terça-feira, 27 de julho de 2010

Os fichas mal lavadas


O projeto ficha limpa tencionava expurgar da próxima eleição os mais canalhas, entre os menos visados, alguns de parcas habilidades aplaudiam tal iniciativa. Qual o que... nesse país das terras tomadas e retomadas, dos processos que envelhecem junto com seus processadores e morrem de inanição antes daqueles, é quase impossível vetar a iniciativa gananciosa de candidatos, que se locupletam de mandatos para usurpar o povo que ironicamente prometeram defender. Já dizia meu velho pai que: “Se você estiver mentindo, estará mentindo para você mesmo” sei que a inconsciência de tais fajutos (exatamente por sua fajutice) passa por cima de tais conceitos e ignora olhares de soslaio de seus eleitores, quando vistos a passear por suas cidades de origem, despreocupados até a próxima campanha do que pensam os que os elegeram, cientes de que até lá estará esquecida sua mediocridade de ladrão de colarinho branco, engomado para segurar em pé a cara de pau derretendo sais de sem-vergonhice costumeira.
Esta rede de ponto miúdo só pega lambari, os peixes maiores se safam. Como se pode engolir a candidatura do maior deles nesse momento, o predador dos cerrados Joaquim Roriz, que, carregado de processos, está na dianteira nas pesquisas, liberado pela prescrição de processo que só agora foi analisado em primeira instância?! E a cara de pau do Sr. Maluf, fazendo prescrever todos os processos sobre ele, contratando uma legião de advogados para tanto? Com que cara fica o Ministério Público de São Paulo, que esmiuçou o trajeto da dinheirama surrupiada das obras e enviada para paraísos fiscais, analisou 270 mil documentos bancários e pinçou informações com uma centena de autoridades em quatro paises, investindo para isso sei lá quantos milhões do povo brasileiro, para ver agora prescrever tudo, levado pela enxurrada fétida da morosidade?!
Com que cara ficamos nós, cidadãos, que assinamos o tal projeto e aplaudimos?! Com que cara ficam os que não roubaram?! Com que cara ficam as autoridades que deixaram escapar tais predadores, por causa da linha inadequada de suas fisgas?!
Segundo o TSE, quinze por cento das candidaturas deverão ser cassadas. Deduzindo-se daí que 85% têm ficha limpa? Duvidoo... tem muito cidadão decente nesse país, mas poucos desses estão na política, e, uma ínfima parcela dos que tentam, se candidatam para servir seu país. É de conhecimento primário a leniência do povo brasileiro com as maracutaias em geral, de uma sociedade que considera normal pagar propinas, desde flanelinhas aos flanelões, às autoridades que fiscalizam nossas estradas e nossas vidas, aos cala bocas miúdos em certas ocasiões, aos porteiros, aos carregadores, aos legisladores...para quase tudo existe um caixinha, que deriva em aceitar situações porque os eleitos são pinçados dessa sociedade transgressora, então...
Arquive-se.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos “homens bons aos sangue ruim”


Somos 135 milhões de eleitores. Aptos a votar? Críticos “abalizados” dizem que não, que uma população de analfabetos funcionais que preenche metade dos eleitores habilitados, cidadãos que, ou não sabem ler mesmo, ou apenas assinam o nome, ou lêem mas não entendem o que leram, não estão aptos para escolher seus elegidos. Pois bem, na época do Brasil colônia a regra distinguia como eleitor ou candidato apenas os chamados “homens bons”, que eram selecionados numa estirpe que excluía os “sangue ruim”, ou como se dizia: ‘infectos”, índios, negros, judeus e mouros, ou ainda os que exerciam trabalhos manuais. Quer dizer, votavam os nobres ou proprietários graúdos. Deu no que?!
Na época imperial o critério se ligava ao valor da renda. Deu no que deu...
Nesse rol de exigências, as mulheres só se habilitaram em 1932. os analfabetos em 1985, os cidadãos entre 16 e 18 anos em 1989. Mudou o que?
A entrada dos sangue ruim nessa briga estendeu o direito (que alguns chamam de obrigação) de voto a todos os cidadãos brasileiros acima de 16 anos. Adianta o que?
Adianta que quanto mais gente der o pitaco na formação de um governo, mais se dilui a responsabilidade de viver sob o mando desse governante. Talvez seja bom para a nação, mas a verdade desde 1500 é que os mandatários, que deveriam servir o povo, servem-se do povo. Evidente que um regime fechado empobrece a qualidade dos governantes, que democraticamente eleitos sentem maior responsabilidade de prestar contas do que fazem. Mas, historicamente continuam fazendo como bem querem...
Segundo os “abalizados” críticos, os menos informados seriam sujeitos a serem manipulados mais facilmente. Entende-se por menos informados justamente os com dificuldade de leitura? O academicismo eleva à condição de informado em assuntos gerais os doutores ou donos de fortunas, como nos tempos dos “homens bons”. Pedindo desculpas aos que realmente se informam, quero discordar desses críticos. Tendo ouvido discursos deploráveis de homens bons e discursos memoráveis de sangues ruins,
Misturo as pedras desse tabuleiro para exercer o direito de não julgar por demérito. Apenas pela condição que assistimos ainda hoje de classificação de castas, não é possível mensurar capacidade eletiva.
Essa crítica exacerbada tenta anular o voto do menos letrado. Não é por aí, o que é preciso fazer é dar mais chance de instrução à camada menos informada, da que vê o voto como uma dentadura nova, à que vê a eleição como feriado para viajar.

sergiodonadio.blogspot.com

domingo, 25 de julho de 2010

Garatujas das pichações


Bem maior que o quarteirão de casa
É a visão que me tem assustado,
Do mundo,

Esse mundo que atravessa meus intestinos
pensares
E torna-se em mim profundo,

E me faz mágoas e sonhos
E me põe em atraso com a vida que passa.
São muitas paredes pintadas de nada

E todas iguais, de formas profundas...
E uma vista de olhar cansado de mundos...
De ver paredes,

paredes forradas
De cores sonhadas e cores sujas,
E cores...de sujas palavras.
Caixa de palavras


Na minha caixa de palavras
Tem umas de sentido frouxo,
Acabrunhadas dentro das sacas,
Com agulhas e linhas e os lápis,
Desperguntados...

Apenas umas poucas inda vivem,
Entre as desencantadas...
Algumas fugiram na memória,
Outras a memória foge delas,
Pobres coitadas,

mal vindas em suas lavras,
Assim abandonadas à margem
do caderno,
Com as agulhas tortas e
as linhas quebradas...

Uma pena,
Da minha caixa de palavras
Poucas sobrevivem ao clivo
De seletiva escolha magra
À que me ative.
Como se...



Como se te perdesse,
Assim te encontro...
longe, ou ao menos alongada,
Na visão amarela de meus
olhos baços.

Como se te perdesse,
Assim te acarinho...
Como fora última acarinhada
Presença de nossos
laços.

Como se te perdesse,
Assim se embaça
Entre as tantas formas que
sei distantes,
É que te acho,

Como se te perdesse...
Em meu espaço.
Nesse enlace vejo teus olhos
Mareados fitando à distância
meu cansaço...
reações


Se procurares bem,
Entre meus risos,
Encontrarás a lágrima
Que é preciso.

Com a vista alongando os infinitos
Eu sonhava ser grande, em menino.
Como caberia no meu sonho acanhado
As grandes infinidades do infinito?

Vagueando pelas ruas e trilhos frios
Esperava um trem das onze, ao meu dia,
Ficava olhando, presos nas janelinhas,
Aqueles olhares querendo ficar comigo,

E eu, querendo viajar aqueles sonhos
E uma mochila de pão, sem vinho.
Apenas as palavras se me vinham
A procurar amigos nos desconhecidos,

Que iam embora, entre
lágrimas, já sem risos,
assim, tão prontamente
quanto vinham.
Já que o assunto é futebol...


Caro leitor, já ouviu falar desse time: Zé Maria, Oscar, Levy, Pinheiro, Souza, Rui Costa, Mario, Plínio, Ciro e Eymael, no gol Marina? Reservas: Dilma, José Serra, agora você reconhece, não é? Esses TREZE formam a seleção brasileira de candidatos à presidência da república, pode? Como não falamos de futebol, pode. Desses, sete estarão nos debates televisivos, pelo menos têm esse direito. Os outros seis são coadjuvantes, cidadãos que se lançam candidatos correndo por fora (bem por fora...)
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL , José Maria Eymael do PSDC, Zé Maria do PSTU, Rui Costa Pimenta do PCO, têm alguma visibilidade de outros carnavais, agora, Levy Fidelix do PRTB, Oscar Silva do PHS, Ivan Pinheiro do PCB, Mario de Oliveira do PT do B, Américo de Souza do PSL, Ciro Moura do PTC, desconheço...
Os esgrimistas que duelam para valer, Dilma e Serra, têm as mesmas chances de disputar a caneca, já Marina Silva vem para comer poeira e jogar areia. E os outros, por que se esfalfam em uma corrida em que não têm cacife nem para arrancar na partida?
Que me lembre, são 27 os partidos legalizados no Brasil, então, teoricamente, podemos ter 27 candidatos. Temos 13, um bom número para confundir a cabeça do eleitor. Senão vejamos, o PCO (partido da causa operária)com 3 mil filiados, pretende o que, lançando candidato? Como definir causa operária isoladamente, já que o PT representa essa causa? Antes, já havia o PTB, depois o PDT, depois o PTC, seguido do PT do B, e do PRTB em seguida PSTU, PTN e ufa...redefinindo o trabalhismo como cristão, brasileiro, unificado, dividido em tantos que só pode ser para confundir.
Sem contar que estão em processo de legalização mediocridades como o MNN (Movimento negação da negação) mais 26 desse naipe! Para não errar eu ficaria com o PPB(Partido pirata, do Brasil, lógico) Pensa que estou brincando? Alguém está, não eu!
Não é difícil entender essa proliferação de partidos políticos numa época de cordas soltas...só para lembrar: Um candidato a prefeito, sem nenhuma chance, dizia para quem quisesse ouvir que não se candidatava a vereador, porque poderia ter chance(?) ele recebeu as caixas com santinhos, acompanhadas sempre de chequinhos, distribuiu os santinhos, comprou uma fazenda no Mato Grosso com os chequinhos e safou-se de ser eleito, o que daria muito trabalho e pouco mais de grana...
Dança dos partidos: coerente: PRP (Partido Republicano Paulista) no tempo do Império, incoerente: PL (Partido Liberal)na mesma época. Histórico: PI (Partido Integralista) na segunda república.provisório:ARENA(Aliança Renovadora Nacional) corajoso: MDB(Movimento Democrático Brasileiro) bom senso:PV(Partido Verde)...
Este é um ano picotado, e entre as eleições de outubro e a copa do mundo de junho, melhor esquentar com a primeira, mais levada a sério, mais coerente, mais ufanada pelo patriotismo das bandeirinhas...de resto, eleição para ser levada a sério, deveria se dar ao respeito, da seriedade dos candidatos, que, já nesse começo estão perdendo a linha, e com o tempo vão perder o carretel..
Sergiodonadio.blogspot.com
Geração botãozinho

Essa nova geração se perde em virtualidades exacerbadas. Engraçado, porque em época recente o virtual seria denominado irreal, como em início do século passado o irreal seria quimérico, das quimeras a que aludiam os poetas para designar o virtual. A principio a quimera desenhava o impossível, irrealizável, a utopia, que na mitologia grega era um monstro, mistura de cabra, leão e dragão. Até hoje o “bicho de sete cabeças”, que na quimera atual veste-se bem no monstro informática e invade a (in)consciência coletiva. Não se fala mais a língua pátria, mundo afora, se fala em “informatiquez”, uma linguagem q corta vogais e vc se perde nas consoantes vazias, sem nexo para o analfabeto em abreviações. Dia desses não consegui decifrar um bilhete, que dizia textualmente: vc pg fot. Fac.? Traduzido para: Você pagou a fotografia da faculdade? Mas, para vingar esse corte, existe o outro monstro, o “enche lingüiça” das articulações jurídicas, onde um documento se estende por tantas laudas que perde o fio da meada, nos meandros. Enfim, é a lógica às avessas de: se puder complicar, por que simplificar?
Num texto de 1970, um lapso de tempo, o articulista escreve: ”agora que se apagam os fogos e as armas são ensarilhadas, pode-se fazer o balanço da carnificina chamada vestibular. As famílias onde crepitaram fogueiras durante meses, estão exaustas, pelos vitoriosos e pelos fracassados. Nada mais requintado em maquiavelismo do que a queima das provas, para evitar protestos. É a supressão do hábeas corpus na meritocracia, e os examinadores declarados infalíveis”... e por aí vai, por mais duas páginas, discorrendo nessa linguagem o tempo das quimeras, na historia que não muda, O que acontece, e aconteceu em todos os tempos, é um duelo. Nesse mundo tecnológico as armas são mais sofisticadas, não se esgrima mais com simples espadas ou se enfrenta com cartucheiras. O não acesso à computação é uma sentença de morte sociológica, que degrada e degreda o “mais fraco”. A antes luta corporal, agora é puramente mental, e o despreparado, por ineficiência do Estado em prover esse preparo, tende a ser vitimado pela massacrante máquina de cursos paralelos, e caros, elitizando as oportunidades, aí contida a computação ao nível de competir com outros profissionais. Olhando com uma lente mais apurada veremos que, mesmo para os vitoriosos, (como em qualquer guerra) o campo de batalha é um massacre.
O que a modernidade explica que já não estava no DNA da vida? Desde os tempos dos gladiadores os fortes ganham as batalhas, mesmo perdendo a razão. Então continua tudo a mesmice de antes, apenas as armas se modernizaram, mas não a pessoa.
A lógica da escolaridade é esdrúxula, conta a história que ela começa com os cursos superiores, para depois criar as escolas de níveis médio e elementar, assim, o curso primário teria surgido a menos de 200 anos, forçado pela progressão dos cursos científicos e tecnológicos, que exigiram crianças preparadas para tais empreitas. Hoje alguns lugares adotam a escolarização total, desde o berço, para que as novas gerações, com seus botões, digladiem em igualdade de condições. Isto pode, na tentativa de formar apenas vitoriosos, criar uma legião de fracassados, pela igualdade de erros?
sergio.donadio@yahoo.com

sábado, 10 de julho de 2010

Escolados
As mãos passadas premem o corrimão,
Velam por nós, que voejamos...
Plantam-se flores em gretas de paredes,
Limo nas juntas dos tijolos,
Verdes presentes no tempo.

Do que esquecemos a foto lembra:
As pernas mortas do Rubens, o riso
Sarcástico do Osvaldo, o rítmico humor
Do Osmar, a ranzinza do Paulinho,
Vivos na fotografia.

As mãos passadas conduzem as nossas,
Afagam cicatrizes de somenos...
Presentes agora num sentimento vago,
Limo nos ossos vencidos
Presente nos verdes tempos idos.

Do que deslembramos a foto lembra:
As pernas lentas do professor Agenor,
Professor Veloso fora do tempo,
O maneta Carsino desenhando quadrados,
Vivos na não fotografia.

As mãos dos mortos estão presentes,
É preciso lhes pedir licença para
Demolir os muros, as saudades,
Semeadas nas heras em flor,
Desse intenso passado.
Os pardais na janela

Estou aqui, vendo passar a janela
Um senhor, branco de longamente
Morto, inda capengando sua trela
De bagagem mínima, um tamanco,
Aquela bengala herdada do vizinho,
Que já morreu de vez, sem ela...

Estou aqui, vendo voar nesta janela
Esses pardais, vivamente inteiros,
Decifro, como não antes tenha visto,
Porque os pardais não envelhecem
De sofrer...é que não teimam a vida,
Que só é vida se possível de viver.

Desta janela é possível ver o lento
Despencar das faces frente o vento
Em rajadas que a idade de relento
Traz na bagagem de muletas doídas,
Como fora a tarde de cada vida uma
Estranha forma de viver, morrendo.
berçário


Ver esses bebês
Sorrindo a vida
Acorda assustada
Aquela idéia

De que eles,
por estarem vindo,
Empurram-me
para fora dela.

Desse mundo que
já me é estranho,
Quando parte de mim
Explora, implora,

E a outra se arvora,
desse corpo arcado,
Encharcado as dores
a memória exangue.

Se estiver sonhando,
Me acorde o choro,
Que a vida continua
Belo desaforo.
Onze horas


A janela se fecha.
O quarto é cego, é surdo, é mudo,
Apenas o compasso da chuva lembra
Que anoiteceu outra vez,

Escuro das idéias que ficaram
zunindo na cabeça
Desda manhã, e não fogem,
Param de atormentar os deveres.

Passa a ser rotina pendurar idéias
Nesses varais de esperas, e,
Apenas perguntar ao quarto
Se amanheceu já sua dor

De cego, surdo e mudo ante o
Ficar, imóvel, olhando ao espelho
A janela que fecha, no escuro,
As parições da luz.
Extenues


Esses barcos fantasmas
Sacodem a água de redor
Trazem os amigos passados
De um passado tão pior
Que a evolução deixou ficar
Entre os resíduos do pó.

Esses barcos...ah, esses barcos
Que trafegam nas sombras
Dos pensamentos obscuros
E procuram a lágrima
Onde havia de sorrir
Antes das águas virarem raiz.

Esses barcos emborcados
À idéia de sofrer amanhãs
Ainda navegam límpidos
Sobre as idéias que fugiram
De memórias lesadas e
Se põem à mostra da dor.

Esses barcos, esses barcos
Apenas navegam sonhos
Que se foram com os vãos
De fatos sangrados à dor
E sufocam o que seria
Força de rebentar o não ir.
amansamentos


Você está esmaltando
as unhas
Para que a fera não imiscua?


Lembra a leoa, de
guardadas unhas, que o veterinário
corta, à medo,
quando ela ameaça romper
amarras e soltar-se à toda fera
escondida nas mesuras
De uma carne de almoço
E um cafuné no pescoço
Em pelo eriçado da brandura...


Se não pelo medo,
Então, por que você está
Lixando as unhas?
Véio zuza


Muitas vezes o vi passando pela calçada,
Carregando sua história naquele saco
de estórias...
Tinha muito medo das crianças,
As crianças tinham medo dele,
Como concatenar esses sentimentos?
Apenas ficava olhando ele passar
Como quem vai viajar,
No seu buik 51,
Que dizia ter comprado novo...
E sua demonstração de riqueza:
Duas notas miúdas, amassadas, tiradas do bolso.
Sempre que o chamavam de mendigo,
Exibia-se:-
Melhor que vocês, que não têm esse dinheirão...
Na verdade ele não mendigava, morava na rua nossa,
exigia
Todas as manhãs o café, depois o almoço,
vinha como convidado
À porta de toda vizinhança,
que o queria bem,era o guardião
das nossas portas e crianças.
A rua era dele, a rua era sua casa.
De repente não o vi mais, estranho,
Mas ele fora recolhido ao asilo.
Tornando-se um pobre asilado, de nós.

Digitais

Digitais


Essas sujas paredes marrons
Amarelas...
Essas letras comestíveis
Sobre elas...
Essas mãos de crianças, carimbadas
Nelas...

Uma incondicional deferência:
Todas se curvam à mão da criança
E de seu chocolate amargo
Nas terças de madeira e prego

Vistas arranhadas pelas rodas
De suas bicicletas
E tomadas ousadas...
E mãos frenéticas...

Tudo isso é uma cena que passa,
Que lembra um tempo que passa,
Que faz uma lágrima, que fica...
E abraça.