sexta-feira, 3 de julho de 2020

7.5

Talvez seja saudosismo,
Mas a verdade
É que tenho mais passado
Que futuro...
Como do futuro só se sabe
No futuro,
Do passado descrevo eu:
São momentos memoráveis,
Outros não,
Mas desses apago...
Dos bons momentos
É bom lembrar sonhando
Às horas dormidas
As fases dessa vida...
Enquanto vida!
Momentos de mementos,
Passados ao relento
Das condições vadias
Revivem em pensamento
Nesses novos dias...
Assim,
Alterando fatos fictícios
Peneirando maus indícios
Talvez ocultando ilícitos...
É,
As coisas aconteceram,
Queira ou não o litígio...
Litigando ofícios,
Desses,
Que passaram sem passar
O indício...
Passagens indigestas
Relendo pelas frestas
As boas festas
Enumero as sestas
De todas as sextas
Ofertadas ao lício...
Pode-se haver haveres,
Como há tantos deveres,
Esquecidos nas beiras
Desses ofícios...
Quem pode separar do joio
O pouco trigo
Sem correr um risco
De engolir ciscos?
Pelo lado sombrio das manhãs
É preciso colorir a chama,
Acender a luz de boa
Que a tudo proclama,
Mesmo ao que reclama...
Por esse lado explícito
O implícito se alvora
A consumar o dito por não dito
A cada nova aurora...
Nisso,
As manhãs acordam a mente
E, de repente,
O que fora lixo torna-se sobra
Neste rebuliço de manobras
Que o tempo revigora
Em visto...
Pelas derrotas anotadas
Ergo uma murada
A proteger meus sonhos
Dos pesadelos vastos
E nesse interim espaço
As cores as mais vivas
Construídas num regaço
De vidas revividas...
Aqui somemos benesses
Que o tempo se faz prece
Entre valores e Desvalores
Concebidos plenos...
Há uma eterna saudade
A provocar o riso
Ou choro ao extremo...
São fatos e boatos
Misturados nessa mente
Que não mente, inclui
Como verdadeiros
Alguns erros grosseiros...
Mas a antologia
Desses fatos vistos
É apenas dissertada
Entre outros nichos,
Esses,
Que se formam nas calçadas
Como as folhas outonais
Que voltam a folhearem
Na próxima primavera.
Como não tenho essa chance,
Recolho as minhas folhas
Amarelecidas
Que formam a própria vida...
Já restando menos futuro
Que passado a descrever-me
Vivo o presente
Como um presente
A que agradeço e preito
A cada meu momento.
Amanhã, quem sabe,
Folhe ajo novamente,
Por inda ser semente
Nos meus desapegos
Roçados em terra fofa
Para meu sossego...
Pode seja verdade
Que o canto do cisne esteja
Na última cantata
Deste realejo,
Mas consigo referenda-lo
Seja o que seja
Este meu momento
De estágio em estágio
Premiado ensejo...
Volto ao sonho findo
Que frondoso e lindo
Forjava meus desejos...
Quanta paz inda mereço
Neste apreço?
Tenho descendentes
A infindar meus sonhos,
Viajar aos polos
Desse mundo imenso
Sem presilhas amarras
Desse novo tempo...
Seguirão sonhando
O mesmo sonho atento
Ao corroborado intento...
Vejo-os plenos
De vontades novas
A forjar nas trovas
Todo sonho feito
De aventuras venturosas
Atravessados oceanos
E outras formidades
Dessas idades...
Assim,
Dou-me por satisfeito
De findar meus dias
Sentado nessa cadeira
A balançar o tempo
Entre pílulas e efeitos
Dessas maravilhas
Que me devolvem o eito...
Sei-me embotado
Mas não derrotado
Pelo atual momento...
Quem sabe inda possa
Viajar sem ter viajado
Ao mesmo destino
Que cursei passado...
Talvez seja saudosismo,
Mas a verdade
É que tenho mais passado
Que futuro...não me
Engano por tão pouco,
Mas inda canto rouco
A canção de meu exílio,
Volto à Pátria armada,
Canto o hino a ela
Que me fez honrado
Entre tantas heras...
Que me pôs o mundo
À disposição do sonho
Que sonhei acordado
Com o todo o futuro
Que agora é passado.



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