domingo, 1 de janeiro de 2012

Não mais que isso


Não mais que isso
O sujeito chega e abraça
O que deveria ser um parco
Bom dia...
Não mais que isso.

Não mais que isso,
Nesta tarde sem sol ou sombras,
O sujeito te conhece mais que tu
Mesmo saiba dos acontecidos...
Não mais que isso

Não mais que isso
De somar momentos e mementos
E trabalhar caretas de expressões
De raiva ou desalento, ou até
Não mais que isso

A oportunidade de zerar as contas
Entre os que te convivem e
Os que te usurpam sentimentos...
E, para este momento o grito
De não mais que isso!




Obras de artes


A vida começa
Quando a gente acorda.
Antes era projeto,
Rascunho,
Mas o contra piso avisa
Que ergueremos paredes
Entre as verdades
E a aceitação das mentiras...
Com um quadro falso de Picasso
Na parede da rua e
Uma porta estratégica
No outro lado
Para a fuga.
De sobra


Eu era apenas um menino...
Mal copiava as lições no quadro
Ele se apagava,
(E na minha memória também)
As coisas desimportavam
Na medida em que não
As entendia ou me entediava...

Mas eu era apenas um menino...
Queria correr a pipa, jogar bola,
Não queria cortar as unhas sujas,
Minha aceitação, sua derrota.
Corri dessas escolas copiosas
De me fazer letrado ou prosa...
Mas eu corria das provas...

Eu fui apenas um menino,
Deseducado de aprender datas
E nomes famosos, todos mortos...
Mas agora, todos mortos, se
Não esquecidos em suas covas,
Insepultos na minha desmemoria.
Eu sou apenas um menino...
Que não foi embora.



desprecisados


Quando as pessoas
“desprecisam”...
É um perigo,
Pensar-se independente
do mundo
Num mundo interdependente,
Global,

E ser lacônico nisso,
Olha, é um perigo.
Perigo de bater nas paredes,
Ter as portas fechadas
para cada ação,

Ter as janelas corridas,
As luzes apagadas...
As mãos recolhidas
Na hora da benção...

Eu não preciso de você
É um perigo
De contaminação.
expressões


A tristeza é sempre verdadeira,
O riso pode ser forjado
Pelas circunstancias...
Não a tristeza que aflora
Nuns olhos molhados,
Mesmo quando todo o resto ri.
desencontros


Ousamos partir quando chegam...
Ousamos chegar quando partem.
Os indecisos estão vindo
Agora que já descalçamos
As provas da revolta decidida antes,
De voltar atrás.






lenitivo


O melhor
dos piores momentos
É que eles
também passam...
cravelhas


A gente fica aqui,
Rabiscando a espera...
Puxando uma chave
Para o próximo poema
Mas
Não é o melhor momento.
Talvez amanhã melhore
Este sol que arde
E essa chave que
não se abre...

















manobras


As coisas acontecem
E desacontecem...
A gente fica tentando
esquecer

A manigância
das coisas sobre
nossos pensamentos
Hostis.

Quando seremos
auto-suficientes
Para descartar
os maus momentos?
lisura


A sinceridade machuca
Ouvidos.
-Duvido
Que se possa reter
Opiniões contrárias
Tanto quanto
Elogios vazios,
Com a mesma garra.



















Balelas


As pessoas bem situadas
Financeiramente
Acham
Que estão bem resolvidas...

Balela,

Com tantos senões
Vão morrer correndo
Atrás da felicidade
Iludível.
Quando tudo se completa


Quando
Tudo está completo
Morre-se
Completamente.

Uma transa
Está completa quando
Surge o fruto dela
Gente,

E nasce
E se procura
E se encontra
E se remonta...

E viaja pelos trens
E viaja pelas chagas
E viaja pelos sonhos
E se desfaz

Quando tudo se completa.






fuga


Tens o subterfúgio
De morrer tentando...

Entendo que nada deu certo.
Entendo que quebrou seus elos,
Entendo que perdeu seus dedos
Além dos anéis, entregues,

Mas tens o subterfúgio
De morrer tentando.
convimos


Em algum lugar
Dentro de ti
Mora o bom menino
Que convive
Com o mau menino,

Personagens ímpares
Que se confrontam
E se afrontam
Continuamente
Pelos dedos em riste.

Em algum lugar guardas
Esses meninos
Que se desamarram
E aos trancos
Se afrontam...

Não ceda!
Pelo amor de Deus,
Não ceda!
Resistir é o que
Faz-te vivo.




flagrante


O sol procura
As pernas descobertas,
A cama acomoda
Apenas dois parceiros,

Nela usufruem
A calma da espera
E a sexualidade latente
Dessas pernas,

Coxas macias,
Mãos levando as partes
Ao orgasmo
Que o sol assiste.

Entre as pernas
Descobertas frias
O impulso propele,
O instinto dá o pulso.

À variação de antes
O sol se perde entre os
Que propuseram a farsa
Desse instante.
Vida de cão


Passa pela frente
Um bicho que parece um homem
No momento em que vejo
Um cão tratado lorde...
O bicho é mesmo um homem
E implora um pão amanhecido
Para conter a morte
Prenunciada na sua fome.

O cão se refestela
Com biscoitos de bacon e mel
E uma tigela de frutas...
A beira da piscina...
O bicho homem é esquecido.
Com sua miséria partida
Nas construções de vidas
A fome amanhecida...










exumação


Os cachos dos cabelos
Reaparecem
Ah... seria bonito
Não fora funesto...

Mas é preciso alçar
O caixão à tona
E buscar os ossos
Partidos em tantos,

E puxar trapos podres
Das guirlandas
E soltar dos cabelos
Os apetrechos de antes.

Agora agregados
Seremos parceiros,
Menina dos cabelos
Encaracolados...

Que já não sabe
Cuida-los nem pretende,
Que são vastas outras
Inúbias prementes
exumação


Os cachos dos cabelos
Reaparecem
Ah... seria bonito
Não fora funesto...

Mas é preciso alçar
O caixão à tona
E buscar os ossos
Partidos em tantos,

E puxar trapos podres
Das guirlandas
E soltar dos cabelos
Os apetrechos de antes.

Agora agregados
Seremos parceiros,
Menina dos cabelos
Encaracolados...

Que já não sabe
Cuida-los nem pretende,
Que são vastas outras
Inúbias prementes



Feliz ano novo


O que a vida traz de amargo
Se levado a sério?
A morte de chita, a macaca
Do Tarzan já morto há tempos?
O câncer de Cristina, a presidente?
A posse de Jader na indecência?
O lento esquecimento?

O que amarga o momento
De passagem de ano novo?
O calor excessivo para o dia...
A mão que tricota as verdades
Esquecidas...
O que vida traz de amargo
Não deve ser levado a sério.












esvaeceres


Olhas o olhar de sede,
Olhas o olhar de fome...
Mas não entendes
Meu olhar de crítica
Ao teu olhar conforme.

Meus sapatos rotos,
Minhas calças sujas,
Os braços encardidos...
Mas não queres ver
Meu franco sorriso.

A maldade guardada
Entre os bons sentidos
Esvaece nas mágoas
De um tempo ter sido
Motivo de saudade.

Tens o olhar de sede
No olhar de fome...
Mas não entendes
Que a mágoa consome
Teu melhor motivo.
esvaeceres


Olhas o olhar de sede,
Olhas o olhar de fome...
Mas não entendes
Meu olhar de crítica
Ao teu olhar conforme.

Meus sapatos rotos,
Minhas calças sujas,
Os braços encardidos...
Mas não queres ver
Meu franco sorriso.

A maldade guardada
Entre os bons sentidos
Esvaece nas mágoas
De um tempo ter sido
Motivo de saudade.

Tens o olhar de sede
No olhar de fome...
Mas não entendes
Que a mágoa consome
Teu melhor motivo.




quarentenas


O tempo,
Numerado em cada ser vivo,
É diferente...
O humano o conta pelas paredes
De suas obras,
O boi pela proximidade
Do cheiro do outro
Sangrando.
Não entendo muito o tempo
De um porco,
Mas ele berra ao ser puxado
Para o seu fim.

O matadouro de todos nós,
Acarneirados nesse tempo,
Puxa um a um, do peixe
Prateado ao frango quarentão...
Que são quarenta dias
Para o humano corredor?
Mas todos nos contamos breves
Entre as tardes de nascer
E as manhãs de partir
De novo.




sina


Dos sete bilhões
De pessoas
Um está morrendo
Neste segundo.
Quem o escolhido
Para o próximo
Sacrifício?

Ousamos tomar
As pílulas,
Trocar as veias, os rins,
Os corações,
as mentes até,

Para ceder
Lugar ao próximo...
Mesmo que sadio
Ou prenhe
Ou pagão...
Será degolado antes
De dizer não.
soluto


Eu serei
Meu próprio cão de guarda.
Evitarei assim
As horas das madrugadas
De ouvir ganidos,
Repetidos choros
Pela fome de outros dias...

Eu serei meu guardião agora,
Não terei mais que arrumar a casa
Nem fechar as portas
Ou travar os medos...
Que o meu medo
Diante de minha ferocidade,
Terá ido embora.












Manuseio dos pensares


Acomoda-me ver
Que as entrelinhas repetem
As linhas escritas...
E não há segredos ou fuxicos

Entre as palavras,
Mesmo as pensadas e não ditas,
Aparecem aqui
Psicografadas.

Mas sou o autor
De minhas próprias derrotas
Para este senso de rever
O dito em cada letra
Desenhada.
FELIZ ANO NOVO!


O tempo...
Para que o tempo se clareou o dia?
As arestas do morro brilham,
As folhas acordam o verde,
O orvalho se despede, choramingas...
Que tempo,
Se para tanto somamos minutos?
Apenas motivos para o absoluto.
Os raios de sol amanhecem antes
No cimo da montanha e descobrem
O verde escuro das árvores,
Elas sorriem... olhem... elas sorriem!
As águas transparecem a cor
Que emprestam ao silvo fino,
Ouvido da pedra, quando escuro.

Vem sol, beija nossas mãos,
Que não alcançam o que desenham
Os olhos na ribanceira...
Vem sol, abraça-nos a alma,
Passeia em nossos leitos
As sombras que produzes,
Procura, no recôndito, a tua!
Nossos braços curtos não alçam
À amplitude, mas têm a mesma ânsia
De criar a luz. Apóia a mão sobre
Nossa febre, dá teu beijo, consola
Velhas vivências, traz, desse
Horizonte lívido a boa nova!

Mostra de que solo tiraste a flor,
Branca, inovada, cheirosa, ensina
Que podemos florir nossa manhã!
Mostra, de teu horto o malmequer
Esquecido, a exemplo de minha dor.
Com teu afago silencioso junta
As folhas que desfolhei ao vento,
Deixa voar para o horizonte
A notícia de que é novo o dia!
Maternal manhã acalma essa dor,
Lembras minha mãe a curar febres,
A aplacar os escuros de meus eus,
A dar vida aos sonhos tantos!





Vem envolver em teu manto
A prometida nova era!
Quando vens, sussurram vozes,
Nasce o claro que anima arestas.
Com essas cores é novo dia!
A céu azul o dia pinta cores,
Os troncos pensos, suas raízes,
Embala sonhos, que é maior
A alma que o tempo medido
Nos ponteiros desses relógios.

Então, para que marcar o tempo,
Se profana a aurora e faz rugas,
Branqueia cabelos, cansa gestos
E exuma a solidão de antes?
Tempo medido que escurece
A primavera em nós e
Custa tantas dores...
È tempo, enfim, de sonhar o novo,
Crescente círculo de otimismos.
Nítida voz que, rainha entre trevas,
Dorme na lembrança
E é real como esperança!