quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

trajetória


O primeiro olhar, pelo vidro,
Numa distância segura
Pros seus medos...
Depois viemos para casa,
Nos braços da dengosa senhora,
Nossa amada.

Fomos nos acostumando
Um com outro, olhava aqueles
Dedinhos procuradores
Alcançando no ar
Seus primeiros contornos.
Aquele olhar me olhava...

Ficamos assim nos amando,
Nos querendo desmedrar,
Foi articulando as distâncias...
Primeiro os brilhos ao redor,
Depois o berço, o quintal, a rua,
O mundo foi pouco...

Fomos nos acostumando
Um sem o outro, perdendo aqueles
Olhos procuradores pelo ar.
Agora o último olhar, pelo vidro,
Numa distância segura
Pros meus medos...

domingo, 26 de dezembro de 2010

crescimentos


Nós crescemos.
E uma vaidade vã cobriu os males
Descolorados...
Aqui, meu mago, somos responsáveis
Pelo dito das parições adultas...

Crescemos,
E por absoluta transgressão
Somos o vício.
Somos a sobra, o vestígio
Das infantilidades.

Crescemos?
Então, por que nos imbuímos
Das poses nas fotografias,
De suspensórios e
Saudades mitos?
Tiro minhas luvas


Tiro minhas luvas
De pelica.
Sou brusco agora nas idéias,
Exponho minhas mágoas
E meus riscos...
E apanho,
não a gripe dessa chuva,
mas palmadas...

minhas palmas
estão vermelhas,
meus olhos lacrimados,
não do medo,
mas da raiva!
Seremos, enfim, nossos
Próprios
Lategadores.

Tiro minhas luvas
De leveza,
Me torno mal educado, e,
Com certeza malvisto
Na arquibancada dos omissos.
Quem sabe agora
Reconheçamos
Nossos viços.
O jarro antigo


Aquele jarro simples na estante
Espelha tantos passados...
Não é antiguidade comum
Dos fundos dos mares,
Tem o gasto das mãos
De minha avó,
Carregando as águas de beber
E as banhas de fritar...

Carregado das mágoas e
Lembranças,
Memória de um tempo casual
Entre esperança e desânimo,
As palavras cansadas de orar
E as vidas sorvidas.
Antigamente este jarro continha
As lágrimas.
Rosário do Ivaí


A tarde
Já vem moendo
A luz
Quase escurecendo
Os caminhos veredas
Rumo ao rio de águas claras
E pedras escuras
No seu fundo lodoso.

Uma tarde
assim como
Se o fim do mundo,
Mas o fim de semana
voltava
A ensaiar a vida
Entre os dias poeirentos
E uma viola tocando baixo

uma saudade
Batendo fundo
Como se trouxesse
Dos longes
Noticia dela,
Que esperava
Os fins de semana.
Sabendo-me preso ali
Entre motosserras



E peões
E matas e o medo
Das cobras,
Puxava pro banho
Daquele rio fresco
E trazia de lá
Os barulhos das pedras
A soneira das horas
O cheiro da erva doce

E mais o canto
Dos catadores de feijão
Na época de colher
Ou plantar
Ou esperar.
São sempre
essas esperas
Que sustentam
a vontade
De ficar.

Mas não comigo
que sou citadino
E não planto nem colho
Apenas
assisto




O trabalho braçal
Daqueles homens meninos
E suas violas
E suas piadas
E o reverso da moeda
Puxando conversa

Ali me senti em casa
Como não antes
Nas outras moradas
Em que habitei
Por ser criado nelas
Mas estranho
Às vontades delas.

Aqui sei quanto vale
Pagar pela terra,
Pela árvore,
Pela escola de vida
Que é caminhar
pela mata
Abrindo picadas
Entre as canafístulas







E os arranha gatos
Que entopem as vias
E sangram as partes,
Costumeiramente
Me habituo com isso,
Mas sei que tenho
de voltar
Ao mundo esquecido
Chamado lar.


A tarde
Já vem moendo
A luz
Quase escurecendo
Os caminhos veredas,
Agora é preciso voltar
Que a vida
Não parou de fluir
Seu momentos
Garis.






Ofertório


Seria muito
Querer ofertar
Um verso sujo.
Mas um gesto de paz
Bem recebido
Pode aliviar
Em algum sentido
A forra das ofensas...

Talvez não seja bem
Falar dessas coisas
Que o silêncio manda
Esquecer às loas...
Mas aqui é meu campo,
Minha cama d’água,
Meu poleiro
Pro sono tranqüilo,

Tirante essas mágoas
Nem é de estilo
Desenterrar mágoas.
Por isso fico
Sem isso nem aquilo
Pensando
O que não digo.





Se você está morto
Não precisa mais
Se preocupar
Com os nadas da vida,
Tipo conversa chata
E contas a pagar,
Amigos a apagar,
Ascendentes a acender velas,
Descendentes que se negam
A acender velas para você,

Mas você está morto
Então não importa mais.
Como não importa se
vão fechar no feriado
Ou se vão jantar mais cedo
Para ver televisão
No quarto.

Não importa se vão calçar
Sapatos ou chinelos,
Bermudas ou pijamas,
Se o sol vai dar praia,
Se a chuva vai dar flores,
Se o gado comeu o sal
Se a vaca pariu de novo,
Se a mulher pariu a vaca,
Narciso

Não é que narciso achasse feio
O que não lhe era espelho.
É que narciso não tem espelho,
Então se espelha no bonito
Que copia a esmo...

Assim a moda, em 1700
Era cobrir tornozelos
com grossas rendas
Num quarenta graus
de Rio de Janeiro,

Como agora em 2010
Torna-se bonito,
por não espelhar-se
O quase nu das dobras
Das meninas cheias
De gorduras novas.






translúcido



Esta tua alma tranqüila
Dentro do corpo esquálido
Solta-se das presilhas
E voeja...

Por mais que se solte
Vivencia presa
à dor do corpo que
Arqueja...

Mesmo que não saibas atuar
Ambidestro
A alma, meu parceiro,
Imita o gesto...

Lento, lentamente fraco,
do corpo que se embalança
Entre as formas sutis do plasma
E sua herança.
Abóbora de pescoço


A cucurbita moschata, popular abóbora de pescoço, é, no mais das vezes, enorme, por isso o comprador na feira dizia ao feirante para pica-la em pedaços, mas o feirante resistia à idéia justificando que ninguém quereria a cabeça, cheia de sementes, todos prefeririam o pescoço, de massa compacta. Desta cena extraio por metáfora a discussão sobre a escolha dos seres humanos, todos queremos a parte boa das pessoas, por extensão das famílias das pessoas, rejeitando os entéricos. Na impossibilidade de pica-las, temos que assumir sempre as partes descartáveis da “abóbora” na serventia dos pedaços aproveitáveis. Quando a cabeça pesa mais que o pescoço é que discutimos com o feirante.
Pensando bem, é preciso à esta altura, nos colocarmos no lugar do feirante: Estamos vendendo nossas abóboras também inteiras, com todas as sementes descartáveis junto, para que aproveitem a massa do pescoço e dispensem o resto?
Nesta hora é preciso pesar o que cada abóbora tem de massa compacta e de cabeça (vazia) para ver se vale a pena comprar, porque, sem dúvida toda abóbora tem cabeça sementeira, que pesa na hora de mexer o tacho, no calor da cozedura, feitura do dia a dia...
Nesta época, de amenidades diplomáticas e correrias natalinas, vivencio nas esquinas de nossas ruas comerciais todo tipo de cabeças, mais do que pescoços, vasculhando ofertas de quinquilharias nas prateleiras para marcar presença entre seus pares na noite de natal, sem esquecer as cabeças ou ofender os pescoços de cada espécie.
Não me coloco como conselheiro dono da razão, mas reconheço-me uma cucurbita moschata de bom tamanho, com uma cabeça enorme de problemas e um pescoço fino de lisuras, neste ambiente é que sementeio minha herança, espalhando para os quintais alheios esta mistura de partes boas e ruins, que, como dizia o Zagallo, terão de engolir.
Tendo o dito por dito, o dizedor aqui presente pede encarecidamente aos ledores que se assustem, como eu, com os tantos “compradores” dessa feira livre que é a vida convivida, que neste final de ano, picaram a abóbora, festejando natal e ano novo e férias e feriados com os pescoços reluzentes, deixando em suas hastes as cabeças, rejeitadas como lixo!
Sergiodonadio.blogspot.com/

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

PAI


Eu estava aqui enquanto partias,
Ainda estarei aqui quando fores.
Vi tua calma quando morrias, e
vai-me morrendo pouco a pouco...

Um pouco a memória te desfaria
Como desfizeram de ti os ossos,
Mas estou aqui lembrando disso,
Provando a mim quanto não posso.

Mesmo que não me tenhas alento
Ainda te escuto quando me ligo
Às horas dormidas do pensamento:

Um tanto memorar cada momento,
A perguntar por mim se te olvido,
A fazer-me chorar quando te lembro.
O galo sem cabeça


De um tempo sem alegorias
Lembro
O facão afiado penso sobre
O pescoço do galo,
A canja do dia,
O golpe,
O sangue, a corrida do galo,
Por um segundo?
Sem a cabeça!

Neste tempo de alegorias
Esses galos sem cabeça
Correm
À besta pelo caminho torto
Das eleições munidas
De facão e braços fortes
E o golpe,
O sangue, a corrida...
Sem cabeças.
Os cientistas

“Yo voy Soñando caminos
de la tarde. de la Tarde. ¡Las colinas ¡Las Colinas
doradas, los verdes pinos, Doradas, Los Verdes pinos,
las polvorientas encinas!… Las Encinas polvorientas! ...
¿Adónde el camino irá? Adonde ¿el camino Irá?”

Pesquisam o desconhecido
Em inconcebíveis distâncias...
(Procuram barrigas sugadas,
Águas, crianças, o eldorado?)
Procuram nadas e nadas,

E ainda que as encontrem
Nas cansadas jornadas telescópicas...
Há vida lá? Há vida cá!
Nas bonitas mulheres das praias,
Nas feias mulheres e suas cargas,

(Nas barrigas sugadas, choradas
De criancinhas e gatas prenhes...)
Os cientistas cassam vidas aqui
E caçam vidas acolá...será que descobrirão
Que há vida na terra?

De onde virá esse Ponce de León
Martirizar seres que nem
conhecemos? Que planejamos
aniquilar sem mais nem menos,
em que a vida há de estar...
A pipa


Tem a sensação de voar...
Mas
Está presa por um fio quase invisível
Às mãos do menino,
Em terra.

Uma gaivota tem a sensação de voar
E
Não há menino que amarre
Um fio quase invisível
Às suas pernas.

O menino tem a sensação de voar
Içando
Sua pipa ao vento perpendicular,
Mas está preso a um fio
Quase invisível...
brinquedos



Nós fazemos barquinhos de papel,
Nós fazemos aviõezinhos de papel,
Fazemos pessoinhas de papel
Que queremos fazer funcionar como
De verdade...
Por isso derretem em nossas mãos
Nervosas.

Temos que aprender a fazer
Aviões e barcos e pessoas de alumínio
Como os grandes construtores
De barcos e aviões,
Que as pessoas, as pessoas já nascem
Suspensas
Nessa placenta aquária e aprendem
A voar e navegar antes.
Dias das crianças


Aquelas árvores magrelas diziam coisas...
Como se espiassem os meninos pelas janelas
E soubessem das parreiras os vinhos azedos nelas.
Aquelas árvores goiabeiras, raquíticas, tortas,
Aleijadas pelos ventos e moleques,
Diziam coisas das coisas fáceis, essas
De ganhar na burca ou no bafa, de manhã.

Das manhãs as goiabeiras chamam os pardais
A banquetear as delícias de seu tempo,
Argumentando a gula pelos cheiros doces
De suas frutas maduras quase podres e,
Desde sempre bichadas antes, ainda verdes.
Os pardais conversam com elas sua língua
De palavras que os moleques não sabem.

Os moleques não, os moleques querem o fruto
Arrancado na marra, torcendo galhos,
Quebrando senões, usurpando as vermelhas,
Mais saborosas que as brancas, irmãs.
Mas a árvore torcida da goiabeira sabe vidas
E sussurra aos meninos seu perdão,
Por serem meninos criança então.
espera


A mãe que espera filho
Espera-o são, rijo, sorrindo...
A mãe que espera um filho,
Vindo do ventre ou da guerra,
Espera-o cria nova, sempre
Outra vez o parindo.

A mãe não quer um filho
Pra rua dos esquecidos,
A mãe quer que seu filho
Seja o mais bem vindo
Dos outros da mesma
Rústica esteira.

Sendo a vida esta guerra
De rua, escola, destreza,
Ou que o mundo afronta.
Para cada mãe que espera
Há uma lágrima pronta,
De alegria ou tristeza,
Convexo


Para o bebido no balcão aberto
O mundo lá fora é convexo
Como o mar ao marinheiro,
Como o infinito ao descrente
Que varre as coisas sujas,
Pensando o teto aparente.

O velho poeta dizia do inusitado,
Supria de rolhas garrafas vazias
E um ditado que as vazias almas,
que um velho frade exprimia
o lado ruim como certo, assim,
certo lhe fazia.

Mas o tempo, como o mar, visto
Da praia, é convexo, embora
Reto em que o olhar tem por si,
Bebido no balcão daquele bar,
O mesmo olhar que a religiosa
Presa ao claustro teria.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Feliz natal a todos...


É hora de falar de Jesus Cristo, o aniversariante que pretendemos homenagear , penso que minhas palavras se tornam ambíguas frente às dele próprio, então tomo de seus procedimentos no Sermão da Montanha, fazendo minha intenção as suas regras:
Ouvistes o que foi dito aos antigos: ”Não matarás”. Eu, porém vos digo: quem se irritar contra seu irmão, irá à juízo. “Não cometerás adultério”. Eu, porém, vos digo: aquele que olhar para uma mulher, com desejo no seu coração já cometeu adultério. “Não jurarás falso, mas cumprirás para o Senhor teus juramentos”. Eu, porem vos digo: Não jurareis de forma alguma, nem pelo céu, que é o trono de Deus nem pela terra, que é o escabelo de seus pés. “Olho por olho dente por dente”. Eu porem vos digo: A quem te bater na face direita apresenta também a outra. “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu porem vos digo: Amai teu inimigo, orai pelos que te perseguem, pois o Pai faz raiar o sol sobre os bons e os maus e chover sobre justos ou injustos. Sêde portanto como vosso Pai.
Vós sois o sal da terra. Se, porem, o sal se tornar insípido, com que então se há de salgar? Não serve mais para nada senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo, uma cidade sobre o monte não pode ficar escondida, Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas em cima do candelabro, onde brilha para os que estão na casa. Assim brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus. Não julgueis que vim ab-rogar a lei ou os profetas, mas cumprir. Porque em verdade vos digo, ainda que passem o céu e a terra, não passará um iota ou um ápice da lei sem que tudo se tenha cumprido. Quem transgredir um só destes mandamentos e ensinar aos homens a fazer o mesmo, será tido como o menor no reino dos céus, porém o que os cumprir e ensinar, este será tido como grande no reino dos céus. Porque vos digo, se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis nos reinos dos céus.
Sendo assim, tenho pouco a acrescentar, senão os valores apreendidos na leitura de suas palavras, e, lendo e pensando o lido, propor a todos que o façam, de coração, nesta data, entendendo antes que para participar da comemoração do aniversario de uma pessoa, seja ela quem for, há que se ter certa intimidade com ela. No caso específico, para agrado do aniversariante, proceder como ele prega, com a simplicidade de seu viver, esquecendo as vitrines iluminadas e percorrendo o íntimo de cada consciência, para presentear assim com o seu “brinquedo” preferido nosso grande amigo, no seu dia.
Sergiodonadio.blospot.com
Mensagem de natal


Somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros.


Nós, seres humanos, cultuamos a desigualdade. Mesmo nas campanhas pela igualdade, o que aflora das intenções é a manipulação do necessitado. Desde os primórdios da organização das castas, impera o senhor sobre todos os outros, O mais forte, depois o mais ladino, depois o menos ético...sempre a mesma ladainha, sempre a mesma disparidade. As sociedades antigas discriminavam abertamente, a sociedade atual camufla, mas discrimina. Há, até nos mais prosaicos ambientes, os lugares de cada um, determinados pela sua importância enquanto autoridade, enquanto doutor, enquanto serviçal. Vem dos tempos em que se dividia em nobreza, clero e terceiro estado. Agora se divide em importância de cargo, como sempre, com novas denominações, Quem pode sentar onde? Quem pode sentar ao lado do presidente? Do rei? Suas majestades impõem o assento de cada um, na hierarquia, termo tenebroso que traz o:"Você sabe com quem está falando?" embutido no pomposo elemento hierárquico. Dos tempos de nobres e escravos, herdamos o esnobismo, hoje acadêmico. E não precisa ser doutor em nada para ser doutor em tudo. Basta ter assento ao lado. Basta subir um degrau para se tornar desigual ao seu igual. O amigo de cerca ou bar, elege-se vereador, a partir daí não é mais o mesmo, de seu gabinete comanda a vida. Se é prefeito, então, já se distancia um pouco mais, deputado já está noutro degrau. Governador! Quem pode se aproximar dele? Se for para a esfera federal, some de vista, até chegar ao presidente. O último, sociólogo, por sinal, ficou bem acima de seus colegas, professores universitários! O atual presidente está a léguas de seus colegas operários...e, quando descem do palco, não mais voltam ao seu status natural, serão sempre ex-autoridades.
O que faz voltar ao assunto é a morte de Claude Lévi-Strauss, este mês. O grande antropólogo e etnólogo sempre bateu na mesma tecla, de que não há diferença entre um indígena e um cidadão do primeiro mundo. Ele pregava a coincidência entre o pensamento dos selvagens e dos civilizados, dos primitivos e dos atuais seres humanos, dizendo que não há um pensamento de selvagem mas um pensamento selvagem em qualquer nível de sociedade. Com essa tirada fenomenal derruba o nariz erguido de qualquer vaidade acadêmica. Este grande "professor" lecionou na Universidade de São Paulo a partir de 1934, onde permaneceu por três anos, e criou o estruturalismo, sistema de solidariedade para formar estrutura, que difundiu pelo mundo todo, só assimilado por aqui na década de 50.
Então, por que continuamos cultuando a desigualdade às vésperas de mais um aniversário de Jesus? Porque continua sendo o cristo de todos nós.
Sergio

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Não seremos tristes


Não seremos tristes.
Esta afirmação acorda
Meus risos de espera...
Seremos ridentes sempre,
Mesmo que não felizes?
E se preferir ser feliz,
Sem risos?

Eu venho de algum lugar
Da sua tristeza para
entronizar o sorriso
de antes, quando
sorriamos às asperezas
E nos refreamos de chorar
instantes.
Novo tempo


O aparecido na névoa de esquecimentos
Pode ser importante ou esmo...
As faces róseas, agora feridas rugas,
As vivências, enfim, dessa doce criatura,
Que foi rósea, depois escura,
Dessa escureza de manchas que a idade planta
Nos sorrisos do tempo que deixou
Saudades.

Ah, sim, todas as belas menininhas,
Agora feridas, trazem um rancor dos fatos
Daqueles tempos, líricos, botados...
Que a vivência nos caminhos tantos
Traz essas marcas dos desencantos,
Mesmo que líricas, mesmo que ralas,
A fugir das luzes do espelho sincero
Da mesma sala.













Mas o tempo, menininhas,
Também é caro aos seus nubentes,
Que fazer agora das poses áridas,
Dos músculos, das velhas taras,
Se não o olhar compadecido
Desse novo tempo?
É que o tempo, menininhos,
É mais relento.


Sorrir! Mesmo com lágrimas
De tais sentimentos...
Que o riso não é descarno, pode ser
A vida recomeçando os laços
Entre o vivido e o esperado, lento,
Mas aguçado momento de sorrir
Dos aros desse esplendoroso
Novo tempo!

domingo, 17 de outubro de 2010

Um dia,

naquela hora do sol pondo-se,
Notei que o mundo estava sendo
Construído disso...
Havia tijolos e cimento e pedras e
A mão de homens remexendo aquilo
E levantando paredes onde
havia gramado antes...

Por que
o homem estava reconstruindo o mundo
À minha volta?
Porque o homem
não se satisfez com o mundo antes
De sua colher remexer tudo
E levantar paredes
Onde havia mundos...

E, em sendo eu homem
Também inventei de reconstruir
O que havia à volta
Então construí esposa,
Construí filhos,
Construí maneiras de lidar com isso,
E,
Como um deus no seu sétimo dia,
Aprecio a obra e
Descanso.




Das novidades.


O que há de óbvio
Na partida,
Senão um deserto
De idas?

Me senti em casa,
E talvez a minha errante
Seja o passo atrás do passo
Dado a cada esperança.

Que rumo tomar nesse deserto
depois das dunas,
Se não para aplacar as dores
Que infortunas?

O que há de novo
Na partida
Pode ser enfim
As despedida.
Testemunha calada


Essas casas que dormem,
Ou fingem, de olhos fechados,
Não ver o que se passa
Frente à porta...

Essas testemunhas sem olhares,
Apenas transmutam suas janelas,
Fechadas para o lado norte
De cada etapa.

Se eu tivesse os olhos desse tempo,
Mesmo descoloridos pelas águas,
Saberia dizer dos tentos que,
À margem do tempo se alardeiam...

Velhas mágoas, varridas das calçadas,
Campeiam ainda essa memória d’anos,
Entre as manchas dos lambris e o cio
Da velha morada.
momentâneos


Se meu corpo
Não quisesse dormir agora
Me manteria acordado os olhos
De uma razão de fatos...

Mas estou cansado, de mãos doídas,
As plantas dos pés ardendo estradas
E uma canseira nos olhos,
Que se apagam.

A mente acorda ainda
Os sentimentos mais hostis à mágoa.
Sei, como não sabia antes, que
É rude o atual instante.

Antes que se apague a noite
Desses meus cansados membros gastos,
Procuro ouvir os cânticos
De meu tempo menino...

Aquilo sim, a minha vida basta
Para explicar porque, frente à dor,
Que passa,
Ainda estou sorrindo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ausência



O que a vida traz
Que a vida não leva?
O ar...
apenas esse ar de fragrâncias contumazes,
Como da mulher amada,
Da flor roubada ao canteiro infenso.

O que fará de nós eu e você?
A paz.
A mesma paz das madrugadas frias quando
O silencio principia o aconchego.
É o frio
Ou é mesmo o amor chegando cedo?

O que a vida levou
Por ter trazido fora de tempo?
Antes ou depois da dor
O alivio pode ser o instante feliz
Ou tenebroso
De saber que acaba sempre,
Seja o prazer ou o desprazer
Do agora.
ossadas

A velhice é o tempo em carne e osso.
Assim os velhos sofrem do desgosto,
que o trajeto que os trouxe até aqui
É diverso ao outro,
que os levou a nascer, de novo,
A partir do mesmo ovo,

O que eclode da casca e passeia pelas vielas
E pelos quintais gramados ou lamacentos,
Tanto faz, porque a vida estava começando aí,
Na primeira manhã de passos trôpegos
E inserções
nas margens da cerca de balaustres,

a partir da cerca andamos sem parar
para as idades seguintes...
de velejar ou rastejar, que, do tempo de
balbuciar ao tempo de calar
a dentadura
é um suplício a mais

no churrasco do fim de semana
todos se satisfazem com as carnes do boi,
menos o velho, que, colada a dentadura,
sufoca na maionese
dessa carne sem osso que vem a ser
a velhice breve.









Depois da primeira morte


Depois da primeira morte
As outras se tornam costumeiras
Como tomar água ou
deitar a cabeça e dormir.
Como levantar a enxada e plantar
Ou carpir...

Dormir
É um pouco morrer cada vez.
Da primeira morte apenas a lembrança
De um vazio de branco imerso
No primeiro sono
E a leveza do frio...

Depois da primeira morte
As coisas fazem sentido outra vez,
Emanadas das névoas
Que habitam as obrigações
Presumíveis de acontecer
Depois
Da primeira morte.
Água mole em pedra dura...


O Programa Internacional de Avaliação de alunos (Pisa) analisando o nível de aprendizado dos alunos de 15 anos de idade em cincoenta e sete paises, vai encontrar a terra dos brasis em 52º em ciência, 54º em matemática e 49º em linguagem. Este momento, dos 15 anos, é quando o aluno deve estar terminando o curso básico, esse teste é feito a cada três anos nessas matérias primordiais para qualquer ascensão futura, concluindo que nossos jovens vão competir com os dessas outras 57 escolaridades, há que se chegar à conclusão de que já entram no jogo apanhando...
Não querendo ser pessimista, aviso aos meninos que o mundo compõem-se de mais de duzentos paises, mas, forçado a ser realista, na maioria desses paises a chance é mínima de se dar bem, por diferenças culturais, lingüísticas, as oportunidades se afunilam e sobra para investir num projeto de vida poucos portos acolhedores, desses, todos os outros meninos dos 57 paises estão na mesma fila, que anda...
Olhando mais à frente, na pós-graduação, é que podemos mensurar a perda. Hoje, os alunos que patinaram aos quinze anos, antes, somam míseros 58 mil graduandos, graduados pesquisando temos 200 mil, frente a 900 mil na Rússia, país com nível de vida comparado ao nosso. Enquanto apenas 20% se matriculam em pós no Brasil, no Peru e Chile somam 60%. Coréia e Finlândia matriculam 100%! A fila anda...
Há dois modos de um país crescer: aumentando produção e ou aumentando produtividade. Só há um modo perene, aumento de produtividade. A finitude da primeira opção é a saturação, por esforço físico de horas trabalhadas a mais ou por exaustão do capital de giro. A segunda opção, se bem cimentada em cursos, desde o primário, não satura nem se fina antecipadamente, tende a crescer sempre.
De vinte a trinta por cento dos alunos do 4° ano do primeiro grau, que deveriam estar com 11 anos, já têm 15. quer dizer, estão patinando cedo. Esse problema vem desde o inicio da escolarização, infelizmente a criança não é alfabetizada nos primeiros anos, o que resulta em “alfabetizados” que não conseguem entender textos simples de leitura, como competir profissionalmente?
Fico triste em ver a realidade desse abandono. Qualquer um de nós já se defrontou com jovens que sonham ir para outros países, de “primeiro mundo” lavar pratos, cuidar de crianças, faxinar casas dos outros...e por aí afora, por que? Porque não têm preparo para coisas mais intelectuais. É vergonhoso mas é verdade.
A alfabetização em massa já acontece no Uruguai e na Argentina há 100 anos! Nos paises desenvolvidos há 200 anos! Se formos comparar o desenvolvimento de nossa educaçao com o da medicina e da industria, segundo Gustavo Ioschpe, craque no assunto, estaríamos operando cirurgias sem anestesia e carros a vapor.
Estou batendo nessa mesma tecla porque é hora de pensar nos próximos comandantes, no que prometem e no que, de sensato, podem fazer pela educação. Água mole em pedra dura...
sergiodonadio.blogspot.com
Lembrando Ada

Ada Cambridge, escritora inglesa, nascida no século XIX e reconhecida no início do século XX pela sua extensa obra, pedia num poema oração famoso, que dessem chance à eternidade de chorar suas mágoas. Tiro do poema os seguintes versos para clarear a idéia nesses dias plenos de mentiras/promessas, em clima de eleição: “À quem os irmãos marginalizados vão clamar, já que suas vozes são desconhecidas?
Aos guardas desta casa chamada casa de todos, se onde o fraco é rejeitado?
Isso faz dela uma mancha de vergonha sob o plano ordenado...
Uma mancha de vergonha, onde a luxuria suja o trabalho do justo...
Tu, que tens feito nos homens dessa terra tão bela, vilmente usados, dê espaço para o arrependimento e reparação da confiança aos abusados...Dá tempo para curar essa ferida. E tempo ao eterno para estancar as lágrimas...”

Pois é, amigos, já nos tempos de Ada a súplica aos donos do poder dos poderosos, isso mesmo, os donos do poder dos poderosos, pedia que dessem tempo à história futura, (a eternidade) para chorar as mágoas dos fracos, de voz desconhecida, que têm as portas fechadas ao clamor de suas fomes. Dizia Ada: A quem os marginalizados vão clamar, se as portas estão fechadas?
Uma reportagem mostrando a invasão dos sem teto aos prédios interditados no centro de São Paulo, mostra o quanto as portas se fecham aos marginalizados. Se você visitar uns bairros pobres na periferia de sua pequena cidade, algumas casas feitas de lona e crianças seminus pelas ruelas mostrará que nesse novo século as penúrias continuam tendo endereço. Dizia Ada: “Isso faz a mancha de vergonha”, tantas vezes aumentada um século depois. Há que se perguntar: -Se séculos depois, com o aumento da produção alimentícia, que faz brasileiros produzirem soja para orientais e carne para Russos suficiente para enriquecer tantos, por que a fome inda grassa no próprio país campeão de produtividade, e, pior ainda, nos ricos paises compradores? Por que continuamos negociando a fome de tantas coisas num mundo que evoluiu tanto?!
É a vergonha manchando ainda o plano (des)ordenado, onde os irmãos de vozes desconhecidas são barrados pelos guardas das casas ditas do povo!
Você, ledor, que tem sua casa, sabe que em nosso país ainda albergamos pessoas que não têm luz, água encanada, latrina, banho, geladeira, tv, gás...então coloque-se nessa situação de buscar água no brejo, de usar lamparinas a querosene, fossas no fundo sob casinhas...voce consegue se imaginar sem geladeira, por exemplo? Sem uma torneira de água limpa? Sem energia elétrica? Esses sem voz vivem isso! Lembrando que estamos em pleno século XXI!
Dizia Ada:”Dê uma chance à eternidade!”
sergiodonadio.blospot.com

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O sol das laranjeiras


As laranjeiras brotam
novamente...
Há muitos sóis para cada uma delas
E um olhar de fome à espera...
Quem trouxe esta semente?
Quem trouxe a esperança
Nessas flores brancas chamativas?
Que trouxe beija-flores e abelhas...

Exatamente esse ponto, neste dia,
A expectativa?
Só pode mesmo ser um ser onipresente,
Sabedor das paixões dos beija-flores
E das abelhas,
Que cultivarão o mel das laranjeiras
E farão beijar outras,
Tão brejeiras...
caminhadas


As terras por onde andei
Andam comigo...
Aonde quer que eu vá
As avisto,

torres de cal branca
Postes alongados e cães
Cuidando seus domados.

Uma fileira interminável
De vendedores e compradores
Num frenesi de comprados.

Aonde quer que eu vá
Andam comigo
Minhas ofertas de mais ser
Do que consigo.










Ocorrências


As asas se partiram,
O cão está coxo.
São banalidades
de agosto?

E quando apartamos
Vociferados seres
Mordentes e ridentes
De desgosto?

O pombo já não voa,
O cão alardeia a dor,
O homem silencia,
Vitorioso?

Apenas se esconde
Nas abrasivas formas
De ser macho e viril
De novo.
distúrbios


A noite,
realmente disturba
o cão sem dono,
Ele late
para a sombra de uma folha
Que o vento abana...

Mas, que diabo faz esse cão
A esta hora surda,
Procurando espantar folhas
Na muda?

Fico me vendo
neste cão sem dono,
Como eu sem dono, disturbado
E acordado

entre latidos que não dei
E a espera de ainda poder
ladrar ao escuro pra espantar
O susto.
Na igreja


O encanto de estar aqui
Não são os santos, os altares, mas
A suntuosidade do silêncio.
oportunidades


Se tua procura
Deu na loucura,
Não importa,

A lida é um fechar
E abrir constante
De portas.
Água mole em pedra dura...


O Programa Internacional de Avaliação de alunos (Pisa) analisando o nível de aprendizado dos alunos de 15 anos de idade em cincoenta e sete paises, vai encontrar a terra dos brasis em 52º em ciência, 54º em matemática e 49º em linguagem. Este momento, dos 15 anos, é quando o aluno deve estar terminando o curso básico, esse teste é feito a cada três anos nessas matérias primordiais para qualquer ascensão futura, concluindo que nossos jovens vão competir com os dessas outras 57 escolaridades, há que se chegar à conclusão de que já entram no jogo apanhando...
Não querendo ser pessimista, aviso aos meninos que o mundo compõem-se de mais de duzentos paises, mas, forçado a ser realista, na maioria desses paises a chance é mínima de se dar bem, por diferenças culturais, lingüísticas, as oportunidades se afunilam e sobra para investir num projeto de vida poucos portos acolhedores, desses, todos os outros meninos dos 57 paises estão na mesma fila, que anda...
Olhando mais à frente, na pós-graduação, é que podemos mensurar a perda. Hoje, os alunos que patinaram aos quinze anos, antes, somam míseros 58 mil graduandos, graduados pesquisando temos 200 mil, frente a 900 mil na Rússia, país com nível de vida comparado ao nosso. Enquanto apenas 20% se matriculam em pós no Brasil, no Peru e Chile somam 60%. Coréia e Finlândia matriculam 100%! A fila anda...
Há dois modos de um país crescer: aumentando produção e ou aumentando produtividade. Só há um modo perene, aumento de produtividade. A finitude da primeira opção é a saturação, por esforço físico de horas trabalhadas a mais ou por exaustão do capital de giro. A segunda opção, se bem cimentada em cursos, desde o primário, não satura nem se fina antecipadamente, tende a crescer sempre.
De vinte a trinta por cento dos alunos do 4° ano do primeiro grau, que deveriam estar com 11 anos, já têm 15. quer dizer, estão patinando cedo. Esse problema vem desde o inicio da escolarização, infelizmente a criança não é alfabetizada nos primeiros anos, o que resulta em “alfabetizados” que não conseguem entender textos simples de leitura, como competir profissionalmente?
Fico triste em ver a realidade desse abandono. Qualquer um de nós já se defrontou com jovens que sonham ir para outros países, de “primeiro mundo” lavar pratos, cuidar de crianças, faxinar casas dos outros...e por aí afora, por que? Porque não têm preparo para coisas mais intelectuais. É vergonhoso mas é verdade.
A alfabetização em massa já acontece no Uruguai e na Argentina há 100 anos! Nos paises desenvolvidos há 200 anos! Se formos comparar o desenvolvimento de nossa educaçao com o da medicina e da industria, segundo Gustavo Ioschpe, craque no assunto, estaríamos operando cirurgias sem anestesia e carros a vapor.
Estou batendo nessa mesma tecla porque é hora de pensar nos próximos comandantes, no que prometem e no que, de sensato, podem fazer pela educação. Água mole em pedra dura...
sergiodonadio.blogspot.com
Profissão: Político!


Faz tempo que política, a partidária principalmente, virou profissão? O engajamento político deveria ser sempre um compromisso de se dar algo à nação, não de esperar ser pago por isso. O ser humano é um animal político. Quando se insere nas ações políticas da sociedade em que vive, o intuito é de ajudar sua comunidade. Mas, em todos os tempos esse ideal parece deturpado pelo cinismo de usar o degrau que lhe confere a ação política, a partidária principalmente, para se mostrar “benevolente” e dar cunho à famosa frase: Fazer mesura com o chapéu alheio.Quando um cidadão é chamado(ou se oferece)para disputar um cargo eletivo, normalmente o primeiro degrau é a câmara de vereadores, parece que ele já assume a paternidade das mazelas da cidade, oferecendo desde carona a materiais diversos para socorrer emergências ou carências do eleitor, (se o cidadão não for eleitor, não tem nem bom dia), se eleito, passa a ser padrinho informal de seu bairro inteiro.
Desde quando política se tornou profissão? A ação política é aberta a todo cidadão eleitor, profissão?: Carpinteiro, médico, ferreiro, até auxiliar de...é profissão. Política não, política é ação de cidadania. Mesmo parecendo ingenuidade, deveria ser regra a disposição de servir, sem ser recompensado financeiramente, sua comunidade, esta que te recebe de braços abertos quando você a procura e se estabelece como profissional, seja empregado ou empregador, em qualquer ramo que se ache apto.
Quando o cidadão assume um cargo político, sendo remunerado por seu tempo, não deixa de ser o profissional que já era antes, então não deveria agregar à sua profissão a de político, até porque é uma incumbência passageira. Quando um dentista vereador termina seu mandato, ele continua dentista, isto é sua profissão!
Essa profissionalização do afazer político tem feito com que o elegido lute por sua permanência no espaço estatal, pelo fato de ter perdido espaço no seu verdadeiro fazer profissional, tornando assim dependente de mandato “profissional”. Essa dependência provoca atos de mudança fisiológica acima da ideológica, que faz o interesse inicial mudar de assento, desde que permita a continuidade, às vezes desastrosa.
O espaço estatal parece perder importância quando se reduz à mera posição de profissão ao que almeja ser estadista, condição muito acima de qualquer profissão. Isto é um perigoso parâmetro para o olhar pragmático do cidadão, que passa a ver seu estadista como carreirista, e perde motivação para votar, pilar mestre da democracia, o poder do povo.
sergiodonadio.blogspot.com

domingo, 29 de agosto de 2010

Os flautistas


Ainda estaremos aqui
Quando se forem os meninos
Navegar seus próprios ares.
O toque dessa flauta
Espanta os ratos e germina
Gerânios e novos planos...
Há um perigo enorme rondando
Na presença desses homens
De fé cega ou nenhuma.

De olho na falha do homem
Viajam os enormes sustos
Pelas sombras, pelas bombas,
Outros pelas palavras, todas
Armas perigosamente mortais.

Cuidado com a criação das maldades
Vociferando narinas
Desse dragão de letras ou adagas.
Cuidado com ativistas irreais,
Conquistadores dessa paz sem paz.

Cuidado com a fome dos nômades
Que nada crêem e moldam o tempo.
Cuidado com os prometedores,
Devastadores dos medos.
Cuidado, muito cuidado que
A esperança não morre, mas
É a última que mata.
E, por podê-lo é que, incontinente,
Assumo erros e acertos casuais,
Que o dia vida alvorece
Sem as agruras dos jornais de ontem.
Por isso, pelo poder de voar os sonhos,
Torno-os factuais, que os fatos
São detalhes a desconsiderar.

Os fatos morrem quando morre o dia,
Esquecem de mim, de ti, de quem mais,
Em guerra ou paz, que o dia vida
É um detalhe a mais.
Fica o sonhado, mesmo inconcluido,
Nos filhos, que o podem viver
Se não punidos.

Por isso posso mais do que pensara
Enquanto engatinhava o dia e a vida
Eram uma fraca nascente,
Vertente que com o tempo, vira mar,
E confunde-se o feito com o vivido,
Que voejar os fatos consumados
É menos real que os inconsumidos.

Então, posso mais pensar do que fizera
Que o bom de sonho é sonhar pudera
Enquanto passe um filme dessa era
Pela tarde quase noite, que me espera
Nas poucas vezes que fazer viera.
Agora, a ignorar passantes e ficantes,
É que inda sonho perdurar na terra.
Realidade das mentiras e seus efeitos

Posso mais do que pensara,
Ignorar passantes ou ficantes
E voar...
Livre como nunca dantes.
Para o voejo dos pensamentos,
Além da forma e estrutura, fixas,
Tenho as asas do temperamento.

A forma impura, de fecal mistura,
Fica nos dias feitos luta, que,
Como outros, passou, pesado...
Pesaroso...
E fica, com os atritos e acomodações
De um outro sopro.
Agora, leve sonho meus vôos.

A noite, sempre companheira,
Mesmo quando triste, avelória, feia,
Parceira para mais pensar
Do que fizera antes, e, por fazer,
Ficou o dia, tornado espera
De amanhecer de novo
A partir do primeiro ovo.

Posso esquecer o envelhecer em mim,
Das vontades, na paridade de ações
Megeras, mas não chorar fatalidades
Que, por fatais, já eram.
Posso então sorrir das falhas
Que antes acordavam iras,
Mesmo que esquecidas.
Viuvez


O dia lhe foge aos olhos,
É melancólico ouvir
O pássaro clamar a dor
De ser sozinho o silêncio.

Mais do que o tempo,
O dia claro, sem mágoas,
Sorri um sol de agosto
E se embriagará disso...

Acordar seu novo tempo
Que o luto é sentimento
De efêmera durabilidade.

A dualidade de momentos
Trará de novo o sorriso,
Cansada a vencida viuvez.
tisnes


Somos seres construídos de outros seres, a genética, mãe das interligações, propõe seres díspares e ao mesmo tempo iguais. A mistura de cores, alcunhadas raças, refaz o caminho dos navios negreiros, das levas de europeus, asiáticos, misturados aos nativos dessa terra de Santa Cruz, que resultou numa raça, aí sim acertadamente chamada de brasileiros, da brasa dos brasis de um tempo cru de indagações.
Já dos tempos de Salomão, nos cânticos de um povo à procura de seu destino, lemos versos que tratavam do “tisnado” da cor da pele, segundo o poema, linda, mas escura, e por isso posta a cuidar dos vinhedos de outrem.
Ainda hoje, num país de mestiços, (segundo Darcy Ribeiro “o povo mais bonito do mundo”), se classifica cor como raça. Volto ao assunto porque uma das perguntas do censo deste ano é exatamente se tem na casa pessoas da raça negra! A pergunta parece incoerente, já que o censo só contabiliza a raça humana, catalogando dados outros, como ganho familiar, aí sim estabelecendo a divisão mais doída nesse povo dos brasis.
Os fundos dos grotões e vilas acolhem o que seria a divisão, financeiramente, desse povo, em camadas que a própria segregação esconde. Somos sensíveis ao trato que certos povos dão aos seus cidadãos, seja dividindo em castas ou em gêneros, escancaradamente distintos. (a mais visível aberração de costumes é a condenação ao apedrejamento daquela senhora no Irã) mas não nos condoemos com o trato que nosso país dá aos seus cidadãos, indefesos por herança de pouco ou nenhum estudo familiar, que os prende às correntes dos trabalhos “nos vinhedos de outrem”. Segregados por um salário de fome, aviltados por uma ajuda de merrecas para que não morram de vez.
O censo mostra que somos um povo, nem branco nem negro, mestiço. Mas separados em A B C D E ...e sabe-se lá aonde chega a miséria até o Z dessa classificação! Aí sim, estamos divididos em donos de vinhedos e cuidadores de outrem.
Entre claros e escuros, a estatística aponta o “embranquecimento”social de escuros e o “escurecimento” de claros, quando uns e outros sobem ou descem na escala declasses,financeiramenteanotados. Quando os mais claros empobrecem,”escurecem”no conceito arraigado. Então, visivelmente a segregação, antes de qualquer outra, é monetária. Ao par dessa segregação estão os projetos de governos, direcionados aos grandes projetos, como um trem bala entre duas cidades, num país carente de ferrovias de norte a sul, (segundo um grande construtor, o custo dessa obra poderia estender trilhos de Porto Alegre a Belém). Exemplos como este com viadutos fenomenais, estádios suntuosos, obras de grande porte e serventia elitisada, são os tópicos de campanha, vide o problema dos aeroportos...sim, com problemas, mas, num país onde quase metade da população não é servida de água e esgoto, luz e escola, hospital e lazer, que alcançariam as camadas “de cor”, a prioridade é segregatícia ou não?
Quando o próprio censo distingue os donos dos vinhedos, voltamos aos tempos salomônicos, no século X a.C.?!

sábado, 14 de agosto de 2010

verbas


O Ministro da saúde Jose Gomes Temporão cansou de reclamar da má administração dos órgãos ligados ao seu ministério mas dirigidos pelos apadrinhados do partido, o PMDB, depois de várias declarações, foi instado pelo presidente da república a se retratar perante os caciques do partido que manda na área. Sob o guarda-chuvas imenso o PMDB controla 9% do PIB, onde aloca verbas para seus aliados ao seu bel prazer. Só o ex-presidente Sarney tem sob sua caneta mais de 60 bilhões em verbas, sem contar os menores dentro do esquema, é preciso lembrar que o processado tantas vezes, Jader Barbalho, detém 5,5 bilhões em verbas . Assim, o ministro que reclamava da má administração da Funasa, (Fundação Nacional de Saúde)que deveria estar cuidando dos indígenas e os deixa no abandono(vide a morte de tantas crianças guarani-caiová por desnutrição)e, que declarou como corrupta a administração do órgão, teve que morder a língua, dizendo que estava falando da administração passada, (que também era do partido). A Funasa tem uma historia de 18 anos de anarquia, dos seus 33 mil funcionários, cerca de mil eram preenchidos por apadrinhados até o governo passado, que restringiu por decreto os cargos de diretoria a funcionários de carreira com mais de cinco anos em postos de chefia. Numa penada o atual presidente revogou tal decreto e já admitiu 5 mil apadrinhados até agora! Para amansar os insaciáveis pemedebistas, o presidente injetou na última semana mais l,6 bilhão na veia dos chefetes da saúde, ao tempo em que o ministro pede retenção de verbas por não estarem sendo aplicadas corretamente, pode?
O ministro vem sendo caçado por seus partidários faz tempo, por preferir contratar técnicos para o seu ministério, recusando apadrinhados, como fez quando nomeou a auditora do Tribunal de Contas da União, Márcia Bassit, para examinar todos os contratos , convênios e indicações do ministério, o que cassou indicados pelo partidão para diretorias de ninhos de ratos como a Funasa.
Esse episódio dá amostra de como os políticos se mordem mutuamente por cargos e verbas, de como são insaciáveis por dinheiro, mesmo que sujo, de como têm parâmetros tão pequenos. Só há a dizer que, para pessoas de valores tão mesquinhos, quando perdidos esses valores, o que sobra para eles?!
Das maracutaias (i)legais

Diz um grande jurista que, com os recursos admissíveis nos trâmites de um processo, um advogado mediano o estica por dez anos e um bom advogado por vinte! Temos assistido barbaridades na justiça brasileira, principalmente nos fóruns de primeira instância. Para um leigo como eu a justiça aplicada desse modo promove a prorrogação de débitos com prejuízos imensuráveis, e nada se pode fazer, aos olhos da lei.
A imprensa noticia hoje uma dessas aberrações: O processo do mensalão, correndo na Suprema Corte, vem se arrastando lentamente, o relator do caso , o Ministro do STF Joaquim Barbosa, está preocupado com a parada indigesta, ouviu até agora 41 pessoas, testemunhas da acusação do escândalo. A defesa apresentou como testemunhas de sua parte nada menos do que 641 pessoas, pode?! Esses supostos juradores da verdade, nada mais que a verdade, começarão a ser ouvidos em dezembro, pela média de tempo até agora, terminará a agonia de ouvi-los em SEIS anos! Isso sem contar com as estratégias(perniciosas) de advogados, de fornecer endereços errados para atrasar processos. E não adianta pernejar, caro litigante de província, que, se isso está ocorrendo com um ministro da Suprema Corte, imagina com você, mero cidadão chamado comum...Havia uma perspectiva de julgar os trinta e nove acusados até 2011, esquece...que, voltando ao jurista acima, estamos longe dos vinte anos programados...
O poder de legislar cabe à Câmara e ao Senado, (ao judiciário cabe cumprir tais leis), que, como se vê através do tempo, entupiu de emendas e leis complementares, ordinárias, delegadas e decretos legislativos que, juntadas às medidas provisórias do executivo, que também legisla, estabelecem um inferno na vida do cidadão. Sem querer desmerecer nenhum cargo, os elegidos pelo povo, em geral, são ignorantes em relação ao que legislam, ou, nós, eleitores é que o somos quando elegemos leigos para legislar em nosso nome. Não adianta muito ter uma suprema corte de 11 magistrados sabidamente instruídos se têm de obedecer o estabelecido por um poder sabidamente matreiro e esgarrado da verdade.
Há que se perguntar: Se a lei já não vale para punir, para que vale?
Sergio Donadio.Blogspot.com
As ilusões (e desilusões)da ótica

Foi sancionado pelo Presidente da Republica o projeto de iniciativa do MCCE(Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral) subscrito por mais de 4 milhões de cidadãos. Viva o movimento!?
Antes de gritar viva em uníssono, é preciso esmiuçar a mente do Senador Francisco Dornelles, que, em defesa talvez de companheiros “malufados”, alterou a redação do projeto, de “que tenham sido condenados” para “que forem condenados” empurrando para candidatos futuros a obrigação (óbvia) de que tenham ficha limpa, isentando os atuais próceres dessa qualificação. O absurdo, semântico, (segundo o presidente do TSE) pode melar o sonho de 193 milhões de cidadãos brasileiros, de ver cuidando de nossos direitos, pessoas que tenham no mínimo a ficha limpa, já que não se exige, nem se pede por favor, que tenham capacidade intelectual e moral para tais encargos. Elementos que se candidatam, e são eleitos pela destreza de manipulação dos votos cabrestados pelas promessas e ameaças, continuarão candidatíssimos, já que tais precauções não entram nas manchas que possam sujar suas fichas de bons meninos(as).
O projeto torna inelegíveis cidadãos que pratiquem crimes dolosos(intencionais)contra economia popular, administração publica, patrimônio privado e meio ambiente
Primeira ilusão: Para surtir o devido efeito, imediato, a lei precisa ser sancionada pelo judiciário até 8 de junho próximo?(Estou em 5 de junho), até a publicação dessa já saberemos se foi ou não sancionada.
Segunda ilusão: É preciso um colegiado de dois ou mais juizes para concretizar-se, embutindo aí um recurso a ser apreciado.
Terceira ilusão:os “inelegibilizados” têm 15 dias para entrar com recurso suspensivo em instância superior...
Para quem já conhece de perto a morosidade desses caminhos é de se esperar muitos atalhos nessa trilha. E como se sabe que boa parte de nossos indignos representantes candidatos a inelegíveis, estão respondendo processos de ação civil, o que não afeta sua condição, que só atingirá processos criminais, é de esperar sentado a verdadeira punição aos culpados por dilapidar não apenas os cofres mas a consciência de cidadãos, parias de uma legislação canhestra, que não alcança os alvos verdadeiros, ops. Esperemos a promulgação de tal lei.
Discípulos que somos de São Tomé, só acreditaremos vendo.
sergiodonadio.blogspot.com.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O dono do mundinho


"Irmãos, não me julgueis pelo abandono dessas sombras"
"Não me julgueis pelo que fui e jamais fui e sempre serei, pois de não ser vou sendo"
"não me julgueis por ter começado meu caminho naquela canoa"
"Perdoai-me por dizer a Deus que Ele não pode pisar meu caminho"
"eu fui ferido pelos vampiros gigantes"
Esses versos são extraídos dos "marimbondos de fogo" de José Sarney, declarações soltas, fora de contexto, mas, que por si, formam um novo contexto dentro do atual contexto. O poeta Sarney, membro (da cadeira 38) da Academia Brasileira de Letras, faz um mea culpa nesse palavreado, pedindo que não seja julgado pelo abandono
Das sombras, pelo que foi, é e será, porque, segundo ele, de não ser vai sendo... Explicado está, que para bom entendedor meia palavra bosta. Pede perdão por ter começado pelo caminho errado, mas julga-se além da lei de Deus, como está comprovado que está além da lei dos homens, diga-se, de seus pares, na enferrujada sede do congresso nacional, e completa dizendo-se ferido pelos vampiros, quem é ferido por vampiros vira vampiro, diz a lenda...
Este senhor octogenário é um vencedor, começou a vida nos confins do Maranhão, estado do qual é dono, pobre estado, que conseguiu deixar mais pobre ainda,
Manda no Amapá, outro com as calças nas mãos, tem uma bela família, toda instalada no governo central, conseguiu se maquiar de governador a senador, sem ter sido nenhum dos dois de verdade, ganha o maior salário do senado (52 mil reais), é membro da Academia! Não é qualquer Zé que tem poder sobre tantas coisas, nem sendo vampiro! É considerado o último coronel, ufa!
Falando nisto, a pior conseqüência dessa briga de foice é justamente a volta do coronelismo ao país que tanto sofreu nas décadas passadas nas mãos desses truculentos "coronéis". A volta de Renan e Collor na defesa de Sarney é uma amostra azeda do que teremos pela frente. Essas figuras vampirescas rondam o poder com tal veemência que assusta por sua periculosidade na manha de corromper governos fracos e se sobrepor às idéias e ideais progressistas, que vêm norteando as cabeças pensantes, mas poucas, desse congresso manietado.
Na nossa vida provinciana estamos acostumados a ver pessoas dessa idade com o respeito que as figuras deles merecem. É duro olhar para um homem de oitenta anos e ver tal canalhice. O que mais quer uma pessoa que já chegou onde almejaria um cidadão dessa idade? É preciso avisar o velhinho que estamos em 2009. Ele vive os tempos passados, sua mente o está traindo, tadinho, quando ele pergunta, na sua surdez e senilidade, do que o acusam.
A presença dos invisíveis


Neste fim de ano, desejando um feliz natal a todos, quero relembrar Gabriel o Pensador, quando fala da invisibilidade dos cidadãos de profissões "periféricas", como catadores de papel, coletores de garrafas pet, garis, faxineiros, entre tantos outros, que vivem no mesmo ambiente dos bancários, profissionais liberais, comerciantes, balconistas, industriais, mas que são invisíveis, na sua informalidade forçada. Fazendo um trabalho tão digno quanto o dos outros, mas não reconhecido como tal. Peço que o leitor faça uma indagação à sua consciência: Você trata igualmente sua faxineira, seu gari, seu coletor de lixo, como trata seu médico, seu advogado, seu atendente bancário? Você conhece pelo nome, ou, mais pragmaticamente, reconhece uma dessas pessoas se a vir fora do ambiente de trabalho dela? Você cumprimenta o gari de sua rua? Você atende o catador de pet com a mesma atenção com que atende o vendedor de seguros? Se não estiver mentindo para si, reconhecerá que não. Que não dá a devida atenção ao cidadão que limpa sua sujeira, que lava e passa sua roupa, que recolhe seus restos nas lixeiras fétidas das ruas...bom momento de mudar de atitude.
Dia desses, vi gerente e funcionários de uma loja, de queixo caído, quando o catador dos papelões que a mesma loja descarta diariamente, comprou um aparelho eletroeletrônico da loja e pagou mil reais em dinheiro vivo. Aparelho que os funcionários da loja não têm.
(Do outro lado dessa moeda, um amigo industrial, que encerrou sua atividade no mesmo ano em que eu encerrei(depois de quarenta anos, no meu caso) viu-se nessa situação, como eu também senti na pele, de se tornar invisível para alguns companheiros de profissão, pessoas com as quais convivia diariamente, em reuniões, em viagens, em situações idênticas de problemas iguais, resolvidos em conjunto, que agora, (friso: em alguns casos), não o viam mais, mesmo que sua presença fosse notória. A mim feriu bastante, como a todos que conheço, aquele momento de distanciamento, já cicatrizado pelo tempo.)
Por isso, por esses que se sentem invisíveis perante a sociedade, neste natal quero desejar a todos que se presenteiem com mudanças de atitudes frente aos menos aquinhoados, senão pela sorte, pela oportunidade ou mesmo pela capacidade. Exercendo profissões tão mal vistas, mas que são tão dignas quanto as outras citadas.
Lembremos que o natal é o aniversário de Uma Pessoa que pregava justamente a igualdade!
Tudo igual, ou piorou?



Tudo parece sempre igual, mas tudo é, ao mesmo tempo, perverso demais para ser igual ao ontem. Por volta de l789, 220 anos atrás, o Brasil tinha uma população de 2,5 milhões de habitantes, concentrados em sua maioria em Pernambuco, Bahia, Minas, Rio e São Paulo, distribuídos em capitanias. A grosso modo, já com uma composição étnica bem diversificada, com uma sociedade majoritariamente urbana, até mesmo nas regiões de engenhos, onde se formavam vilas, voltadas para grandes latifúndios, “governado” pelos “fidalgos do reino”, proprietários de terras e escravos e não escravos,
que praticamente substituíam o poder publico.
Pois bem, essa característica de desigualdades, muito bem mostrada por Gilberto Freire, em “Casa grande e senzala”, embora minimizada, persiste ainda hoje. A confissão disto é, entre outras, a criação de cotas para minorias negras e índias. Sendo gritante a disparidade entre ricos e pobres, essas cotas deveriam incluir outras etnias nas mesmas situações de penúria, onde brancos, por exemplo, nas periferias, são tão miseráveis quanto...
Mas, a coincidência de situações dois séculos depois, abrange todos os cantos do país, hoje com uma população de 190 milhões! Fala-se muito nos progressos conseguidos, sem duvida os há, mas persiste, insisto, a disparidade, muito visível nas situações de favelados, dentro e fora das literais favelas, ou melhor, comunidades, carentes, famintas de tantas fomes diversas...
Você, pai de família mais ou menos colocado, nesta escala escabrosa, que tem seu filho alimentado, vestido, com sua dentição tratada, (veja que estou colocando o mínimo para sobrevivência) com seu estudo regular, já parou para pensar naquele outro brasileiro, pai como você, que mora nos caixotes de papel e lona, e não tem esse mínimo para seu filho? Já parou para pensar que daí, dessa miserabilidade é que se extrai o dinheiro para as mansões de luxo, vizinhas das favelas?
Você, que comprou um carro por 60 mil reais, já pensou que o trabalhador braçal (que é braçal por falta de oportunidade de se instruir melhor) tem de trabalhar QUATRO MIL dias para receber o valor deste carro, bruto? E, depois de suados quatro mil dias, tem de ver que comeu mal, vestiu-se pior ainda, não saiu dos seus caixotes de moradia, não comprou uma TV nova, ou o que o valha, e continua no mesmo calejado trabalho braçal, enquanto você já trocou aquele carro de 60 mil por outro, novo, umas cinco vezes, e comeu bem, vestiu-se melhor ainda, conheceu novas praias, melhorou sua casa, etc...Você é o fidalgo do reino!
Voltando a l789, o fidalgo da época vivia na casa grande, mas sem nada do que tem a morada de hoje, quer dizer, as diferenças talvez fossem menos acachapantes do que hoje.
Das fábulas atualizadas


Reportando à sátira de Jonathan Swift “modesta proposta” escrita em 1729 e relembrada por Cristovam Buarque em 2007, que tratava do abandono das crianças numa época sombria em seu pais, a Irlanda. O escritor “propunha” tirar o fardo que significava a criação dessas crianças sobre a vida dos pais e do país, vendendo-as para as famílias ricas “degustarem” nos banquetes como fina iguaria...
Esta crônica de horror escandaliza, à primeira vista, nosso humanismo contrário ao canibalismo! Mas, ao mesmo tempo, nossa condição de ser humano aceita a antropofágica criação de crianças para servir, nas mais degradantes condições, aos prazeres da “mesa”, por assim dizer, o que não é muito diferente da sátira proposta pelo autor. Senão vejamos: as cenas de rua em todo mundo, mais doído no micro cosmo que é nossa cidade, de pessoas esmolando na avenida, nas portas dos bancos e lojas, com suas presas nos braços, visivelmente desnutridas, desvestidas, sujas de atrair moscas, com seus olhinhos implorando uma solução menos sofrida para suas mazelas, e, que não horrorizam às pessoas que passam, fingem o que vêm, jogam uma moeda, e vão embora...pois bem, na visão extrema de Swift, essas pessoas, NÓS, estamos comprando essas crianças, nossas consciências, e deglutindo em nossa mesa a miserabilidade vista naquele momento. O que dói é a naturalidade com que aceitamos esse canibalismo, lento, gradual, horrendo, assistido comodamente de nossos lares bem nutridos, com nossos filhos à mesa, degustando em vez de suas carnes tenras, as vidas daquelas, vendidas à exploração de todo tipo, da sexual à perversão de trabalhos danosos, que imolam pouco a pouco essas vidas, conservadas vivas para tais fins. Ao lado dessas, as crianças abandonadas em nossas ruas, igualmente consumíveis por essa sociedade cega, que passa ao largo das ruelas, onde crianças brincam suas vidas, expostas ao lume das mentes canibais, que as consomem de todas as formas com que se as possa consumir.
Voltando à “proposta” de swift, nosso neocanibalismo talvez esteja fazendo sofrer mais as mães que não vêm solução para seus filhos, e, principalmente, as crianças, que não sabem o quanto são deglutidas morosamente pela sociedade constituída, que não planejou essa leva de filhos de ninguém, abandonados à própria sorte, quando ainda não podem se defender sozinhos, da ferocidade de ser humano.
Olhando friamente, algo está distorcido quando o macho alfa não se preocupa com a manutenção da espécie, instinto básico para sobrevivência do próprio. Coisa aprendida nos primórdios da vida na terra, anterior à conscientização de nossos atos, enquanto humanos.
Se, desses atos resultou tal abandono de princípios, melhor seria voltar ao troglodítico tempo de eliminar o mais fraco, simplesmente.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Os fichas mal lavadas


O projeto ficha limpa tencionava expurgar da próxima eleição os mais canalhas, entre os menos visados, alguns de parcas habilidades aplaudiam tal iniciativa. Qual o que... nesse país das terras tomadas e retomadas, dos processos que envelhecem junto com seus processadores e morrem de inanição antes daqueles, é quase impossível vetar a iniciativa gananciosa de candidatos, que se locupletam de mandatos para usurpar o povo que ironicamente prometeram defender. Já dizia meu velho pai que: “Se você estiver mentindo, estará mentindo para você mesmo” sei que a inconsciência de tais fajutos (exatamente por sua fajutice) passa por cima de tais conceitos e ignora olhares de soslaio de seus eleitores, quando vistos a passear por suas cidades de origem, despreocupados até a próxima campanha do que pensam os que os elegeram, cientes de que até lá estará esquecida sua mediocridade de ladrão de colarinho branco, engomado para segurar em pé a cara de pau derretendo sais de sem-vergonhice costumeira.
Esta rede de ponto miúdo só pega lambari, os peixes maiores se safam. Como se pode engolir a candidatura do maior deles nesse momento, o predador dos cerrados Joaquim Roriz, que, carregado de processos, está na dianteira nas pesquisas, liberado pela prescrição de processo que só agora foi analisado em primeira instância?! E a cara de pau do Sr. Maluf, fazendo prescrever todos os processos sobre ele, contratando uma legião de advogados para tanto? Com que cara fica o Ministério Público de São Paulo, que esmiuçou o trajeto da dinheirama surrupiada das obras e enviada para paraísos fiscais, analisou 270 mil documentos bancários e pinçou informações com uma centena de autoridades em quatro paises, investindo para isso sei lá quantos milhões do povo brasileiro, para ver agora prescrever tudo, levado pela enxurrada fétida da morosidade?!
Com que cara ficamos nós, cidadãos, que assinamos o tal projeto e aplaudimos?! Com que cara ficam os que não roubaram?! Com que cara ficam as autoridades que deixaram escapar tais predadores, por causa da linha inadequada de suas fisgas?!
Segundo o TSE, quinze por cento das candidaturas deverão ser cassadas. Deduzindo-se daí que 85% têm ficha limpa? Duvidoo... tem muito cidadão decente nesse país, mas poucos desses estão na política, e, uma ínfima parcela dos que tentam, se candidatam para servir seu país. É de conhecimento primário a leniência do povo brasileiro com as maracutaias em geral, de uma sociedade que considera normal pagar propinas, desde flanelinhas aos flanelões, às autoridades que fiscalizam nossas estradas e nossas vidas, aos cala bocas miúdos em certas ocasiões, aos porteiros, aos carregadores, aos legisladores...para quase tudo existe um caixinha, que deriva em aceitar situações porque os eleitos são pinçados dessa sociedade transgressora, então...
Arquive-se.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos “homens bons aos sangue ruim”


Somos 135 milhões de eleitores. Aptos a votar? Críticos “abalizados” dizem que não, que uma população de analfabetos funcionais que preenche metade dos eleitores habilitados, cidadãos que, ou não sabem ler mesmo, ou apenas assinam o nome, ou lêem mas não entendem o que leram, não estão aptos para escolher seus elegidos. Pois bem, na época do Brasil colônia a regra distinguia como eleitor ou candidato apenas os chamados “homens bons”, que eram selecionados numa estirpe que excluía os “sangue ruim”, ou como se dizia: ‘infectos”, índios, negros, judeus e mouros, ou ainda os que exerciam trabalhos manuais. Quer dizer, votavam os nobres ou proprietários graúdos. Deu no que?!
Na época imperial o critério se ligava ao valor da renda. Deu no que deu...
Nesse rol de exigências, as mulheres só se habilitaram em 1932. os analfabetos em 1985, os cidadãos entre 16 e 18 anos em 1989. Mudou o que?
A entrada dos sangue ruim nessa briga estendeu o direito (que alguns chamam de obrigação) de voto a todos os cidadãos brasileiros acima de 16 anos. Adianta o que?
Adianta que quanto mais gente der o pitaco na formação de um governo, mais se dilui a responsabilidade de viver sob o mando desse governante. Talvez seja bom para a nação, mas a verdade desde 1500 é que os mandatários, que deveriam servir o povo, servem-se do povo. Evidente que um regime fechado empobrece a qualidade dos governantes, que democraticamente eleitos sentem maior responsabilidade de prestar contas do que fazem. Mas, historicamente continuam fazendo como bem querem...
Segundo os “abalizados” críticos, os menos informados seriam sujeitos a serem manipulados mais facilmente. Entende-se por menos informados justamente os com dificuldade de leitura? O academicismo eleva à condição de informado em assuntos gerais os doutores ou donos de fortunas, como nos tempos dos “homens bons”. Pedindo desculpas aos que realmente se informam, quero discordar desses críticos. Tendo ouvido discursos deploráveis de homens bons e discursos memoráveis de sangues ruins,
Misturo as pedras desse tabuleiro para exercer o direito de não julgar por demérito. Apenas pela condição que assistimos ainda hoje de classificação de castas, não é possível mensurar capacidade eletiva.
Essa crítica exacerbada tenta anular o voto do menos letrado. Não é por aí, o que é preciso fazer é dar mais chance de instrução à camada menos informada, da que vê o voto como uma dentadura nova, à que vê a eleição como feriado para viajar.

sergiodonadio.blogspot.com

domingo, 25 de julho de 2010

Garatujas das pichações


Bem maior que o quarteirão de casa
É a visão que me tem assustado,
Do mundo,

Esse mundo que atravessa meus intestinos
pensares
E torna-se em mim profundo,

E me faz mágoas e sonhos
E me põe em atraso com a vida que passa.
São muitas paredes pintadas de nada

E todas iguais, de formas profundas...
E uma vista de olhar cansado de mundos...
De ver paredes,

paredes forradas
De cores sonhadas e cores sujas,
E cores...de sujas palavras.
Caixa de palavras


Na minha caixa de palavras
Tem umas de sentido frouxo,
Acabrunhadas dentro das sacas,
Com agulhas e linhas e os lápis,
Desperguntados...

Apenas umas poucas inda vivem,
Entre as desencantadas...
Algumas fugiram na memória,
Outras a memória foge delas,
Pobres coitadas,

mal vindas em suas lavras,
Assim abandonadas à margem
do caderno,
Com as agulhas tortas e
as linhas quebradas...

Uma pena,
Da minha caixa de palavras
Poucas sobrevivem ao clivo
De seletiva escolha magra
À que me ative.
Como se...



Como se te perdesse,
Assim te encontro...
longe, ou ao menos alongada,
Na visão amarela de meus
olhos baços.

Como se te perdesse,
Assim te acarinho...
Como fora última acarinhada
Presença de nossos
laços.

Como se te perdesse,
Assim se embaça
Entre as tantas formas que
sei distantes,
É que te acho,

Como se te perdesse...
Em meu espaço.
Nesse enlace vejo teus olhos
Mareados fitando à distância
meu cansaço...
reações


Se procurares bem,
Entre meus risos,
Encontrarás a lágrima
Que é preciso.

Com a vista alongando os infinitos
Eu sonhava ser grande, em menino.
Como caberia no meu sonho acanhado
As grandes infinidades do infinito?

Vagueando pelas ruas e trilhos frios
Esperava um trem das onze, ao meu dia,
Ficava olhando, presos nas janelinhas,
Aqueles olhares querendo ficar comigo,

E eu, querendo viajar aqueles sonhos
E uma mochila de pão, sem vinho.
Apenas as palavras se me vinham
A procurar amigos nos desconhecidos,

Que iam embora, entre
lágrimas, já sem risos,
assim, tão prontamente
quanto vinham.
Já que o assunto é futebol...


Caro leitor, já ouviu falar desse time: Zé Maria, Oscar, Levy, Pinheiro, Souza, Rui Costa, Mario, Plínio, Ciro e Eymael, no gol Marina? Reservas: Dilma, José Serra, agora você reconhece, não é? Esses TREZE formam a seleção brasileira de candidatos à presidência da república, pode? Como não falamos de futebol, pode. Desses, sete estarão nos debates televisivos, pelo menos têm esse direito. Os outros seis são coadjuvantes, cidadãos que se lançam candidatos correndo por fora (bem por fora...)
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL , José Maria Eymael do PSDC, Zé Maria do PSTU, Rui Costa Pimenta do PCO, têm alguma visibilidade de outros carnavais, agora, Levy Fidelix do PRTB, Oscar Silva do PHS, Ivan Pinheiro do PCB, Mario de Oliveira do PT do B, Américo de Souza do PSL, Ciro Moura do PTC, desconheço...
Os esgrimistas que duelam para valer, Dilma e Serra, têm as mesmas chances de disputar a caneca, já Marina Silva vem para comer poeira e jogar areia. E os outros, por que se esfalfam em uma corrida em que não têm cacife nem para arrancar na partida?
Que me lembre, são 27 os partidos legalizados no Brasil, então, teoricamente, podemos ter 27 candidatos. Temos 13, um bom número para confundir a cabeça do eleitor. Senão vejamos, o PCO (partido da causa operária)com 3 mil filiados, pretende o que, lançando candidato? Como definir causa operária isoladamente, já que o PT representa essa causa? Antes, já havia o PTB, depois o PDT, depois o PTC, seguido do PT do B, e do PRTB em seguida PSTU, PTN e ufa...redefinindo o trabalhismo como cristão, brasileiro, unificado, dividido em tantos que só pode ser para confundir.
Sem contar que estão em processo de legalização mediocridades como o MNN (Movimento negação da negação) mais 26 desse naipe! Para não errar eu ficaria com o PPB(Partido pirata, do Brasil, lógico) Pensa que estou brincando? Alguém está, não eu!
Não é difícil entender essa proliferação de partidos políticos numa época de cordas soltas...só para lembrar: Um candidato a prefeito, sem nenhuma chance, dizia para quem quisesse ouvir que não se candidatava a vereador, porque poderia ter chance(?) ele recebeu as caixas com santinhos, acompanhadas sempre de chequinhos, distribuiu os santinhos, comprou uma fazenda no Mato Grosso com os chequinhos e safou-se de ser eleito, o que daria muito trabalho e pouco mais de grana...
Dança dos partidos: coerente: PRP (Partido Republicano Paulista) no tempo do Império, incoerente: PL (Partido Liberal)na mesma época. Histórico: PI (Partido Integralista) na segunda república.provisório:ARENA(Aliança Renovadora Nacional) corajoso: MDB(Movimento Democrático Brasileiro) bom senso:PV(Partido Verde)...
Este é um ano picotado, e entre as eleições de outubro e a copa do mundo de junho, melhor esquentar com a primeira, mais levada a sério, mais coerente, mais ufanada pelo patriotismo das bandeirinhas...de resto, eleição para ser levada a sério, deveria se dar ao respeito, da seriedade dos candidatos, que, já nesse começo estão perdendo a linha, e com o tempo vão perder o carretel..
Sergiodonadio.blogspot.com
Geração botãozinho

Essa nova geração se perde em virtualidades exacerbadas. Engraçado, porque em época recente o virtual seria denominado irreal, como em início do século passado o irreal seria quimérico, das quimeras a que aludiam os poetas para designar o virtual. A principio a quimera desenhava o impossível, irrealizável, a utopia, que na mitologia grega era um monstro, mistura de cabra, leão e dragão. Até hoje o “bicho de sete cabeças”, que na quimera atual veste-se bem no monstro informática e invade a (in)consciência coletiva. Não se fala mais a língua pátria, mundo afora, se fala em “informatiquez”, uma linguagem q corta vogais e vc se perde nas consoantes vazias, sem nexo para o analfabeto em abreviações. Dia desses não consegui decifrar um bilhete, que dizia textualmente: vc pg fot. Fac.? Traduzido para: Você pagou a fotografia da faculdade? Mas, para vingar esse corte, existe o outro monstro, o “enche lingüiça” das articulações jurídicas, onde um documento se estende por tantas laudas que perde o fio da meada, nos meandros. Enfim, é a lógica às avessas de: se puder complicar, por que simplificar?
Num texto de 1970, um lapso de tempo, o articulista escreve: ”agora que se apagam os fogos e as armas são ensarilhadas, pode-se fazer o balanço da carnificina chamada vestibular. As famílias onde crepitaram fogueiras durante meses, estão exaustas, pelos vitoriosos e pelos fracassados. Nada mais requintado em maquiavelismo do que a queima das provas, para evitar protestos. É a supressão do hábeas corpus na meritocracia, e os examinadores declarados infalíveis”... e por aí vai, por mais duas páginas, discorrendo nessa linguagem o tempo das quimeras, na historia que não muda, O que acontece, e aconteceu em todos os tempos, é um duelo. Nesse mundo tecnológico as armas são mais sofisticadas, não se esgrima mais com simples espadas ou se enfrenta com cartucheiras. O não acesso à computação é uma sentença de morte sociológica, que degrada e degreda o “mais fraco”. A antes luta corporal, agora é puramente mental, e o despreparado, por ineficiência do Estado em prover esse preparo, tende a ser vitimado pela massacrante máquina de cursos paralelos, e caros, elitizando as oportunidades, aí contida a computação ao nível de competir com outros profissionais. Olhando com uma lente mais apurada veremos que, mesmo para os vitoriosos, (como em qualquer guerra) o campo de batalha é um massacre.
O que a modernidade explica que já não estava no DNA da vida? Desde os tempos dos gladiadores os fortes ganham as batalhas, mesmo perdendo a razão. Então continua tudo a mesmice de antes, apenas as armas se modernizaram, mas não a pessoa.
A lógica da escolaridade é esdrúxula, conta a história que ela começa com os cursos superiores, para depois criar as escolas de níveis médio e elementar, assim, o curso primário teria surgido a menos de 200 anos, forçado pela progressão dos cursos científicos e tecnológicos, que exigiram crianças preparadas para tais empreitas. Hoje alguns lugares adotam a escolarização total, desde o berço, para que as novas gerações, com seus botões, digladiem em igualdade de condições. Isto pode, na tentativa de formar apenas vitoriosos, criar uma legião de fracassados, pela igualdade de erros?
sergio.donadio@yahoo.com

sábado, 10 de julho de 2010

Escolados
As mãos passadas premem o corrimão,
Velam por nós, que voejamos...
Plantam-se flores em gretas de paredes,
Limo nas juntas dos tijolos,
Verdes presentes no tempo.

Do que esquecemos a foto lembra:
As pernas mortas do Rubens, o riso
Sarcástico do Osvaldo, o rítmico humor
Do Osmar, a ranzinza do Paulinho,
Vivos na fotografia.

As mãos passadas conduzem as nossas,
Afagam cicatrizes de somenos...
Presentes agora num sentimento vago,
Limo nos ossos vencidos
Presente nos verdes tempos idos.

Do que deslembramos a foto lembra:
As pernas lentas do professor Agenor,
Professor Veloso fora do tempo,
O maneta Carsino desenhando quadrados,
Vivos na não fotografia.

As mãos dos mortos estão presentes,
É preciso lhes pedir licença para
Demolir os muros, as saudades,
Semeadas nas heras em flor,
Desse intenso passado.
Os pardais na janela

Estou aqui, vendo passar a janela
Um senhor, branco de longamente
Morto, inda capengando sua trela
De bagagem mínima, um tamanco,
Aquela bengala herdada do vizinho,
Que já morreu de vez, sem ela...

Estou aqui, vendo voar nesta janela
Esses pardais, vivamente inteiros,
Decifro, como não antes tenha visto,
Porque os pardais não envelhecem
De sofrer...é que não teimam a vida,
Que só é vida se possível de viver.

Desta janela é possível ver o lento
Despencar das faces frente o vento
Em rajadas que a idade de relento
Traz na bagagem de muletas doídas,
Como fora a tarde de cada vida uma
Estranha forma de viver, morrendo.
berçário


Ver esses bebês
Sorrindo a vida
Acorda assustada
Aquela idéia

De que eles,
por estarem vindo,
Empurram-me
para fora dela.

Desse mundo que
já me é estranho,
Quando parte de mim
Explora, implora,

E a outra se arvora,
desse corpo arcado,
Encharcado as dores
a memória exangue.

Se estiver sonhando,
Me acorde o choro,
Que a vida continua
Belo desaforo.
Onze horas


A janela se fecha.
O quarto é cego, é surdo, é mudo,
Apenas o compasso da chuva lembra
Que anoiteceu outra vez,

Escuro das idéias que ficaram
zunindo na cabeça
Desda manhã, e não fogem,
Param de atormentar os deveres.

Passa a ser rotina pendurar idéias
Nesses varais de esperas, e,
Apenas perguntar ao quarto
Se amanheceu já sua dor

De cego, surdo e mudo ante o
Ficar, imóvel, olhando ao espelho
A janela que fecha, no escuro,
As parições da luz.
Extenues


Esses barcos fantasmas
Sacodem a água de redor
Trazem os amigos passados
De um passado tão pior
Que a evolução deixou ficar
Entre os resíduos do pó.

Esses barcos...ah, esses barcos
Que trafegam nas sombras
Dos pensamentos obscuros
E procuram a lágrima
Onde havia de sorrir
Antes das águas virarem raiz.

Esses barcos emborcados
À idéia de sofrer amanhãs
Ainda navegam límpidos
Sobre as idéias que fugiram
De memórias lesadas e
Se põem à mostra da dor.

Esses barcos, esses barcos
Apenas navegam sonhos
Que se foram com os vãos
De fatos sangrados à dor
E sufocam o que seria
Força de rebentar o não ir.
amansamentos


Você está esmaltando
as unhas
Para que a fera não imiscua?


Lembra a leoa, de
guardadas unhas, que o veterinário
corta, à medo,
quando ela ameaça romper
amarras e soltar-se à toda fera
escondida nas mesuras
De uma carne de almoço
E um cafuné no pescoço
Em pelo eriçado da brandura...


Se não pelo medo,
Então, por que você está
Lixando as unhas?
Véio zuza


Muitas vezes o vi passando pela calçada,
Carregando sua história naquele saco
de estórias...
Tinha muito medo das crianças,
As crianças tinham medo dele,
Como concatenar esses sentimentos?
Apenas ficava olhando ele passar
Como quem vai viajar,
No seu buik 51,
Que dizia ter comprado novo...
E sua demonstração de riqueza:
Duas notas miúdas, amassadas, tiradas do bolso.
Sempre que o chamavam de mendigo,
Exibia-se:-
Melhor que vocês, que não têm esse dinheirão...
Na verdade ele não mendigava, morava na rua nossa,
exigia
Todas as manhãs o café, depois o almoço,
vinha como convidado
À porta de toda vizinhança,
que o queria bem,era o guardião
das nossas portas e crianças.
A rua era dele, a rua era sua casa.
De repente não o vi mais, estranho,
Mas ele fora recolhido ao asilo.
Tornando-se um pobre asilado, de nós.

Digitais

Digitais


Essas sujas paredes marrons
Amarelas...
Essas letras comestíveis
Sobre elas...
Essas mãos de crianças, carimbadas
Nelas...

Uma incondicional deferência:
Todas se curvam à mão da criança
E de seu chocolate amargo
Nas terças de madeira e prego

Vistas arranhadas pelas rodas
De suas bicicletas
E tomadas ousadas...
E mãos frenéticas...

Tudo isso é uma cena que passa,
Que lembra um tempo que passa,
Que faz uma lágrima, que fica...
E abraça.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

desassossego


Morreu a casa grande,
De desamparos...
Morreu o pau de sebo,

Os altares...
Morreu a idéia fixa
Das senzalas.

Quando morrerá a ilusão
De raças ímpares neste
Mundo em pares?
Senhor de mim


Meu senhor não deve estar surpreso.
Meu pai não deve estar surpreso.
Meu irmão não deve estar surpreso,
Porque
Sou o que esperavam, pouco...
O que esperavam de mim era quase nada,
Do menino tímido, ao homem tímido.
Do menino pensado ao homem real
Pouca coisa mudou em mim,
Mas mudaram meus irmãos e meus pais,
Para mim.

Meu senhor é que sabe
O que quer que eu saiba...
Isto é, muito pouco, para não incomodar
Mais do que incomodo com meus pensares
E meu ímpeto de dizer meus pensares
Nessas cartas abertas que são meus escritos
Nessa areia de papel
E tinta esferográfica
E um pouco a indecência
De sorrir ainda.
circunstancial


A chuva desta hora é boa,
Pois estou agasalhado nos cobertores,
Mas já tomei pelas costas geladas
A chuva fria das estradas
Nas manhãs sem cobertores.

Aí a chuva era uma miserável derrota...
A chuva era o barro avassalador
Que me colocava no meu ínfimo lugar
De molhado, encalhado, fudido,
miseravelmente conformado,

É, a chuva é boa quando não molha
O travesseiro. Quando não humilha.
Um ser molhado pela chuva
É o mais desprazível da hora,
Sem coberta e sem razão...

Apenas o dorso molhado, a alma esfriada,
O chão escorregando de pés escorridos
E uma sensação de derrota, de vencido
Pela água dimanada testa abaixo,
Além do umbigo.
Já que o assunto é futebol...


Caro leitor, já ouviu falar desse time: Zé Maria, Oscar, Levy, Pinheiro, Souza, Rui Costa, Mario, Plínio, Ciro e Eymael, no gol Marina? Reservas: Dilma, José Serra, agora você reconhece, não é? Esses TREZE formam a seleção brasileira de candidatos à presidência da república, pode? Como não falamos de futebol, pode. Desses, sete estarão nos debates televisivos, pelo menos têm esse direito. Os outros seis são coadjuvantes, cidadãos que se lançam candidatos correndo por fora (bem por fora...)
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL , José Maria Eymael do PSDC, Zé Maria do PSTU, Rui Costa Pimenta do PCO, têm alguma visibilidade de outros carnavais, agora, Levy Fidelix do PRTB, Oscar Silva do PHS, Ivan Pinheiro do PCB, Mario de Oliveira do PT do B, Américo de Souza do PSL, Ciro Moura do PTC, desconheço...
Os esgrimistas que duelam para valer, Dilma e Serra, têm as mesmas chances de disputar a caneca, já Marina Silva vem para comer poeira e jogar areia. E os outros, por que se esfalfam em uma corrida em que não têm cacife nem para arrancar na partida?
Que me lembre, são 27 os partidos legalizados no Brasil, então, teoricamente, podemos ter 27 candidatos. Temos 13, um bom número para confundir a cabeça do eleitor. Senão vejamos, o PCO (partido da causa operária)com 3 mil filiados, pretende o que, lançando candidato? Como definir causa operária isoladamente, já que o PT representa essa causa? Antes, já havia o PTB, depois o PDT, depois o PTC, seguido do PT do B, e do PRTB em seguida PSTU, PTN e ufa...redefinindo o trabalhismo como cristão, brasileiro, unificado, dividido em tantos que só pode ser para confundir.
Sem contar que estão em processo de legalização mediocridades como o MNN (Movimento negação da negação) mais 26 desse naipe! Para não errar eu ficaria com o PPB(Partido pirata, do Brasil, lógico) Pensa que estou brincando? Alguém está, não eu!
Não é difícil entender essa proliferação de partidos políticos numa época de cordas soltas...só para lembrar: Um candidato a prefeito, sem nenhuma chance, dizia para quem quisesse ouvir que não se candidatava a vereador, porque poderia ter chance(?) ele recebeu as caixas com santinhos, acompanhadas sempre de chequinhos, distribuiu os santinhos, comprou uma fazenda no Mato Grosso com os chequinhos e safou-se de ser eleito, o que daria muito trabalho e pouco mais de grana...
Dança dos partidos: coerente: PRP (Partido Republicano Paulista) no tempo do Império, incoerente: PL (Partido Liberal)na mesma época. Histórico: PI (Partido Integralista) na segunda república.provisório:ARENA(Aliança Renovadora Nacional) corajoso: MDB(Movimento Democrático Brasileiro) bom senso:PV(Partido Verde)...
Este é um ano picotado, e entre as eleições de outubro e a copa do mundo de junho, melhor esquentar com a primeira, mais levada a sério, mais coerente, mais ufanada pelo patriotismo das bandeirinhas...de resto, eleição para ser levada a sério, deveria se dar ao respeito, da seriedade dos candidatos, que, já nesse começo estão perdendo a linha, e com o tempo vão perder o carretel..
elegidos


A palavra está gasta.
Então,
Usemos o inverso da palavra:
"Não os perdoai, porque eles sabem o que fazem"
E
O fazem por malícia e impudência,
E
O fazem por aquiescência nossa.
E
Nos permitimos elegê-los líderes
Por canalhismo.
Com o suor de outros
Eles comem o pão e o brioche,
Com a devoção de tantos
Eles se endeusam ,
Com o esquecimento de todos,
Eles voltam.
"Não os perdoai, porque errarão de novo"
Porque errar é, além de humano, gostoso.
Porque errando é que não se aprende,
Se não se arrepende.
"Não os perdoai, porque são nocivos"
Apodrecerão os bons frutos, se na mesma cesta,
Juntos, apodreceremos todos.
"Não os perdoai porque são exemplos"
E, se a palavra está gasta,
Salvemos o exemplo.

Sobre gravatas e pescoços

O Deputado Nelson Camata viu reprovado seu projeto de acabar com a obrigatoriedade do uso de gravata, no Parlamento. Por que será? O episódio lembra Graciliano Ramos: “um silêncio grande envolve o mundo, contudo o que me aflige não é uma voz, é a gravata apertando o pescoço”... metaforicamente a gravata que aperta pescoços não se materializa nessa tira de tecido, mas muito mais, nas vozes do silêncio(grande)que tantos pescoços sofrem, por suas culpas inculpáveis perante os meandros da lei e da ordem estabelecida. Essas vozes apontam, em silêncio, as falcatruas de nossas lideranças, numa conspiração a perseguir insones, que se vêm dedurados por sua (in)consciência.
A vida real muitas vezes imita a ficção, invertendo a ordem natural, que seria o ficcionista se espelhar em fatos para criar factóides em sua procura de assustar consciências pesadas, mas, quando a estória discorre sobre fatos de outrem, minimiza as conseqüências pela improbabilidade de acontecer veridicamente.
Na origem dessas aflições da consciência está a lei natural das conseqüências, que faz com que toda excrescência deixada nas sombras, crie luz própria na solaridade do tempo.
Mas, a gravata metafórica se desenha em todas as páginas da historia. Para não exumar fatos apodrecidos na imemória coletiva, abordemos a última página: a sanha do senador Renan Calheiros, aquele que se safou no processo dos mensaleiros, e está melando o acordo do seu partidão com o governo pela presidência do congresso. Estava tudo acertado entre os (canalhas) líderes, que selaram com o Presidente da República as benesses de sua lista de compensações para o próximo ano, quando surge das sombras esta excrescência cobrando seu lugar ao sol, dizendo que o governo lhe deveria favores e que ele, apeado de tais funções, por improbidade, mereceria ser tratado com mais deferência! Atropelando Sarney, que havia avalizado o acordo, anunciou que o partidão vai lançar candidato próprio. Pura manobra de aperto de gravata. No fim, até fevereiro, depois de muita manobra do toma-lá-dá-cá, com a conta muito mais alta, o governo assumirá (leia-se:comprará) o cargo tão ambicionado.
Mas, isso tudo se resolve fácil, fácil: Afrouxa a gravata.

domingo, 30 de maio de 2010

Catapultas do século XXI

Catapultas do século XXI

Há um ano a imprensa rotulou de insano o ditador Kim Jong-II da Coréia do Norte, que estava testando sua arma nuclear numa região inóspita do país, balançando o poder de fogo entre nações, foi lautamente noticiado que a proliferação nuclear atingira um patamar de perigo imediato. Um ano depois, o dedurado da vez é o Irã, que insanamente enriquece urânio. Esquecem todos os insanos de antes, que a proliferação de armas nucleares, no lugar das chamadas armas “sujas”, vem dos idos de 1940, quando os insanos da época disputavam os cientistas a tapa, para ver quem construiria primeiro a tal arma. Insano por insano, há de se confiar menos na sanidade de Kim e dos ayatolás do que na de Bush e suas ameaças reais, que desmantelou o Iraque afirmando posse de armas, que não apareceram? Quanto de insanidade pode ser medido nas ações de poder demonstradas ao longo da história? Hitler não tinha bomba atômica, Napoleão não tinha, César não tinha, mas todos estes e mais inumeráveis comandantes desse mundo insano perpetraram aniquilação de nações, de etnias inteiras, de inocentes caminhantes desse terreno minado, que é viver em todas as épocas...
Há doze anos atrás os insanos da vez eram o Paquistão e a Índia, que, levados por escaramuças de vizinhos, noticiaram a posse de bombas nucleares, hoje com estoque de SESSENTA ogivas cada! Em 1964, depois de Inglaterra, Rússia e França, a China, na insanidade de seu comando, anunciou sua bomba, hoje com estoque de 180! Depois, em 1966 o belicoso Israel, que ocupou “na marra” territórios de povos vizinhos, inaugurou a sua! Insano por insano, o que dizer desses dois, Estados Unidos e Rússia, que têm o embornal cheio, como fazíamos em criança, com nossas guerras de estilingues e embornais de mamona, com milhares de ogivas cada um?! Depois de se armarem, essas nações assinaram um tratado de não proliferação, não parece piada?
Resta aplaudir paises que abandonaram projetos de armas nucleares, como África do Sul e Líbia, e paises amistosos, como Brasil, que enriquece o urânio precipuamente para energia.
O interessante dessa ameaça toda é que depois de arrasar o Japão em 1945, a bomba esteja quieta até hoje. Não podemos esquecer que estamos sentados sobre ela, onde quer que estejamos. Por paradoxal que seja, a posse desse poder por tantas cabeças inibe o ímpeto guerreiro e ajuda a proteger-nos dessa insanidade.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

a arte de legislar

A arte de legislar

"governar é a arte de criar problemas cujas soluções mantenham a população em suspense" Ezra Pound

Ou, adaptando para os dias políticos de hoje, seria a "arte" de expor problemas para manter a população desatenta aos fatos outros, que interferem mais na vida de cada cidadão, e não está nas prioridades da autoridade em questão, como podemos ver nas exumações dos esqueletos de vinte anos ou mais, de desmandos no legislativo vergonhoso que elegemos nesse tempo todo de asnices eleitoreiras. Um exemplo exemplar: os mais de DUZENTOS servidores de cafezinhos do senado!! Juntados aos DEZ mil funcionários da casa, mumificados entre as quatro paredes ou desintegrados pelo país todo, ou melhor, pelo mundo todo, expondo ao ridículo os caras de pau, senadores que se dizem desinformados sobre o número de capachos a seu serviço, e querem se indignar com fatos comprovados, descritos pela mídia, segundo eles,culpada.
Hoje ostenta vergonhoso numero de quase três mil funcionários "comissionados", desses, quantos fantasmas perambulam pelas ruas?!
O Senado foi aberto em 1826, criou corpo em 1888 com o processo da extinção da escravatura, albergou grandes figuras no decorrer desses 180 anos de existência. Senadores da extirpe de Rui Barboza, entre tantos, se sentiriam ultrajados pelo atual quadro de legisladores (salvo alguns), que se locupletam dos cargos para os quais foram eleitos, e fazem da Casa do povo, sua casa, ou pior, a casa de ninguém, donde se pode extrair todo tipo de benesses, agora sob a chancela de "secreto" para suas farras, desde apadrinhamentos a formação de quadrilhas dentro dessas tantas paredes. Este terceiro pilar do poder está apodrecendo, ferido de morte pelas estripulias de tantos, e pede socorro!
Não vale a pena enumerar as falcatruas pluripartidárias de que somos vítimas, enquanto cidadãos, da atual legislatura, ou de passado recente, pois são tantas e de tal repugnância, que afetam o humor de qualquer um, mas é preciso aumentar a boca do trombone quando se fala de dinheiro público, porque estamos falando do NOSSO dinheiro, dos cinco meses de trabalho de cada cidadão, que é repassado para nossos servidores, pelos quais nos é devida explicação de como, porque e quando foi investido, e, principalmente, o que retorna para o cidadão, dessa quantia monstruosa de grana, que é engolida por esse dragão chamado imposto, e devidamente nomeado, já que imposto mesmo a cada um de nós, desde o cafezinho na esquina ao papel higiênico dos banheiros.
Pois é, velho Ezra, governar não deveria ser criar problemas, mas sim, solucioná-los, sem alarde e sem cara de pau, por pessoas decentes, que temos muitos, no lugar desses crápulas, que não são poucos.

catullês

Quando ouço certos discursos, falando um português enrolado(às vezes em economês, outras vezes em politiquês) lembro, com saudade, do Catullo da Paixão Cearense, que, respondendo a um poeta sulista, sobre seu linguajar caboclo, disse:”Cante lá que eu canto cá”. Era sua explicação para o coloquialismo de seus versos, entendidos por todos, enquanto os ícones da literatura criavam malabarismos Inatingíveis em sua lingüística refinada. Assim ouço ou leio os discursos rebuscados de líderes elitistas. Pequenos burgueses intelectualizados, que sobem à tribuna para derramar citações buscadas nas empoeiradas estantes de seus gabinetes, como faz costumeiramente o senador Mão Santa. Pretensos proletários, que, querendo representar o partido dos trabalhadores, como o caso do ministro Tarso Genro, derramam termos que insultam a classe, como a “referencia fundante “ que ele expeliu em seu palavreado nada claro, cheio de”transgressões etárias”.
Agora, sobre o trabalho do delegado Protógenes no caso do testa de ferro Daniel Dantas, quando ministros dedam a espetacularização da fulanização obstaculando seu trabalho, porque o delegado teria conseguido informações (secretas)da ABIN sobre o verdadeiro dono de tais valores. Mas, senhor Ministro, o documento não é forjado!(como são as palavras para desvio de atenção ao verdadeiro toque na ferida).
Então, frente à razão que a própria razão desconhece, prefiro ficar com o Catullo, que, no seu catullês dá um recado:-Haveis de ver, sonhadores/que de retalho em retalho/andais cosendo uma colcha/de quimeras...ilusória.../um dia, sem dor, sem mágoa/que ela, a glória, a pingo d’água/nos braços do desengano/esse proxeneta rufião/vos deixará solitários/como eternos visionários/com uns farrapos de sudários/para enxugardes as lágrimas/da vossa desilusão.
Assim sendo, e por ser a vida um corrimão só de ida, quando esses discursistas acordarem para a realidade de que é preciso ser de fácil entendimento o que se diz e se escreve, mesmo para eles próprios, que às vezes não lêem o que escreveram, um recado muito claro e coloquial:”escreveu, não leu, o pau comeu”.
Nisso tudo, há mais do que dificuldade de entendimento. Há dificuldade de compreensão, que procriará dificuldades de pensar. Que o raciocínio do ouvinte ou leitor, pressionado pelo desvio de intenções de palavras difíceis, desiste de pensá-las racionais, e, com isso, desiste de opinar ou julgar tais atos. O grande furo na água será o estar falando sozinhos , que já assistimos desoladoramente nas sessões congressuais.