sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

 

Bases sólidas

Reconstruo,

de momento em momento,

cada memento...

uns alicerçados pensamentos,

alguns cobertos pelo musgo

do esquecimento...

refaço ideias antigas

com novo cimento

 

Reconstruo

aqueles valores arcaicos

mas ainda estruturados

nos sentimentos...

 

 

recomponho,

na realidade efêmera dos fatos,

a atemporalidade do riso

frente a cada novo juízo

desmembrado dos lenimentos...

façamos as pazes

com a dor dos tempos

e a dos desmembramentos.

tracemos novos alicerces

ao entendimento,

à razão dos novos planos

de momento em momento,

em pensamento.

sergiodonadio

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

 

Adeuses tardios

 

Já não há estranhamento,

Todos a quem encaro

São velhos conhecidos,

Das pessoas aos utensílios...

 

O adeus do finado

É descuidadamente um até log0.

O que se vai

Ficará numa memória fosca

Que fará reagir verdades

Deixadas quietas

Enquanto a alma se inquieta...

Em volta

Essa balbúrdia satisfaz a reza,

E não digam que ao tempo

Desfez-se a promessa,

 

 

O canto daquele pássaro

É o mesmo da outra manhã,

Embora pareça infausto,

Em torno o vento rege as folhas,

Os carros passam,

As mentes mentem...

Tudo é o mesmo de antes,

Quando vivia este

Que morre novamente.

Voltaremos a o encontrar,

Talvez n’outra viagem,

N’outro ambiente,

Mas será esquecido por hora,

Já que se vai, em silêncio.

 

 

 

 

De tudo, o que parte esquece

Andamentos d’outra parte,

A que não interessa mais...

A caminhada chega ao fim do eito,

Faz parte deste fim o mesmo leito

Em que esbravejavas ao que se faz...

De tudo, o que fica é a verdade,

Inaudita n’outra parte,

A que se apaga por querer-se

Irreal a realidade que se suja

De ficar na alfombra desses ais...

Que queres tu? Que fica?

Se além de ficar se identifica

Com a mesma palavra,

Deixada atrás...

 

 

 

Adeus meninos pedros, ladinos,

Josés, colombinos, alguéns

A dizer que fora bom

O mal vivido desse tempo ido...

Adeus às frases deixadas no ar,

Entre mentiras e invencionices

Que se fizeram verdades ocultas

No mesmo retrato frio das tardes...

Adeus ao que ficou só na saudade

E se dispôs a ser realidade

Num sonho apagado em ais...

Adeus aos que ficam olhando

Este passante despachado antes

De ser-se em vida

O que não foi capaz...

 

 

 

Não me digam nada,

Seja verdade ou inventada

A estória mal contada

Pela irreal realidade vivida

Entre paredes escondida

Da dor deixada doer mais...

Voltemos ao assunto de antes,

D’onde era irrelevante

Se viveria o sonho ou iria adiante

Sem o realizar...

Ainda soltamos a tinta recente

De nossas coniventes cores,

Porque de amores não se vive mais,

Apenas se colore azul o incolor

Sabor do tempo que passou

Em branco...

 

 

De tudo fica a verdade nua

Que se deixou desnudar

Por ser verdade impoluta

E por ser doída demais...

Na praça a mesma estátua

Olha quem passa e não a vê

Entre folhagens florescidas

No que deu a vida...

O que deu à vida?

Esta pergunta irrespondível

Traz a mesma inquietação

De não vivida plena,

Tanto quanto a estátua vê

Ao redor a primavera dispor

Em cores o escasso olor

Da pessoa em si...

 

 

Por mais que se espere a sorte

Neste velório que não sou eu,

Por sorte, e nem és tu,

Que reza a ladainha

Encomendando a alma vizinha

Para além do norte...

Este que vai, descansa?

Talvez mais de em lembrança

Possa voltar à ser criança,

Que a saudade, ou remorso,

Alcança a mesma linha

Que deixou nos trilhos

Que trens levaram para além

Dos muros da esperança...

O sonho desfez-se em nadas

Além das mágoas...

 

 

Por ir-se antes perambula

Entre passantes curiosos

A mesma gula desse tempo eivado

De figuras e passados lentos...

Agora o canto do pássaro

É mais triste,

É que se fecha um ciclo e mostra

Que a primavera existe

Para a ramagem e para o pássaro,

Que insiste em reviver

Momentos idos na realidade

De sonho que não se fez verdade,

Porque sonhado acima

Da fanfarronice...

 

 

 

 

Por fim, o fim deste soldado,

Vestido em farda,

Desvestido em colchas,

Que se vai ao frio da realidade

E não leva mais que a camisa rota

Dessa fase lúdica, deixada ficar

Entre as flores das coroas naturais,

Postas ao lado das velas

E da disponibilidade de lágrimas

A quem não volta mais.

 

 

 

 

 

 

 

Paraíso não é um lugar,

Paraíso é um momento,

Deixado no esquecimento...

 

 

 

 

 

Vamos juntando beiradas

De tudo que nos seja vida,

Aquela flor desfraldada

À outra flor, esquecida...

 

 

 

 

 

 

Quando suprir

Minhas necessidades

Inda sobrará energia para as amabilidades?

 

 

 

 

 

As sobras deste ano

Estão se tornando restos

Devido a seus estragos...

 

 

 

 

 

 

No diz que disse

A vida continua

Quem cuida da do outro

Descuida da sua

 

 

 

 

A que veio a tarde

Que surgiu sorrindo

Entre lágrimas íntimas

Se expandindo?

 

 

 

 

Com o direito de sofrer

 

Indiferente ao uso

Que me fez a vida

Também dela usei

Suas preguiças...

Então viemos juntos

Aos pores de sóis vermelhos

Procurando novos caminhos

Em nossos espelhos...

Cá estamos a usufruir prazeres

Com direito a sofrer

Cada decepção e ir em frente,

Cheios de razão...

 

 

 

 

No fechar do dia

 

Vou fechar os dias

E guardar as noites bem-vindas...

Vou perder à força as utopias

E sangrar meus gestos

Frente ao universo de primazias...

Ao fechar minutos,

Que eu nem queria,

Vou sorrir à hora da nostalgia

E lembrar de coisas não vividas

Em euforia...

Vou tentar sorrir às lágrimas

De me sentir avesso às mágoas

E repensar cada euforia

Nesta fase de alergias,

Inocentemente resguardada

À vida...

Dias soltos    sergiodonadio

 

Passamos juntos um dia solto,

Floreiras assistiam em silêncio

Observando nossos passos lentos

De caminhada aos fatos...

Como quem não queira esgueiram enamorados adolescentes,

Como se soubessem tudo

Em não sabendo nada...

O tempo passa, e ao passar

Deixa esta marca anuviada ao vento...

Todos os passantes olham de lado

Esse perturbado errante,

Que em já tendo aprendido tudo

Se esquece do princípio básico

Da hera: agarrar-se à pedra

E não ceder aos ventos.

Ao longo do cais

 

Cabeças emergem

De um suposto naufrágio,

De cabeças...

Algumas voltam

A tesourar os fatos e boatos,

Outras não voltaram

De seus simulacros...

Ao longo do cais contíguo

Fenece o novo inimigo

E voltam a emergir cabeças

No vazio do trilho...