segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


O apanhado das horas

Somadas
As horas vivíveis se impõem
Ao realmente vivido.
Há de se ver passar à frente
O que seria plausível ser
Entre as planuras necessárias
Para chegar-se ao pico...
As horas vivíveis
São maleáveis e disformes
Ao percorrido pedregoso
Das desvantagens
Reveladas férteis e fortes,
Muros drenados do nada,
Diante das disfunções
Ao friso...
As horas vivíveis
São esperadas guarnecidas,
Por isso a desilusão
De seus pares ao percorrido
Chão varrido de mágoas... Sergiodonadio
O gozo

Deveria ser o fim,
Mas é o meio,
Depois vem o fim,
Que é o receio...







Todas as vozes
São ilusórias...
Do afago da infância
Ao fim das auroras...





O poder

É poder, de início
Pelo medo,
Pela força do outro,
Pelo litigio... Depois
Pela dor provocada
Pelo látego
Escondido...













Planeta água

Nosso mundo é água...
Água viva... Penetrada...
Água pura da cachoeira,
Antes de ser abusada.
Nosso mundo é água...
Como somos todos
Inquilinos desta casa,
Homens, ratos, bigatos,
Todos armazenando
Dois terços da água...
Impenetráveis mistérios
Líquidos desde a folha
À nevoada...







Apreendimentos

Pouco se apreende
Com o passar dos tempos...
Continuo respirando
O mesmo ar poético,
Agora um pouco menos
Iludido com as verdades,
Versos, inúteis? Como antes...
Agora mais desacreditados
Para os que a memória
Os faz passado.










O essencial

Não somos obra prima,
Nem somos obra imortal...
Mas uma obra de um deus
Com respeito aos desígnios
Tornados desejo carnal.
Talvez seja a respiração,
O calor dos corpos ligados,
Talvez a profanação...
A posição de uma estátua
Ou a mão em questão
Cobrindo o sexo como obra,
Mas esta dama desnuda,
Estátua viva que empolga,
Por sua secção de vida
Entre soluções e normas...
Talvez seja a imaginação
Do escultor que a contorça...
Não somos obra prima,
Nem somos obra imortal
Mas talvez essencial.
Na preguiça do cansaço

Diria que aos setenta e três anos
A preguiça do cansaço
Toma conta de minhas vontades.
O difícil saber-se fraco, frágil,
Faz parte do envelhecer plácido...
Eu me sei, assumo a preguiça
Até mesmo de descrever
No verso as caminhadas...
Ordenar nesses móveis
Coisas palpáveis ao silêncio...
Aos poucos vamos sendo
Despachados pelos convivas...
Pelos que me estão relendo.
Mas o que descrevi escrevendo
Continuará escrito nos adendos,
À força de meus anos
Revividos...

sergiodonadio

Bolachas com queijo

Chegando a madrugada,
Deixando de lado
Minha máquina de escrever,
Desdenhada pelo computador...
Um vexame para nós dois.
Penso minhas mulheres:
Esposa, filha e neta querendo
Sair, ver vitrines, parentes,
Ir a festas e missais...
Dias de tardes conteiradas às noites
Em que quero ficar aqui,
Talvez umas bolachas com queijo
Um copo, coca cola ou leite,
Sozinho, no conceito delas,
Acompanhado de ideias
No meu conceito... Quem erra?
Quem caminha do meu jeito.




Alguém disse que você viria

Nesse quebra-cabeça
Que é a memória dos fatos,
Imaginando-os desacontecidos,
Antes de sabê-los perigo e troça...
Pontos que volta e meia retornam
E acodem o sentido, procuro
Rememorar com claridade a vez
Em que levei um caminhão novo
Para Rosário do Ivaí. Descendo
À primeira ponte saindo de Mauá
Surpreendi-me com a velocidade
Que tomou por si a máquina,
Tentei a reduzida, sem saber que
Na descida tornaria ponto morto,
E assim descemos desbragados...
Passando a ponte sem freio
Demos num banco de areia
Findando a desembestada,
A espera de um anjo da guarda,
Que viria...



D’outra feita
Cruzei o rio na enchente,
Ele estava nervoso,
Carregando paus
E o que se atrevesse...
O jipe começou boiar
Sobre as pedras
E fomos deslizando
Como uma balsa
Até a outra margem,
Com um frio na espinha
Doída pelo medo...
Haveria alguém na ajuda,
Talvez o anjo, a cuidar
Deste insultuoso vivente
Frente ao poder da natureza...
E sua benevolência
De anjo...

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