sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019


                                                                              Excertos
Na sequência de tantos desastres por esses dias, vi-me sem palavras frente às desmedidas ações de pessoas e empresas, aos incidentes ou acidentes ocorridos sequencialmente, ferindo sentimentos, drásticos pela involuntariedade ou não, de objetivos.  Junto excertos de poemas para exprimir minha dor frente aos ocorridos.
Talvez seja pouco o enternecido sol posto nos escaninhos da vida... Talvez seja muito a lágrima vencida... Talvez seja a alegria pensada em cada manhã vivida... Sem talvezes, apenas a incerteza dos sorrisos, vindo das lágrimas, mesmo os mais indecisos nesse viveiro de emoções contidas, por verdadeiras, desmedidas na força das poses assumidas, na paz conseguida nos brasões do fogo posto em água morna no doce proibido das relações mantidas... Talvez seja pouco, mas é o que temos e como usamos esse “temos” em relação ao que vivemos sem porquês definidos. Talvez seja pouco o que oferto agora, nessa latíssima hora em que me é tão vida, salvando o que nos sobra de história. Não seria lícito desistir agora, assim, de última hora... Mas me atrevo a querer o viço do que nem foi outrora, tendo sonhado sempre os impossíveis ganhos e vivido com as possíveis derrotas... Talvez seja pouco desistir por agora ao seguir da vida quando um até logo se mostra adeus... A voz embarga a palavra esperando que volte no que se perdeu... O sorriso da espera, a lágrima do reencontro, a paz de reter amor nesse momento de dor... Quando um até logo exprime um adeus enroscado na garganta, uma verdade escondida no passo que se deu ao seguir da lida... Revestido da aura de um ser que vive, torna-se movimento, sentimento, plasma? Pensemos assim, um ser revestido de sentimentos inspirando cada memento... Como um anjo, talvez? Como um cão ou uma flor, a pedra alumiada no fundo da água corrente... A nuvem, de passagem, personificada em gente! Corpo é cerne, seja árvore ou abelha, pensos nas suas almas, corpo é invólucro, respira em cada pinheiro à lua de cada maré que estua... Seria profundamente aético pensar em corpo, humano, ou neste inseto precursor da leva de tantos outros, apenas mais queredor de estar certo, incerto, devedor de todos os progressos que inspiram e aspiram sob o mesmo teto deste azul profundo... Eclético. A ilusória sensação de firmes, embora lesos, faz com que choremos a última hora de cada ser que se vai, e leva um pouco de cada um na sua passagem, por memória... Neste momento de perdas talvez seja propício pensar na liberdade das almas, idas por causas imprecisas, mas cabíveis em cada vida. Segundo o salmo: “São muitas as moradas”, pensemos que esses que se foram, mudaram de casa, para melhor.


Dias de sol largo
Nesses dias de sol largo
As horas espiam o sono.
Às vezes se voltam
Contra os abandonos...
A camisa preta me espera,
A branca se desespera,
A chuva desaba sobre elas.
Nesses dias de sol largo
O tempo desfazido em nadas
Volta a sensibilizar,
O cão que o caminhão lesou
Inda manca sua dor,
A mulher apanhada, chora
O dia que a procurou,
No mesmo tempo a esmola
Deixa no esmoleiro
Um tanto o bolso teso,
A mão que ofertou moeda
Pede de volta o doado...
Nesses dias de sol largo
Mesmo a tarde núbia
Se parece madrugada
Com o tempo desavido d’hoje,
Do fazer nada...
A blusa de punho roto
Espera inda o frio novo,
Pensa neste varal
De inutilidades guardadas...
Vendo essas roupas gastas
Lembro pessoas gastadas
Pelas madrugadas...
Lonhito, todos velam
Pensando como viveu tanto
Bebendo pinga como água.
As tias que o sustentavam
Suspiram aliviadas.
Nesses dias de sol largo
Na praça da matriz
Quantos jogam suas vidas
No carteado...
Quantos pedem uma moeda
E se contentam com tão pouco...
Que vidas são essas
Que o não vivido é tolerado?
Nesses dias de sol largo
O futuro se afunila
Num pouco das alegrias
E um tanto mais de mágoas...
Como se fora sempre assim
Com o olvidar das jornadas
E esse fio de esperança
Nas palavras...
Nesses dias de sol largo
O que se fez de ternura, ou raiva,
Desfaz-se na ilusória
Sensação de vivido tudo
Enquanto não se viveu nada,
Que pudesse ser recordado
Sem uma lágrima.
Terminado o horário de verão
Até o verão se acaba
Num banho frio, sabonetado
Nessa última vontade:
Palavra por palavra
O desfazido se transforma
Em sonho novo
O mesmo sonhado vago
Entre o plano e o realizado.
sergiodonadio

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


O apanhado das horas

Somadas
As horas vivíveis se impõem
Ao realmente vivido.
Há de se ver passar à frente
O que seria plausível ser
Entre as planuras necessárias
Para chegar-se ao pico...
As horas vivíveis
São maleáveis e disformes
Ao percorrido pedregoso
Das desvantagens
Reveladas férteis e fortes,
Muros drenados do nada,
Diante das disfunções
Ao friso...
As horas vivíveis
São esperadas guarnecidas,
Por isso a desilusão
De seus pares ao percorrido
Chão varrido de mágoas... Sergiodonadio
O gozo

Deveria ser o fim,
Mas é o meio,
Depois vem o fim,
Que é o receio...







Todas as vozes
São ilusórias...
Do afago da infância
Ao fim das auroras...





O poder

É poder, de início
Pelo medo,
Pela força do outro,
Pelo litigio... Depois
Pela dor provocada
Pelo látego
Escondido...













Planeta água

Nosso mundo é água...
Água viva... Penetrada...
Água pura da cachoeira,
Antes de ser abusada.
Nosso mundo é água...
Como somos todos
Inquilinos desta casa,
Homens, ratos, bigatos,
Todos armazenando
Dois terços da água...
Impenetráveis mistérios
Líquidos desde a folha
À nevoada...







Apreendimentos

Pouco se apreende
Com o passar dos tempos...
Continuo respirando
O mesmo ar poético,
Agora um pouco menos
Iludido com as verdades,
Versos, inúteis? Como antes...
Agora mais desacreditados
Para os que a memória
Os faz passado.










O essencial

Não somos obra prima,
Nem somos obra imortal...
Mas uma obra de um deus
Com respeito aos desígnios
Tornados desejo carnal.
Talvez seja a respiração,
O calor dos corpos ligados,
Talvez a profanação...
A posição de uma estátua
Ou a mão em questão
Cobrindo o sexo como obra,
Mas esta dama desnuda,
Estátua viva que empolga,
Por sua secção de vida
Entre soluções e normas...
Talvez seja a imaginação
Do escultor que a contorça...
Não somos obra prima,
Nem somos obra imortal
Mas talvez essencial.
Na preguiça do cansaço

Diria que aos setenta e três anos
A preguiça do cansaço
Toma conta de minhas vontades.
O difícil saber-se fraco, frágil,
Faz parte do envelhecer plácido...
Eu me sei, assumo a preguiça
Até mesmo de descrever
No verso as caminhadas...
Ordenar nesses móveis
Coisas palpáveis ao silêncio...
Aos poucos vamos sendo
Despachados pelos convivas...
Pelos que me estão relendo.
Mas o que descrevi escrevendo
Continuará escrito nos adendos,
À força de meus anos
Revividos...

sergiodonadio

Bolachas com queijo

Chegando a madrugada,
Deixando de lado
Minha máquina de escrever,
Desdenhada pelo computador...
Um vexame para nós dois.
Penso minhas mulheres:
Esposa, filha e neta querendo
Sair, ver vitrines, parentes,
Ir a festas e missais...
Dias de tardes conteiradas às noites
Em que quero ficar aqui,
Talvez umas bolachas com queijo
Um copo, coca cola ou leite,
Sozinho, no conceito delas,
Acompanhado de ideias
No meu conceito... Quem erra?
Quem caminha do meu jeito.




Alguém disse que você viria

Nesse quebra-cabeça
Que é a memória dos fatos,
Imaginando-os desacontecidos,
Antes de sabê-los perigo e troça...
Pontos que volta e meia retornam
E acodem o sentido, procuro
Rememorar com claridade a vez
Em que levei um caminhão novo
Para Rosário do Ivaí. Descendo
À primeira ponte saindo de Mauá
Surpreendi-me com a velocidade
Que tomou por si a máquina,
Tentei a reduzida, sem saber que
Na descida tornaria ponto morto,
E assim descemos desbragados...
Passando a ponte sem freio
Demos num banco de areia
Findando a desembestada,
A espera de um anjo da guarda,
Que viria...



D’outra feita
Cruzei o rio na enchente,
Ele estava nervoso,
Carregando paus
E o que se atrevesse...
O jipe começou boiar
Sobre as pedras
E fomos deslizando
Como uma balsa
Até a outra margem,
Com um frio na espinha
Doída pelo medo...
Haveria alguém na ajuda,
Talvez o anjo, a cuidar
Deste insultuoso vivente
Frente ao poder da natureza...
E sua benevolência
De anjo...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019


Pro mesmo cais

Aos que partiram
E não voltaram...
Aos que partiram
E voltaram atrás...
Aos que ficaram
Sonhando partidas...
Todos navegaram
Pro mesmo cais.

À procura do mar alto
Nos afogamos quando
Observamos o mar alto
A procura de barcos
Que pensamos fácil
Neste poder de ir
E voltar sem danos
A mais...




O som

Ao este tempo,
Oco
Ao outro tempo,
Eco...









O que vale na prova final
É a interpretação do texto:
Moral ou amoral?





Contagem

Continuamos
A caminhar sobre
Nossas pedras.
Nus cotiamos
Silenciosamente
Sobre as pedras
Que deixamos
De tumultuar...
Até reconhecer
Nossos erros,
Uns banais,
Outros fatais,
No correr dos
Anais...







À procura de nós

Não podemos
Aprofundar à caça
No fundo desse lodo.
Não conseguimos
Respirar ofegantes
Essa condição
De predadores...
Talvez por isso
Emergimos
Vez ou outra
Da nostalgia
De sermos lobos
À procura de nós,
Bobos...







Profissionais à deriva

O pedreiro em sua pedraria,
O servente em sua serventia,
O sorveteiro e sua especiaria
O marqueteiro na sorveteria,
A maquiadora, quem diria?
Não são usuários de sua cria,
São empregados na engenharia
De engendrar a falsa mania
De elogiar por patifaria
A vã espera pela euforia...
Eles nem usam nem ousam
Na significância de suas vidas
Nesse vai e vem dos dias...










O que faria eu
Se voltasse ao princípio?
Talvez tocasse mais
A tecla: Deixa disso.








Sempre vamos ter o que falar
Das tantas versões da verdade...
Talvez a verdade seja 
A mentira que fica...








Problemas
Que não se resolvem
Na paz do dia
Posterior dissolvem...














O apanhado das horas

Somadas
As horas vivíveis se impõem
Ao realmente vivido.
Há de se ver passar à frente
O que seria plausível ser
Entre as planuras necessárias
Para chegar-se ao pico...
As horas vivíveis
São maleáveis e disformes
Ao percorrido pedregoso
Das desvantagens
Reveladas férteis e fortes,
Muros drenados do nada,
Diante das disfunções
Ao friso...
As horas vivíveis
São esperadas guarnecidas,
Por isso a desilusão
De seus pares ao percorrido
Chão varrido de mágoas...
sergiodonadio