segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


Assistidores de calendário

Hoje finda um trecho,
Baseado no calendário
Hoje inicia outro trecho...
Mas a felicidade, como a dor,
Não tem dia a se por de pé,
Apenas rege o momento friso,
A cadência básica de se ver
O que passa de choro ou riso
Na pérgola dessa igreja
Chamado ser vivo!

Sergio donadio

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Ciclos
O que a vida nos dá,
A vida nos tira…
Não temos nada de nosso,
Nesse corpo, talvez na alma,
Tudo é empréstimo…
Alguns se resolvem
Armando guerras insanas,
Outros pregando borboletas
Em vidros expostos
Nas paredes de suas salas,
Cabeças de alces, bustos
De heróis… Todos mortos
Nessas trincheiras malfadadas.
O que a vida nos dá,
Além de nadas?
A visão de cada ponto difere
Do outro ponto armado longe.
Para um boêmio o prêmio
É a madrugada… Para um pastor
O prêmio é a alvorada…
Para o pescador, para o laçador,
Para o desembargador…
A dor… A dor da jornada…
O equilíbrio entre manhãs frias
Em mar aberto, desértico,
A pastaria onde se perde a cria
Ou as manhãs condicionadas
Em salas ultra fechadas…
Qual a sua solução ao nada?
Ainda é cedo para finar-se,
Para iniciar-se talvez seja tarde…
O viajor prepara a mala,
Promessa de aventura rara…
O colecionador encontra a gralha
Azul de sua forma inesperada…
Talvez o canto da arara
Seja o dia da redenção…
Talvez o grunhir do bugio
Em plena mata, ou o trem
Em plena cidade fechada…
O que a vida nos dá
A vida leva por enxurrada…
O sangue deixado correr
Ao pé da enxada
É o mesmo da luta armada?
O boi não guerreia mas perde
Sua batalha… O cão apanha,
O menino apanha, o velho apanha…
Quem é o dono da chibata?
A trilha que nos leva adiante
Informa que a fauna errante
Fará do trecho a conclusão usitada:
- tu tens tudo, na tua escolha,
Na recolha vertes ao nada.
Nesse tabuleiro das damas
O astuto tem sua cartada,
O sortudo sua chance vitoriosa
Urdindo peças à sua jogada
Sem a noção, com a mágica
Da sorte escalonada…
De onde verte essa água santa,
Que expõe ideias a talentos,
E faz-se vencedora ao alento
Da fé na mágica?
Nesse tabuleiro as damas
São corriqueiramente usadas,
Queira sobre a mesa posta,
Queira sobre a cama
Desarrumada…
No que a vida nos deu
Sobrou a tarde suarenta
Para a próxima jogada…
A que contrapõe ao sermão
O sermão da igreja, ao sermão
Do ateu convicto da razão.
Ao servir-se o vinho e o queijo
Não há diferença entre eles,
Apenas a mão ao sinal da cruz
E a outra mão jogando as cartas,
Quem se ilude com essa luz,
O patriarca?
Não esqueçamos os soldados mortos
Nessas batalhas ao fazer de conta
Que, surdos, deixamos de ouvir tiros
A nós fadados a perder-se o rumo.
Não esqueçamos que a arma
Agora por eles, soldados, empunhada,
Tem a obscura meta à cabeça errada.
As joias roubadas, corações magoados,
Tudo se julga no mesmo prelo
Desses valores desmaterializados
Em formas sutis de erros
Pela quantia de moeda em cada saco
Aqui mostrado ao magistrado
Cônscio da própria necessidade.
Convenhamos: a vida não nos deu
O que quer de volta no correr
De nossos suores e nossas lágrimas…
Apenas nos emprestou as valas,
As malas, o conteúdo delas,
Seja de roupas ou jararacas…
As valas e as malas vêm cobertas,
Desvendemos o mistério
Entre as nossas sortes e mortes
Na bruta escala.
A ideia de posses é ideia vazia,
Entre as alegrias e alegorias
Há um mistério a ser desvelado
De nosso futuro em nosso passado.
O mal hábito dos cretinos e das hienas
É rir falsamente em cada grunhido,
As fomes se alastram à revelia
Dos condutores dessa manada…
Empresários se iludem com o mando,
Empregados se iludem ser mandados,
Enfim, todos temos a mesma sina,
Somos alvejados pela mesma flecha
Induzida a ferir salvados…
E nada difere entre essas pessoas,
Brancas, negras, amarelas
ou avermelhadas pelo intenso turno
Das trincheiras fabricadas.
Pessoas que mandam em pessoas,
Porque essa é a lei constituída.
Pessoas com amplas janelas abertas
E pessoas com as janelas fechadas,
E até pessoas sem janelas…
Porque essa é a lei constituída.
Gentes correndo em suas rezas,
Gentes bebendo nas calçadas,
Se prostituindo de outras formas
Porque essa é a lei constituída.
Pessoas que têm tudo e não têm nada
Porque não há lei constituída
Para nossa extensa caminhada.
Alguns vieram dos longes,
Outros desistiram nos longes
Apenas respirando o ar de graça
Entre monges… As cobertas
Encobrem cabeças envergonhadas…
A malícia encobre consciências
Desavergonhadas
E partimos para nossas verdades,
A verdade de cada um
A cada mentira aceitada.
O que fere sua ferida,
Senão a visão do outro?
- Seu desconforto.
Uma dieta alonga a vida…
Para que? Para quem?
A corrida ao ouro a corrida ao nada
Que faz-se ritmo nas madrugadas…
Nessas manhãs preguiçosas a corrida
Leva ao próximo descarte,
O infarto equivocando o fraco…
A noção do risco, o risco da noção
De tardos na alienação lucrada
Pelo tempo vida….
Conclusão:
A vida nos tira o que não nos deu,
De empréstimo a juros caros
A cada parada.
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Editoras: Scortecci, Saraiva.
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sábado, 22 de dezembro de 2018


Momento propício

Qual o momento propício
Para desgarrar-se do sonho?
Qual o momento propício
Para engajar-se à realidade?
Qual o momento propício
Para sobraçar as dúvidas?
Qual o momento propício
Para dar o próximo passo?
Este é o momento propício,
Enquanto sonhas teu sonho,
Desninhava suas dúvidas,
Engajas na realidade crua
Dando o próximo passo
Em direção ao teu futuro
Árduo, áspero, duro?
Mas real como tuas mãos
Calejadas e tuas pernas
Frouxas de ir se vindo
Ao mesmo teu lugar.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018


Momento consentido

O momento consente
Chegadas e partidas,
Anseios e esquecimentos,
Toda sorte de acontecências...
O momento consente
Desde crianças cantando
Suas novidades velhas
Aos idosos despedindo delas...
Uma plêiade de lembranças
E esperanças...
Uns amuletos perdidos
Nas portas dos tempos idos.
O momento consente
A fé a toda prova
À ilusão de vencido.


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sábado, 8 de dezembro de 2018


Cochichos

É o falar baixinho
Que põe atentos
Ouvidos medrosos...
Uma vez fomos gritantes
E não nos ouviram.
Depois fomos esquecidos,
Lembrados agora
Ao falar baixinho
Todas as verdades
Gritadas...



Girassóis

Espero
Que adormeçam
Meus valores
Para sorrir ao toque
D’outros tempos,
D’onde a flor girava
Ao caminhar do sol,
A poedeira
De águas novas
Cantava aos fins...
Espero que o tempo
Absorva o mal vivido
E o bem vivido
Para que a passagem
Da infância
Faça sentido.


Amansamentos

Esta ideia dura,
Amansada pelas circunstâncias,
Salta de meu peito
Para as orgias da rua...
Peço calam a esta ideia maluca,
Que pensa sair esbofeteando
Meninos arteiros...
Que tenta processar
Políticos remendeiros...
Calma... Coração cansado,
A tarde já veio
E pergunta por nós
Nessa eternidade de atos sujos...
Calma alma acesa
Que o ódio é inerente aos fracos,
A piedade é ação dos fortes...
Calma, que chegaremos lá,
D’onde a paz será a resposta


A esta ideia dura
De esmurrar paredes e caras
Com risos sarcásticos...
Peço um pouco mais
Daquela paciência herdada,
Absorvida pela balburdia dos dias...
Calma, alma revolta,
Calam à sua volta as vozes antigas,
Cantam as almas novas...
Cala-te, coração cansado,
Que o tempo esmiuçará as levas
E trará dos longes a resposta
A esta dúvida sobre o certo errado
Ou o errado estar certo
Ante a verdade dos fatos
Revelados por suas presenças,
D’onde o silêncio da paz importa mais
Que o barulho das guerras.
A paz esteja convosco

A paz é sempre madrugada,
Mesmo o sol nascendo
Ou tardando chegar
A pôr-se sobre as nuvens...
É sempre madrugada
Para poder estar em paz...
Silêncio, por favor,
Não perturbe este final de dia,
Começo de esperança!
Que o tempo passou devagar
E caminha... Caminha
Para uma nova mão estendida
Ao alcance da esperada...
Mão vazia.




Desamparos

Um quarto sujo,
Num lugar abandonado,
Pode ser o túmulo de Bukowski,
A liberdade de Quintana...
Ou a ressurreição de Cristo.
Um quarto pode ser aconchego
Ou lonjura das outras vozes...
Como pode ajuntar tantas vozes
Ao seu silêncio?
Absurdo é queixar-se do quarto
Quando é a mente que está
Desamparada...






Vigília

Toda pessoa
Descobre, afinal,
Que sua necessidade
É menos material
Que hormonal...
Que tudo passa
No fim de cada dia,
Mesmo a fome
Ou a malícia...
Fica este respirar confuso
Nos fins de tardes,
Um pouco morrendo
Com o sol do dia...





Sem pegadas

Vão-se as vontades,
Diluídas entre
Mentidas verdades...
Fica o olhar distante
Meio que a pedir socorro,
A tristeza escondida
Em risos marotos,
Entre as fomes de viajar
Mora um estranho lugar
Chamado saudade...








Da inutilidade da palavra

Grito aos quatro ventos!
Tiro do silêncio meu grito,
Verdades antes escondidas
Nas intempéries do relento...

Talvez não seja o que penso
Nem pense tudo que diga,
Mas neste fervor de dizê-lo
Vibro com todas as letras...

Talvez não tenha a sutilidade
De um romancista escorreito
Para contornar xingamentos

E substitui-los por mentiras
Mas tenho aqui sinceridade
Compungida por mementos.

Cambiemos

Cambiemos,
Que está posto
O sol dos ontens...
Os passos dados
São passos dados,
Nada que possa
Consertar-lhes
O manco...
Cambiemos
Até chegarmos
À próxima
Parede,
Em pranto.












Deixo minhas palavras
Em cada passo dado...
A verdade é que a vida
Entristece, sem pegadas.









                                  MENSAGEM                                                    

            Às vésperas de mais um ano novo, nesse calendário atropelado pelas necessidades, primeiro de correr mais, segundo de chegar antes. Convido meus concidadãos a pensar o tema, ou melhor, repensar, tentando anular a convocação iluminada das vitrines, analisando que o ano novo é precedido de um final de ano velho, recheado de festas, almoços, entregas de presentes, amigos, secretos ou declarados, e...  acertos das contas. Nesse tempo de virtualidades, é preciso manter os pés no chão, firmes na convicção de que, no final, tudo é concreto demais para se abstrair. A vida não é virtual, é real! As dores não são virtuais, o estresse não é virtual... Virtual é apenas o virtual, ou seja, o abstrato pode se dar ao luxo de ser virtual, então, essa moçada que cultiva amigos virtuais em detrimento dos amigos reais, da família, que é real, dos conselhos dos mais presentes, que é real, podem se dar mal com a leviandade de se confessar aos virtuais, em vez de aos reais, que podem , e que normalmente o fazem, socorrer na hora do tombo real.
            Às vésperas de mais um festejo natalino, quero cumprimentar a todos, com sincero desejo de felicidade, mesmo que triste, de saudações, mesmo que ralas. Que todos tentem se aproximar de Jesus, o aniversariante, nesses dias de brindes natalinos, com o coração aberto, mesmo com bolso fechado, comemorando com os seus, mesmo que ausentes de almas, a felicidade de estar fechando um ciclo, se bom que seja repetido, se ruim que seja esquecido. Mas, nesse momento, que tudo seja em prol da paz, entre amigos ou inimigos, e, principalmente entre consangüíneos, que, mesmo atritados por algum motivo, são reais e não virtualmente, seus melhores pontos de apoio.
            Às vésperas de um novo ciclo, é preciso energia para espantar os crucificamentos, os dedos apontados para nossos erros, os pregos em nossas consciências, as cruzes em nossos ombros, e enfrentar as dores com resignação, os louvores com modéstia, e seguir adiante, carregando essa cruz dos deveres diários com o otimismo e até com utopismo, necessários para fazer germinar bons momentos no ano vindouro.
            Enfim, às vésperas do aniversário de Jesus, lembrar que este é o cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, segundo as palavras de João Batista, o primeiro a reconhecê-lo como Messias, e não decepcioná-lo, brindando a data com sinceros votos de bem aventurança.
Sergio Donadio