segunda-feira, 28 de junho de 2010

desassossego


Morreu a casa grande,
De desamparos...
Morreu o pau de sebo,

Os altares...
Morreu a idéia fixa
Das senzalas.

Quando morrerá a ilusão
De raças ímpares neste
Mundo em pares?
Senhor de mim


Meu senhor não deve estar surpreso.
Meu pai não deve estar surpreso.
Meu irmão não deve estar surpreso,
Porque
Sou o que esperavam, pouco...
O que esperavam de mim era quase nada,
Do menino tímido, ao homem tímido.
Do menino pensado ao homem real
Pouca coisa mudou em mim,
Mas mudaram meus irmãos e meus pais,
Para mim.

Meu senhor é que sabe
O que quer que eu saiba...
Isto é, muito pouco, para não incomodar
Mais do que incomodo com meus pensares
E meu ímpeto de dizer meus pensares
Nessas cartas abertas que são meus escritos
Nessa areia de papel
E tinta esferográfica
E um pouco a indecência
De sorrir ainda.
circunstancial


A chuva desta hora é boa,
Pois estou agasalhado nos cobertores,
Mas já tomei pelas costas geladas
A chuva fria das estradas
Nas manhãs sem cobertores.

Aí a chuva era uma miserável derrota...
A chuva era o barro avassalador
Que me colocava no meu ínfimo lugar
De molhado, encalhado, fudido,
miseravelmente conformado,

É, a chuva é boa quando não molha
O travesseiro. Quando não humilha.
Um ser molhado pela chuva
É o mais desprazível da hora,
Sem coberta e sem razão...

Apenas o dorso molhado, a alma esfriada,
O chão escorregando de pés escorridos
E uma sensação de derrota, de vencido
Pela água dimanada testa abaixo,
Além do umbigo.
Já que o assunto é futebol...


Caro leitor, já ouviu falar desse time: Zé Maria, Oscar, Levy, Pinheiro, Souza, Rui Costa, Mario, Plínio, Ciro e Eymael, no gol Marina? Reservas: Dilma, José Serra, agora você reconhece, não é? Esses TREZE formam a seleção brasileira de candidatos à presidência da república, pode? Como não falamos de futebol, pode. Desses, sete estarão nos debates televisivos, pelo menos têm esse direito. Os outros seis são coadjuvantes, cidadãos que se lançam candidatos correndo por fora (bem por fora...)
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL , José Maria Eymael do PSDC, Zé Maria do PSTU, Rui Costa Pimenta do PCO, têm alguma visibilidade de outros carnavais, agora, Levy Fidelix do PRTB, Oscar Silva do PHS, Ivan Pinheiro do PCB, Mario de Oliveira do PT do B, Américo de Souza do PSL, Ciro Moura do PTC, desconheço...
Os esgrimistas que duelam para valer, Dilma e Serra, têm as mesmas chances de disputar a caneca, já Marina Silva vem para comer poeira e jogar areia. E os outros, por que se esfalfam em uma corrida em que não têm cacife nem para arrancar na partida?
Que me lembre, são 27 os partidos legalizados no Brasil, então, teoricamente, podemos ter 27 candidatos. Temos 13, um bom número para confundir a cabeça do eleitor. Senão vejamos, o PCO (partido da causa operária)com 3 mil filiados, pretende o que, lançando candidato? Como definir causa operária isoladamente, já que o PT representa essa causa? Antes, já havia o PTB, depois o PDT, depois o PTC, seguido do PT do B, e do PRTB em seguida PSTU, PTN e ufa...redefinindo o trabalhismo como cristão, brasileiro, unificado, dividido em tantos que só pode ser para confundir.
Sem contar que estão em processo de legalização mediocridades como o MNN (Movimento negação da negação) mais 26 desse naipe! Para não errar eu ficaria com o PPB(Partido pirata, do Brasil, lógico) Pensa que estou brincando? Alguém está, não eu!
Não é difícil entender essa proliferação de partidos políticos numa época de cordas soltas...só para lembrar: Um candidato a prefeito, sem nenhuma chance, dizia para quem quisesse ouvir que não se candidatava a vereador, porque poderia ter chance(?) ele recebeu as caixas com santinhos, acompanhadas sempre de chequinhos, distribuiu os santinhos, comprou uma fazenda no Mato Grosso com os chequinhos e safou-se de ser eleito, o que daria muito trabalho e pouco mais de grana...
Dança dos partidos: coerente: PRP (Partido Republicano Paulista) no tempo do Império, incoerente: PL (Partido Liberal)na mesma época. Histórico: PI (Partido Integralista) na segunda república.provisório:ARENA(Aliança Renovadora Nacional) corajoso: MDB(Movimento Democrático Brasileiro) bom senso:PV(Partido Verde)...
Este é um ano picotado, e entre as eleições de outubro e a copa do mundo de junho, melhor esquentar com a primeira, mais levada a sério, mais coerente, mais ufanada pelo patriotismo das bandeirinhas...de resto, eleição para ser levada a sério, deveria se dar ao respeito, da seriedade dos candidatos, que, já nesse começo estão perdendo a linha, e com o tempo vão perder o carretel..
elegidos


A palavra está gasta.
Então,
Usemos o inverso da palavra:
"Não os perdoai, porque eles sabem o que fazem"
E
O fazem por malícia e impudência,
E
O fazem por aquiescência nossa.
E
Nos permitimos elegê-los líderes
Por canalhismo.
Com o suor de outros
Eles comem o pão e o brioche,
Com a devoção de tantos
Eles se endeusam ,
Com o esquecimento de todos,
Eles voltam.
"Não os perdoai, porque errarão de novo"
Porque errar é, além de humano, gostoso.
Porque errando é que não se aprende,
Se não se arrepende.
"Não os perdoai, porque são nocivos"
Apodrecerão os bons frutos, se na mesma cesta,
Juntos, apodreceremos todos.
"Não os perdoai porque são exemplos"
E, se a palavra está gasta,
Salvemos o exemplo.

Sobre gravatas e pescoços

O Deputado Nelson Camata viu reprovado seu projeto de acabar com a obrigatoriedade do uso de gravata, no Parlamento. Por que será? O episódio lembra Graciliano Ramos: “um silêncio grande envolve o mundo, contudo o que me aflige não é uma voz, é a gravata apertando o pescoço”... metaforicamente a gravata que aperta pescoços não se materializa nessa tira de tecido, mas muito mais, nas vozes do silêncio(grande)que tantos pescoços sofrem, por suas culpas inculpáveis perante os meandros da lei e da ordem estabelecida. Essas vozes apontam, em silêncio, as falcatruas de nossas lideranças, numa conspiração a perseguir insones, que se vêm dedurados por sua (in)consciência.
A vida real muitas vezes imita a ficção, invertendo a ordem natural, que seria o ficcionista se espelhar em fatos para criar factóides em sua procura de assustar consciências pesadas, mas, quando a estória discorre sobre fatos de outrem, minimiza as conseqüências pela improbabilidade de acontecer veridicamente.
Na origem dessas aflições da consciência está a lei natural das conseqüências, que faz com que toda excrescência deixada nas sombras, crie luz própria na solaridade do tempo.
Mas, a gravata metafórica se desenha em todas as páginas da historia. Para não exumar fatos apodrecidos na imemória coletiva, abordemos a última página: a sanha do senador Renan Calheiros, aquele que se safou no processo dos mensaleiros, e está melando o acordo do seu partidão com o governo pela presidência do congresso. Estava tudo acertado entre os (canalhas) líderes, que selaram com o Presidente da República as benesses de sua lista de compensações para o próximo ano, quando surge das sombras esta excrescência cobrando seu lugar ao sol, dizendo que o governo lhe deveria favores e que ele, apeado de tais funções, por improbidade, mereceria ser tratado com mais deferência! Atropelando Sarney, que havia avalizado o acordo, anunciou que o partidão vai lançar candidato próprio. Pura manobra de aperto de gravata. No fim, até fevereiro, depois de muita manobra do toma-lá-dá-cá, com a conta muito mais alta, o governo assumirá (leia-se:comprará) o cargo tão ambicionado.
Mas, isso tudo se resolve fácil, fácil: Afrouxa a gravata.