sexta-feira, 30 de novembro de 2018


Estamos revivendo
Pôncio Pilatos e Barrabás,
Artífices do primeiro indulto
Conhecido historicamente,
Com o indulto almejado
Pelos ladrões da atualidade?
Que Cristo será condenado
A carregar essa cruz atual?
Penalizados aos milhares
Pagam suas penas sem pena,
Os indultados serão perdoados
Pelos cidadãos dessa
Res pública?

Sergio Donadio


segunda-feira, 26 de novembro de 2018


A cadeira vazia

Nesses dias,
Vésperas de natais,
Nota-se a ausência de alguém.
Teria morrido ou viajado antes...
Mas só agora, nas vésperas,
Foi notada a falta da sua presença?
A cadeira denota a desistência,
Talvez por ranhuras íntimas,
Talvez por desconsolo...
Nos dias frios a cadeira ocupada
Supria a presença dessa ausência.
Embora já costumeira e useira
Havia um corpo ali,
Mesmo com a alma ausente!
Nesses dias é primordial
Que se assentem as almas
Nas cadeiras vazias...
                           Sergio Donadio

quinta-feira, 22 de novembro de 2018


O silêncio de Deus

No dia da consciência...
(negra, branca, amarelecida)
Ouço algumas vozes, de pastoreios,
Dizendo-se emissários de um deus.
Ouço a cantoria das beatas,
O despreparo ao ignoto,
O ateísmo dos descrentes...
Mas não ouço a resposta de Deus
Com a força que querem uns,
Aos outros a derrota.
Cremos todos em um deus,
Cada um a seu modo,
Dos senhores das almas
Aos senhores dos ouros...
Ouço os materialistas discordarem,
Sem explicativa ou alternativa
Para os fatos de cada tempo,



Chamados milagres... Ou malfeitos.
Mas não ouço a resposta de Deus,
Nem aos bem-feitos!
Benfeitores os há,
Tanto ou mais que malfeitores,
Mas falhos, por feitores.
A resposta não é pela palavra
Que vem dos homens,
Que chama à razão e nos consome.
Ouço a gritaria pelos templos,
Não mais sacrificando cordeiros,
Mas intimidando almas de fracos,
Que cederam ao ferro posto
Na palavra que sangra cada alma,
Tanto ou mais que a chibata.





Mas não ouço a resposta de Deus
A esta escravização franca,
Sem algemas, desconscienciosa,
Açoitada pela miserabilidade imposta
Pelas desigualdades,
Legalizadas por estas amarras,
Impostas à favelização forçada ao fraco,
Doentivadas de sem revolta!
Pode ser justo crianças nos esgotos?
Pode ser justo plantar e não colher?
Mas não ouço a resposta de Deus
Na massificação das fomes,
Por comida, saúde ou cultura...
Na fé dos incautos.






Talvez eu esteja surdo.
Tu vês os meninos famintos?
As mães desesperadas?
Os pais desocupados?
Com suas mentes
Ocupadas pelos predadores?
Eu vejo e ouço!
Invejo tua boa visão
E audição à inaudível palavra
De Deus!

Sergio.donadio@yahoo.com.br

sexta-feira, 16 de novembro de 2018


Cafifes

Estamos buscando
Um trem para a felicidade
Mas
Ele tem
Muitas paradas...
No esforço das verdades,
No sonho das realidades,
No apito das curvas fechadas...
Estamos esperando
A estação felicidade
Depois das estações
Cafifentas... Vagas.






Historicamente

A história faz a vida,
As estórias confundem-na.
Não existem bichos papões
E fadas malvadas...
Apenas pessoas,
E pessoas são mal interpretadas.
Talvez o carrancudo da esquina
Seja doce na lida diária...
Talvez o homem do saco
Esteja com medo dos meninos
E suas pedradas...
As estórias enfeitam os sonhos
Mas a realidade vive-os
Historicamente.




Valências

Não vale o tempo
Que se perde
Arguindo razões
Por descontento...
(Todos temos razão)
Não vale o tempo
Deixado nas filas e paixões...
(Todos sofremos paixões)
Nada singular que o valha
No tempo perdido,
Achado nas horas dormidas,
Quando o que vale
É a emoção do sentido...





Lembrareis

O hoje é severo demais
Com os ontens...
Não preocupemos com isso,
Não moramos mais lá...
Mas deveria haver mais respeito
Pela memória dos gritos...
Pelos caminhos errados...
Pelos conselhos mal dados,
Ou recebidos...
O que o hoje tão abomina
É não poder ser esquecido.
Mas amanhã,
Quando o hoje se tornar ontem,
Será a mesma crítica miragem,
Quase obscena malandragem,
Sobre o que nos passa, e,
Despercebidamente não vemos
Tal passagem.
Para ter sentido

Todos nós
Seremos somente
Um retrato na parede.
Por isso economizemos
Poses e palavras sutis.
Só emitindo
As com sentimento
E algum sorriso
Disfarçando...



quinta-feira, 8 de novembro de 2018


Fundamentos

Eu fundo esperança
Na terra em que piso,
A cada pilar que cavo
No amargo que mastigo,
Na flor que admiro
E não colho...

Eu planto pilar concreto
No abrigo ou desabrigo
Nos sonhos que por certo
Irão viajar comigo
Nas horas feito vidas
Que recolho.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018


                                                             O estilo é o homem
“O estilo é o homem” segundo o Conde de Buffon, frase proferida há mais de 200 anos, continua validada pelas atuações recentes. Em 1989, na primeira eleição direta após o regime militar a disputa foi acirrada, mas acomodou-se no tempo posterior. Em 2010 a polarização nos ofertou uma renhida disputa de achincalho, que parecia repetir a emoção daquele ano pós-militarismo, mas excedeu-se na baixaria. De lá pra cá a ofensão das declarações piorou bastante, o que parecia improvável, mas se tornou verdadeira luta sem regras tácitas. Neste ano o que era ruim piorou, onde o partidismo baixou o nível a tal tema, que velhas amizades se inimizaram a ponto de romper o laço vulnerável de toda relação humana. A carga de impropérios do radicalismo bilateral afetou a percepção de diferenciar propostas reais das incumpríveis, sonhadas, esperadas ouvir sabendo-as anuladas pela própria incoerência, mas acreditadas pela cegueira da idolatrada voz corrente.
A tese “o estilo é o homem” floresceu de vez nesta eleição, contrastando dois extremos que ganharam força firmados nessa teoria, o centro foi deixado de lado num primeiro turno barulhento e pouco esclarecedor de planejamentos governamentais, tomando lugar no segundo turno o radicalismo provocador de ambos os lados, ainda sem projetos confiáveis. É pena que no filtro sobrou isso: Opções entre radicais, incoerentemente aplaudidas pelo eleitorado. Afunda-se aí a esperança de soluções reais de nossos problemas, enquanto cidadãos sujeitos à penúria de meios e a abundância de receios, visto que os dois contendores miraram na insolvência, em vez de na proposição de solução para as desesperadas urgências sob a obrigação estatal, ou seja, nenhum dos dois mostrou plano exequível para a precariedade de nossa saúde, nossa infraestrutura, nossa educação formal, nosso desemprego endêmico, nossa insegurança, nossas diferenças sociais, mais que raciais, entre todas as urgências de um país que foi potência e agora é mendicante de atenção às suas prioridades.  
Voltando ao estilo ser o homem, o que sobrou estilada é uma precária junção de bafos e abafos, coordenada por insultos, mentiras, eufemisticamente glamorizadas fake News, que, de novo não têm nada, autoflagelações impensadas há um tempo, a confundir o eleitorado, amedrontado pela penúria atual e a futura prometida.
Pois bem, terminado pleito, valham-nos os santos protetores! Que o estilo prometido ser o homem não exagere na sua presunção de poder, alienado da obrigação de ser, palpável ao abraço, o governante com olhos voltados para os 200 milhões de cabeças pensantes, sim, esperançosas, apesar de...