domingo, 5 de março de 2023

 PARA LEMBRAR A MIM MEUS 77 ANOS:

Cá entre nós
A noite se rebela
Em densas nuvens,
Acorda seus instintos
Soprando ao vento,
Recordando tempos
Entre dobras de passado
Renitente...
O tempo, cá entre nós,
Não se apega
A mementos e momentos,
Apenas segue a linha
De seu tempo...
Por mais que freie
A passagem deste dia
Da tristeza à alegria...
Tudo passa, tudo gera
Nostalgia...
Rompe o cerco
Da folia e tresfolia
De verdades guardadas
Em diversas mentiras,
Solta o termo miserável
Entre deslocados
Xingamentos...
O que se passa
Neste nervoso momento
Que traz à fala
A fera escondida
Em elementos?
Talvez a lida de ontens
Revisados,
Talvez apenas figura
Do passado...
Frontispício de dores
(Ou de amores)
Desencontrados...
Por mais que olvide
Pedaços de revides
Açoitam a mente,
Agora pertinente
Ao tempo presente...
Por onde caminha
Aquela paz de sempre,
Acompanhada
De eterna paciência?
Foi-se com a derrota
Dos instantes nervosos
Entre calmaria
E revolta...
Por esta mecha
De cabelos brancos,
Por esta barba
De pelos hirtos
Se volta ao campo
O menino tímido
De um tempo
Inda presente
Na memória triste
Daquele tempo
Em paz consigo...
O que te sobra,
Senão o peito amigo
Desse tempo
Removido?
A vida, até aqui,
Me trouxe ao colo
Desde o eu menino
Ao tempo dorido
D’agora...
Não lembro hora
Sem ter sentido,
Tudo acontece
No imprevisto
De cada dor
Que foi embora
À dor que vive
Comigo a cada hora,
Ao desabrigo de saber
Se posso parar ou correr
Dessa que faz sofrer
Entre sorrisos...
Colhi o ouro
De todas as bateias
Que me vieram ter
A mãos cheias...
Não sou um ninguém,
Tenho minha identidade
A prezar das forças
Que carrego
Entre martelos
A pregar os pregos
E entre pregos
A absorver pancadas
Vindas de todo lado
A machucar o ego...
De quantas vezes
Estamos falando?
As cicatrizes contam
Fatos e boatos
D’antanho...
As folhas caem
Ou se atiram ao chão
Desesperadas?
Nesta hora chora
O chefe da galhada
Das folhas murchas
Por as ter murchadas
O gesto indiferente
Do que passa...
Lembra o boi pastando
Também indiferente
Ao passante crasso
Mascando sua massa
De capim e folha
Caída deste galho
Escarço...
Quem nesta hora chora
Alhures ao mundo
Ao redor de seu tempo
Vagabundo?
Quem nesta hora ri-se
Sem motivo ao outro,
Que nem sabe
Se existe o outro
Observando gestos?
Um velho cansado
De chorar a dor
De ter passados...
A terra, incólume,
Deixa passar o boi,
A folha e o homem
Que tropeça na flor
E se abate ao saber-se,
Ao ser-se pisada
Em termos laicos...
Na solidão a chuva
Perdida na saudade
Do mar revolto
À campina calma
Se eleva aos céus
E desce nas cidades
Entre gentes e flores
E bois e raive
Pelo perder-se
Entre ruas frias
E calçadas ásperas
Às dores da verdade,
Aqui sorriem viventes
Da última idade,
Sem freio de aparte