile abafa.

Os planos de sair, de alguns temerosos
Senhores de gravata e pés trementes,
São desfeitos pela cinza dessas lavas.
Aqui somos mais que promessa, somos
O cumprido de quem nos prometeu,
Arcamos assim com o que se perdeu.

Estou em casa agora, estando em mim.
A ordem decrescida das prioridades
Se perde na vantagem dessa idade
Entre o imberbe e o senil, começamos
A vida comendo papinha, vamos findar
A vida pedindo papinha...que merda!
Lições do fogaréu


O renascer das coisas em cinzas
Faz crer na existência de um deus
Entre as inverdades das promessas
E a verdade dessa brotação em festa.
Daqui, desse solo carcomido,
Dentre as chamas as cinzas mortas
Revigoram o verde, esse milagre
Para quem não acredita mais nisso.
Olhai os lírios do campo...
Que os plantou e fez florescer
Tais puros caules a fazer colores
Das cinzas que ventaram ontem?
Se hoje existe esse campo verde
Que vejo entre minhas dúvidas
É porque a natureza mais que abusa
Das precauções do cético.
Inda ontem estava eu chorando
As cinzas da queimada doutro dia,
Agora vejo renascendo o que não sabia.
Assim é a prova, amigo, da ignorância
De nós que não cremos nesse deus
Que nos leva de adulto a ser criança
Outra na inocência que se perdeu
Entre as descrenças provocadas
Por essa manada de ateus.
ensejo


A poesia deve perfurar paredes,
Mentes reacionárias, vadiações
Do tipo não sabe nada...

A poesia deve sangrar os poros,
Chacoalhar miolos nas variações
Das frases natas...

A poesia deve morar na lagarta
Que explode de seu casulo
E colore-se borboleta...

A poesia deve ser pura para impuros
E impura pra os puristas, sem
A náusea provocada pela ira.

Que a poesia é voz, não é mania,
É como que seria providência,
Não a penitência do culpado.

A poesia escuta o mal falado
E explica a datação carbônica
De cada ato, desde o ranço.

A poesia é para ser a recriação
Do fato, mesmo do que ainda
Está por acontecer.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

gênero


Ainda criarei raízes,
Como o abacateiro,
Que me olha
Misericordioso,
Sempre que passo,
Suado e exausto,
Na minha inquietação
Animal.
muleta


Tem dias
Em que a vida
Sobra
E
O chão
Desaparece.

Então,
O que te acode
É uma
Prece.
Aquerencias



Vendo as flores brancas
do cafezal com um fundo verde
e marrom de terra aguada, penso
O que ficam fazendo as pessoas
Dentro dessas quatro paredes?

Aqui não tem nada, até o peixe
no aquário se inquieta,
o quadro na parede quer voar...
As roupas penduradas no armário
Não vêem a hora de passear.

Por que ficam as pessoas,
que não são peixes nem rouparias,
dentro de quatro demências
Presas nessas miúdas
Aquerencias?
desmembramentos


Às vezes o tempo passa
Entre relâmpagos de idéias.
Elas, desconectadas, se vão,
Ficam as marcas da rendição.

De saber que o tempo passou
As mãos estão calejadas,
Tanto quanto os pés e o cérebro,
Os olhos, as faces trincadas.

Num infinito de perdas, tudo
Vai ficando pela estrada, pe
Daços de cada membro, des
Membrados do cansaço...

Já que não podemos nada pra
Parar o tempo, segura o último
Minuto, cega o último olheiro e
Parte, absolutamente inteiro.
evolucionismo


Como dar nome às coisas coisa,
Se as coisas não respondem coisa?
Quem disse à mesa que era ela mesa?
Quem disse ao vaso que seria vaso?

Como domar uma mesa ou um vaso?
Como nominar cada coisa ou fera
Ao longo das aparições furtivas
Frente a esse fero senhor que fere?

Quem chama o cavalo e responde,
Senão esse domesticado selvagem
Que o homem acavala e doma?

O outro cão obedece mas não sabe
Que seria o cão do mais sábio na
Escala evolutiva do nada ao nada.
O circo chegou


Viva o circo!

O circo chegou com suas palhaçadas
Atrevidas e quebradas.
O ilusionista se ilude com a casa cheia,
Trabalha de a meia.
O trapezista se equilibra entre redes
E marmitas.

Eu, menino, não vislumbro essa face
Moribunda,
Para mim o circo é festa, da armação
Ao vislumbre.
Tudo bem, me parece, com o anão
Aos pinotes e o homem cipreste...

Mas entristeço quando vejo na jaula
O tigre acossando um gato, trocado
Por um bilhete da matinê de domingo,
Ele pula, se safa e cansa, no fim
É o prato da janta...

Vou-me embora, triste, desolado
Com o circo no meu passado.
Deveria...


Deveria ser este dia
O melhor dia, da dádiva constante,
Da floração das lindas horas frias...
Da mágica oferta de carícias...
Da mulher que se enrola
Na poesia.

Deveria ser este dia
Como o de um dia quando
a vida que deveria estar madura,
Só principia...
E volta pro altar onde se prometeu
Até que separe-os a morte,

Mas tardia é a consideração,
O que deveria ser esse dia,
Já quase finda e arrasta-se em dores
E faz-se revelia, delira o que extasia
Tentando a volta triunfal do dia,
Que deveria...
Escambo


A morte não se troca
Pelo que possa ser-lhe oferecido,
A riqueza das mansões,
A arma do bandido...

A cara ruim do azedo,
A doce cara do desprevenido,
O que pudesse ser ofertado
Não tem sentido,

Que a morte,
De tal extremoso tamanho,
Não oferece pechincha
Ou escambo.

Não se deixa levar por promessas,
O que deveria ser feito,
Passou por ter sido,
Sem prometido.
Daltonismo


Todos os negros são negro,
Todas as rosas são rosa,
Mesmo os brancos, as vermelhas,
As faces coradas,
As pétalas areias...
Envergonhado desse daltonismo
Preguiçoso
Confunde-se o colorido mundo
Em branco e preto.
A princípio


Até a agressividade leva à paz.
Dos que ficam para sempre
Aos que não voltam mais...







momentos


A paciência tem um tono finito.
As vezes suporto um trem,
Outras vezes nem um grito.
Os aventais


Se ainda sopra o vento
Sobre os aventais brancos,
Por que iria eu manchá-los
desse sangue?

A voz que chama anda distante,
perturba a paz dos lençóis
Quarando...
Essa mesma paz a que me apego,

Fugindo doutros laivos de loucura,
Leva a covardia ao meu ego,
Mas planto-me estátua,
Que me segura.

Talvez por covardia sopro o vento
Sobre esses aventais lívidos, que
O instante não me faz bravo,
Mas vivente.

A voz que xinga está mais distante,
Já não perturba a paz
Em que me entendo, ventando
os lençóis e me quarando...
Penitenciária


Se tivesse o dom
de celebrar o dia, o faria
Num de sol claro,
malhado de nuvens brancas...

não assim, frente a este presídio,
que me espanta
a respiração forçada dos meninos
penando suas penitências,

merecidas ou não, cabíveis de pena...
que penar por penar, penam mais
os que ficam aqui fora, tentando
mandar um beijo, pelo ar.

-Se pudesse celebrar um dia,
Não seria este,
Com todos os olhares
Pelas grades...
Visita ao leito 5



Se te pareço soturno
É que a mim coube o silêncio
Das horas doentias, dos choros,
Das manias de sofrer

De certas pessoas com corujas
Ao pé do travesseiro babado
E dormido por tantos minutos
Quanto o dia passado.

Que não sabem que me dói
A dor de vencido, que flui
Dessas camas hospitalares.

Se te pareço tristonho,
É que a mim me cabe
Sorrir aos desavisados.
Piaçaba



Da piaçaba fiz um feixe,
Amarrei com arame liso,
Torci no cabo roliço
A bruxa desse feitiço.

A propalada varrição
Da rua onde moramos
Joga no lixo coisa boa
Deixa apodrecer a lama...

Na próxima varredura
Vou prestar mais atenção
A cada falsa candidatura.

Ah, vassourinha xucrana,
Quando varrerá pro bueiro
A gente que a gente clama?!
Derrotas


Um dia, num minuto
o tempo que foi embora
deixou no esquecimento
A cicatriz exposta...

Deve ter doído...e muito!
Mas não lembro quando
O raio da roda da bicicleta
quase decepou meu pé.

Então, por que não esqueço
Dos incêndios que apuram
a mente e tiram-me do sono
Com susto e estrondo?

Então, por que não deixo
Ir essa dor das desavenças
Que não mostra cicatriz?
Então, por quês?
suscetibilidades


Meu pai guardava uma torquês,
Um serrote, um traçador de muito uso,
Dos tempos em que fazia taboas
Das árvores nativas.

Meu pai guardava o cheiro do cigarro
E um ranço rouco na saliva,
Umas mãos calejadas
De toda uma vida...

E deu-me de presente um violino!
maratona


O pouco da história, revivida,
Revisito, vivendo da partida,
Acompanhando passos ligeiros
De uma pressa companheira.

Desses caminhos relembro
Pouco a pouco do silêncio
Que se fez no trecho morto
Imerso no pleno da corrida.

Quem me viu trôpego passou
Adiante de minha ida e vinda
E voltou-se para gritar-me

Que perderia pouco se parasse.
O que se perdeu, enfim, é muito,
Foi o que perdi, por transeunte.
susto


O pássaro embalsamado
não é um pássaro,
é um objeto.

O que dói na
minha austera consciência
observativa

É que um dia
seremos todos objetos,
inanimados,

Postos a vender
produtos vários, antigas idades,
das cuecas vencidas

aos pássaros raros,
souvenires de aparato lixo
De nossa fidalguia.
Parti.



Se aqui cheguei foi por ser cumpliciado,
Em alguns momentos, pelos outros atos.
É poemático saber que me acompanham
Minhas esquivanças de ser, por inteiro.

Acompanhado de mim, viajo por mim,
Por isso me conheço bem e me sei aqui,
Porque amo os lugares e uma mulher,
Embora não conheça bem esta ou aqueles...

Quando já não o for, só os ossos viverão,
Se a alma morrer de vez, quando me for?
Eis que me é dado o direito de discernir,

Acredito-me assim feito por meu Deus,
Aquele que criei à minha imagem, que
Está aqui quando me vejo vazio de mim...
31 de agosto de 2009-08-30


Começa tarde o mês de agosto,
Com seus fumares e seus cheiros,
Indontem fazia frio, hoje esquenta,
Timidamente a tarde, de agosto.

Somamos, eu e o mês, incapazes
De formular idéias, um só tempo,
De rédeas tensas, tempo de espera...
Começo tarde o meu mês de agosto,

Meu orçamento instável de transes,
Entre o bolso vazio e o dia, inteiro.
Esperamos, agosto e eu, a primavera,

Que virá degelar as intenções de fato
De sermos meses inteiros em dias
Arrastados de janeiro a janeiro...
Das desumanidades


Quem sabe, rascunhando
Palavras, possamos dialogar
com passados e futuros e
costurar raças... humanas.

Porque o mundo não amoleceu
Suas brutalidades com altares,
Estruturas modernas de viver
As periculosidades da raça...

A ambição da palavra: Asas
De revoar intenções raleadas,
De fazer dar as mãos, atadas.

Um dia, quem sabe, seremos
Um tanto melhores que isso
De ser tão humanos e fictícios.
resquícios


O resquício imaterial
desta construção
acabada
É tão ou mais evidente que
os cacos de tijolos e azulejos,
Amontoados na beira
do muro externo.

Os resquícios imateriais
de dor de braços quebrados,
De cabeças abandonadas,
de visões de um futuro nuvem,
São o que aparece na pia suja

Onde
O servente lava o cimento
de suas mãos grossas
De entulhos.
consolo


Tudo na trajetória da vida
É letífero,
Pois a fatalidade guia os passos
De cada transeunte por esta rua
Sem nome, sem placas, sem calço.
Apenas uma rua
Que vai a lugar nenhum.

Já sentiste assim tua vida?
Esse trajeto é forçado a caminhar
Teus passos,
Seja na primeira infância,
Seja na última idade...

É fatal que se arranhe em espinhos,
Se tropece em supostas pedras,
Se caminhe a esmo pela areia e
Que as dunas caminhem contigo,
Por isso é preciso sempre
Esse abrigo.
ciclos


Desta árvore no cio
A sombra esquelética despenca
Folhas amarelas e flores podres.
É o tempo de desfazer-se das sobras,
A sombra sabe e se encolhe
À sua condição de passado.

Nascerão desta árvore
Os anfíbios sem pernas,
com pequenas barbatanas,
Que serão jogadas fora futuramente,
Por imprestáveis.

Quando penso nisso, tremo.
Temo pelo meu futuro, como imprestável,
Quando minhas pernas serão descartadas
E pequenas barbatanas me ensinarão,
outra vez,
A nadar.
embriagues



Foi-me dado a escolha,
Embriago-me de poesia,
já que não bebo o vinho
Da embriagues etílica
À meia


Sou medido pelo tempo.
Sou medido pela gula.
Sou medido pela gala.
Sou medido pelo suor
Daquilo que penso e falo...

Imensurável é a mesquinhez
Daquele que me mede,
Mas cala.
desmembramentos


Às vezes o tempo passa
Entre relâmpagos de idéias.
Elas, desconectadas, se vão,
Ficam as marcas da rendição.

De saber que o tempo passou
As mãos estão calejadas,
Tanto quanto os pés e o cérebro,
Os olhos, as faces trincadas.

Num infinito de perdas, tudo
Vai ficando pela estrada, pe
Daços de cada membro, des
Membrados do cansaço...

Já que não podemos nada pra
Parar o tempo, segura o último
Minuto, cega o último olheiro e
Parte, absolutamente inteiro.
gênero


Ainda criarei raízes,
Como o abacateiro,
Que me olha
Misericordioso,
Sempre que passo,
Suado e exausto,
Na minha inquietação
Animal.
gênero


Ainda criarei raízes,
Como o abacateiro,
Que me olha
Misericordioso,
Sempre que passo,
Suado e exausto,
Na minha inquietação
Animal.
O tempo que passa


Vi passar, na manhã,
A menina das saias curtas,
Os homens das calças rotas,
A menina para os homens,
Os homens para a menina...
Mas, não disse nada.

Vi o dia tornar-se claro
Dos escuros da noite densa,
E a noite, densamente ousada,
Dividindo-se em sombras
Esparsas sobre telhados...
Mas, não disse nada.

Nasci e cresci espiando
A vida das cores e sombras
Entre o nascer e o pôr
Dos sóis diversos, premidos
Entre vidas que passavam...
Mas, não disse nada.










Sobrevivi às derrotas
Onde passei sede e fomes
E viajei às pasárgadas
De meus sentidos absortos,
E fui desfiando horas...
Mas, não disse nada.

Que a vida, como me é dada,
É-me tirada aos poucos
Nos sentimentos de dores
Matando-me previamente,
Que só os ossos ficarão.
Mas, os ossos não dizem nada.

Os ossos apenas ficam
Observando calados
As mortes das madrugadas
E dos sóis que pairam
Em nuvens escurecidas,
Que não dizem nada.

domingo, 17 de abril de 2011

Mal agradecido


Quando vi, era dezembro,
Todos os adeuses se completavam.
As manhãs de sol entram
Pelos vãos da cortina, suo
Como fora meio do dia
Pelo sol de fim de ano...
Meus pêlos branquearam
Pelos adeuses completados.

As manhãs de sol entram
Pelos vãos da idade, suo,
Como fora meio da vida,
Pelo viver fim de ano...
Quando me vi, era dezembro
Nos pêlos embranquecidos,
Nos joelhos cansados,
Nos olhos lacrimados

E a memória desmemoriada
Nem diz obrigado.
companhias


Não quero desvestir meus mortos.
Estamos onde sempre os pusemos,
Na sala de estar, de jantar,
Aqui
Nos demos bem, nos olhamos,
nos pudemos ver e tocar
nossos avessos.

Aqui cheiramos nossos pratos
E a nós mesmos.
Seus corpos apodreceram?
Suas falas não. Sirva o café para
o pai,
As bolachas para a mãe,
Veja que crochê ela faz...

E os conselhos monossilábicos
dele?
Veja a paz que nos traz
Suas presenças.
Aqui nos falamos francamente.
Se enterrarmos nossos mortos
Quem há de falar o silêncio?
nucleares


As bombas disponíveis
Eclodem todos os dias
sua ação distensiva...

a dúvida dos arsenais
se torna ilogicamente
uma arma a mais...
cruzeiros


Essas velas no tempo
Das caravelas de agora...
Quando a lua é de pedra,
A argila dos sonhos poetas...
Uma estranha aparição de luares
Entre as rochas e os mares
A conquistar.

Essas velas com motores
E uma mistura de odores,
Com que não sonhavam
Aqueles navegadores
De um tempo rude pra navegar
Entre os mares e as rochas
De algum lugar...
Idas e vindas


Por que a ida nos trouxe
Até Aqui,
Senão para auscultar as grandes conchas
De nosso mar?

Cada mar interior é maior
Que todo mar que navega as naus sem rumo
Dentro de nossos intestinos
Pensares nulos.

Porque a ida nos quer assim,
Sem noção de nosso tamanho
Nesse infindo mar de oceanos
E várzeas e trigais...

Por que então não podemos navegar
Dentro de nós
A idéia estupenda de ir longe, e
Voltar?
cotejo



Todos esses olhos
Pelo chão da casa espreitam
A passagem das gerações
Sonhadas.

Essas estórias esparramadas
Pelo chão da casa inundam
As idéias de um mundo
Farreado...

Mas a realidade mastiga
A última jornada inscrita
Na memória dos cantos
Quase nadas.

Desses olhos fixos
Nas irrealidades surge enfim
A forçada mão que espreme
E abate.
aposentadoria


O suado pendor do dia
Engole anos de
Felicidade...
Todos seriam melhor
Vividos se a soma
Fosse verdade.

Embora produtivos,
Esses dias suados são frios
E ásperos retornos
Ao princípio das verdades
De cada trabalho
Inda vetado.

Agora sim, descansados
Das penúrias de ganhar
A vida atribulada
Em arcos, a fome...
A fome assim vencida
Seus estágios.
O caminhão de galinhas


Tombou em frente o portão,
E sonho tornou realidade,
Com galinhas cacarejando
Pela casa toda, comendo
As flores do jardim e
Os cereais das gavetas abertas,
E mais de uma dezena subindo
Ameaçadoramente...

Em meu sonho eu comia galinhas,
No real elas querem me comer
Literalmente,
Pelos pés descalços na cama,
Pelas mãos descobertas,
Vidradas no brilho de meus olhos
Como urubus à espreita
De meu sono ou minha morte,

Para consumir meus ossos
Depois das partes macias
De meu cérebro.
Quem pode mais nessa hora,
O desespero ou a fome
De canja de galinhas
Entre os comensais?
Em trãnsito


De todos os pensares
A que temos direito
Um é especialmente predador:
O que aparece vez ou outra
Ante
A mecânica da guerra
Frente a um volante de auto
Em movimento circular pela
cidade

Entre tantas outras armas
Em nossa direção
Ameaçadoramente.
Aqui nos vemos guerreiros
Em plena paz
De viver a rua,
Seus sinais, suas luas,
Suas marcas de freadas na terra
Nua.
Boletim das ocorrências


Tão perto de casa
E ainda longe de chegar...
Um lugar ermo entre tantos lugares
É esta plataforma de rodoviária,
De onde levam minhas preciosas fotos
E o passaporte e a certeza de estar
Aqui.
Perdido entre malas e passageiros fedidos(?)
E uma imensidão de esperas
Pelo próximo.

Assim é a mansidão das horas...
Um pouco a raiva da inércia,.
Outro pouco a incerteza
De voltar.
Todas as horas são poucas se
Você ficar pensando as perdas
E os lugares comuns das derrotas
E um lugar especial, o âmago
Do viver o agora, sem pressa,
Sem destino, apenas a chuva
A molhar a raiva de perder.
Além da dimensão do rosto


A aura forma do proposto:
-Um santo!
Ou a formação do outro?
As linhas finas dos ascendentes
Denotam uma força
(ou fraqueza)
Da raça toda alinhavada
Nesses traços sutis
De raivas.

Além da forma a expressão,
-Ambígua?
Talvez a forma de informar
Que liga fere essa feição
Macabra,
Apenas a força do mau
Sobre a face sedutora,
Autora dos outros tantos
Funerais...
outonais


Essa paisagem escorrida
De árvores
Voltando à vida.

Essas folhas enegrecidas
Contornando
As águas vivas.

Essas meninas colhidas
De semblantes,
Envilecidas.

Toda sorte de saudades,
Das meninas,
Das idades...

Dessa idade fluida
De olhares
Enternecidos...

É essa paisagem escorrida
De formas
Voltando vidas.
Retratos nos túmulos


A dureza impenetrável,
De campas frias,
Estas feições calhau,
Seixos de madrepérolas,
Sem lembrança da história,
a face rígida sem dor.

As pessoas impessoais
Amadurecem nesse tempo
De esperas ásperas...
Aqui não se memoriza o mal,
Apenas a nuvem rala
De passadas casuais ontem...

Apenas um olhar, distante,
Distraído, seguro de si,
Do lado de cá das coisas
Dessentidas demais,
Assoando suas lágrimas
De tantas outras vindas.

Agora se vão as visitas,
Findo o dia dos finados
O outro lado assobia fados
Indiferente a tais conquistas
De meros muros penetráveis
Idílicos, puros.
Olhar o poente


De repente
O sol se desprende
Dos galhos da árvore
Para o silêncio
Das horas frias.

Agora se levantam
Os noctívagos...
Seria bom dormir de novo
Já que os dias se repetem
Há tanto tempo...

Não há novidade
Digna de registro na tarde
Se pondo no balanço
Da galhada dessa árvore
Que segurou um sol.

De repente
O sol se desprende,
Cansado de cerzimentos,
Para o silêncio
Das horas frias.
pire


A vida é esta caverna
De tempos imemoriais,
Donde trouxemos desenhos
E formas descomunais.

É esta fonte pendurada
Nos estalactites que somos
A gotejar estalagmites
Disformes...

Das eras de pedras lascas
Às eras de perdas laicas
O que somos mais que fósseis
Desses memoriais?

Apenas o que caçamos...
E se cassamos demais
Seremos tanto humanos
Quanto animais.

A vida, esta caverna,
É só um momento a mais
Nesses dentes afiados
De caçar.



aleivosias


É hora de sentar-se
Frente o próprio eu, dialogar com ele,
Ouvir dele a aspiração das verdades...
Talvez absolutas, talvez tardas,
Mas presentes nesta hora
De sentar.

Nesta hora de meditar
É tempo das sinceridades, de olhares
Fixos na expressão do rosto,
Este num espelho fosco
De mentiras antigas, quase verdades,
Mas inda podres.

É hora de soltar-se
Do aleive necessário antes,
valorizar o instante, quando ruborizam
as faces envergonhadas
e posam sorrisos esmaecidos
pelo juízo.
dimensidades


Vive-se ao mar as dores do mar.
Vive-se à terra as dores da terra,
Que aqui nos vamos a navegar
O esquecimento das quimeras.

Pelo imenso vazio dessas águas
Podemos dormir, comer, dançar,
Não podemos é esquecer a força
Dessas ondas dementadas ao mar,

Fronteiras do que há de ausências
Entre portos e o restante corpos
Doídos mas satisfeitos por isso,
De não ser agora que se vá doer

Entre o ir e o ficar em cada lar.
Nosso lugar é o aqui e o agora,
E aonde mais possamos navegar.
Entre ir ou ficar é preciso definir

O que se aspira respirar.
Aqui somos nós, mais que antes,
Mais que depois, dos amanhãs.
Que o amanhã já é hoje ensilado






No fuso de se esperar o momento
Que nos dê finalmente Gibraltar.
O que ficou está presente entre
O horizonte azul e o solo de tapetes

A remexer-se no balanço em nós,
Navegantes sem noção de navegar.
O forte dessa magia é justamente
Esperar o expirar de cada dia.
De Pessoa a Vinicius


No vagar desses dias a razão do Pessoa
Sobre a força dos mares aos navegantes,
Que se o propuseram trafegar.
De quando em quando uma ilha,
Promessa de atracar nossas esperas
Na fecunda ociosidade dessas horas.

No vagar, navegar barcos e tripulantes
Com a noção de voltar à terra do antes...
Que esperar desse plaino horizonte?
A espera doutro mar, reto, distante,
Em terras de Espanha, fechadas enseadas
E portos e promessas de vacâncias...

A beleza é sem ser, caro Vinicius,
Que tudo ilude à ótica, e o feio no geral,
Ao olhar pessoal é belo. Iludido?
Talvez pelo instante. Cada rosto lembra
O amarelo pôr do sol, invisível
Ao censo pétrico de narciso.

Que tal superar esse mar de horizontes?
Talvez um novo lar(?) refeito das sobras
De vossas esperanças...talvez o retorno
Do que se quebrou em nossos avós...
Que fizeram o inverso, sem rotas,
Navegar é preciso
Dedico aos amigos de viagem 26/03/2011
Estamos a construir empatia
Na presença de novos amigos,
Na ausência dos antigos.
Na calma desse mar novo
A acalmar esses dias,
Na face calma da amada,
Na alusão às alegrias,
No que se faz ocioso
Na ociosidade desses dias.

Estamos a reconstruir empatias
Nos momentos olvidos antes,
Rememorados nesses dias,
De algumas vidas distantes
Da diversidade das vidas,
Na conclusão dos instantes
Como poucas vezes vira.

Estamos a desconstruir manias
De enfatizar o óbvio:
Que é ainda preciso se dar
Valor devido a cada dia,
Levados de mar em mar
De Santos a Barcelona,
Visto da popa tardia
Como se fora outro lugar
O mesmo lugar instante.



Quando se pode superar
As dores, os acalantos,
E, por fim, almejar agora
Os agoras tão distantes,
A reconstruir bases fortes
Aos ausentes tão presentes
Na memória desses antes,
De quando fomos jovens,
E nos fizemos amantes,

E voltar à jovialidade
Daqueles ternos instantes
Reconstruindo nas vidas
Nossos prazeres restantes
Em cada sorriso franco
De cada amigo do dia
Em cada rumo do sextante.

Assim, de passo a passo
Em cada porto um pedaço,
Em cada mesa um riso,
Em cada parceiro um abraço,
Em cada aula uma agenda
Em cada agenda um laço
Que não se desfará no porto
Ou na memória do outro.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Lampejo


Alguém está batendo
Nesse coração cansado.
É a guerra das idades e gêneros,
A menina se mostrando
Em saias e mini-blusas,
O apanhado senhor espiando
Entre elas...

Mas esses seios são quebráveis
E esses meneios meneáveis,
Assim alguém sua a vontade
De permanecer entre eles,
Sem quebra-los, frágeis.
Alguém está delirando
Paisagens...

Onde as coisas mudam
As coisas continuam as mesmas:
O velho já esteve moço,
A menina já envelhece modos
E arqueja uma única passada
Entre as blusas, coxas, e
Meras idades.
No fundo azul distante


No fundo azul do longe
O fogo dum sol posto
Acorda o pio dos filhotinhos
Esperando a volta dos pássaros mães
E suas presas do dia,
Como se fora arte.

Assim parece fácil
O romantismo das ribanceiras,
Mas não é tanto, urge esconder
Nos cactos os pios nervosos,
Uma lição de fatos para
Esse bicho homem.

As ondas da água entre
As sombras e as varas das taboas
Assombra a pequena ave,
Que nem voa. A luz dos
Vaga-lumes encanta
A umidade escura de agora.

No fundo azul a noite principia,
Os pios se apagam, dormem
Os últimos bugios. Silêncio.
A noite está queixosa de
Arrependimentos.
Se apaga o dia.
Considerações


Os novos poetas impressionam-se
Pelos velhos temas do amor,
Ganhado ou perdido, tendo ou tido
Pela lua cheia, de guizos,
Pela flor semeada paraíso.

Os poetas velhos, já tão usados,
Aconselham os novos e seus temas
Gastos: Se não tiver a flor,
Florindo sob o luar do incauto,
Atenha-se à dor.

A certo tempo das desesperanças
A natureza de característica brilhante
Um pouco se apaga ao olhar esfalfado,
mesmo ansioso de ainda
Ver essa luz.

Mesmo aí, a fantasia que eu vista
Pode me encontrar deslumbrado
Até em memória do passado,
Nas inocências para ser feliz,
Amedrontado.
assustado


Sentado sobre minha vida
É o momento de analisar cada desdita.
Estou vendo esse mármore
Cansado de tantas bundas, gasto.
Os bancos de madeira dessa igreja
São passado, não agüentaram o tempo,
Como eu.

Lembro do dia em que os tiraram,
Aos pedaços, aos lanhos, levados
Para aquela fogueira inda viva...
Cansado de tantos lenhos, gasto,
Me vejo sendo substituído, ao fogo,
Ao festivo fim de uma noite
Despedida.
numéricos


Estou sendo invadido,
Lesmas sobem pelas paredes da sala,
Cobradores pelas paredes da copa.
Todos invadindo meus recônditos
Lugares
Onde me senti seguro antes

Agora vejo formigas e pernilongos
E parentes querendo
Meu último sangue.
-Estou sendo invadido?
-Não.
-Estou sendo coabitado.
Os filhos delas


O PIB cresceu, você sentiu?
Não?
Porque não foi no seu...

Viste como os governos são
tão bons
Para cuidar de ti, cidadão?

Veja como fazem crescer índices,
De escolaridade, de produção rural
De produção industrial...

Então, como explica porquê
Teu bolso continua vazio?
Nós é que somos um f.d.p.!
desnoticiados


São tantas notícias ruins...
-São muitas?
E as que se esconderam
Nas faces dos anjos?

Das meninas assassinas,
Das que se camuflam
Na seriedade dos mestres,
e são inumeráveis...

Hoje mesmo aqueles dois
Trucidaram aquela moça
Naquela mata perto
Daquela cidade...

São notícias...ainda assim
São tantas desnoticiadas...
São tantas barbáries, por que?
Porque somos humanos...
Cara de anjo


Como as pessoas de meia idade
Ficam tão boazinhas...
(até eu já tive meus momentos...
De vilania)

Será pela impotência...de reagir?
Será pela impotência de estuprar?
Estupro essa expressão diminuta
Das pessoas...

Agora sim, pessoas, não homens
Ou mulheres,
Porque as pessoas se parecem
Muito nas maldades...
matutando


Esses olhos ensolarados
Escondem furtivamente
A escuridão dos pensares...
Ela finge um sorriso de lábios,
Uma nódoa reprimida nas faces,
Esquema bem montado
Enganando os mais frágeis.

Mas, se eu me calasse sobre,
Ninguém saberia o que se passa
Na minha mente abstraída
Desses pensares...inútil
Repensar sorrisos de lábios
Quando o olhar reflete ódio,
Destilado gota a gota.

Agora se faz necessário
O julgamento imparcial
Dessas faces róseas e suas
Mandíbulas penetráveis.
Aqueles olhos, ensolarados,
Anoitecem cedo o mal
Que pudessem ter feito.
Bons tempos


Esta capa de chuva
Acompanha meu trajeto,
Mas são as camisetas de sol
Que envelhecem comigo...

Transitoriamente estamos aqui,
Rasgando as costuras,
Desfiando pedaços frágeis
De nossas existências.

Quem sabe agora eu possa
Argüir dessa capa, sem chuva,
Para que serve, afinal,
Na tarde de sol...
Pierrete


Sob a máscara é possível
Ser outra pessoa, acessível neste dia
Para as fantasias belicosas...
Sim, belicosas, pois é uma peleja a noite
Das esperanças fúteis da espera...

Todo o ano sendo servil ao conceito,
Agora é o fio desfeito da espera.
A hora do som, do samba, do suor
Escorrendo pelos corpos cavernosos...
Atrás da próxima orgia feito prélio.

Pierrete sabe seu valor nessa guerra,
Olhos procuradores sob uma máscara
Encontram olhos entregadores sob
As tensões das luzes e tambores.
O que haverá depois da refrega?
Privilégios


Uma queda vertiginosa sobre
As próprias mensurações
É triste...maldosamente triste,
Extremamente deletério
Pensar-se menor que ontem,
Apesar de tudos...

Você não é obrigado a pensar
Se o cansa o ato contínuo
De fiscalizar seu desatino, mas
É uma questão de raciocínio,
E raciocinar é a única prerrogativa
Que temos a mais que o símio.
brocardo


Eu começo
Com uma letra maiúscula,
Você completa com o
pensamento,
Em maiúsculo momento
De finalizar o poema.

Assim escrevemos juntos
Nossos pensamentos.
A poesia está aqui, como
Um pássaro ou um mosquito,
Rodeando nossas cabeças.
Se deixar

eles podem eternizar
O texto, ou cagar sobre ele...
Depende de nós, de mim,
Descrevendo o começo,
De ti, completando o
pensamento.
extenues


A morte
É plantada junto
Com o nascimento.
Tudo que flore, murcha
em algum outro
momento.


Simples
Como ver brotar
É ver nascer o rebento.
Simples como ver murchar
É ver morrer de vez
O encanecido.

Normal
Como encanecer
Avelhantado ou precoce.
Então, por que choras
A falta desse primo
Plantio, já seco?
Quando e porquês


Quando eu partir,
Que não me partas ao meio.
Estaremos sempre juntos,
Por inteiro.

Ontem fomos à praia,
Você não veio.
Fomos à Curitiba,
Você ligou.

Quando eu partir será assim
Uma praia ou a ida,
Como desta vez primeira,
Com volta presumida.

Quando partires
Retrataremos juntos
As partes viajáveis
Desse mundo...
arroubos


A masculinidade exige
De todos nós uma postura
Entre monstruosidades
E constante doçura...

O gotejamento da fonte
Morro abaixo, escorrendo
Água límpida como sangue
Nas nossas fases...

Eu vacilei algumas vezes
Entre meus dedos clareados
De masculinidade imatura.

Mas aquela idade se agarra
Ao chamado do cão dentro
Do homem vindo criatura.
O desmonte


“O Programa Atitude, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude em parceria com dez municípios paranaenses, completou seu ciclo com uma série de conquistas e resultados nas 34 comunidades onde está sendo executado. Criado para superar o ciclo de violências contra a criança e o adolescente, o Programa é uma iniciativa governamental que visa dar oportunidades de esporte, cultura, lazer e qualificação profissional aos jovens e garantir proteção às crianças e adolescentes. Foi proposto devido à necessidade de intervenção sobre os fatores de risco à violência, no sentido de consolidar uma rede de proteção à criança e ao adolescente formada entre todas as esferas governamentais, organizações não-governamentais e demais setores da sociedade civil. Entre os resultados práticos nas comunidades, percebe-se um grande avanço no fortalecimento da rede de proteção e na mobilização da comunidade em busca de soluções para os problemas locais. O Programa Atitude tem garantido o acesso aos serviços de saúde, educação e assistência social para crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social.” comentário do jornal desta semana.
Bonito, não é? Pois bem, o programa contratou aproximadamente 200 profissionais, entre sociólogos, psicólogos, educadores e outros, por um ano, prorrogável por mais um ano, coincidentemente findando após as eleições. Passando aí a continuação dos projetos para as prefeituras...acontece que essas 34 comunidades arregimentaram milhares pessoas com atendimentos diversos, diga-se quase sem respaldo das prefeituras à altura das verbas liberadas desde o inicio. Intervieram numa gama de situações de desamparo familiar, criaram situações de sociabilização inéditas nessas comunidades. Agora tem prefeitura simplesmente desmontando o processo, desligando profissionais das áreas, encerrando um trabalho de dois anos, deixando esses adolescentes na mão, como se dizia: “perdidos como cachorro caído de mudança”, esses meninos e meninas que estão tomando um rumo em suas vidas amargas, sendo decepcionados outra vez, por pessoas em quem eles depositaram confiança, entregues outra vez às garras de traficantes e à fuga aos policiais que, a grosso modo, não estão preparados para lidar com tais situações, tratando esses adolescentes sem rumo, por suas situações de desamparo, como bandidos escolados nessas trincheiras. Esses adolescentes são buchas de canhão para veteranos fugitivos de polícia. De resto essa desmobilização gradual deixará em vacância carros, computadores, bibliotecas, entre inúmeros itens que, na maioria das vezes se esvai nos esquecidos porões da memória.
Quem há de responder por mais esse disparate administrativo, que dói ver passar aos olhos vendados das autoridades “competentes”?!
Sergio.donadio@yahoo.com sergiodonadio.blogspot.com./

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

pendengas


Certos assuntos são indiscutíveis.
Por que então clara palma revive,
Cansados de discutir narcóticos,
As coisas apagadas na mesmice?

Inda ouvimos prelações, devotos
Desses infernos que amedrontam,
Não sendo palpável cada crença
No prometendo de amanhã...

A minha a ti pode ser ofensa...
Mas eu predigo a verdade íntima,
Oposta à tua, mas ainda assim

A minha verdade avocada.
Pois bem, então por que não calar
Essas verdades da madrugada?
herdados


Quando meu avô
gerou sua família,
Talvez não tivesse noção
De quantas geraria...

Mas estamos aqui,
aos potes,
Gerando suas gerações
E gerações de fortes...

Por que fortes?
Porque afiados irmanamos
as proporções dos fatos
Tão humanos.

Pois que assim o somos,
Pequenos, logres,
Detentores da herança
De suas dores.
Engano da raça
Mas quando eu morder
Esse cachorro brabo,
Serei outro cão irado.
Eu homem e animal,
primitivo, herdeiro
da roda, do fogo,
Do motor à explosão,
De seda vestido,
Dar asas ao avião...

Eu, primitivo, acendo
o fogo, levanto vôo,
Mergulho no infinito
Em sendo finito
O eu que, perimido,
Abato a caça, cozinho,
Asso o eu primevo
Que não sabe o ledo
Engano da raça.

Esse sou eu, bárbaro
Depois do aluvião,
De tantas partidas,
Das guerras perdidas
Nas pazes ganhadas
Nas outras corridas,
Mas quando eu morder
Esse cachorro brabo,
Serei outro cão irado
acordamentos


Alguém nos procura
No silêncio da idade...
Talvez a avó, inda trêmula,
Querendo um abraço.

Mas, que idade tem ela,
Que não sabe que viajamos
E não vamos voltar
os mesmos?

Alguém se desvia de nós
No silêncio da idade...
Talvez sejamos avós, trêmulos,
Procurando aquele abraço

Que ficou no ar quando
Viajamos...e viajaram
E não vão voltar
Os mesmos...
Decepção


Ver que o homem,
Solto na calçada,
Também quer um carro
E uma casa grande
E espaço...
Para navegar seus sonhos...

Tão igual o homem
Preso na mesa
De sua sala,
Exposto aos erros
De cada palavra.

Só que o homem na calçada
Baba
Enquanto o homem na sala
Espuma
Suas raivas.