sábado, 29 de abril de 2017

Domação


Consegui domar
Minhas doenças,
Já as tive, várias,
Selvagens, renitentes,
Mas acalmei-as
No chicote, como feras…
Agora convivemos bem,
Civilizadamente…
Ainda com o chicote
Abanando pílulas…
Pílulas… Pílulas…
Antes de cada
Esquecimento…













Todos os caminhos
Levam ao nada…
Não se iluda, o fim é
Começo de caminhada…








Para bem viver


A camisa
Não precisa ser nova.
A camisa
Precisa estar limpa…




Avizinhados lixos


As coisas que escuto,
Só por ter ouvidos,
Melhor serem moucos
A esses maus sentidos…
À hora da descarga
Das razões esparsas
Entre futilidades…
As coisas que duvido,
Inda que tenha ouvido,
Dessas conversas parcas…
Melhor seria não ter
Tais avizinhados lixos.











Criticadores


Os que me sabem
Podem criticar…
Ou elogiar.
Os que não me sabem
Apenas podem ouvir…
E discernir.

















O outro lado do rio


Do outro lado do rio
A vida escorre solta,
Pode seja que se eternize
Além no mar que a abraça
Ou no ser humano
Que a escravize.
Do outro lado do rio
A cidade cresce esgotos
E principia a fazer lodo
No mofo improperado
Ao límpido fluxo d’antes.
Do outro lado do rio
As casas vistas mansões,
Os risos postos aos serros,
Os cães a esbravejar
Quando o menino de cá,
Deste lado do rio,
Atravessa ao dia de festa…
E se espanta.


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Perse e Clube de Autores






Das tantas ausências
Conduzo a presente,
Entre o vivido ontem
E o esperado hoje








A cachoeira tinha uma fazenda
D’onde banhava a nós, meninos,
E nos mostrava a paisagem
A mando dos olhos ladinos…







Pungente


Pungido sofro
As opções de ser
Alguém que não posso…
Volto-me a mim,
Como espelho questuário,
Vejo-me ao belo
Gesto querido ser
Nos fios restantes de cabelo
E zelo do que restou dever…
Tudo se mostra pronto,
Levado a ser o que não era,
Fosse-me dado escolher
A que esfera seria
Espelhado ser.









O vento apara janela


O vento apara janela.
Seria abençoado, não fora
O cobrador à espreita…
O claro já se faz velho
Entre chumaços de fumaça
Da terra árida, podada,
O bêbado reclamão
De seu último cigarro,
A cigarra cantoreia
O que seria seu verão…
Mas foi-se com a noite ida
A última estrela caída
Rente ao corrimão.










Retórica


Outra vez escuto
Falar em deus…
Outra vez peca o santo
Homem do meio…
Enfim, depois de tantos,
Um Papa a dizer a verdade:
- “prefiro um ateu sincero
Que um rezador vazio”
Foi mais ou menos assim
Que me dizia padre Paulo:
- “Adão é uma metáfora”
Mas ainda hoje alguns
Descendentes dele creem
Vindos desse barro…












Este dia, amadurecido,
Espreguiça-se no meio dia
Refendido o suor vencido…







As alegrias são mornas…
Às vezes queimam, mas,
Tudo não é bem assim?













Traz essa tristeza miúda
Para dentro de ti…
Por fora é que não caberia,
Senão, chorava, não sorria…






A paz é a que mereces
Acumulando feitos…
Que jeito assim o faria,
Não já o tivesses feito?


































quinta-feira, 27 de abril de 2017

Talho


É o que sobra
Da sobrevivência…
Talvez um tanto
Cicatrizado pela saudade
De um tempo bom
Entre os malsinados…
Talho é a cicatriz
Que continua doendo,
Tendo sarado.














No bater dezoito horas


No bater dezoito horas
Termina o dia…
Acabou-se a inocência,
Acata-se as Aves Marias.
Quem pode mudar
Esse ritmo?
Mãe e Pai já se foram,
Amigos, não se pode contar,
Quem pode velejar
Esse mar de noturnos?
Seria bom desrespeitar
Os sinos e voltar
Ao claro do dia,
Às ordens dos pais,
À cornija que se fez
Quadro na parede…
Seria bom, fosse vero,
Mas o tempo é severo
Mandante desde
Sempre.



Fragores


Todas as palavras
Se calam à sua passagem,
Coroas são erguidas sobre carros,
Vai-se uma vida fragorosa,
Agora o silêncio é que aplaude
O momento cerimonioso
E, tudo termina.
O coveiro assenta os tijolos
À boca da campa…
Vai-se a memória.
É preciso que se esqueça
Este corpo, aqui encerrado,
E se vá em silêncio cuidar
Dos ainda vivos.









Abafos


Eu sonhava
louvores,
Meninas,
Cores de apoio…
Sonhava pendores,
Cânticos,
Espelhos de viagens…
Depois sonhei voltar
Ao sonho do tempo,
Sair deste lugar
A tempo de me procurar…
Me procuro ainda,
Sem mais cura,
Pois que cresci
E me perdi
Na sinecura.







Dores espinhais


Todos com suas dores,
Cada qual com sua sina,
Que não podem ser esquecidas,
Mas não deixam saudade…
Acompanham os passos,
Primeiro lépidos, depois cansados…
Cansados de correr atrás
Do impossível, ainda crível,
São as dores do parto,
São as dores espinhais,
São as uremias… As hérnias…
Todas muito ciosas de quanto
Fazem sofrer. Então,
Não há dor maior ou menor,
É de cada momento, que o seja,
E seu esquecimento…










Aquele que nasce feio
Tem uma vantagem:
Não fica feio de velho
Com o doer da vida…






As coisas são o que são:
- Fatos.
O resto são boatos…










Entaboques


Seria muito esperar
Que o hoje fosse o amanhã?
- Eu espero.
Porque o hoje já é ontem
Na contagem das minhas horas
Entabocadas…
Ontem as crianças cantavam hinos
Antes de entrar na sala de aula…
Já foi ontem o pedir a benção
Aos Pais e Padrinhos,
Foi mais tranquilo o adolescer…
O hoje todo mudado
(Pra pior, a meu ver)
Eu quereria pular e que
Não amanhecesse sem a benção
Dos pais e padrinhos…
Que se foram.
Que não esperaram este hoje
Deixado das inocências,
Que amanheço como fora tarde
E entardeço antes…


Domação


Consegui domar
Minhas doenças,
Já as tive, várias,
Selvagens, renitentes,
Mas acalmei-as
No chicote, como feras…
Agora convivemos bem,
Civilizadamente…
Ainda com o chicote
Abanando pílulas…
Pílulas… Pílulas…
Antes de cada
Esquecimento…













Todos os caminhos
Levam ao nada…
Não se iluda, o fim é
Começo de caminhada…








Para bem viver


A camisa
Não precisa ser nova.
A camisa
Precisa estar limpa…













CAMINHA, MINHA GEN

segunda-feira, 24 de abril de 2017






Cumpadre


Nessa vida vazia,
Por muito ocupada,
Há de caber ideias
De viagens deixadas…
De livros não lidos,
Poesias relevadas…
Nessa vida ocupada,
Vazia de nadas,
Há de caber sonhos
Regidos por sonhos…
O tempo, cumpadre,
Opera maldades
Entre o feito tijolo
E o abstrato acabado
Em rugas e tombos,
Em flores e campas…
O tempo ferocidado
Pelo gasto…





Luz e sombra


O que vale
São a luz e a sombra…
Não olhe da janela
O pássaro chegando,
Ele irá embora,
A árvore florindo,
Ela invernará,
O menino correndo,
Ele crescerá…
A luz estará aí
No próximo verão…
A sombra te dirá
A força da empreita…
Se a sombra se esconder
Já é meio do dia
Ou meio da noite…
Restará o som da sombra
A te espreitar de novo.





Os primeiros anos


Aos primeiros anos, de fato,
Há de se formar homenagens,
São assim tão delicados…
Do berço sacodem os outros,
Nas ruas se perde o sono…
A vida se lhe translucida
Se não se os abandona.
Aos primeiros anos se deve
A atenção aos seguintes,
Maldado o que se embebem
De saberem-se vindos.
Do nada aos primeiros anos
Se ensina a falar, e ouvir,
A gesticular-se nas fases
De saberem-se vidas!
Aos primeiros anos
A impressão do depois
Haverem-se por esquecidas…








Quando o vento toma para si
A força da natureza
Não há muro ou coração
Que não ceda…






A pessoa sente-se realizada
Quando pode ser por dentro
O que se mostra por fora…










O som das folhas


Anime-se!
Grato à tua devota religiosidade.
Não conheço peça mais lírica
Que o som das folhas no outono,
Que se desfazem, prometidas
De seu retorno…
Anime-se!
Também tu, assobiado ao vento,
Caído em folhas secas,
Retornará ao seu tempo,

Verdejando novamente…

sábado, 22 de abril de 2017

Desagasalho


A próxima etapa será
Um NÃO Retumbante!
Um não pela vida afora
Virá vestido de preto,

Será um não aos sonhos
Sem adereços nem nada…
Talvez uma coleira aberta,
Dessas chamadas gravata.

Desagasalhado respondo
Com esse Não destronado
À realidade de realizar-se…

Deixados de sonhar nu
Talvez um não à resposta
Que não foi perguntada.






Por certa vez


Por certa vez, visto a chorar
Ao canto parecido em festa,
Posto assim a indignar-se
De em lágrima transparece

Toda tristeza que existe
De ter marcada sua hora
Entre essa forma de triste
Ao canto da alegre aurora

Nesta verdade que impera
A lembrança daquela hora
De péssima memória

A sua pose de estar triste
Mostra já não ser tão certa
Como a tristeza de agora






De todos os animais


De todos os animais
Que (des)conheço
O que mais se assemelha
Ao meu pensar consciencioso
É do gato que me espreita
Pois sorrateiramente espiona
Meus gestos no diário feito.
À noite, já cansado, o vejo
Acordar-me ao leito como
Minha consciência do que fiz
Frente ao que deveria ter feito,
Neste dia que se acaba
No nosso leito volto a dormir
Ignorando gato e mente,
Que o que foi feito está feito,
Não tem mais jeito.







Do lado de dentro


Do lado de dentro
A consciência aperta a saudade…
Há um ritmo lento
Desse coração estouvado
De procurar batidas menos graves.
Do lado de dentro
A força motriz é mesmo calhorda
Aparando arestas
Que deveriam estar à vista,
Espantando lembranças…
Do lado de dentro
O suor de fora exorna a febre
Que te faz subir montanhas
E descer ao mar,
Incansável.








Trouxada


Essa trouxa de roupa suja,
Que se lava em casa,
Esparrama espumas pela calçada
Ante a primeira enxurrada…
Essa trouxa se expande
Em tantas outras que emanam
O sangue espremido entre chamas
De um fervido macacão em graxa…
O valor do fogo fervendo a lata
É como se o antigo inda valha…
Essa trouxa, trazida ao ombro,
Pesa nos escombros dos dias
Levados pela espuma
Nas calçadas…



sexta-feira, 21 de abril de 2017

DAS “CARTAS CHILENAS” DE TOMÁS ANTONIO GONZAGA, Ouvidor de Vila Rica, que em 1792 foi condenado ao degredo por participar da inconfidência, tiro alguns pequenos trechos para vosso julgar da similaridade com a atual Corte Suprema e seus julgamentos:
“O povo, Doroteu, é como as moscas que correm ao lugar, onde sentem derramado o mel, é semelhante aos corvos e aos abutres, que se ajuntam nos ermos, onde fede a carne podre… À vista dos fatos que executa o grande chefe, decisivos da piedade que finge, a gente corre, a ver se encontra alívio à sombra dele. Pois dessa forma entende o néscio, em todos os delitos e demandas, pode de absolvição lavrar sentenças... todos buscam ao chefe serem bem vistos, triste privilégio de mendigos…”
“Ah, tu, meu Sancho Pança, que foste da Baratária o chefe, não lavraste nem uma só sentença tão discreta! E que queres, amigo, que suceda? Esperavas, acaso, um bom governo de nosso fanfarrão? Tu não o viste em trajes de casquilho, nessa corte? E pode, meu amigo, de um peralta formar-se, de repente, um homem sério? Carece, Doroteu, qualquer ministro, apertados estudos, mil exames. E pode ser o chefe omnipotente quem não sabe escrever uma só regra onde, ao menos, se encontre o nome certo?”‘O outro pede que lhe queime o mau processo, onde está criminoso por ter feito o mandado, diz que os herdeiros não lhe entregam o bem deixado, e ralha contra juízes, mortos, que lhe deram sentença e que a fazenda lhe tiraram, quer que o devedor lhe pague logo, outro, para pagar, pretende espera, todos, enfim, concluem que não podem tal demanda, por serem pobres. Lá vai uma sentença revogada, quando já de cabelos brancos, manda que entregue aos ausentes grossa herança” assim vai, de semelhança em semelhança repito: Pode, meu amigo, de um peralta formar-se, de repente, um homem sério?

quinta-feira, 20 de abril de 2017



Vou segurar esse tempo,
Talvez o tempo em diga
O que acontece em seguida,
Que estou revendo o tempo
Com menos dedos que antes
Do tempo em que eu era…
Talvez os menos cabelos,
Menos tenso, menos raiva…
Mas o que me faz falta
São os dedos que se foram
A não findar comigo
O tempo vivido…














Agora voo
Sobre os sonhos passados,
Alguns tornados realidade,
Outros sepultados
No descaso do olvido…
Onde se enterram sonhos idos.
Agora voo
Os amanhãs comigo,
Sem pressa, como os já ter
Vivido…
















A beleza é uma mentira?
Todas as faces têm sorrisos,
Às vezes choros, carrancas
Na manha dos sentimentos
As faces podem ser maquiadas,
Mas serão supostamente lindas?
Não!
Apenas maquiadas,
Depois lavadas,
E as caras lavadas são a verdade,
O resto é a mentira a enganar
O próprio espelho,
Espelhadas felizes, quando não.










A lógica


Não procuro por nada nesse nada,
Por nada ter por tendo perdido.
Nessa certeza de caminhar à frente
O sentido de perda perde o sentido.







No guardar as horas


Sinto-me assim
No guardar as horas,
Esta espera fútil
Para ir-me embora…







Sabe-se agora que a paixão infere
Dores atrozes junto ao prazer meeiro,
Que vozes soam ao tornar-se breve
Este prazer que inda foi primeiro.

Sabe-se agora que a força enleve
O que o medo, por forçar, o fez,
Como se refaz na forja o ferro
O que do ferro se terá a fazer.

Mas, por que tanto professar a luta
Se a minúcia te mostrará o erro
De forçar torcer-se à força bruta?

Se todos somos frutos desse erro
Que faz da liga o fero ferro
Entre gemidos desse amor treteiro?









Não sei por onde passa
A estrada em mim,
Sei que deixa marcas
Como pneus no capim…






Quando o que procuro
Tiver sido encontrado
Além de mostrar o futuro
Contará a meu passado…







Minha homenagem ao mestre                
Antônio Gonçalves Dias, criador
Da poesia romântica entre nós.
Excerto do poema Juca-Pirama


Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A que do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a iverapeme,
Orgulhoso e pujante. - A menor passo
Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra
Que lhe orna o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d’imigos feros.

E por aí vai a língua mestra
A mostrar-se viva… Embora
Tão dilapidada.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

 NINHO DE VESPAS

Existe uma Lei mais forte, da natureza humana, que envelhece e fina depois de anos a fio na vara do guatambu, queira ou não queira a lei precisar anos de recolhimento ao ano de fina mento, quando o corpo não obedece gestos simples de caminhar longe ou abraçar longevidades, agora inalcançáveis: O tempo da aposentadoria, quando já não podem os membros trabalharem o ofício de anos a fio. Querem os senhores mandatários igualar o serviço braçal das pessoas proletárias(que vivem apenas do rendimento do seu trabalho manual) ao trabalho intelecto das pessoas escriturárias, o tempo varia a cada dia sob sol e chuva ao dia sob ar condicionado das salas de mando, sem contar,  ou contabilizar as infâncias de pessoas no campo ou nos bairros proletários, que logo cedo, no cedo de suas vidas, batalham pelo pão do dia, confrontadas às outras, que desde cedo têm por oficio estudar duas décadas ao menos, para depois começar a suar, ou não, as profissões escolhidas. Assim, como sempre, a igualização por idade vivida não promove a igualdade de valores, nem nominais, nem temporais, findando o tempo de “contribuição” na sexta década de vida em ambos os casos, aleatoriamente ao desgaste. Pois bem, propala-se um cálculo matemático, de válida apreciação: Salário mensal R$ 880,00 Contribuição INSS R$ 176,00 Aposentadoria Integral 35 anos = 420 meses a R$ 176,00 na poupança de 0,68% R$ 422.784,02. Considerando-se a expectativa de vida em 75 anos, e que, em média, o brasileiro que se aposentar com 60 anos, receberá aposentadoria por 15 anos, 37,5% daquilo que lhe foi tomado pelo governo. Aumentando para 49 anos, o trabalhador acumulará R$ 1.365.846,02 e receberá menos, pois terá mais tempo de contribuição e menos de gozo da aposentadoria Esses cálculos foram feitos pelo cientista político Itamar Portiolli de Oliveira, são reais e facilmente constatados. Agora, comparando com outros sistemas: Chile 20 anos de serviço, 55 de idade. Argentina 30 anos de serviço, sem limite de idade. Média na Europa 27 anos de serviço para 52 de idade. Usando outros dados: a Previdência Social foi superavitária por anos a fio, quando muitos pagavam para poucos aposentarem. Nesse período o caixa foi usado para cobrir déficits do Tesouro, segundo consta. Por este prisma não seria hora de o Tesouro devolver o “empréstimo”? Ainda no fechamento do caixa, no regime dos servidores públicos, o déficit em 2013 foi de R$ 40 bilhões. Para 670 mil aposentados. Já a previdência dos militares, com 270 mil beneficiados, teve R$ 22 bilhões de déficit. Juntos, esses dois grupos somam cerca de 1 milhão de aposentados e déficit de R$ 62 bilhões. No regime geral da previdência social, pelo qual 24 milhões de beneficiários recebem aposentadorias e pensões pelo INSS, o déficit chegou a R$ 50 bilhões. Ou seja, cada aposentado do setor privado recebe, em média, 30 vezes menos que aposentados do setor público. Somando-se a esse furo as aposentadorias e pensões públicas, sabidamente acima do teto, em sendo equalizadas aos valores mais modestos, também ajudariam resolver um problema que está sendo empurrado para os mínimos assalariados pagarem. Mas quem vai mexer nesse ninho de vespas?
Sentidos


Sou dono das desimportâncias,
Isto sempre me nutriu,
Sou fraco para cobranças,
Pedidos ou mandados…
Mas bom em saber-me fraco
Das importâncias correlatas…
Sou dono das desimportâncias,
Com as quais vivo meus dias.
O outro, o que pensara importante,
Já não é nem placa, nem retrato,
Afora os de família, que lembram,
Que esquecerão no tempo apagado.
Então, até a placa com meu nome
Sobre a campa será esquecido,
Como foi o feito em vidas…
Das desimportâncias sou dono,
Isto satisfaz meu ego de criador,
E criatura.
Meus pais ensinaram a viver-me,
Depois souberam morrer
Dignamente, assim espero
Ter aprendido o quanto
Me faz sentido…


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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Sinuelos
Do livro Sóis dos dias
Editora Clube de Autores
Os sinos
De Edgar Allan Poe.
Os sinos
De Pablo Neruda.
Os sinos milenares
Das igrejas…
Quanto falam à vida
Do dia a dia nosso?
Os sinos sinuelos
Tocando bois ...
Nós, os bois, tocados
A sinos pelos dias
Entre vilanias
E cerzimentos
Em choros convulsos
E em plena alegria…
Desses mementos.
Tomo 2
Os sinos!
- Ah, os sinos!
Das pequenas
Peças de prata!
cuja melodia flutua
De suas gargantas
Aos pesados
sinos de ferro
De suas gargantas
Profundas
De melancolia!
sinos de pedra
Das ilhas do Pacífico,
Sinos de pedra sabão
De Minas Gerais…
Sinos com passado.
Tomo 3
O que lembra sinos?
A pedra jogada no poço,
Que ao fundo reverbera
Em suas águas a voz sinuosa?
O que lembra sinos?
A mão segura ao pescoço,
Batendo em concha,
Fechadas ao alvoroço?
O que lembra sinos?
Senão os próprios sinos
No silêncio da sala de cinema
Num aconchego,
Na chegada de mantimento?
Da guarda nacional?
O que lembra sinos?
O toque das horas
No cuco na parede…
Tomo 4
Sinos anunciando vida.
Sinos anunciando morte.
Sinos anunciando o batismo
Do menos forte…
O casamento dessa tarde,
A missa das seis horas,
A de ramos, a de aparte…
O encanto do sinoar
A beleza do som
Rasgando o ar de outono,
Os sinos esperando o mar
Nas encostas, abaixo
dessas torres sineiras,
Festejando a colheita
A derradeira seiva
Antes dos ventos fortes
Que lhe vão calar.
Tomo 5
Os sinos de António Nobre,
De Fernando Pessoa,
De Vinicius de Moraes…
Sinos de tantos outros
Que os ouviram sem suas
Alucinações poéticas…
O chamado à intervenção
Do verso no verso da lei…
A corda puxando badalos
A anunciar condenações,
Aberração dos males…
Sinos de faróis frente
À previsão do baque…
Sinos a zunir ouvidos
Culpados e inocentes…
Basta sinuelo de chamar
Bois e homens à trela.
Tomo 6
De volta dessa missa austera,
De sinos não perdoadores…
Que século condenou à treva
As trevas de seus lavores?
“Quando eu morrer não chores
por mim mais que triste sino a dobrar
Dizendo ao mundo que eu fugi.
E nem relembres estes versos,
Nem tentes relembrar como me chamo:
Que fique o amor, como
A vida, acabado para que o sábio,
olhando a tua dor,
Do amor não ria, depois que eu me for”.
William Shakespeare
A paz que, enfim, teria,
fossem sinos essas conversas.
Fossem sinos a badalar
o fim, em festa.
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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quando meu pai era velho


Quando meu pai era velho,
Ficava ouvindo seu assobio
Intermitente,
Como se fora um lobo
Marcando seu território…
Quando meu pai era velho
Eu inda nem sendo gente
Seguia seus passos trôpegos
Mancando suas dores,
Vivendo suas lembranças,
Vencendo suas batalhas
De quando não era velho.
Agora sou eu o velho!
A terminar cada frase
Com uma recordação
De quando meu pai era velho
Ainda nem o sendo
A tanto.





Procederes


Os meninos passam,
Saindo em bandos da escola,
Chutando latas e gatos,
Fazendo pose de homens…
Querem-se donos,
Além de suas mochilas, da rua,
Onde se extasiam de ser…
Os meninos passam…
A meninice passa…
Fico pensando em quando
Essas pessoas poderão
Se adivinhar gente!











Arrogados


Não se mede
A conscientização
Com fita métrica,
Por isso o mal político
Não tem tamanho de ser.
Apenas concorrem
Com aprisionados a culpa
Pelas mortes antecipadas,
Cada um com seu armamento,
O da palavra mais mortal,
O do fuzil mais barulhento…
Bandido de terno, farda ou toga
Tem de ter mais culpa
Pois foi bem mais preparado
Quanto ao saber-se vil,
Arrogado.







Minhas rugas cansadas


A fase mais cruel do tempo
Pode seja a que passou ontem…
Examino cada detalhe
De minhas rugas cansadas…
O corte acidental no meu pé
Esquerdo… A dor esquecida…
A saudade lembrada
De momentos lívidos…
A promessa de amanhã
De manhã acordar-me a salvo…
A fase mais cruel pode esta,
Da espera pela esperança
De passos novos sobre grama,
De abraços fraternais…
A fase mais cruel pode seja
A passada entre falências
E falácias… Sei lá… Sei lá…
O cruel das fases depende
De meu senso desencontrado
Entre o fazer e o passado…



Recados de homem


Pode seja
Que já não saiba distinguir
Saudade de remorso,
Espera de esperança,
Alegria de felicidade…
A cada dia menos pesa
Minha consciência e mais
Pesa minha carcaça.
Constato
Entre meus recados de homem
E teu recato de mulher
Que, ao pensar ter-te conquistado
Tu, com a negação ao tato,
Já me tinhas em conquista…
Pode seja ponto de vista.








Vivências


A cada dia que passa
Se é mais sombra,
Como a árvore frondeia,
Este chapéu de aba larga
Puxa do sol a suada bica
E se estreia…
Que a manhã extravasa
Em outras chamas
E faz-se preciso o descanso
Dessa trama…
E põe sua sombra em risco
De ser apenas a sombra
Da sombra.










Tirando o tempo obscuro,
Tudo se clareia na memória.
- E pro futuro?






O que será de nós nessa
Fome atroz por numerário
Dos que cuidam do erário?











A lista


Engraçado, ou trágico?
Aos setenta e uns
Me sinto menos pesado
Que aos cinquenta e tantos…
Um tempo falido, fudido,
Com filhos pequenos e
Uma lista de compras,
Uma lista de desaforos,
Uma lista de credores,
Outra de devedores…
E tudo se anuviando ao olhar
O amanhã obscuro…
Hoje sei-me no amanhã,
Aqui ou acolá apenas com
A preocupação de respirar,
E deixá-los respirar,
E, mais pra lá do que pra cá,
Ao setenta e uns, tranquilo…
Como louco no asilo.





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