quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O sol das laranjeiras


As laranjeiras brotam
novamente...
Há muitos sóis para cada uma delas
E um olhar de fome à espera...
Quem trouxe esta semente?
Quem trouxe a esperança
Nessas flores brancas chamativas?
Que trouxe beija-flores e abelhas...

Exatamente esse ponto, neste dia,
A expectativa?
Só pode mesmo ser um ser onipresente,
Sabedor das paixões dos beija-flores
E das abelhas,
Que cultivarão o mel das laranjeiras
E farão beijar outras,
Tão brejeiras...
caminhadas


As terras por onde andei
Andam comigo...
Aonde quer que eu vá
As avisto,

torres de cal branca
Postes alongados e cães
Cuidando seus domados.

Uma fileira interminável
De vendedores e compradores
Num frenesi de comprados.

Aonde quer que eu vá
Andam comigo
Minhas ofertas de mais ser
Do que consigo.










Ocorrências


As asas se partiram,
O cão está coxo.
São banalidades
de agosto?

E quando apartamos
Vociferados seres
Mordentes e ridentes
De desgosto?

O pombo já não voa,
O cão alardeia a dor,
O homem silencia,
Vitorioso?

Apenas se esconde
Nas abrasivas formas
De ser macho e viril
De novo.
distúrbios


A noite,
realmente disturba
o cão sem dono,
Ele late
para a sombra de uma folha
Que o vento abana...

Mas, que diabo faz esse cão
A esta hora surda,
Procurando espantar folhas
Na muda?

Fico me vendo
neste cão sem dono,
Como eu sem dono, disturbado
E acordado

entre latidos que não dei
E a espera de ainda poder
ladrar ao escuro pra espantar
O susto.
Na igreja


O encanto de estar aqui
Não são os santos, os altares, mas
A suntuosidade do silêncio.
oportunidades


Se tua procura
Deu na loucura,
Não importa,

A lida é um fechar
E abrir constante
De portas.
Água mole em pedra dura...


O Programa Internacional de Avaliação de alunos (Pisa) analisando o nível de aprendizado dos alunos de 15 anos de idade em cincoenta e sete paises, vai encontrar a terra dos brasis em 52º em ciência, 54º em matemática e 49º em linguagem. Este momento, dos 15 anos, é quando o aluno deve estar terminando o curso básico, esse teste é feito a cada três anos nessas matérias primordiais para qualquer ascensão futura, concluindo que nossos jovens vão competir com os dessas outras 57 escolaridades, há que se chegar à conclusão de que já entram no jogo apanhando...
Não querendo ser pessimista, aviso aos meninos que o mundo compõem-se de mais de duzentos paises, mas, forçado a ser realista, na maioria desses paises a chance é mínima de se dar bem, por diferenças culturais, lingüísticas, as oportunidades se afunilam e sobra para investir num projeto de vida poucos portos acolhedores, desses, todos os outros meninos dos 57 paises estão na mesma fila, que anda...
Olhando mais à frente, na pós-graduação, é que podemos mensurar a perda. Hoje, os alunos que patinaram aos quinze anos, antes, somam míseros 58 mil graduandos, graduados pesquisando temos 200 mil, frente a 900 mil na Rússia, país com nível de vida comparado ao nosso. Enquanto apenas 20% se matriculam em pós no Brasil, no Peru e Chile somam 60%. Coréia e Finlândia matriculam 100%! A fila anda...
Há dois modos de um país crescer: aumentando produção e ou aumentando produtividade. Só há um modo perene, aumento de produtividade. A finitude da primeira opção é a saturação, por esforço físico de horas trabalhadas a mais ou por exaustão do capital de giro. A segunda opção, se bem cimentada em cursos, desde o primário, não satura nem se fina antecipadamente, tende a crescer sempre.
De vinte a trinta por cento dos alunos do 4° ano do primeiro grau, que deveriam estar com 11 anos, já têm 15. quer dizer, estão patinando cedo. Esse problema vem desde o inicio da escolarização, infelizmente a criança não é alfabetizada nos primeiros anos, o que resulta em “alfabetizados” que não conseguem entender textos simples de leitura, como competir profissionalmente?
Fico triste em ver a realidade desse abandono. Qualquer um de nós já se defrontou com jovens que sonham ir para outros países, de “primeiro mundo” lavar pratos, cuidar de crianças, faxinar casas dos outros...e por aí afora, por que? Porque não têm preparo para coisas mais intelectuais. É vergonhoso mas é verdade.
A alfabetização em massa já acontece no Uruguai e na Argentina há 100 anos! Nos paises desenvolvidos há 200 anos! Se formos comparar o desenvolvimento de nossa educaçao com o da medicina e da industria, segundo Gustavo Ioschpe, craque no assunto, estaríamos operando cirurgias sem anestesia e carros a vapor.
Estou batendo nessa mesma tecla porque é hora de pensar nos próximos comandantes, no que prometem e no que, de sensato, podem fazer pela educação. Água mole em pedra dura...
sergiodonadio.blogspot.com
Profissão: Político!


Faz tempo que política, a partidária principalmente, virou profissão? O engajamento político deveria ser sempre um compromisso de se dar algo à nação, não de esperar ser pago por isso. O ser humano é um animal político. Quando se insere nas ações políticas da sociedade em que vive, o intuito é de ajudar sua comunidade. Mas, em todos os tempos esse ideal parece deturpado pelo cinismo de usar o degrau que lhe confere a ação política, a partidária principalmente, para se mostrar “benevolente” e dar cunho à famosa frase: Fazer mesura com o chapéu alheio.Quando um cidadão é chamado(ou se oferece)para disputar um cargo eletivo, normalmente o primeiro degrau é a câmara de vereadores, parece que ele já assume a paternidade das mazelas da cidade, oferecendo desde carona a materiais diversos para socorrer emergências ou carências do eleitor, (se o cidadão não for eleitor, não tem nem bom dia), se eleito, passa a ser padrinho informal de seu bairro inteiro.
Desde quando política se tornou profissão? A ação política é aberta a todo cidadão eleitor, profissão?: Carpinteiro, médico, ferreiro, até auxiliar de...é profissão. Política não, política é ação de cidadania. Mesmo parecendo ingenuidade, deveria ser regra a disposição de servir, sem ser recompensado financeiramente, sua comunidade, esta que te recebe de braços abertos quando você a procura e se estabelece como profissional, seja empregado ou empregador, em qualquer ramo que se ache apto.
Quando o cidadão assume um cargo político, sendo remunerado por seu tempo, não deixa de ser o profissional que já era antes, então não deveria agregar à sua profissão a de político, até porque é uma incumbência passageira. Quando um dentista vereador termina seu mandato, ele continua dentista, isto é sua profissão!
Essa profissionalização do afazer político tem feito com que o elegido lute por sua permanência no espaço estatal, pelo fato de ter perdido espaço no seu verdadeiro fazer profissional, tornando assim dependente de mandato “profissional”. Essa dependência provoca atos de mudança fisiológica acima da ideológica, que faz o interesse inicial mudar de assento, desde que permita a continuidade, às vezes desastrosa.
O espaço estatal parece perder importância quando se reduz à mera posição de profissão ao que almeja ser estadista, condição muito acima de qualquer profissão. Isto é um perigoso parâmetro para o olhar pragmático do cidadão, que passa a ver seu estadista como carreirista, e perde motivação para votar, pilar mestre da democracia, o poder do povo.
sergiodonadio.blogspot.com