quarta-feira, 2 de junho de 2021

 

O estouro da boiada

 

Somos bois de trela?

Somos bois de engenho?

O estouro anunciado

Desta boiada atrelada a erros

Traz no seu bojo este medo

Acondicionado em pílulas,

Desde o medo da varíola

Ao medo da atual pandemia ...

Duvidosos de alguma cura,

Ou até de tantas mortes,

Passeamos pela avenida,

Incólumes, desconformes,

Acudindo nossa sorte...

 

 

 

 

 

Somos lobos solitários

À procura de vozes

Há tempo esquecidas

Nos varais da lida,

Deixados para trás

Nas elações perdidas...

Quanto vale à nós

A solidariedade

Nos pensares retos

Das almas enlutadas?

Quanto nos põe medo

A perdição dos ares

Nestes termos de lidas?

 

 

 

 

 

Somos bois de trela?

Somos bois de engenho?

Quantas vezes açoitados

Pelo mesmo empenho?

Julgados pelas mortes

De que estamos prenhes

Entre nascituros asilados

Em casebres lenhos?

O que faz de nós

Essa indiferença à dor

Alheia à nossa dor tensa

De perenes desgraças

Na graça em que vivemos?

 

 

 

 

 

Somos bois de trela?

Somos bois de engenho?

Não somos bons com

Nossos congêneres...

Não somos bons com

Vidas em extremos...

Nem somos o que somos

E nunca nos seremos

Nesta pantomina rasa,

Em que nos hesitemos

De dar a mão à ajuda?

Que nos pede a vida

Entre desvividos ermos,

Presos neste medo

De errar por menos...

 

 

 

As contas deste rosário

Rezado em terços

Não absolve os pecados

Dos tratos e destrates

Desses trastes lesmos...

O choro que abomina

O mal lesado encima

De atos em lamento

Não absolve os erros

Dos tementes lesos,

Apenas se sorvem

De sequelas mornas

De julgados fatos

Em cada novo estupro

Da família em luto...

 

 

 

Somos bois de trela?

Somos bois de engenho?

O que sofre ao lado

Não nos diz respeito?

As fomes do translado

Em mares revoltos

Não nos afete o leito?

Por que não choramos

Pelas desigualdades

De um povo migrador

E suas necessidades?

A nós escarne indolor?

Acobertados ao frio

Calamos neste vazio

Que se faz ao infleto.

 

 

 

Esses bois de carga,

Cansados e temerosos,

Puxam nosso mundo

A um novo tempo

Sem lamúrias vagas

Desses relentos

Em que vida se apaga

Aos seus efeitos...

Esses bois estafados

Pela carga máxima

De seus elegidos pleitos

Se faz de surdo e cego

O que poderia repensar

O enfadado feito...

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário