sexta-feira, 14 de outubro de 2022

 

Novenário

 

Dos nove dias

Se passaram três...

O cansaço atinge a todos

Depois da chuvarada,

O padre descansa a cabeça

Olhos fechados,

Mente esperando o chamado

Da anciã esperançosa

De milagres para as dores...

Morre mais um na estrada

De movimentos acelerados,

O tempo faz falta ao horário

Apertado das coisas fúteis...

O novenário cobra resposta

À proposta de orações

Levadas a termo

Antes que sucumba a fé

No labor extremo...       

 

 

 

Entalhes

 

Nosso tempo,

Cinzelado com tantos detalhes,

Entalha cores e dores

E prazeres

Num mesmo cinzel ornado

De labores distraídos

Na falsa moldura

Dessa escultura ao prazer velado

Na dor do dissabor

Das horas mal dormidas,

Caladas nas noites chuvosas

De memórias distraídas...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tempos há

 

Tempos há

Em que perseveramos

Nas coisas fúteis

De nossos enganos...

Tempos há

Em que revigoramos

Saudades moventes

De nossos labores

Mas,

Sob a égide de pensamentos,

Ordenhamos o lume

De úberes cheios

De amores etéreos

D’outros valores... 

 

 

 

 

Conheces o caminho de volta?

 

Aos longes tracei estrada

Pisando passadas largas,

                                                              Pelo fio dessa navalhada

Cortei guaxuma de malha,

 

Cruzei riacho em pinguela

Cercando os passos dela...

Contei sextas amarelas

Na procissão das gamelas,

 

Assim cruzamos as fitas

Amarradas em palafitas,

Por destino dessas lidas

 

Deitadas estrada afora

 Tentando vencer revolta,

  Sabes o caminho de volta?

 

 

 

 

 

Chuvarada

 

O gado está atolado

Numa sequência de águas...

Eu tinha fé neste roçado

Antes promessas de nadas,

Mas tudo desmoronou

Na consequência das águas,

E tudo se imergiu

De ideias erradas...

O gado está atolado

Num mar de culpas iradas

E vejo cabeças perdidas

Em lágrimas...

De quando em quando

Passa um naufragado,

Navegando suas mágoas,

Depois de mortos

Os homens ficam mais fortes

Ante a chuvarada...

 

sergiodonadio