terça-feira, 31 de janeiro de 2017

                                                         O PODER DE DIZER NÃO!

Dizem que os países democráticos têm mais liberdade, sim... A temos, mas para que a temos? Para eleger nossos representantes nos legislativos e executivos espalhados pelo país. Mas, quanto esses poderes são poderosos? Se as decisões que mais afetam nossos dia a dias vêm de outras esferas? Quem elege o presidente do banco central? Quem elege os presidentes dos tribunais? Indo mais longe, quem elege os banqueiros que impõem o custo aos produtores e o preço final de cada produto? Quem elege os parceiros comercias de nossos rincões? Assim a democracia é meio que uma “bancocracia” ou alguém duvida que o custo financeiro das empresas é maior que a folha de pagamento dos trabalhadores dessas empresas? Que o gerente, seja do banco ali da esquina, seja do banco mundial, do FMI, mandam mais no cálculo do que o custo fixo das despesas ou o variável, dos insumos? Quanto custa no cálculo dos insumos os custos financeiros do fornecedor? Quanto custa na folha de pagamento no inicio do mês, liberada pelos bancos? Quanto custa o custo financeiro embutido no transporte, quando quase todos os meios, os caminhões, estão financiados pelos bancos? Não adianta muito o cidadão ter o poder de eleger seus representantes se eles não representam nada no custo diário dos eleitores para sobreviver ao famigerado poder do dinheiro!

Reputo como engraçado, não fora trágico, a preocupação dos jornais com o juro atuado pelo banco central, variando meio ponto para cima ou para baixo, em torno dos dez por cento AO ANO, quando qualquer cidadão devedor, quase todos nós, paga aos bancos esses mesmos dez por cento AO MÊS! Sei que há ofertas a um ou dois por cento para certos clientes, mas a grande arapuca é a oferta dos cartões de crédito, dos limites especiais, dos encargos que embutem em qualquer “estouro” no saldo da conta corrente, além dos juros tem as taxas, quase invisíveis a cálculo nu, mas que elevam em muito o custo de cada cliente, as tarifas para se abrir e manter uma conta corrente... Para isso, que muito interessa, desvale a democracia. A palavra gasta pelo mal-uso, vem de nossa língua mãe, mas o mau uso compromete a intenção. A república atual está se distanciando da sua primeira acepção: o governo no interesse do cidadão, de todos, independente do tipo de governo, deveria ser gerido pela soberana vontade do povo, isto é, da res pública “coisa pública”, que os romanos implantaram 500 anos antes de Cristo, com a deposição do rei, para ouvir o povo, a democracia, que tornou  Roma numa vasta expansão territorial, caiu de podre no ano 27 a.C. quer dizer que sobreviveu mais de 400 anos, deteriorou-se e voltou a ser um império, ou seja, a ser governada de modo imperioso, que um dos sinônimos pode ser arrogante. Lembrando que a nossa república, foi proclamada em 1889, diga-se de passagem, pelos militares, é preciso que cuidemos melhor de sua passagem para a maturidade, e, que não deixemos que apodreça nos desvãos dos poderes paralelos, não elegidos mas verdadeiros mandatários da vida corrente de um país.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Lote urbano


Um lote urbano (15x30)
Encerra um mundo inteiro,
De formigas, ninhos de vespas
Entre gramas e carrapateiras,
Até a ossada de um cão
Mora por ali…
Este mundo faz parte
De um universo de mundos…
Que é outro lote urbano
Com outras medidas,
Que se estende além
Do que a vista alcança
Mas é tão pequeno quanto,
Visto dos longes…









Marias-sem-vergonha


Tudo ficou tarde
Numa imensidão
De nadas…
Até o riso ficou triste,
Assim, por nada…
Apenas sussurrando
As flores murchas
No canto regado a secas
Na terra dura plantada
De marias-sem-vergonha
Nos vãos da calçada.












O homem jogado fora


Tudo que ele tinha por fazer,
E não o fez…
Entope seu esgoto de ideias,
A descarga manda embora
Excrecências,
Junto manda o oco
De onde saem as ideias,
Daí é que o homem
Não presta mais ao trampo
É jogado fora…













Fundeados


O dia não muda de data
Assim no meio da noite
Quando marca zero horas.
O dia hoje é quando acordo
E não viro de lado
Nem levanto pra mijar,
Mas quando levanto de vez
E vou caçar meus outros,
Fundeados no mesmo esgar.














Meu far-niente


Estou sentado na praça
Comendo BIS,
O guarda em pé me espia,
Acho que por inveja
De meus descompromissos…
Meu far-niente,
Se espiga para mostrar-se
Indiferente, mas,
Como o corneteiro frente ao limão,
Não consegue empertigar-se,
Talvez me veja como exótico
Por ser tão normal
Entre essas pessoas coloridas
De verde no cabelo
Ao podre na vida,
Que mastiga alguma coisa
Que não é comida…






Na beira do meu corpo


Na beira do meu corpo,
Que é dois terços água,
Afogam-se os desavisados
Nesse pleno lodo…






Armadilha


Sem querer
Prendeu-se à última gaiola,
A da consciência…







Os nomes que os homens dão


Os nomes que os homens dão
Às coisas, aos semoventes,
Não muda em nada?
Tem vezes que penso sim,
Que engrandecem ou apequenam
Nas faces visíveis nas coisas.
Se o homem viu a primavera
Na planta ou o sorriso no outro,
Ele lhe dá um nome, a torto.
Se os descobriu nos seus outonos
A evocação desse momento
Lhe é diferente, nas indiferenças:
Quando o homem vê o outro,
Inda nascente, e quando este outro
Cresce e se demuda,
O que lhe parecia João
Pode seja uma Joana nessa muda…
Assim como o sapo parece pedra,
Assim como a pedra parece sapo…
Ou o príncipe um larápio.
Toda visão é efêmera
E vai se transformando
Nas cores da vivência.
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domingo, 22 de janeiro de 2017



As pessoas passam


Olho pela janela,
As pessoas passam…
Olho pela janela,
As pessoas passeiam…
Nenhum mal há nisso
A não ser a distância
Entre o bem o mal.
Olho pela janela,
Não distingo o armado,
Se bandido ou soldado…
Ou as duas coisas.
Olho pela janela,
Assusta-me a dúvida,
Já não vejo flores
Nem o sol se pondo,
Vejo caminhantes
Com suas sombras
De cowboys.
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Os versos são livres


Os versos
São livres pensares
A ser colhidos,
Se não tolhidos
Por quem não os semeia.
Passageiros das mentes,
Instrutores das almas…
E vão te fazendo menor
Tanto mais se desfazem
Em palavras lavradas.
Assim, palavreadores,
Ao plantar suas sementes,
Esperando que as colham,
Frutos, adiante, doces,
Que não pereçam azedos
A puxar o riso entre dores
E fazer de amoras amores,
Antes que o fossem.


Somos um tanto cegos


Somos todos um tanto cegos,
Ao não ver obstáculos…
Mas sentimo-los nas topadas,
E daí nos desviamos
E vamos em frente,
Que, à frente, teremos dúvidas
Dirimidas…
É preciso sentir acontecimentos
Que os olhos não podem ver
Em sua visão estrábica.
E seguir em frente…
E seguir em frente…
Até que se acabe a mágoa










A vigor


Há mais pessoas
Enterradas
Que pessoas
Caminhando
Sobre as campas…
Os ossos são memória
Que avigore.
As vidas são contadas
Pelos fatos,
De bordados
Sobre as mesas
A concreto
Sobre o asfalto.










A diminuta aranha


A diminuta aranha
Bordou sua teia hoje pela manhã,
Já anoiteceu e não conseguiu
Sua mosca…
Dá-me lição de perseverança,
Pode seja meu olhar poético
Mas é verdadeiro:
Nós, humanos, não temos
Essa paciência à espera da caça,
Sobre a mesa posta.













Fracionamentos


Descubro, pesarosamente,
Que só eu, às vezes, não me sei.
Todos sabem onde pisam,
Todos têm seus GPS
E se guiam direitinho…
-Para suas covas? Me pergunto…
Sei do meu tempo ido,
Não sei de meu tempo vindo…
Todos se comprazem em resolver
Seus cocientes, suas frações,
Mas não suas consciências
De tempos elevados a números,
Vendidos ou comprados,
Nessa elevação numérica
Ao quadrado.









Todas as ordens


Todas as ordens
Foram desobedecidas,
Fica patente que
Não é proibido ser feliz
Entre as agruras do tempo…
As más línguas,
As boas línguas,
A festejar aleatoriamente
O que se vai com a gente
Entre sóis de meios dias
E sombras de meias noites…
Das alegrias benvindas
Aos açoites.










Ferro-gusa


Aqui se grava
A mala sorte
Em fogo e água,
Em água e fogo,
Ao se fundir o aço
Na moldura
Do ferro-gusa
À forja acesa.
Aqui o ferreiro ferra
Seu próprio casco
A calçar-se a ferradura
De seu cada ato.











Nascituros


Nasceram comigo
Os sons dos arredores?
Aos poucos descobri-os,
O canto dos passarinhos,
Das moçoilas,
Dos cães e dos ventos…
Depois descobri
Que estavam todos aí
Antes de eu nascer conceitos
E reconhece-los junto…
Agora,
Perdido o interesse,
Continuam, quando me afasto
E não os ouço,
À distância
Perdi meu deslumbramento
De em criança.









Passado o dia
Dos riso pronto
Teremos de fabricar
Nova alegria…


















Cá dentro o frio


Cá dentro o frio
Da fresta da janela
Filtra-se
E escorre ao gelo
Das intenções,
A memória puxando
Momentos
Do fundo do baú
Dos acontecidos
Faz-me lágrimas e risos…
Pendendo o siso.
Todas as ofertas
Passeiam
No tempo vivido,
No por viver,
Deixando transparecer
O possível
Sonho feito
Das realidades.
La fora o dia findo
Diz adeus,
Cobra sua parcela
De eternidades…
Confessionário


Talvez o dia fosse
Reiniciado em paz
Se as pedras
Se movessem
Um pouco mais…
Talvez o dia fosse
Se o gelo encobrisse
Um pouco mais…
Talvez o dia fosse
O sangue derramado
Um pouco mais…
Não há pena aos
Animais na peia,
Aos predadores
Desnaturais,
Quando o homem
Se debruça
Sobre a mira
E faz o sangue
Jorrar no outro…






Talvez o dia fosse
Nova noite
Para deixar-nos
Espreitar
As sombras
E sabe-las de
Algum viandante
Que já foi vezes
Morto por viandar…
Talvez o dia fosse
Alegria entre choros
Desvairados
No atropelo
Desses terremotos
Se o dia fosse
Recomeçar.











quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Gosto de fruta doce


A doce alegria
Das horas bem dormidas,
Transmitida na força do sorriso
Dessa criança sendo servida.
Gosto de fruta doce, madura,
Cheirando ao fresco aroma…
Assim é a vida levada a sonhos,
Sonhar o impossível regresso,
Com o possível ingresso na orla
Desse mar bem-vindo,
Desse rio de água pura…
Desse sorriso criança
Inda na inocência de sua pré…
A doce forma de guardar na foto
O momento giz da cantiga.
Este sorriso, se forçado forte,
Mas tranquilamente verdadeiro
Ao lembrar depois de amanhã
Tamanho zelo.
A doce alegria da inocência
Enquanto subsiste sobre
Outras lembranças
Da vivência…
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As pessoas passam


Olho pela janela,
As pessoas passam…
Olho pela janela,
As pessoas passeiam…
Nenhum mal há nisso
A não ser a distância
Entre o bem o mal.
Olho pela janela,
Não distingo o armado,
Se bandido ou soldado…
Ou as duas coisas.
Olho pela janela,
Assusta-me a dúvida,
Já não vejo flores
Nem o sol se pondo,
Vejo caminhantes
Com suas sombras
De cowboys.





Os versos são livres


Os versos
São livres pensares
A ser colhidos,
Se não tolhidos
Por quem não os semeia.
Passageiros das mentes,
Instrutores das almas…
E vão te fazendo menor
Tanto mais se desfazem
Em palavras lavradas.
Assim, palavreadores,
Ao plantar suas sementes,
Esperando que as colham,
Frutos, adiante, doces,
Que não pereçam azedos
A puxar o riso entre dores
E fazer de amoras amores,
Antes que o fossem.






Somos um tanto cegos


Somos todos um tanto cegos,
Ao não ver obstáculos…
Mas sentimo-los nas topadas,
E daí nos desviamos
E vamos em frente,
Que, à frente, teremos dúvidas
Dirimidas…
É preciso sentir acontecimentos
Que os olhos não podem ver
Em sua visão estrábica.
E seguir em frente…
E seguir em frente…
Até que se acabe a mágoa










A vigor


Há mais pessoas
Enterradas
Que pessoas
Caminhando
Sobre as campas…
Os ossos são memória
Que avigore.
As vidas são contadas
Pelos fatos,
De bordados
Sobre as mesas
A concreto
Sobre o asfalto.










A diminuta aranha


A diminuta aranha
Bordou sua teia hoje pela manhã,
Já anoiteceu e não conseguiu
Sua mosca…
Dá-me lição de perseverança,
Pode seja meu olhar poético
Mas é verdadeiro:
Nós, humanos, não temos
Essa paciência à espera da caça,
Sobre a mesa posta.













Fracionamentos


Descubro, pesarosamente,
Que só eu, às vezes, não me sei.
Todos sabem onde pisam,
Todos têm seus GPS
E se guiam direitinho…
-Para suas covas? Me pergunto…
Sei do meu tempo ido,
Não sei de meu tempo vindo…
Todos se comprazem em resolver
Seus cocientes, suas frações,
Mas não suas consciências
De tempos elevados a números,
Vendidos ou comprados,
Nessa elevação numérica
Ao quadrado.











Todas as ordens
Foram desobedecidas,
Fica patente que
Não é proibido ser feliz
Entre as agruras do tempo…
As más línguas,
As boas línguas,
A festejar aleatoriamente
O que se vai com a gente
Entre sóis de meios dias
E sombras de meias noites…
Das alegrias benvindas
Aos açoites.













Aqui se grava
A mala sorte
Em fogo e água,
Em água e fogo,
Ao se fundir o aço
Na moldura
Do ferro gusa
À forja acesa.
Aqui o ferreiro ferra
Seu próprio casco
A calçar-se a ferradura
De seu cada ato.



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Volta à casa


A palavra volta à sua casa
Depois de arguir motivos
Em pinturas, esculturas, lavras…
Volta a mostrar-se poema
Num caderno
Aberto aos sentimentos
De razões arrazoáveis…
Palavra musicada em cada verso,
Vinda das cores imaginadas
Nesse quadro paisagístico
Onde a paz é obtida
Pelo silêncio.











Dentro das derrotas


Dentro de todas as derrotas
Subsistem vitórias,
Seja pelo sangue
Ou pelo esquecimento.
Cada hora que passa mistura
Vencedores e vencidos
Numa mesma vala,
Sob a mesma brisa,
A mesma falácia esquecida.
O dia depois degenera
Em vestes esfarrapadas,
Nos vencidos e nos vencedores
Na tala esquecedora
Das trincheiras.









Canções do nunca mais…


Nunca mais
As mentiras dos tempos meninos
Verterão desacontecidos…
No sonhar o toque dessas mãos
Da tia que amassava o pão,
Como antes fazia…
Nunca mais
O nude será inocente,
A rua será segura…
A mãe a acordar as gentes
Nessa cinza das horas puras…
Nunca mais…
Eu digo que o mundo está diferente
Mas na verdade a cada dia
Meu olhar é que muda,
Como a luz do sol do meio dia
E a mesma luz do sol, ao poente.
Nunca mais o mesmo prisma
A cada olhar resistente.




Indiferenças


A rua se sujeita
A toda sujeira,
Dos pés às almas…
Exposta à leveza dos pés
Que acalma.
Os passos entre portões de ferro
E guias de concreto
Trazem todos os residentes,
Do chão batido ao mármore,
Das entradas suntuosas
À calçada,
Onde gente é gente,
Mais nada.










A outra parte silencia


Se ainda houver
Em mim o grito,
A outra parte silencia…
Pois o ódio que poderia
É menor que o amor vigente.
Se sinto mágoa por alguém
Essa mágoa se dissolve
No que sinto por tantos…
Que a paz que me vive
É verdade perene
E a raiva que teria
É enquanto,
E tudo que vivo cada dia
Não passa do pôr do sol
Desse dia,
Mas a esperança que me vive
Vem de longe e aspira longes…
Mesmo que eu não diga
O que diria,
Fosse tanto.



Viandante


Eu me fui atrás de mim
Viando às aventuras
Em que me aventurei…
Mas eu não estava lá!
Nem cá nem acolá,
Estava onde não pretendia estar,
Por sombreiro…
Informado ter sido visto,
Além de mim, nas ombreiras
Do dia ontem,
Ter visitado o dia hoje,
Procurando o dia amanhã
Eu me vou longes…
Talvez me encontre ainda
Além das colinas viajadas,
Em mim.











O poema, visto de frente
Tem um perfil diferente.









Nesses tempos de wathzapp
Não se percebe diferença
Entre usar um aparelho
Ou ser usado por ele







Põe sentido, menino


Põe sentido no que digo,
Dizia o velho, de vivido,
Que o som que ouves
É milenar…
De tempos outros
Que não voltam mais,
E ao mesmo tempo
Continua ativo,
Mais que tua memória
Pouca, tua fase louca
De pouco siso…












Na lembrança das pessoas


Quero saber se inda existo
Na lembrança das pessoas,
Quero poder esperar isto,
De uma vez acontecidos,

Que é o viver e o conviver
Com a dor despercebida…
Quero usar desse convívio
Ao meio riso do sarcasmo

E voltar a ter aquele amigo
De certa vez me esquecido,
Sonhado ser-me permitido.

Quero saber se inda existo
Na lembrança das pessoas,
De uma vez acontecidos.






Descrido


É certo o ser humano
Descresse e morre-se?
Finda quanto ao tempo,
Se renova em cada cova,

Na pedra, que não move,
No vento que embalança
Na árvore que se torce…
Em tudo há renovação

Na natureza o tronco
Inda volta a florescer,
Com mesma condição

Do túmulo do homem
Nasce outro homem
Herdado, que se move.






A demora


O que sonhas dormindo?
O que sonhas acordado?
Os sonhos levam para longe
O conquistado…
Vens de todas as moradias
Donde trazes um punhado
De terra no embornal
A suster teus sonhos passados
E conferir-lhes o novo,
Aqui deixado ficar…
Passe a festejar os dias
Depois de festejar os anos
Vividos nesse engasgo,
Devolve aos outros dias
Para comer o hoje,
Esperando os amanhãs, em dias,
Não mais em anos…
Demorados.





Apreensões


A senhora
Lava seus pés na fonte,
O senhor procura
Restos nos baldes sujos,
O menino índio
Vende um cesto de vime,
Tudo isso fere a noção
De estarmos vivos
E alimentados…
Noção disparatada
Das diferenças…
O policial se apega ao mando
E leva a taboa de doces
Da senhora vendedora
De sonhos…
Por que, meu Deus, a fauna
Se alimenta dessas agruras
E não vê os verdadeiros
Bandidos dessa rua?

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A razão de nadar ao contrário


O peixe se expõe
À lavratura da espécie…
A garça espera
Que ele venha apanhar
O miolo de pão jogado
Pelo homem da margem…
A razão de nadar ao contrário
Afeta todas as ações,
Do peixe ao homem,
Da garça ao lobo…
Até que a fome passe
Ou passe por ele
A fisga…
Que faz do homem praxe
Despendida.










sábado, 14 de janeiro de 2017

Volta à casa


A palavra volta à sua casa
Depois de arguir motivos
Em pinturas, esculturas, lavras…
Volta a mostrar-se poema
Num caderno
Aberto aos sentimentos
De razões arrazoáveis…
Palavra musicada em cada verso,
Vinda das cores imaginadas
Nesse quadro paisagístico
Onde a paz é obtida
Pelo silêncio.











Dentro das derrotas


Dentro de todas as derrotas
Subsistem vitórias,
Seja pelo sangue
Ou pelo esquecimento.
Cada hora que passa mistura
Vencedores e vencidos
Numa mesma vala,
Sob a mesma brisa,
A mesma falácia esquecida.
O dia depois degenera
Em vestes esfarrapadas,
Nos vencidos e nos vencedores
Na tala esquecedora
Das trincheiras,
Na volta pra casa.








Canções do nunca mais…


Nunca mais
As mentiras dos tempos meninos
Verterão desacontecidos…
No sonhar o toque dessas mãos
Da tia que amassava o pão,
Como antes fazia…
Nunca mais
O nude será inocente,
A rua será segura…
A mãe a acordar as gentes
Nessa cinza das horas puras…
Nunca mais…
Eu digo que o mundo está diferente
Mas na verdade a cada dia
Meu olhar é que muda,
Como a luz do sol do meio dia
E a mesma luz do sol, ao poente.
Nunca mais o mesmo prisma
A cada olhar dessa gente.




Indiferenças


A rua se sujeita
A toda sujeira,
Dos pés às almas…
Exposta à leveza dos pés
Que acalma.
Os passos entre portões de ferro
E guias de concreto
Trazem todos os residentes,
Do chão batido ao mármore,
Das entradas suntuosas
À calçada,
Onde gente é gente,
Mais nada.













Se ainda houver
Em mim o grito,
A outra parte silencia…
Pois o ódio que poderia
É menor que o amor vigente.
Se sinto mágoa por alguém
Essa mágoa se dissolve
No que sinto por tantos…
Que a paz que me vive
É verdade perene
E a raiva que teria
É enquanto,
E tudo que vivo cada dia
Não passa do pôr do sol
Desse dia,
Mas a esperança que me vive
Vem de longe e aspira longes…
Mesmo que eu não diga
O que diria,
Fosse tanto.



Poética de anos atrás


Desde que a amanhece
As luzes fazem sua prece…
Já tocam longe os sinos
A acordar mal dormidos,

A praça se enche de vozes,
São os pássaros clareando
Os sons na noite morridos,
De morte natural, já que

Não ouvimos nada de ver,
Antes do clarear os sons,
Nem um gemido, uns ais…

Apenas folhas farfalham
Gotas deixadas entre elas
Nas névoas sob o luar.






Teu outro nome seria terra


Teu outro nome seria terra, homem.
Terra, teu outro nome seria homem.
Assim passamos de terra a flor,
De rancor em alegria
Na hora em que êxtase dor seria,
Porque assim é a natureza nossa
E em todos ao redor, civilizando
Velhas touceiras em doce grama.
Desses queimados feito arruança
Sob o solo e sobre a mesa.
Que outro nome para esse homem
E sua rudeza?











Pares


Eis que te chega
A maturidade…
Ver-te espelho
De todas as idades.
Ver-se perfeito
Nos teus defeitos,
Ver-se no outro
Nos desencontros
Afeito ao último
Desregramento.
Assim ficamos todos,
Muito iguais, amigo,
Quando comparsas
Teu ser comigo.