sábado, 8 de dezembro de 2018


Cochichos

É o falar baixinho
Que põe atentos
Ouvidos medrosos...
Uma vez fomos gritantes
E não nos ouviram.
Depois fomos esquecidos,
Lembrados agora
Ao falar baixinho
Todas as verdades
Gritadas...



Girassóis

Espero
Que adormeçam
Meus valores
Para sorrir ao toque
D’outros tempos,
D’onde a flor girava
Ao caminhar do sol,
A poedeira
De águas novas
Cantava aos fins...
Espero que o tempo
Absorva o mal vivido
E o bem vivido
Para que a passagem
Da infância
Faça sentido.


Amansamentos

Esta ideia dura,
Amansada pelas circunstâncias,
Salta de meu peito
Para as orgias da rua...
Peço calam a esta ideia maluca,
Que pensa sair esbofeteando
Meninos arteiros...
Que tenta processar
Políticos remendeiros...
Calma... Coração cansado,
A tarde já veio
E pergunta por nós
Nessa eternidade de atos sujos...
Calma alma acesa
Que o ódio é inerente aos fracos,
A piedade é ação dos fortes...
Calma, que chegaremos lá,
D’onde a paz será a resposta


A esta ideia dura
De esmurrar paredes e caras
Com risos sarcásticos...
Peço um pouco mais
Daquela paciência herdada,
Absorvida pela balburdia dos dias...
Calma, alma revolta,
Calam à sua volta as vozes antigas,
Cantam as almas novas...
Cala-te, coração cansado,
Que o tempo esmiuçará as levas
E trará dos longes a resposta
A esta dúvida sobre o certo errado
Ou o errado estar certo
Ante a verdade dos fatos
Revelados por suas presenças,
D’onde o silêncio da paz importa mais
Que o barulho das guerras.
A paz esteja convosco

A paz é sempre madrugada,
Mesmo o sol nascendo
Ou tardando chegar
A pôr-se sobre as nuvens...
É sempre madrugada
Para poder estar em paz...
Silêncio, por favor,
Não perturbe este final de dia,
Começo de esperança!
Que o tempo passou devagar
E caminha... Caminha
Para uma nova mão estendida
Ao alcance da esperada...
Mão vazia.




Desamparos

Um quarto sujo,
Num lugar abandonado,
Pode ser o túmulo de Bukowski,
A liberdade de Quintana...
Ou a ressurreição de Cristo.
Um quarto pode ser aconchego
Ou lonjura das outras vozes...
Como pode ajuntar tantas vozes
Ao seu silêncio?
Absurdo é queixar-se do quarto
Quando é a mente que está
Desamparada...






Vigília

Toda pessoa
Descobre, afinal,
Que sua necessidade
É menos material
Que hormonal...
Que tudo passa
No fim de cada dia,
Mesmo a fome
Ou a malícia...
Fica este respirar confuso
Nos fins de tardes,
Um pouco morrendo
Com o sol do dia...





Sem pegadas

Vão-se as vontades,
Diluídas entre
Mentidas verdades...
Fica o olhar distante
Meio que a pedir socorro,
A tristeza escondida
Em risos marotos,
Entre as fomes de viajar
Mora um estranho lugar
Chamado saudade...








Da inutilidade da palavra

Grito aos quatro ventos!
Tiro do silêncio meu grito,
Verdades antes escondidas
Nas intempéries do relento...

Talvez não seja o que penso
Nem pense tudo que diga,
Mas neste fervor de dizê-lo
Vibro com todas as letras...

Talvez não tenha a sutilidade
De um romancista escorreito
Para contornar xingamentos

E substitui-los por mentiras
Mas tenho aqui sinceridade
Compungida por mementos.

Cambiemos

Cambiemos,
Que está posto
O sol dos ontens...
Os passos dados
São passos dados,
Nada que possa
Consertar-lhes
O manco...
Cambiemos
Até chegarmos
À próxima
Parede,
Em pranto.












Deixo minhas palavras
Em cada passo dado...
A verdade é que a vida
Entristece, sem pegadas.








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