segunda-feira, 7 de março de 2011

Lampejo


Alguém está batendo
Nesse coração cansado.
É a guerra das idades e gêneros,
A menina se mostrando
Em saias e mini-blusas,
O apanhado senhor espiando
Entre elas...

Mas esses seios são quebráveis
E esses meneios meneáveis,
Assim alguém sua a vontade
De permanecer entre eles,
Sem quebra-los, frágeis.
Alguém está delirando
Paisagens...

Onde as coisas mudam
As coisas continuam as mesmas:
O velho já esteve moço,
A menina já envelhece modos
E arqueja uma única passada
Entre as blusas, coxas, e
Meras idades.
No fundo azul distante


No fundo azul do longe
O fogo dum sol posto
Acorda o pio dos filhotinhos
Esperando a volta dos pássaros mães
E suas presas do dia,
Como se fora arte.

Assim parece fácil
O romantismo das ribanceiras,
Mas não é tanto, urge esconder
Nos cactos os pios nervosos,
Uma lição de fatos para
Esse bicho homem.

As ondas da água entre
As sombras e as varas das taboas
Assombra a pequena ave,
Que nem voa. A luz dos
Vaga-lumes encanta
A umidade escura de agora.

No fundo azul a noite principia,
Os pios se apagam, dormem
Os últimos bugios. Silêncio.
A noite está queixosa de
Arrependimentos.
Se apaga o dia.
Considerações


Os novos poetas impressionam-se
Pelos velhos temas do amor,
Ganhado ou perdido, tendo ou tido
Pela lua cheia, de guizos,
Pela flor semeada paraíso.

Os poetas velhos, já tão usados,
Aconselham os novos e seus temas
Gastos: Se não tiver a flor,
Florindo sob o luar do incauto,
Atenha-se à dor.

A certo tempo das desesperanças
A natureza de característica brilhante
Um pouco se apaga ao olhar esfalfado,
mesmo ansioso de ainda
Ver essa luz.

Mesmo aí, a fantasia que eu vista
Pode me encontrar deslumbrado
Até em memória do passado,
Nas inocências para ser feliz,
Amedrontado.
assustado


Sentado sobre minha vida
É o momento de analisar cada desdita.
Estou vendo esse mármore
Cansado de tantas bundas, gasto.
Os bancos de madeira dessa igreja
São passado, não agüentaram o tempo,
Como eu.

Lembro do dia em que os tiraram,
Aos pedaços, aos lanhos, levados
Para aquela fogueira inda viva...
Cansado de tantos lenhos, gasto,
Me vejo sendo substituído, ao fogo,
Ao festivo fim de uma noite
Despedida.
numéricos


Estou sendo invadido,
Lesmas sobem pelas paredes da sala,
Cobradores pelas paredes da copa.
Todos invadindo meus recônditos
Lugares
Onde me senti seguro antes

Agora vejo formigas e pernilongos
E parentes querendo
Meu último sangue.
-Estou sendo invadido?
-Não.
-Estou sendo coabitado.
Os filhos delas


O PIB cresceu, você sentiu?
Não?
Porque não foi no seu...

Viste como os governos são
tão bons
Para cuidar de ti, cidadão?

Veja como fazem crescer índices,
De escolaridade, de produção rural
De produção industrial...

Então, como explica porquê
Teu bolso continua vazio?
Nós é que somos um f.d.p.!
desnoticiados


São tantas notícias ruins...
-São muitas?
E as que se esconderam
Nas faces dos anjos?

Das meninas assassinas,
Das que se camuflam
Na seriedade dos mestres,
e são inumeráveis...

Hoje mesmo aqueles dois
Trucidaram aquela moça
Naquela mata perto
Daquela cidade...

São notícias...ainda assim
São tantas desnoticiadas...
São tantas barbáries, por que?
Porque somos humanos...
Cara de anjo


Como as pessoas de meia idade
Ficam tão boazinhas...
(até eu já tive meus momentos...
De vilania)

Será pela impotência...de reagir?
Será pela impotência de estuprar?
Estupro essa expressão diminuta
Das pessoas...

Agora sim, pessoas, não homens
Ou mulheres,
Porque as pessoas se parecem
Muito nas maldades...
matutando


Esses olhos ensolarados
Escondem furtivamente
A escuridão dos pensares...
Ela finge um sorriso de lábios,
Uma nódoa reprimida nas faces,
Esquema bem montado
Enganando os mais frágeis.

Mas, se eu me calasse sobre,
Ninguém saberia o que se passa
Na minha mente abstraída
Desses pensares...inútil
Repensar sorrisos de lábios
Quando o olhar reflete ódio,
Destilado gota a gota.

Agora se faz necessário
O julgamento imparcial
Dessas faces róseas e suas
Mandíbulas penetráveis.
Aqueles olhos, ensolarados,
Anoitecem cedo o mal
Que pudessem ter feito.
Bons tempos


Esta capa de chuva
Acompanha meu trajeto,
Mas são as camisetas de sol
Que envelhecem comigo...

Transitoriamente estamos aqui,
Rasgando as costuras,
Desfiando pedaços frágeis
De nossas existências.

Quem sabe agora eu possa
Argüir dessa capa, sem chuva,
Para que serve, afinal,
Na tarde de sol...
Pierrete


Sob a máscara é possível
Ser outra pessoa, acessível neste dia
Para as fantasias belicosas...
Sim, belicosas, pois é uma peleja a noite
Das esperanças fúteis da espera...

Todo o ano sendo servil ao conceito,
Agora é o fio desfeito da espera.
A hora do som, do samba, do suor
Escorrendo pelos corpos cavernosos...
Atrás da próxima orgia feito prélio.

Pierrete sabe seu valor nessa guerra,
Olhos procuradores sob uma máscara
Encontram olhos entregadores sob
As tensões das luzes e tambores.
O que haverá depois da refrega?
Privilégios


Uma queda vertiginosa sobre
As próprias mensurações
É triste...maldosamente triste,
Extremamente deletério
Pensar-se menor que ontem,
Apesar de tudos...

Você não é obrigado a pensar
Se o cansa o ato contínuo
De fiscalizar seu desatino, mas
É uma questão de raciocínio,
E raciocinar é a única prerrogativa
Que temos a mais que o símio.
brocardo


Eu começo
Com uma letra maiúscula,
Você completa com o
pensamento,
Em maiúsculo momento
De finalizar o poema.

Assim escrevemos juntos
Nossos pensamentos.
A poesia está aqui, como
Um pássaro ou um mosquito,
Rodeando nossas cabeças.
Se deixar

eles podem eternizar
O texto, ou cagar sobre ele...
Depende de nós, de mim,
Descrevendo o começo,
De ti, completando o
pensamento.
extenues


A morte
É plantada junto
Com o nascimento.
Tudo que flore, murcha
em algum outro
momento.


Simples
Como ver brotar
É ver nascer o rebento.
Simples como ver murchar
É ver morrer de vez
O encanecido.

Normal
Como encanecer
Avelhantado ou precoce.
Então, por que choras
A falta desse primo
Plantio, já seco?
Quando e porquês


Quando eu partir,
Que não me partas ao meio.
Estaremos sempre juntos,
Por inteiro.

Ontem fomos à praia,
Você não veio.
Fomos à Curitiba,
Você ligou.

Quando eu partir será assim
Uma praia ou a ida,
Como desta vez primeira,
Com volta presumida.

Quando partires
Retrataremos juntos
As partes viajáveis
Desse mundo...
arroubos


A masculinidade exige
De todos nós uma postura
Entre monstruosidades
E constante doçura...

O gotejamento da fonte
Morro abaixo, escorrendo
Água límpida como sangue
Nas nossas fases...

Eu vacilei algumas vezes
Entre meus dedos clareados
De masculinidade imatura.

Mas aquela idade se agarra
Ao chamado do cão dentro
Do homem vindo criatura.
O desmonte


“O Programa Atitude, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude em parceria com dez municípios paranaenses, completou seu ciclo com uma série de conquistas e resultados nas 34 comunidades onde está sendo executado. Criado para superar o ciclo de violências contra a criança e o adolescente, o Programa é uma iniciativa governamental que visa dar oportunidades de esporte, cultura, lazer e qualificação profissional aos jovens e garantir proteção às crianças e adolescentes. Foi proposto devido à necessidade de intervenção sobre os fatores de risco à violência, no sentido de consolidar uma rede de proteção à criança e ao adolescente formada entre todas as esferas governamentais, organizações não-governamentais e demais setores da sociedade civil. Entre os resultados práticos nas comunidades, percebe-se um grande avanço no fortalecimento da rede de proteção e na mobilização da comunidade em busca de soluções para os problemas locais. O Programa Atitude tem garantido o acesso aos serviços de saúde, educação e assistência social para crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade social.” comentário do jornal desta semana.
Bonito, não é? Pois bem, o programa contratou aproximadamente 200 profissionais, entre sociólogos, psicólogos, educadores e outros, por um ano, prorrogável por mais um ano, coincidentemente findando após as eleições. Passando aí a continuação dos projetos para as prefeituras...acontece que essas 34 comunidades arregimentaram milhares pessoas com atendimentos diversos, diga-se quase sem respaldo das prefeituras à altura das verbas liberadas desde o inicio. Intervieram numa gama de situações de desamparo familiar, criaram situações de sociabilização inéditas nessas comunidades. Agora tem prefeitura simplesmente desmontando o processo, desligando profissionais das áreas, encerrando um trabalho de dois anos, deixando esses adolescentes na mão, como se dizia: “perdidos como cachorro caído de mudança”, esses meninos e meninas que estão tomando um rumo em suas vidas amargas, sendo decepcionados outra vez, por pessoas em quem eles depositaram confiança, entregues outra vez às garras de traficantes e à fuga aos policiais que, a grosso modo, não estão preparados para lidar com tais situações, tratando esses adolescentes sem rumo, por suas situações de desamparo, como bandidos escolados nessas trincheiras. Esses adolescentes são buchas de canhão para veteranos fugitivos de polícia. De resto essa desmobilização gradual deixará em vacância carros, computadores, bibliotecas, entre inúmeros itens que, na maioria das vezes se esvai nos esquecidos porões da memória.
Quem há de responder por mais esse disparate administrativo, que dói ver passar aos olhos vendados das autoridades “competentes”?!
Sergio.donadio@yahoo.com sergiodonadio.blogspot.com./