domingo, 30 de maio de 2010

Catapultas do século XXI

Catapultas do século XXI

Há um ano a imprensa rotulou de insano o ditador Kim Jong-II da Coréia do Norte, que estava testando sua arma nuclear numa região inóspita do país, balançando o poder de fogo entre nações, foi lautamente noticiado que a proliferação nuclear atingira um patamar de perigo imediato. Um ano depois, o dedurado da vez é o Irã, que insanamente enriquece urânio. Esquecem todos os insanos de antes, que a proliferação de armas nucleares, no lugar das chamadas armas “sujas”, vem dos idos de 1940, quando os insanos da época disputavam os cientistas a tapa, para ver quem construiria primeiro a tal arma. Insano por insano, há de se confiar menos na sanidade de Kim e dos ayatolás do que na de Bush e suas ameaças reais, que desmantelou o Iraque afirmando posse de armas, que não apareceram? Quanto de insanidade pode ser medido nas ações de poder demonstradas ao longo da história? Hitler não tinha bomba atômica, Napoleão não tinha, César não tinha, mas todos estes e mais inumeráveis comandantes desse mundo insano perpetraram aniquilação de nações, de etnias inteiras, de inocentes caminhantes desse terreno minado, que é viver em todas as épocas...
Há doze anos atrás os insanos da vez eram o Paquistão e a Índia, que, levados por escaramuças de vizinhos, noticiaram a posse de bombas nucleares, hoje com estoque de SESSENTA ogivas cada! Em 1964, depois de Inglaterra, Rússia e França, a China, na insanidade de seu comando, anunciou sua bomba, hoje com estoque de 180! Depois, em 1966 o belicoso Israel, que ocupou “na marra” territórios de povos vizinhos, inaugurou a sua! Insano por insano, o que dizer desses dois, Estados Unidos e Rússia, que têm o embornal cheio, como fazíamos em criança, com nossas guerras de estilingues e embornais de mamona, com milhares de ogivas cada um?! Depois de se armarem, essas nações assinaram um tratado de não proliferação, não parece piada?
Resta aplaudir paises que abandonaram projetos de armas nucleares, como África do Sul e Líbia, e paises amistosos, como Brasil, que enriquece o urânio precipuamente para energia.
O interessante dessa ameaça toda é que depois de arrasar o Japão em 1945, a bomba esteja quieta até hoje. Não podemos esquecer que estamos sentados sobre ela, onde quer que estejamos. Por paradoxal que seja, a posse desse poder por tantas cabeças inibe o ímpeto guerreiro e ajuda a proteger-nos dessa insanidade.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

a arte de legislar

A arte de legislar

"governar é a arte de criar problemas cujas soluções mantenham a população em suspense" Ezra Pound

Ou, adaptando para os dias políticos de hoje, seria a "arte" de expor problemas para manter a população desatenta aos fatos outros, que interferem mais na vida de cada cidadão, e não está nas prioridades da autoridade em questão, como podemos ver nas exumações dos esqueletos de vinte anos ou mais, de desmandos no legislativo vergonhoso que elegemos nesse tempo todo de asnices eleitoreiras. Um exemplo exemplar: os mais de DUZENTOS servidores de cafezinhos do senado!! Juntados aos DEZ mil funcionários da casa, mumificados entre as quatro paredes ou desintegrados pelo país todo, ou melhor, pelo mundo todo, expondo ao ridículo os caras de pau, senadores que se dizem desinformados sobre o número de capachos a seu serviço, e querem se indignar com fatos comprovados, descritos pela mídia, segundo eles,culpada.
Hoje ostenta vergonhoso numero de quase três mil funcionários "comissionados", desses, quantos fantasmas perambulam pelas ruas?!
O Senado foi aberto em 1826, criou corpo em 1888 com o processo da extinção da escravatura, albergou grandes figuras no decorrer desses 180 anos de existência. Senadores da extirpe de Rui Barboza, entre tantos, se sentiriam ultrajados pelo atual quadro de legisladores (salvo alguns), que se locupletam dos cargos para os quais foram eleitos, e fazem da Casa do povo, sua casa, ou pior, a casa de ninguém, donde se pode extrair todo tipo de benesses, agora sob a chancela de "secreto" para suas farras, desde apadrinhamentos a formação de quadrilhas dentro dessas tantas paredes. Este terceiro pilar do poder está apodrecendo, ferido de morte pelas estripulias de tantos, e pede socorro!
Não vale a pena enumerar as falcatruas pluripartidárias de que somos vítimas, enquanto cidadãos, da atual legislatura, ou de passado recente, pois são tantas e de tal repugnância, que afetam o humor de qualquer um, mas é preciso aumentar a boca do trombone quando se fala de dinheiro público, porque estamos falando do NOSSO dinheiro, dos cinco meses de trabalho de cada cidadão, que é repassado para nossos servidores, pelos quais nos é devida explicação de como, porque e quando foi investido, e, principalmente, o que retorna para o cidadão, dessa quantia monstruosa de grana, que é engolida por esse dragão chamado imposto, e devidamente nomeado, já que imposto mesmo a cada um de nós, desde o cafezinho na esquina ao papel higiênico dos banheiros.
Pois é, velho Ezra, governar não deveria ser criar problemas, mas sim, solucioná-los, sem alarde e sem cara de pau, por pessoas decentes, que temos muitos, no lugar desses crápulas, que não são poucos.

catullês

Quando ouço certos discursos, falando um português enrolado(às vezes em economês, outras vezes em politiquês) lembro, com saudade, do Catullo da Paixão Cearense, que, respondendo a um poeta sulista, sobre seu linguajar caboclo, disse:”Cante lá que eu canto cá”. Era sua explicação para o coloquialismo de seus versos, entendidos por todos, enquanto os ícones da literatura criavam malabarismos Inatingíveis em sua lingüística refinada. Assim ouço ou leio os discursos rebuscados de líderes elitistas. Pequenos burgueses intelectualizados, que sobem à tribuna para derramar citações buscadas nas empoeiradas estantes de seus gabinetes, como faz costumeiramente o senador Mão Santa. Pretensos proletários, que, querendo representar o partido dos trabalhadores, como o caso do ministro Tarso Genro, derramam termos que insultam a classe, como a “referencia fundante “ que ele expeliu em seu palavreado nada claro, cheio de”transgressões etárias”.
Agora, sobre o trabalho do delegado Protógenes no caso do testa de ferro Daniel Dantas, quando ministros dedam a espetacularização da fulanização obstaculando seu trabalho, porque o delegado teria conseguido informações (secretas)da ABIN sobre o verdadeiro dono de tais valores. Mas, senhor Ministro, o documento não é forjado!(como são as palavras para desvio de atenção ao verdadeiro toque na ferida).
Então, frente à razão que a própria razão desconhece, prefiro ficar com o Catullo, que, no seu catullês dá um recado:-Haveis de ver, sonhadores/que de retalho em retalho/andais cosendo uma colcha/de quimeras...ilusória.../um dia, sem dor, sem mágoa/que ela, a glória, a pingo d’água/nos braços do desengano/esse proxeneta rufião/vos deixará solitários/como eternos visionários/com uns farrapos de sudários/para enxugardes as lágrimas/da vossa desilusão.
Assim sendo, e por ser a vida um corrimão só de ida, quando esses discursistas acordarem para a realidade de que é preciso ser de fácil entendimento o que se diz e se escreve, mesmo para eles próprios, que às vezes não lêem o que escreveram, um recado muito claro e coloquial:”escreveu, não leu, o pau comeu”.
Nisso tudo, há mais do que dificuldade de entendimento. Há dificuldade de compreensão, que procriará dificuldades de pensar. Que o raciocínio do ouvinte ou leitor, pressionado pelo desvio de intenções de palavras difíceis, desiste de pensá-las racionais, e, com isso, desiste de opinar ou julgar tais atos. O grande furo na água será o estar falando sozinhos , que já assistimos desoladoramente nas sessões congressuais.

Ressaca dos anos

Temos mantido o tempo pomar verde
À custa de excertos de vazões diárias
Das sujas águas ribanceiras velhas.
Como seremos de manhã, bem cedo?

Espreitando no espelho essa ressaca
De um tempo que vivemos e que era,
Olhos pesados, bocas ardendo sais,
Uma dor difusa passeando os dedos

Por rotas iludidas dos desejos que
Não teremos mais, nem de placebos,
Nem de memória a lembrar os ais.

Como seremos amanhã ao espelho
A dor de câimbras passeando nervos,
Se nem a memória nos alegra mais?

motivos

motivos


Eu me olho
pra você me ver!
Me enfeito,
me endireito todo,
Me visto ao gosto
de ver você.

Quantas vezes nos vemos,
assim,
Lado a lado,
sem estar nem perto?

Por certo nos
veremos sempre,
Que o tempo é lerdo
pra saber porque
Tu me olhas
Pra eu poder me ver.