quinta-feira, 12 de maio de 2022

                                                             Da importância do banal

Os procedimentos cotidianos, por sua banalidade, são esquecidos como fatores de sentimentos sutis de alegria ou tristeza, deixados de lado em comparação aos grandes feitos, mas a vida, com seus laços familiares em pequenos gestos, é regida por esses momentos olvidados, o que se lê num livro aberto ao acaso, na contemplação do sol se pondo, na floração de uma planta, tudo ao redor, infimamente vivido, é banal e deixado fenecer em nosso sentido. Pena que sejamos assim perdulários de bons olhares aos mínimos intentos, que passam ao largo da intenção dada aos grandes gestos, que se minimizam quando olhados de esgueira ao vento embalançando trepadeiras...  Thomas Jefferson cria no poder simples da luz do sol aos olhos distraídos dos atarefados, Benjamin Franklin dizia que a felicidade não é resultado de grandes feitos, mas de mil pequenas alegrias. Os sentimentos cotidianos dão cor à aquarela do dia a dia... o sono reparador é um intervalo para meditação sobre esses pequenos fatores que preenchem lacunas indizíveis de nosso humor contradito ao sabor de reações adversas aos fatos soídos. Isto é banal quando visto como banalidade, o menor gesto, se inesperado, sai da banalidade quando dedicamos atenção consciente à observação, interpretando o lugar comum com significativa ocupação que lhe é devida. No mais das vezes o desinteresse diminui a grandeza de um fato ou de uma pessoa por sua contundência momentânea, diminuída pelo fraco argumento, como a observação de uma chuva fina, do canto de um pássaro, da cor de uma rosa... perde-se a oportunidade de entender o argumento pela desatenção ao princípio monótono do discurso, que poderia se tornar interessante se ouvido por mais tempo, um bilhete desprezado por conta da banalidade inicial, pode conter a notícia esperada, se lido atentamente. Por outro lado, um argumento forte é apenas um argumento, se separado do cotidiano banal que o acompanha, é primordial a vivência diária com o que palpita à nossa volta e nos dá conhecimento para podermos analisar a importância do gesto maior, pela junção de gestos menores cotidianamente. A pessoa que valoriza os gestos comuns, normalmente banais, está preparado para enfrentar solavancos maiores, vindos de surpresa num inesperado encontro heterogêneo, seja numa reunião de poderosos ou num encontro descontraído de bar. Momentos clássicos em que especialistas em um assunto, têm menos elasticidade que os menos letrados em réplicas e tréplicas, que mesmo sem estudo vivem num ambiente aberto ao diálogo, acostumados a devolver a bola conforme lhe foi jogada. A banalidade de um gesto, ou termo, leva à preciosidade da resposta, se integrada ao motivo maior da intenção

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