terça-feira, 28 de junho de 2022

 

Aprendimentos

 

Aprendo a viver cada momento,

Desobstruir todo mal pensamento

Na espera pela volta da esperança

Crendo na palavra feito criança...

 

A lembrança é o susto de ontem,

Revigorado na ascensão de hoje,

Os lassos discorrem à meia idade

A relembrar tropeços em passos

 

Deixados em rastros sangreados 

Sobre pedras pisadas de passados

Em formatos sutis às decepções

 

Dada a desaconselhada cincada

Sofrida nas perpetuações aladas

De asas frágeis à voluta enseada

 

 

 

Tempo de esquecimentos

 

Depois de décadas vividas

Entre paixões sobrepujadas

Esquecer insanos atropelos

É quase erosão ressequida...

 

Aqui somemos os males

Distribuídos em halos

De forras desinibidas...

Tempo de esquecimentos

 

De taxas fósseis das idas

Aos quintais de petrinas

Avoadas de seios ilhados

 

Em torno de nossos atos

Desatados de aços latos

De outras telas revividas

 

 

 

Memórias

 

Me esqueci das palavras que

Tenha dito em épocas furtivas...

De quando em quando alertava

A memória de datas festivas,

 

Mas não lembro desses dados,

Escritos à revelia das verdades,

Hoje dessumidas realidades...

Esqueço do que comi de manhã,

 

Esqueço do que extraí de setas,

Mas deixo minha fraca memória 

Escrita em palavras verdadeiras!

 

A alma não envelhece, suspira

A febre do corpo doente, e reza

A amainar a dor lítica da mente

 

 

Retalhos

 

Feita de retalhos,

Costurados pelos

Tempos vividos,

A vida faz sentido

Nos remendos floridos...

Não nos enganemos

Com flores desavisadas

De minutos desavindos...

É dos retalhos emendados

Que se compõem

Os lírios...

 

sergiodonadio

domingo, 19 de junho de 2022

 

A peia

 

A poesia, no poema,

É feita de repentes...

Uma folha que voa

E aterrissa, não cai,

Como a brisa que

Não chove, se esvai...

Como a nuvem que

Se move devagar...

O poema se faz poesia

Quando aterrissa,

Como a maré mareia,

Não mais.

 

sergiodonadio

 

 

 

 

 

 

 

Gabaritando

 

A vida não tem gabarito

Para se medir se está boa,

Média ou ruim...

A vida se faz, assim,

Dona de si, e de mim...

 

 

 

 

 

 

 

Na internet

 

A oferta de cura milagrosa

É um desrespeito à dor alheia...

 

 

 

 

 

A você que me conhece

 

A você que me conhece

Procure disfarçar a pressa...

A você que me conhece

Não desfaça o sorriso pelo riso...

A você que me conhece

Não tema a desgraça de não ter graça,

Que o dia hoje não foi completo,

Faltou a alegria de entristecer-se

Com a alheia patacada...

A você que me conhece

Feche a mente para os olhares

Que vierem repreender-nos

Por felizes de vez apoquentados,

Que o tempo há de viver-nos

Em nossa graça de podermos

Conhecer nossos valores,

Com jaça...

 

 

 

 

Caminho da roça

 

Plantios de milho e carinho,

No milharal a canção do exilio

Ao sabor do sal do suor...

Carreador ladeado de gramas

Onde ciscam passarinhos

À procura de sua colheita

De milho desmanchado

Do sabugo jogado seco

Nesse chão de oportunidades

De sóbrios reinados...

A caminho dessa roça

O inesperado presunçoso

Torrão da seca ao invernado...

 

 

 

 

 

 

 

 

Faz tua prece

 

No dia hoje

Entrega tua vida

Ao sentimento de vencida...

Faz tua prece, tua pedida

De paz na guerra desistida...

Flerte com a esperança

Que te acolhe desde criança

E vai... que o tempo se esvai

Com ou sem tua espera...

Assim estilam velhas promessas

De festa e refusta o sol esteiro

Que te traz preguiça na tarde

E viagem à estela brilhante

De tua ornada esperança... 

 

 

 

 

 

 

 

Pomos

 

Dos desencontros comigo

Trago cicatrizes cerradas

Das longas vias de aviso

Levara arenga de estradas...

 

Por aqui passamos medos

Entre paisagens e nadas

Da força desses degredos

Vistos da ponte em vagas

 

Quanto vivi essa manada

De sentimentos furtivos

Deixados na desesperada

 

Procura de novos trilhos

Entre roseiras e pedradas

Saídas de cortes furtivos

 

 

 

Tempos amenos

 

Parado em hoje

Suplico à memória

Um cisco no olho seco,

Sem desperdício

De lágrimas...

Estive me procurando,

Até me encontrar

Estranhamente ativo

Na orla deste ar...

São os sonhos pequenos

Que me fazem voar

Neste tempo ameno

De expectar...

 

 

 

 

 

 

 

Aprendimentos

 

Aprendo a viver cada momento,

Desobstruir todo mal pensamento

Na espera pela volta da esperança

Crendo na palavra feito criança...

 

A lembrança é o susto de ontem,

Revigorado na ascensão de hoje,

Os lassos discorrem à meia idade

A relembrar tropeços em passos

 

Deixados em rastros sangreados 

Sobre pedras pisadas de passados

Em formatos sutis às decepções

 

Dada a desaconselhada cincada

Sofrida nas perpetuações aladas

De asas frágeis à voluta enseada

 

 

 

Tempo de esquecimentos

 

Depois de décadas vividas

Entre paixões sobrepujadas

Esquecer insanos atropelos

É quase erosão ressequida...

 

Aqui somemos os males

Distribuídos em halos

De forras desinibidas...

Tempo de esquecimentos

 

De taxas fósseis das idas

Aos quintais de petrinas

Avoadas de seios ilhados

 

Em torno de nossos atos

Desatados de aços latos

De outras telas revividas

 

 

 

Memórias

 

Me esqueci das palavras que

Tenha dito em épocas furtivas...

De quando em quando alertava

A memória de datas festivas,

 

Mas não lembro desses dados,

Escritos à revelia das verdades,

Hoje dessumidas realidades...

Esqueço do que comi de manhã,

 

Esqueço do que extraí de setas,

Mas deixo minha fraca memória Escrita em palavras verdadeiras!

 

A alma não envelhece, suspira

A febre do corpo doente, e reza

A amainar a dor lítica da mente

 

 

 

Urtigais

 

Coça... coça... coça...

Só quem sentiu é que sabe

Quanto coça o pelo da urtiga

Na perna nua dos garotos

Dessa época de coceiras...

E meandros e desinterias

Por causa de mascar flores

Para saber-se macho entre

Meninos crassos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Consertadores

 

Acompanho

Reformas ávidas,

De casas e pessoas,

Conserta-se telhados

E ações diversas...

Evitando goteiras

E furos passados...

 

 

 

 

 

 

Brandi minha bandeira

Divergindo de meus pares, conscientemente...

 

 

 

 

retalhos

 

feita de retalhos,

costurados pelo

tempo vivido,

a vida faz sentido

nos remendos floridos...

não nos enganemos

com flores desavisadas

de minutos desavindos...

é dos retalhos emendados

que se compõem

os lírios...

segunda-feira, 6 de junho de 2022

 

Sumidouro

 

Por onde se escoa

A retentiva de pessoas,

Que, se não estão mortas,

Estão esmaecidas na memória,

Como fotos nas enegrecidas

Paredes fumegadas

De um tempo aquecido

À lenha seca despegada

Dos morgados troncos,

Que, como pessoas, cortados

De suas raízes desverdecidas

Neste esquecimento tosco...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dado o adiantado da hora:

 

Por tempo,

Que se perpetua em fato,

Ouço o chamamento

Estupefato.

A causa

É um sombrio retorno

Ao fogo extinto

Em latu sensu empático.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No perceptível desprazer da lida

Abri mão de conceitos e manias

Pra não abrir mão da vera vida...

 

 

 

 

 

 

 

As rugas rabiscadas pelo vivido

Entre atritos e desatritos formam

Este desenho lírico da verdade...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Visto este tempo enevoado

Saio à procura do sol

De dezembro em maio...

 

 

 

 

 

 

 

As cicatrizes nos lembram

A fragilidade dos membros,

E ao tempo se remendam...

 

 

 

 

 

 

 

 

Cansaço

 

Teoricamente

Os dias vão passando...

Vão passando...

Vão passando?

Ou somos nós que ficamos,

Assistindo derrotas?
Os dias se repetem

Com tal insistência

Que cansamos de argui-los

Sobre presenças...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Saldos

 

O que ficou do dia?

A vontade da alegria!

A verdade é problemática:

Obstaculiza toda mentira

Que derrapa à frente...

Assim caminhamos,

Entre tropeços e avessos

Nos encontramos,

O que salda de cada momento?

A saudade d’outros momentos

Menos tensos...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Página em branco

 

Estivemos fabricando luz

No escuro das intenções...

 

 

 

 

 

 

 

 

Do laço é feito promessa,

Que o dia parece pouco

Para quem tem pressa...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

do depois em diante

tudo é tão distante...

 

                                              Serendipity

Serendipity, é o dom de cultivar a consciência para que nos colham descobertas acidentais de coisas inestimáveis, as quais não se esperava, mas que alegram o momento de as descobrir, segundo conscientes. Exemplos: A descoberta de Colombo de um novo continente onde pensava uma ilhota, a vulcanização da borracha por Charles Goodyear, entornando borracha derretida e enxofre sobre uma chapa quente, acidentalmente. Entre tantas, a satisfação das pequenas descobertas imprevistas...  [U1]   Serendipity, para cada um de nós é o momento de desvendadas surpresas que nos colham, que sacudam a rotina e nos façam evoluir. São os acontecimentos despercebidos em outras ocasiões, que nos chamam como surpresas inestimáveis em um dado momento serem atraídos por interesses diversos dos costumeiros. Às vezes, quando nos sentimos bloqueados e surge num repente uma ideia que nos tira da inércia, é o que nos mostra um caminho, que desconhecíamos em outras vezes, por bloqueios de desnecessidades, pois o Serendipity não chega quando estamos satisfeitos e sem curiosidade pelo novo, sem a percepção da falta que surge num vazio de motivos, e nos chega quando insatisfeitos com a mesmice dos ontens, repetida a cada gesto hoje. É quando, procurando um objeto encontramos a saída para o momento, um anel perdido, um pé de meia, uma luva em desuso, que nos atice a memória para algo esquecido entre retratos e bilhetes de consolo, recados que fariam diferença se lidos num outro momento, e que agora puxam a emoção por descobrir um novo sentimento. A agulha num palheiro pode seja este pequeno objeto, antes desimportante, agora acendedor da emoção esquecida na atarefada manhã de um dia, deixado na poeira... Sou avesso a dar conselhos, mas nesta fase de vida, com mais recordação que esperança, posso exemplificar meus motivos: meu Serendipity de agora, quando vejo claramente o que era obscuro antes, ou penso ver, nas coisas simples de cada dia, como passar pela porta dos quartos de meus filhos e netos, e vê-los vazios, sentar à mesa e tomar o lanche a dois, com as cadeiras desocupadas ao redor, escrever sobre isso. Este é o meu momento de curiosamente folhear, não o passado, mas a percepção do atual, com todos os sonhos quase realizados, a espera por eles, talvez no fim da tarde, talvez no fim da semana, talvez no próximo mês... olhando retratos na parede e curioso pelo que estejam fazendo no momento em que assisto sua volta, o que teremos a dizer-nos, que já não sabemos as respostas? O tempo é feito de marés, estando na vazante é preciso se agarrar às raízes, estando na cheia, é preciso soltar-se, a cada idade, somando as outras idades, aproveitar as marés que nos fazem crescer, e a curiosidade é que nos faz aprender, a necessidade nos impulsiona à frente, na procura do Serendipity da vez.


 [U1]