quinta-feira, 30 de abril de 2015



Aqui... Onde? No silêncio.
 AOS PROFESSORES EM LUTO

Quase não chegamos
Aqui,
Viemos capengando pelas trilhas,
Voejando pelos despenhadeiros,
Caindo pelo arenoso chão
De estrelas...
Mas chegamos
Aqui,
Arranhados, costurados, apeados
De nós mesmos
Como vermes em pau podre
Depois da chuva...
Por que estamos
Aqui?
Porque lutamos pelos salários,
O sal de nosso ideário,
Pela contenção dos males
De nossos malefícios seculares...
Por isso estamos
Aqui,
Alijados de nossos lares,
Perambulando pelos palácios.
Empurrados para fora
Daqui.
Sergiodonadio.blogspot.com

terça-feira, 28 de abril de 2015



Bigas


Deito-me,
Entre cobertas abertas
Fecho os olhos, fecho os sentidos
E viajo...
Visito países bascos,
Mediterrâneos,
Fileiras de parreiras de Espanha...
Não importa ver grandes obras atuais,
Prefiro as ruínas romanas
Por todo seu império
Desfeito em ruelas,
Conturbado pelo som das sirenes,
Carros por toda parte,
Que não são bigas...
Deito-me
E me sinto vigiado
Por esses recantos floridos,
Um dia palco de guerras
De todos os tempos,
E convivem comigo.




Algo sussurrava sob o solo

Algo sussurrava sob o solo...
As mariposas queimaram suas asas
Em torno da luz,
Uma vaga noção do ocorrido
Gerava esse medo infuso...
O fogo se empalhava em remoinhos,
A madeira da árvore crepitava
À luz desse fogo...
Deixei uma panela de pinhões
Na lareira,
Corri...
Como se lá fora fosse mais seguro
Peguei uma concha de água no chão,
Molhei a testa, acordando meus medos,
Alguém chama pelo meu nome,
Assisto o medo nas faces outras,
Eu estava brilhando, diziam,
Com as maçãs do rosto envergonhadas
Reagi ao medo paralisando
Quando vejo a menina arrumando
Uma flor vermelha nos cabelos,
As estrelas continuam piscando
Sua cor de prata.
Sergiodonadio.blogspot.com



Embora seja visto idoso
Estou vagando
Pelas terras ocas dessa estrada
De montanhas desfeitas
E mariposas,
Descobrindo quão pequenos somos,
Nós, a montanha e a mariposa,
Queimados.
Vou descobrir onde ela se foi, 
E pejar e lavar as mãos; 
E andar entre doloridas folhagens, 
Até que o tempo dos tempos
Flore outra vez 
As maçãs à luz da lua, 
Banhadas pelo calor do sol
E as mariposas voltem,
E eu possa voltar também.









Doação


Do amor
Não espere amor,
Espere a agonia por amar...
Não espere vitoria
Da derrota de amar.
Não espere recompensa,
Que é renúncia...
Somos amáveis?
Amantes?
Amados?
A dor de amar traduz
A necessidade de dar-se.
Por isso, do amor
Não espere doação.
Doe-se e se doa
Por amar. 

domingo, 26 de abril de 2015



Lembranças


Encontro
No fundo de um baú
Imaginário
Um par de botas gasto
Ainda feito com pregos
E couro cru...
Uma lixa de solas de pés
Curtidos
No solo áspero das matas,
Junto
Minha memória gasta
Das passagens desse tempo
De sargaços
E uma leve torcedura
Que não passa...











Apontamentos



Não está em nosso poder
Amar ou desamar...
A vontade em nós é anulada
Pelo destino? 
Nos basta ver censurados,
Pelo nosso prisma,
O olhar contido da massa
A delinear o que fazer
Das sobras,
Dadas por perdidas
Em alguma área acessível,
Embaixo das camas
Ou das ações reeditadas.
Quando retiradas as razões
Antes do curso se firmar
Somos afetados pelas opiniões,
Ouro falso,
Nos basta o que vemos feito
Para frear o fazer novo...
Assim desocupamos a mente
De pensar e repensar
Segredos e inventos.





O amor é leve


O amor é leve: 
Quem nunca amou,
Que não amou
À primeira vista? 
A visão do amor
Faz belo o feio,
Simpático
O cismático,
Mas impõe-se
Ao siso e desfaz-se
Ao mais leve
Vento contra
Na parição
Dos fatos.












A maturidade
Do livro Pinturas  Edit. Amazon.com

À maturidade,
Não da experiência pretensa,
Mas da dimensão do irrealizado:
Diz o quanto vivemos sonhos...
O quanto sonhamos o vivido...
O quanto mentimos o vívido
Atraso em nossos passos,
Não o sonhado,
Os realmente dados!
Apanhamos feio do pretendido
Uma vez não alcançado,
Mas ganhamos do tempo...
Porque o tempo não tem passado.
A saudade é uma ilusão do vivido...
A maturidade o sonhado ter tido.
A realidade é esta despretensa lida
De doer menos a dor vencida
Quanto mais dói a ilusão perdida
De ter sido moço
E ter jogado fora cada subida
Desse fundo poço,
Que, por agora, apaga o viço
Desmedido.






Suores frios



Procuro-me nas noções
Desse mundo destempero,
Numa terra explodindo vulcões,
Sobre a lava deles me vejo
Acenando adeuses conformados
Para todos que se vão,
O menino e seu sorriso,
O velho e sua dor,
Os pais com seu juízo sofredor.

Procuro-me nas mínimas
Ações dessas formigas
Na procissão dos ossos desvalidos,
Na paz do pássaro em sua ida,
Na chuva que desce agulhas
Sobre os paiós vazios...
Entrementes me encontro
No pássaro que pousa
Para sua despedida.

sábado, 25 de abril de 2015



Condenação

Visto-me
Com certa condescendência
Ao pudor das partes...
A morte é um salto ruim
Que não vai viajar contigo.
Ao ordenar um baixo impacto
Estarão a zombar do que não disse,
Embora o pensasse frágil
Nos anéis das estrelas
Um bocejo e êxtase impresso
Nas linhas de luz...

A alegria
É uma chama que se apaga
Quando menos se espera,
A morte ri com maldade
A sofrência dos frente a ela.
As oscilações em torno disso,
De matar e morrer nas mágoas,
Faz-te frágil para a existência,
Nas fileiras desta câmara ardente,
Ardes pelo fato simples
De teres sido pego na jogada.

Maneira sutil de frear aberrações.
Por pouco se fará do medo
Ao menos refrear impulsos.
Por imprudente se verá em susto
Quando o preço de viver é uma faca
Nua, represada de fatores e valores
Deturpados nas manadas...
São dez ou quantos mais
Nessa legião de estrangeiros
Em curso de colisão com fatos
Em essa estrada distante de casa.

Então, chegada a hora temida,
Indagaste sobre o valor de tua vida?
Sobre a desonra assumida de morrer
Dilacerado por tal partida?
Nunca somou ao lucro o desespero...
Apenas viajou, de todos os modos,
Para essa aventura desastrosa
De não ser o primeiro, ou o último,
A penar a pena de ser fraco
Frente à forte decisão suprema
De tua morte. Amém.

Sergiodonadio.blogspot.com