O estouro da boiada
Somos bois de trela?
Somos bois de engenho?
O estouro anunciado
Desta boiada atrelada a
erros
Traz no seu bojo este medo
Acondicionado em pílulas,
Desde o medo da varíola
Ao medo da atual pandemia
...
Duvidosos de alguma cura,
Ou até de tantas mortes,
Passeamos pela avenida,
Incólumes, desconformes,
Acudindo nossa sorte...
Somos lobos solitários
À procura de vozes
Há tempo esquecidas
Nos varais da lida,
Deixados para trás
Nas elações perdidas...
Quanto vale à nós
A solidariedade
Nos pensares retos
Das almas enlutadas?
Quanto nos põe medo
A perdição dos ares
Nestes termos de lidas?
Somos bois de trela?
Somos bois de engenho?
Quantas vezes açoitados
Pelo mesmo empenho?
Julgados pelas mortes
De que estamos prenhes
Entre nascituros asilados
Em casebres lenhos?
O que faz de nós
Essa indiferença à dor
Alheia à nossa dor tensa
De perenes desgraças
Na graça em que vivemos?
Somos bois de trela?
Somos bois de engenho?
Não somos bons com
Nossos congêneres...
Não somos bons com
Vidas em extremos...
Nem somos o que somos
E nunca nos seremos
Nesta pantomina rasa,
Em que nos hesitemos
De dar a mão à ajuda?
Que nos pede a vida
Entre desvividos ermos,
Presos neste medo
De errar por menos...
As contas deste rosário
Rezado em terços
Não absolve os pecados
Dos tratos e destrates
Desses trastes lesmos...
O choro que abomina
O mal lesado encima
De atos em lamento
Não absolve os erros
Dos tementes lesos,
Apenas se sorvem
De sequelas mornas
De julgados fatos
Em cada novo estupro
Da família em luto...
Somos bois de trela?
Somos bois de engenho?
O que sofre ao lado
Não nos diz respeito?
As fomes do translado
Em mares revoltos
Não nos afete o leito?
Por que não choramos
Pelas desigualdades
De um povo migrador
E suas necessidades?
A nós escarne indolor?
Acobertados ao frio
Calamos neste vazio
Que se faz ao infleto.
Esses bois de carga,
Cansados e temerosos,
Puxam nosso mundo
A um novo tempo
Sem lamúrias vagas
Desses relentos
Em que vida se apaga
Aos seus efeitos...
Esses bois estafados
Pela carga máxima
De seus elegidos pleitos
Se faz de surdo e cego
O que poderia repensar
O enfadado feito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário