quarta-feira, 24 de outubro de 2018



Devassa a natureza
Aparentemente nua,
Vestida da certeza
Da força que é sua.








No nunca mais o sempre
Espraia-se em cicatrizes
Secando ou lesando
O que nos faz matrizes...





    Na esteira dos acontecidos
O que te traz dos longes
É indignar-se ao tema
De ter sorrido antes
Que de si se abstenha...
Se o canto foi mesmo este,
Embora em outro clima,
A ilusão que tinhas
E que te tornou tímida
Na esteira dos acontecidos,
A cada tema revivido...
O que te atrasa agora
Que a cinza apaga a chama
Se ainda assim aflora?
O que de si reclama
Se a luz te põe mais bela
Na mostra das cicatrizes?
O que importa no agora
Além do que me dizes?
O que importa é o tema
Que trazes dos teus longes
Perpetrado em níveis
Antes que te abstenha.
A agonia do agora

Ah... Este tempo
Advindo das esperas...
Que mata a esperança
E planta na memória
A saudade d’outro tempo,
Que já foi embora...
Pensado ser verdade
Foi-se em teus pensares
De que viria um dia
O espanar que passasse
A agonia do agora
Realidade.









Rastros

São apenas passos
Chegando às decisões tomadas,
Levados da outra vez
Pelos ventos da mocidade,
Agora se arrastando pela calçada,
São apenas passos...
São apenas passos
Que vêm dos longes a ver
As novidades novas
Do mesmo parecer
À antiga forma do ir-se sem partir
Acobertados nas ações primárias.
São apenas passos
Que veem nas lembranças
Mas nunca viajaram
Como pretendias, e anulados,
Tornam-se teu passado
Em desesperança do ir sem vir
Deixando rastros...


Turbas

As animálias voltam
Ao toque dos sinos
No chamamento
Do velho peregrino...







O agregador menino

No vórtice da ameada
A voz grita memes
Em cima do mourão
Puxando a procissão...






Carrego nos meus dias
O que se diria história,
Não fora as cicatrizes
Trazidas na memória...







Passada a obrigação
De sermos cabalísticos
Volto-me à lonjura
De momentos míticos...








O escrevinhador sonha
Um mundo que não existe.
Se existisse seria o fim
Dos escrevinhados ditos...








A poesia não tem futuro?
Neste mundo cibernético
A poesia não á passado,
É a sobra que deu certo.







Não estão completas
As palavras ditas
Numa noite em festa,
Falta-lhes a realidade
De um canto amargo
Que ficou atravessado
Pra depois da sesta...
Não estão complexas
As inserções vazias
No correr da noite
Se acompanhadas
Desse vinho tosco
E de ideias idas...
Mas se locupletam
As palavras gritadas
No calor da animosidade
Logo depois de despirem-se
Os corpos envilecidos
Pela morna tarde.


Culminâncias

Se o tempo culminar em espera
O que fora doce amarga a hera...
Na descoloração sombria dos desejos
Sibila o gozo empapado beijo
E faz-se do amor seu regaço em pejo.
O que te foi vida palpita o estro
Do encanto daquelas primaveras
Floradas ainda no teu cedo...
A invernal presença desses núncios
Pôs-se a vibrar à anunciação do ledo...
Aqui o agora faz-se realidade
No manto límpido da saudade
A sobra do que te foi desejo.
Para o que sobrevive à memória
Nesta opaca procissão de erros
Lembrando o dia em que foste glória.
Toma das mãos que te acalentavam,
Palmadas em horas de desespero,
Que, afinal, a sobra das horas lesadas
É como este fim de noite tempestuoso,
Deixado aflorar em teu desassossego.


Ao fim das tardes folhas derrubadas
Dizem adeus ao qual faltam palavras,
Visto que esvoaçam até o galho seco
Entre folhagens mortas de passagem
Postas no espaço da antes alegria,
Retratadas na sobra do hoje velho
Bardo descontando dias postos fora...
Por isso o tempo que se faz presente
Impõe-se à saga viajada a outro
Tempo escorrido em horas divididas...
Talvez agora, em que te sobra tempo,
Possas sorrir do choro descontente
De quando o riso não te satisfazia...
Assim, se o tempo passado e presente
Culminarem na espera da doce hera
A descoloração será aberta ao gozo,
O mesmo que telara na antiga raiva
Antes sobrada de impetuosos voos,
Hoje pousando no cansaço afoito
Do dia feito espera, topado morto.

Aviso aos navegantes 2

Não é possível ir adiante
Olhando sempre o reflexo
De sua imagem na água...








Se não puder viver
Como quero
Não quero viver
Como posso.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018


Maliciosamente

Os olhos entregam
A malícia de adivinhar
O que se esconde
Atrás das vestimentas...
Distraidamente
Os olhos se entregam
A perscrutar as evidências
Que desconvencias
Com seus gestos sutis...
É, maliciosamente
Os olhos percorrem
O proibido às mãos
Salientes...








Indigências

O reflexo
Desta lua cheia
Sobre o lago
Faz a água
Querer-se lua...








Vivo carreando os nadas
do que é feito tudo...
Grito ao teu passo mal dado
Ou fico mudo?




Idílios

Viajamos os espaços
Tempo de nossas vidas...
Únicas nos tropeços nas pedras
Soltas pelos descaminhos.
Nos fizemos fortes,
De mãos dadas nos torvelinhos
Enfrentados pelos caminhos
Consequentes de nossos atos.
Desatados nós idílicos idílios,
Feito caracóis dos ventos
Remoinhados vínicos...
Somamos nossos feitos
Aos deles, demos nosso jeito
Aos rejeitos advindos
Das intentadas forças...
Cruzamos juntos
Os cabos tormentosos
Tornando-os de esperança,
Trança por trança...
Em ti começaria de novo
Ao tempo de criança.
Mechadas

Eu queria esta senhora
De cansadas mãos postas
A receber a dádiva esperada,
Não apenas a promessa a cumprir-se
Mas a que nem foi dada a exigir-se!
Eu queria desta senhora
As mãos espalmadas
Na alegria de rever seus dias idos
E novamente sorrir à dor levada
E chorar a alegria de servi-los...
Eu queria que esta senhora
Tivesse mãos para suprir as faltas
Desses meninos que se foram cedo
Às armadilhas armadas
Desse tempo lírico de mechadas...
Eu queria chorar por esta senhora
Que sozinha costura suas dores
E rui-se do que foi uma vida
Entre tantos açoites.


Fases

Aqui, sentado
Nesta cadeira,
No meio da noite
Esperada estar pronto,
Me trafego ao meu íntimo,
Passageiro de tantos sonhos,
Desistidor de tantas batalhas,
Despertado para a realidade
De que o tempo me apressa,
Me abraça, me aperta contra...
Dias e dias sentado
Nesta cadeira, nas noites idas
Entre sonhos e desistências
E o sentimento de partidas...







Coalescentes

Coalescido
Te procuro agora,
Visto que passamos
Do riso à glória
De ter sobrevivido
Sem ter ido embora...
Seremos coagidos
A percorrer o mesmo trecho
Vencido antes?
Hoje, dado por vencido,
Perscrutando sentimentos
E sentidos
Na vã promessa de ir
Sem ter vivido
Àquela nostalgia...
Tempos que se foram,
Outros veem chegando
Entre floradas e invernos
Duros de nos dizer perenes
Peremptoriamente
A que temos obedecido.
Entrementes

Não é que eu
Não queira discutir
Tristezas...
É que já suporto
As minhas
Dolorosamente.
Passemos então
Às boas recordações,
Aos bons fluidos,
À singeleza do cantar
De minha neta,
Por exemplo,
Sempre presente...
As teorias de meu neto,
Hoje ausente...
As peripécias do dia,
Entrementes... 






Nós estamos
A colher o que plantamos...
Esta florada dispendiosa,
Cara aos nossos valores
Desprezados, apreendidos
No pós-guerra e aperfeiçoados
Nas miragens de novos tempos...
Que não vieram.

São guerreiros em tempos de paz!
Somos cobaias
Aos novos experimentos
Que plantamos
Esperando serem melhores
Que nós... E desabamos.






Como tu

Como tu,
Por onde andei
Deixei pegadas, umas furtivas,
Outras atrevidamente frágeis...
Mas sempre escancaradas
Ao passo que tive, andado,
Como quem surrupiou
O outro lado.
Como tu,
Por onde não andei
Também deixei pegadas
De minhas vontades
De ir, não indo...
Paralisado pelos medos
Das madrugadas...
Como tu.





Ousadias

Ouso pensar
Que acordo em pranto
Que me parece acalanto...
Ouso querer
Que tudo pareça novo
De novo,
Mesmo em não o sendo
Entre as dores de hoje
E a audácia de ontem...
Ouso correr
Atrás dessas ficanças
Daqueles trechos íngremes
De não voltar...
Ouso...
Que ousar me cabe
Em sonhos que arruais
A esta distância.




Veteranos

Estamos costurando as horas
Nessa colcha de retalhos,
Peça por peça com seus bordados...
Parece que nos detivemos
Em algum lugar no tempo...
Onde um idoso encontra a morte?
Num passeio a beira do rio?
Numa cama acolchoada?
Numa rua em dia de frio?
Um idoso está a esperar o momento...
Disciplinadamente.
O jovem não tem este discernimento,
Procura a morte entre colisões
E assaltos à razão...
Pena vê-los com suas próteses
Ganhadas na própria demolição
A cada esquina, fumando sua vida
Em decomposição.





Você pode quebrar
Os retratos na tua parede,
A memória dos momentos
Contidos neles, não...








Por que dói tanto
O verso demovido?
Porque os versos
Esfaqueiam motivos.







sexta-feira, 12 de outubro de 2018


    Nossas espadas de pau
Estamos discutindo as idolatrias desse século XXI como exageradamente simbólicas. Como as cores das bandeiras dos partidos e das mentes partidárias. Com o pensamento voltado para os legisladores que foram destronados nessa última eleição, e sua consequente troca de deveres e haveres, frente às culpabilidades ou não, em processos emperrados nos foros privilegiados, e que deixam de sê-lo, e se assustam pela realidade momentânea. Pois bem, para começar o raciocínio sobre o assunto, voltemos a Roma antiga e suas simbologias, naquele tempo os soldados eram endeusados, quase quanto os políticos curraleiros de hoje, também formavam seus currais e na baixa de suas ações guerreiras eram agraciados com espadas de madeira, em troca de suas espadas de aço, usadas nas batalhas, como símbolos da força. Parece-lhes um absurdo a troca de espadas de aço por espadas de pau? Pois bem, mal comparando, as trocas de hoje vão de barganhas de ideias por papel moeda, os cargos ministeriais aos perdedores das eleições, as espadas de pau da atualidade, à troca de elogios por ofensas, comumente execrados pelos votantes, agraciados com símbolos de poder, como prêmios consoladores. Nossas espadas de pau são altamente comercializadas para acalmar consciências, a impunidade dos mercadores de ontem, remanejados aos mercadores de hoje, enquanto a situação geral dos cidadãos comuns se deteriora na orgia de cargos e encargos e recargo sobre os mesmos ombros de sempre.  Tiradas suas espadas de aço, voltando à sua vida “civil”, descobrem, nossos “soldados” que privilégios são caros demais para suas novas situações, filas em aeroportos, em atendimentos, queira de extrema urgência, tipo hospitalares, ou de casualidades como mercados e bancos, despojados de “sua excelência” tornam-se de segunda classe, na sua visão, ao nível de seus eleitores de antes, opositores de hoje, e caminham ressabiados pelas beiras das calçadas, resmungando suas perdas e descachados dos seus quadrados, deixados vagar pelas mesmas filas que ignoravam, tornam-se vulneráveis. Das antigas leis de servidão ou posse, como de Talião, que determinava a punição na mesma forma do crime praticado, às novas leis de soltura com tornozeleiras, passou um tempo, legislado por benevolências praticadas em causa própria, como visto nos atuais processos liberadores de grandes criminosos e perpetuadores de pena aos pequenos, vistos assim pela posse de suas “espadas”, defendidas com precariedade pelos seus iguais. Vencido o tempo das talionadas, vivemos o tempo das canetadas, perpetradas pelos juízes das ações em tantas instâncias quanto necessárias para filtrar as penas devidas, tornando-as indevidas. Pena que se valorize assim tão baixo um trabalho que já foi sublimado na sua essência, ao peso da toga. Estou tentando dissociar o momento político de momento fraudado, desenhado uma coisa como outra. Enfim, o que se vê nesses tempos de espadas mal lavradas em paus podres é a proliferação de cupins em suas entranças desvestidas de tais valores.

domingo, 7 de outubro de 2018


Ciclos (in)governáveis
Comecemos este ciclo de meias verdades.
Eleito o próximo burgo desta burguesia
Façamos as contas das travas à idolatria:
Quantos votos será preciso para governar
As próprias pernas doridas de caminhar
Sozinho?
Todas as formas de ceder serão visitadas,
Dos favores prometidos, imerecidos,
À disfunção de privilégios, à larga...
Assim veremos o zarpar do barco,
A baía cheia de “cadáveres” a interromper
O passo mal dado.
Quem será o mais chegado visitante
Desse legado?
Façamos desse ciclo verdades inteiras,
Fora das fanfarronices, das bebedeiras...
Há ainda pais educando filhos a palmada
E filhos dando de ombros à autoridade...
Seremos assim cidadãos da palmatória?
Vermos assim as pedras desfazerem-se
Nas ruelas esburacadas?
Sermos novamente os bobos desta corte
Dissimulada?
Então, o que seremos agora, abertas
As últimas urnas encalacradas
Desse votatório?
Que cartório vai autenticar
Que eras tu, Cura, o próximo Brutus
Dessa empreitada?
Todas as vezes elegidos foram
Salvos das denúncias fraudadas,
Depois contaminados.
As más gestões cobram um preço
Muito alto aos retardatários.
Assim como seremos sempre
Necessários neste dia, apenas neste.
Depois desnecessariados...
Outra vez o passo manca?
Quem será o privilegiado
Desse legado?
Somos uma turba interessante...
Olhe bem o sorriso do eleitorado,
A promessa em troco da promessa,
O voto desmembrado da decência
Não é voto, é um cabresto
Desavergonhado.
Que é das ruelas esburacadas?
Novamente abobalhados votamos
Na pessoa errada?
Então, o que seremos agora,
amarfanhados nesse voto, De otários?
Pensar que não merecemos tanto...
Apenas licenciosidades sobre a mesa
E uma espera que não finda cedo
Tornando velhacos os meninos lesos.
Espera aí, senhores, que a história
É feita de demoras e sossegos,
Depois de lufa lufa pelo voto
O aviltamento da ética pelo peso.
Como serás amanhã cedo, sendo
Metafórica amanhã o todo sempre
Neste futuro que encaras à frente.
As manhãs dos amanhãs virão
Caindo pedras desse dominó
Manchado pela ação de cada dia,
Derrubadas pela mão do afago.
Quem pode garantir estes vindouros
Dias melhores que o passado?
Serás tu, Cura, o pródigo governado?
Ou governarás tua cabeça
A vida de milhares?
Desgraçado é aquele prometido
E mal pago.
Veremos se a euforia faz sentido
Depois do amanhã certificado.
A plebe que exalta não é mendiga,
O burgo deve ser bem governado
Que a volta da roldana é o perigo
Atropelando vossas senhorias
Se ficarem prostrados em abrigos.
Comecemos este ciclo sem meias
verdades, eleito o burgo desta burguesia
Faça conta das travas à idolatria.
Terás as pernas que são preciso
Para caminhares só ao desabrigo?
Enquanto as pedras se desfazem,
Outras caminharão contigo.